sábado, outubro 29, 2005

América Central

Aproveitando a passagem dos Mitos Climáticos pelas Caraíbas, julga-se conveniente referir um documento extremamente importante. Trata-se da tese de doutoramento de Emmanuel Barbier, um actual colaborador do Prof. Marcel Leroux.

Esta tese designada «La dynamique du temps et du climat en Amérique Centrale» encontra-se na Internet. Daí a facilidade na sua obtenção, contrariamente à aquisição de livros como alguns citados no blogue que até não são nada baratos.

A tese pode ser facilmente descarregada em formato Adobe PDF. Embora a sua extensão de 568 páginas possa assustar, é um excelente documento que pode ser consultado com tranquilidade.

Fica-se a dispor de um autêntico livro em 2 Tomos. Lá encontra-se exposta a moderna meteorologia e climatologia, ainda que aplicada a um lugar restrito do planeta. O seu estudo serve perfeitamente de complemento ao blogue.

São apresentados conceitos fundamentais tais como: - anticiclone móvel polar, aglutinação anticiclónica, linha de pulsação, alísios e monções, equador meteorológico, equador meteorológico vertical, equador meteorológico inclinado, ciclones tropicais (o Mitch está estudado em pormenor), classificação genética do tempo e do clima, evolução climática recente, etc.

A tese teve a orientação científica do Prof. Marcel Leroux e foi defendida perante um júri de Prof. da Universidade Paris X, Nanterre, da Universidade da Bretanha Ocidental e da Universidade Lyon III.

Tem uma excelente apresentação didáctica e é documentada com fotografias de satélites ilustrando os assuntos analisados com grande e impressionante profundidade. Em resumo, recomenda-se a sua consulta para melhor acompanhamento de um ou outro post mais árido…

sexta-feira, outubro 28, 2005

Ciclones no Atlântico Norte

Nesta região incluem-se, para efeito da análise da descentralização dos ciclones tropicais, as Caraíbas e o Golfo do México. O mediatismo dos acontecimentos nesta região deve-se ao flagelo das costas do sul dos Estados Unidos da América.

A média anual de ciclones tropicais é de 9. Cinco deles atingem o estado de furacão. Os EUA são flagelados com uma média, calculada entre 1851-2004, de 18 furacões por década. Destes, 6 por década atingem os níveis 3, 4 ou 5.

Desde 1851, nos EUA, a década com maior número de furacões foi a de 1941-1950 com a presença de 24 furacões. Quanto aos mais intensos, de níveis 3 a 5, essa mesma década também detém o recorde de 10.

O estudo estatístico mais completo sobre os furacões que assolaram os EUA, quanto à frequência, aos estragos materiais, às mortes, à intensidade, etc.,…, foi realizado pelo Tropical Prediction Centre, Miami, Florida, em Outubro de 2001.

Convida-se os leitores a ler atentamente esse estudo, orientado por Christopher W. Landsea, que desmistifica a hipotética relação estatística entre a ciclogénese e o tema da moda do “global warming”.

A estação ciclónica do Atlântico Norte pode ir de Maio a Novembro. Mas a actividade mais intensa começa em Setembro e termina em Outubro. No ano de 2005 a estação foi anormalmente violenta. Porquê? Muito provavelmente pela contínua produção de anticiclones móveis polares boreais.

De facto, a região do Árctico não descansou durante o período estival. Enviou AMP que provocaram o rompimento da aglutinação anticiclónica que cobriu a Europa quase desde o início do ano.

Os AMP já produziram cheias na Roménia e no sul de França. Já cobriram Moscovo de neve. E até já fizeram cair neve no norte do Paquistão…Tudo isto antes do Inverno que se aproxima.

A presença do equador meteorológico vertical, para o qual confluem os alísios marítimos evoluídos e as monções atlânticas, cujo fluxo principal se dirige para África, constitui o factor favorável ao nascimento das depressões sobre o centro do Atlântico.

As nuvens africanas em forma de grão que franqueiam o obstáculo dos alísios são a origem de metade dos ciclones. Estes últimos abandonam em seguida a estrutura do equador meteorológico vertical.

As vigorosas descidas dos AMP sobre a América do Norte encurvam as trajectórias dos ciclones tropicais para nordeste. Os ciclones podem atingir as costas do sul dos EUA. Desde o Texas até à Florida chegam uma média de 2 a 3 por ano.

Os ciclones tropicais podem subir ao longo do litoral oriental dos EUA, ou tocar as costas mexicanas no fundo do Golfo do México. Podem ainda franquear (com dificuldade) o istmo panamiano em direcção ao Pacífico.

O muito recente furacão Wilma teve uma trajectória semelhante à do Mitch. Os AMP bloquearam-no à entrada da Península do Iucatão, México, e conduziram-no para a Florida tal como outros AMP tinham feito ao Mitch.

A Fig. 33 mostra o furacão Wilma a passar sobre a Florida. Em relação ao furacão Katrina, na sua aproximação a Nova Orleães (Vd. Fig. 30), verifica-se que o olho mais aberto do furacão Wilma denota uma menor agressividade.

Registe-se que o Wilma bateu o recorde do mínimo da depressão dos ciclones tropicais desta região (que vinha desde 1988). Mas não bateu o recorde mundial que pertence a um ciclone tropical do Noroeste do Pacífico.

Do mesmo modo, o Wilma, que foi o 21º. ciclone tropical desta estação, bateu o recorde do número de perturbações anuais que vinha de 1933. Tudo isto foi uma excelente oportunidade para os escrevinhadores alarmarem a opinião pública. Alguns cientistas não ficaram atrás a dar palpites.

Estes cientistas sem comedimento não sabem explicar os mecanismos da ciclogénese ou da pluviogénese. Mas continuam a falar em superfícies frontais e centros de acção, oscilações e índices que também não sabem explicar as respectivas géneses.

Não são capazes de prever o que vai acontecer no próximo Inverno. Mas dizem-se capazes de prever o que vai acontecer daqui a 50, 80 e 100 anos e estão sempre prontos a gastar dinheiro com modelos e cenários sem sentido. Parece que é mais fácil prever do que explicar…
Fig. 33 - O furacão Wilma na sua passagem sobre a Florida. O olho largo denota menor intensidade. Fonte: NASA.Posted by Picasa

quinta-feira, outubro 27, 2005

Ciclones no Índico Norte

O Índico Norte dá origem a 6 ciclones tropicais por ano. A quase totalidade destes, 4 a 5 ciclones tropicais de fraca intensidade, é gerada no Golfo de Bengala.

O factor mais favorável para a origem dos ciclones tropicais desta região é a monção indiana. A seguir é o equador meteorológico inclinado dos Himalaias o factor que favorece a criação dos ciclones do Índico Norte.

Os períodos de maior actividade são os do deslocamento do equador meteorológico em direcção a Norte e do seu retorno para Sul. Isso acontece nos meses de Maio e Junho, no primeiro caso, e de Outubro e Novembro, no segundo período de actividade.

É curioso este fenómeno de deslocamento do equador meteorológico para Norte e o seu retorno para Sul. Este movimento está relacionado com as intensidades variáveis dos anticiclones móveis polares, ora mais intensos na região do Pólo Norte ora no Antárctico.

Existe, pois, um período de vazio estival de produção de ciclones tropicais entre os meses de Julho e Agosto, especialmente neste último, no Golfo de Bengala.

Além da génese local deste Golfo, certos ciclones tropicais vêem aqui ter. São oriundos do Nordeste do Pacífico. Embora pouco numerosos, esses ciclones do Pacífico conseguem atravessar, com dificuldade, a península indochinesa. Até durante o período de acalmia em Bengala se verifica essa travessia de ciclones do Pacífico.

No Mar da Arábia, ao longo das costas ocidentais da Índia, geram-se poucos ciclones tropicais. Talvez 1 a 2 por ano. Os períodos de eventual actividade desta zona são os mesmos do Golfo de Bengala. Às vezes, os ciclones tropicais nascidos no Golfo de Bengala são capazes de atravessar o Sul da Índia e chegar à Costa do Malabar.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Ciclones no Nordeste do Pacífico

Com uma média anual de 15 tempestades tropicais (60 km/h a 120 km/h), esta região constitui normalmente a segunda com maior actividade ciclónica do planeta. São muitas mas não muito intensas. Do ponto de vista dos ciclones tropicais, a região é um prolongamento para oeste da zona atlântica.

Este espaço é caracterizado pelas monções panamianas. O istmo do Panamá conduz para o Nordeste do Pacífico as perturbações atlânticas atenuadas e os fluxos dos alísios, a norte e a sul, que alimentam os ciclones.

A estação ciclónica vai de Maio a Novembro favorecida pela chegada das monções panamianas (reforçadas pelos alísios atlânticos) e pela presença dos equadores meteorológicos (inclinado e vertical).

Muitas depressões tropicais (menos de 60 km/h) associadas ao equador meteorológico vertical deslocam-se lentamente e fazem-se acompanhar de chuvas diluvianas. O que mais perturba esta região são as precipitações excepcionais.

Os sistemas ciclónicos desta região têm uma vorticidade fraca devido à latitude. Apenas um terço das depressões e tempestades tropicais chega a atingir o nível de tufão (aqui designado por cordonazo). Alguns afastam-se para oeste sobre o oceano e desfazem-se geralmente bastante depressa.

Os anticiclones móveis polares, que descem a partir do Pólo Norte e da Gronelândia, protegem o continente ao obstruir ou desviar a passagem dos cordonazos. Os AMP desviam-nos ao longo da costa oeste do México (2 a 3 por ano) a caminho da Califórnia.

O desvio é realizado pelo corredor periférico depressionário da face anterior dos AMP. Os cordonazos são normalmente de curta duração, mesmo os que são desviados para o Golfo da Califórnia provocando chuvas intensas.

terça-feira, outubro 25, 2005

Ciclones no Noroeste do Pacífico

Embora não seja a mais mediática, esta é a região ciclónica por excelência. Isso acontece não só pelo número, mas também pelo alargamento da estação ciclónica e até pela potência dos ciclones.

Em média, aqui nascem 28 tempestades tropicais por ano. Ou seja, é nesta região onde se produz cerca de um terço dos ciclones tropicais anuais do globo. A estação ciclónica estende-se de Maio a Novembro e a potência chega aos super-tufões (3 a 4 por ano).

No Pacífico Norte reúnem-se várias condições favoráveis para esta proliferação de ciclones tropicais: as monções chinesas, os alísios saturados do Pacífico que se encontram reunidos ao longo do equador meteorológico vertical nas longitudes 140º E -170º E.

Além disso, os alísios marítimos sobrepõem-se às monções ao longo do equador meteorológico vertical. Recorde-se que os equadores meteorológicos favorecem as ascensões dos fluxos que formam o olho dos ciclones tropicais.

Também se juntam os anticiclones móveis polares que com a sua potência provocam a ciclogénese fora da estação estival. Esta região tem a particularidade de poder ver nascer um ciclone em qualquer momento do ano. E o que é que isto tem a ver com o efeito de estufa antropogénico, o aquecimento global e as alterações climáticas? Absolutamente nada!...

A maior parte das trajectórias encurva-se para o nordeste antes de atingir o continente. Os tufões atingem a China (4 a 5 por ano), o Japão (2 por ano), as Filipinas (4 a 5 por ano) e a Indochina (1 a 2 por ano).

Embora pouco frequentemente, os tufões chegam a fazer a travessia da península indochinesa em direcção ao golfo de Bengala.

Descentralização dos ciclones tropicais

O Intergovernmental Panel on Climate Change prevê que”…o aumento da temperatura da água do mar nas zonas tropicais pode conduzir alguma recrudescência dos ciclones, que podem ser desenvolvidos somente a partir de uma temperatura de 27 ºC…”

Como é que o IPCC, que não é capaz de explicar a ciclogénese dos actuais ciclones, é capaz de prever o que vai acontecer daqui a um século? Aliás, os cenários apocalípticos do IPCC, a verificarem-se em 2100, conduziriam à não existência de monções e alísios. No limite, aqueles cenários do IPCC levariam à não existência de vento.

Então como seriam originados os ciclones de 2100? Trata-se da extrapolação da fórmula mágica ‘T→A’. Afirma-se que quando T (temperatura) sobe, então A (acontecimento) aumenta. O A tanto podem ser as cheias, as secas, os níveis dos oceanos, os degelos, os ciclones, etc.

Trata-se de elevar ao estatuto de lei física qualquer co-variação. Entre a temperatura da água do mar e o número de ciclones. Para quê uma explicação complexa da ciclogénese se o raciocínio simplista, embora falacioso, ‘T→A’ é mais fácil de ser aceite pelos media e pelos decisores políticos?

Os processos reais colocam a questão da impossibilidade de prever o futuro. Especialmente a multiplicação dos fenómenos extremos em 2100. Como é que se podem prever os ciclones tropicais se não se tem a mínima ideia de como é que eles se formam?

E, continuando este processo simplista, como é que é possível prever as cheias, ou a falta de chuva, se se ignora completamente os indispensáveis mecanismos físicos das suas géneses?

Afastada a hipótese simplista e errónea da ligação entre ciclones tropicais e aquecimento global, continue-se a aprofundar o estudo dos ciclones tropicais com o apoio da teoria moderna (Vd. Leroux, Marcel, «La dynamique du temps et du climat», 2ª edição, Dunod, Paris, 2000, 367 p., pp. 194-210).

Produzem-se anualmente entre 85 a 90 tempestades tropicais – desde a intensa depressão tropical até ao ciclone – na zona tropical do planeta. No entanto, a repartição geográfica dos ciclones tropicais é muito desigual.

Será interessante analisar separadamente os dois hemisférios e, dentro destes, várias regiões que se podem discriminar pelas suas características distintas (número e potência dos ciclones, estação ciclónica, trajectórias e origens genéticas, por exemplo).

No hemisfério Norte geram-se dois terços das tempestades tropicais. Para esta análise, pode-se dividir este hemisfério em quatro regiões: Noroeste do Pacífico, Nordeste do Pacífico, Índico Norte e Atlântico Norte (neste inclui-se o Mar das Caraíbas e o Golfo do México).

No hemisfério Sul, devido às suas características oceânicas específicas, nasce apenas um terço das perturbações. Aqui distinguem-se as regiões seguintes: Sudoeste do Pacífico, Sudeste do Índico e Sudoeste do Índico.

quinta-feira, outubro 20, 2005

O Mitch e os 4 AMP

A Fig. 32 permite acompanhar a trajectória do Mitch entre os dias 23 e 31 de Outubro de 1998 (pontos em bold na figura). Nos dias precedentes ao primeiro deste intervalo um potente anticiclone móvel polar, designado por A1 na figura, desceu do Pólo Norte até ao Golfo do México e estendeu-se ao Atlântico.

O A1, numa primeira fase, intensificou o Mitch ao provocar uma enorme concentração de energia no corredor depressionário da face frontal daquele. Seguidamente, a própria potência do A1 barrou o caminho do Mitch em direcção ao Norte.

Aquele A1 foi de imediato reforçado pela chegada de mais dois AMP, nascidos igualmente no Pólo Norte: - O A2, com o qual se aglutinou rapidamente, e o A3 que elevou mais a pressão atmosférica a norte do Mitch.

A actividade do Mitch, perante o muro de aglutinações anticiclónicas, amorteceu progressivamente. Foi desviado para oeste e penetrou no continente americano. Neste, o nível desce para uma depressão tropical (ventos inferiores a 60 km/h).

O Mitch refugiou-se na vertente sul do relevo do istmo (na Fig. 32 as linhas tracejadas na vertical representam edifícios geográficos da região). Este relevo estancou simultaneamente as aglutinações anticiclónicas.

A rota para oeste também é barrada por uma intensa nortada que entretanto atravessou, em direcção ao Pacífico, a separação dos dois edifícios (representada por “te” - de tehuantepecer – na Fig. 32) existentes a Sul do México.

Na Fig. 32 estão igualmente representados os traços no solo do equador meteorológico inclinado “EMI”, a monção panamiana “mp” e o alísio marítimo atlântico “alm” que forneceram enormes quantidades de energia ao Mitch.

A subida do Mitch (vd. Fig. 31 anterior) efectuou-se pelo corredor depressionário de um novo AMP (o quarto deste acontecimento, não representado na Fig. 32) que entretanto apareceu sobre o Golfo do México depois de abandonar o Pólo Norte.

No dia 5 de Novembro o Mitch atingiu o sul da Florida. No dia 6 posicionou-se ao largo da Carolina e no dia 7 desvaneceu-se.

Assim, apesar das suas consideráveis quantidades de energia, o Mitch ficou sujeito às condições dinâmicas que lhe ditaram o seu deslocamento, como aliás acontece a todas as perturbações semelhantes.

A sua trajectória foi perfeitamente organizada, primeiro pela força geostrófica que afastou o Mitch para noroeste, depois pela face frontal do A1, que se opôs ao deslocamento para Norte e fez inflectir a sua caminhada, e pelos relevos geográficos do istmo.

A reentrada no Golfo do México realizou-se entre a face de trás do A3 e a face da frente do A4 que facilitou o corredor depressionário (os ciclones tropicais seguem o caminho das depressões).

O A4 não aparece na Fig. 32. Aparece o A1 com as posições da frente, a traço contínuo, dos dias 23 a 29 de Outubro. Aparece o A2 com as posições, a traço interrompido, entre 25 e 26 de Outubro.

E, finalmente, aparece na figura o A3 entre 29 de Outubro e 1 de Novembro, com traço interrompido mais curto. Em conclusão, a trajectória do Mitch foi traçada pelos quatro AMP e pelas elevações do terreno.

Moral desta história triste, terminada com mais de 24 mil mortes: - O efeito de estufa, o aquecimento global e as alterações climáticas só intervieram na imaginação fértil dos media e dos cientistas que adoram dar palpites para alimentar a confusão daqueles.

Outra lição a tirar deste acontecimento verificado em 1998, ano em que as estatísticas apontam como o mais quente do século XX, é que a temperatura do Pólo Norte era, apesar disso, suficientemente baixa para gerar os quatro anticiclones móveis polares potentes num intervalo de tempo tão curto.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Fig. 32 - A dinâmica do Mitch entre 23 e 31 de Outubro de 1998. Fonte: Marcel Leroux.Posted by Picasa

domingo, outubro 16, 2005

Trajectórias dos ciclones tropicais

Não é fácil num bloco-de-notas (blog ou blogue) explicar com profundidade certos pormenores de fenómenos meteorológicos e climáticos. É o caso dos ciclones tropicais. Trata-se de um fenómeno que só pode ser explicado à luz da teoria moderna baseada nos anticiclones móveis polares (AMP).

Os Mitos Climáticos têm tentado utilizar o menor número possível de conceitos complexos. Mas alguns têm de ser apresentados. Foi o caso imprescindível do equador meteorológico (EM) referido no anterior post.

Os modelos climáticos de uso corrente são baseados na obsoleta teoria clássica. Esta não explica a realidade que hoje pode ser observada através dos satélites. Como se pode atribuir valor a um modelo que desconhece a existência de fenómenos reais como os AMP?

Viu-se que o equador meteorológico é o lugar dos encontros dos AMP boreais e austrais. Este equador varia ao longo do ano de acordo com o modo de circulação geral. Este é rápido no Inverno (AMP potentes) e lento no Verão (AMP menos potentes).

Nas camadas médias da atmosfera, o equador meteorológico é vertical. Nas camadas baixas é inclinado. Como pode um modelo climático representar esta realidade? Os modelos climáticos não têm de facto significado físico.

Tudo isto vem a propósito das trajectórias dos ciclones tropicais. As referidas trajectórias refutam, definitivamente, qualquer pretensão de associar o efeito de estufa antropogénico à intensidade e à frequência dos tufões.

As trajectórias dos ciclones tropicais são comandadas por factores tropicais (0º a 30º de latitude N e S) e extratropicais (acima de 30º). A transformação do equador meteorológico vertical em inclinado na aproximação de um continente e/ou o acréscimo de vorticidade com a latitude afasta lentamente os ciclones tropicais do equador geográfico (0º).

Estes dois factores, conjunta ou separadamente, aproximam os ciclones tropicais do corredor depressionário da parte frontal dos AMP que atinge as margens tropicais. O que tem isto a ver como o efeito de estufa antropogénico? Nada!

O ciclone tropical, que tem tendência para seguir o caminho mais fácil de uma queda de pressão, é atirado para as baixas pressões extratropicais. Deste modo, o ciclone tropical fica eventualmente reactivado e integrado na dinâmica temperada, mudando de direcção e de nível.

Este reencontro das dinâmicas tropical e temperada geralmente protege os continentes. Isso acontece pela mudança de trajectória dos ciclones tropicais que se deslocam primeiramente para o Oeste, para os continentes, e depois afastam-se se forem sugados e desviados para Leste pela face frontal de um AMP.

Tal é habitualmente o caso, por exemplo, no litoral oriental da América do Norte. Infelizmente, esta dinâmica sobre a face frontal de um AMP também pode levar para o litoral um ciclone tropical que, entretanto, se deslocava para oeste sobre o oceano.

A trajectória dos ciclones tropicais é dita caprichosa e imprevisível. Porém, ela pouco é deixada ao acaso por ser rigorosamente comandada: - Em primeiro lugar pela dinâmica tropical e, depois, pela dinâmica temperada ou mesmo pela orografia.

Um exemplo célebre, embora de má memória, é o do tufão Mitch (Vd. Fig. 31) que provocou enormes perdas materiais e humanas (mais de 24 mil mortos).

Desde o dia 21 de Outubro de 1998 até ao dia 7 de Novembro desse ano, o Mitch andou às bolandas pelo golfo do México, Honduras, Salvador, Guatemala, Florida, Atlântico, Carolina, Atlântico…

Este furacão nasceu e desenvolveu-se na plenitude do Outono quando as temperaturas da água do mar não seriam determinantes. Foram os fluxos energéticos marítimos e atmosféricos (ar húmido), vindos de longe, que o comandaram.

Durante o seu percurso, o Mitch encontrou-se com, nada mais nada menos, quatro AMP que tão depressa o bloqueavam como o desviavam pelos corredores depressionários. Todos os modelos de previsão americanos anunciavam trajectórias erradas para o tufão que variou várias vezes de nível (1, 2, 3, 4, 5, 4, 3, 2, 1, …).

As televisões das Honduras e da Nicarágua difundiam mensagens de acalmia para as suas populações, evocando um “verdadeiro milagre”… que era anunciado através de Miami, pelo Tropical Prediction Center.

Dizia este Centro que os satélites permitiam prever que o Mitch não podia penetrar no continente. Infelizmente, o que aconteceu foi exactamente ao contrário dessas previsões…feitas com modelos baseados em teorias obsoletas.

A sua trajectória seria no entanto previsível, desde que se observasse atentamente a realidade - ao invés de procurar a resposta em modelos fundamentados em estatísticas e, sobretudo, em conceitos ultrapassados.

Esta é uma verdadeira tragédia da humanidade: - O obscurantismo e a teimosia em considerar teorias obsoletas como sendo seguras. Isto até pode dar dividendos imediatos. Mas a médio e longo prazo provocará o descrédito total daqueles que gostam de aparecer nos media para lançar o pânico climático.
Fig 31- Trajectória do tufão Mitch entre 21 de Outubro e 5 de Novembro de 1998.
D - depressão tropical S - tempestade tropical (storm) H - tufão (hurricane) 5 - nível máximo atingido. Fonte: Marcel Leroux. Posted by Picasa

sexta-feira, outubro 14, 2005

Origem dos ciclones tropicais

O nascimento e a manutenção de um ciclone tropical exigem a simultaneidade de cinco condições: 1 - A existência de um campo depressionário preexistente; 2 - O desencadear da convecção térmica; 3 - A alimentação permanente de energia; 4 - O desenvolvimento em altitude; 5 - A formação de um turbilhão.

Justifica-se desde logo a dúvida de que o efeito de estufa antropogénico seja capaz de estar por detrás destas cinco condições simultâneas e, felizmente, draconianas. Basta uma delas não se verificar para que deixe de se originar um ciclone tropical.

1 – A existência de um campo depressionário nas camadas baixas da atmosfera favorece o aparecimento de uma depressão inicial cavada. Esta condição afasta desde logo as aglutinações anticiclónicas do tipo do anticiclone dos Açores.

Este campo de baixas pressões previamente estabelecido pode ser – mas não obrigatoriamente – a depressão da face frontal de um anticiclone móvel polar (Vd. Fig. 6) que, mais uma vez, não tem literalmente nada a ver com o efeito de estufa.

Uma vez formado, o ciclone tem tendência a seguir as depressões mais fracas, tropicais ou extratropicais.

2 – O desencadear da convecção térmica é um fenómeno dinâmico de formação das concentrações nebulosas. Estas podem desencadear precipitações intensas, mas poucas concentrações nebulosas podem só por si originar um ciclone.

3 – A alimentação permanente de energia deve ser renovada de uma forma robusta. O ciclone é deste modo auto-sustentado após o desencadear da ascensão nebulosa. A exigência de temperaturas marítimas elevadas (superiores a 26 ºC) é um exemplo de covariação considerada como condição. Mas não é exclusiva.

O equador oceânico, onde se concentram águas quentes, confunde-se com o equador meteorológico (eixo de simetria da circulação geral na confluência dos transportes efectuados pelos anticiclones móveis polares boreais e austrais). Na zona destes equadores partem os fluxos energéticos oceânicos e aéreos que alimentam os ciclones.

A alimentação por fluxos oceânicos tem necessidade de um longo trajecto para armazenar enormes quantidades de calor sensível e latente pois o calor latente fornecido pela evaporação in situ tem uma proporção ínfima que é insuficiente.

Os ciclones formam-se e mantêm-se quando são alimentados também por fluxos aéreos tropicais quentes. Sobretudo muito ricos em energia, isto é, muito húmidos. Estas condições são preenchidas separada ou simultaneamente pelos fluxos das monções marítimas e dos alísios marítimos já evoluídos.

Devido à inércia térmica oceânica a qualidade dos fluxos húmidos é melhor no fim do Verão e no Outono. Nesta estação do ano os ciclones são mais bem alimentados pelos fluxos oceânicos e aéreos e tornam-se mais violentos.

Se a temperatura da água do mar fosse só por si um elemento fundamental seria de esperar que a época dos furacões tivesse início em pleno Verão e não no Outono (Setembro, Outubro e Novembro).

A renovação e a alimentação energética têm de ser rápidas e ininterruptas. Desde o início que o ciclone nascente exige fluxos aéreos e oceânicos potentes. De seguida o ciclone aspira quase toda a energia à sua volta num espaço com um raio de acção superior a 1000 km.

4 – O desenvolvimento em altitude deve ser realizado em toda a troposfera, isto é, no seu estado inicial o ciclone não deve sofrer nem subsidência nem espalhamento das massas nebulosas para não abortar. Isto também nada tem a ver com o efeito de estufa.

5 – A formação de um turbilhão (vórtice) é indispensável à atracção e à aceleração da alimentação energética e à concentração da convergência. Esta acção é dependente da força geostrófica que varia com a latitude e é praticamente nula na proximidade do equador.

A ciclogénese é impossível no espaço compreendido entre as latitudes 4 a 5 graus Norte e Sul. Os ciclones mais rápidos e mais importantes são também mais turbilhonares. A força de Coriolis – que é função da velocidade dos fluxos e da massa transportada – intervém na formação do momento angular.

A vorticidade é função da latitude. Ela é mais forte na face polar que na face equatorial dos ciclones. Este excedente relativo de potência, uma vez o movimento turbilhonar desencadeado, desvia progressivamente o ciclone para o Norte ou para o Sul.

Deste modo, os ciclones tropicais são afastados lentamente da sua estrutura de origem (aproximando-o progressivamente da zona temperada). O acréscimo de vorticidade que daí resulta compensa então o empobrecimento energético e as dificuldades estruturais crescentes.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Estrutura dos ciclones tropicais

Os ciclones tropicais apresentam-se como formações nebulosas circulares que cobrem várias centenas de quilómetros. Podem atingir 1000 km. No caso dos super-tufões atingem mesmo o dobro.

O olho dos ciclones tropicais (Vd. Fig. 30) forma um imenso tubo envolvido por cúmulos e nimbos que se elevam até à tropopausa (limite de separação da troposfera e da estratosfera, entre 10 km e 15 km acima do nível do mar). O olho é uma zona geralmente calma. Pode ter 10 km a 30 km de largura.

A dimensão do olho informa a natureza da intensidade do tufão. Se ele é estreito denota um ciclone violento. Se o olho é largo indica um ciclone menos violento. O seu sucessivo alargamento é na maior parte das vezes sinal de declínio do tufão.

O olho é constituído por uma depressão. O recorde mais baixo desta depressão é de 87 kPa (quilopascal). O ciclone é constituído por uma imensa convergência de cúmulos e nimbos. Esta convergência liberta enormes quantidades de energia que mantêm violentas ascensões nebulosas.

As velocidades de deslocamento do conjunto da nebulosidade são muito variáveis. Ela aumenta nas trajectórias em latitudes mais elevadas. Os tufões muitas vezes apresentam acelerações brutais.

Os ciclones tropicais provocam estragos causados pelo vento, pela chuva e pelos efeitos no mar. O vento é o critério mais frequente de diferenciação do tipo de perturbação cuja intensidade é progressiva.

Nas depressões tropicais as velocidades do vento são inferiores a 60 km/h. A tempestade tropical tem velocidades compreendidas entre 60 km/h e 120 km/h. Acima dos 120 km/h o ciclone atinge o estado de maturidade de um tufão. Felizmente nem todas as tempestades conseguem atingir este estado de maturidade.

Nos anos 70 do sec. XX, o engenheiro Herbert Saffir e o director do US National Hurricane Centre, Robert Simpson, desenvolveram uma escala de valores para fornecer à opinião pública a estimativa da potência dos furacões.

A escala de Saffir-Simpson diferencia cinco níveis de ciclones em função da velocidade do vento e da depressão:

Nível 1 – ventos entre 120 km/h e 155 km/h (mais de 98 kPa)
Nível 2 – ventos entre 155 km/h e 180 km/h (97,9-96,5 kPa)
Nível 3 – ventos entre 180 km/h e 210 km/h (96,4-94,5 kPa)
Nível 4 – ventos entre 210 km/h e 250 km/h (94,4-92,0 kPa)
Nível 5 – ventos acima dos 250 km/h (menos de 92,0 kPa).

As rajadas de vento podem atingir e até ultrapassar os 300 km/h no nível mais elevado dos furacões. Nestes casos, aos factores de aceleração junta-se a reutilização de uma parte do ar sobrelevado que desce pelo exterior da perturbação.

As precipitações são consideráveis e violentas. Na ilha da Reunião registaram-se 1870 mm de precipitação em 24 horas. Os efeitos das inundações são agravados pela subida do nível das águas do mar, que acompanham a maré do furacão e a onda do furacão.

A maré do furacão é formada pelos ventos mais fortes. Propaga-se sob a forma de uma vaga à frente do ciclone (a mais de 1000 km) provocando uma elevação do nível do mar de cerca de 1 metro.

A elevação do nível do mar devida à pressão é de 1 cm por hPa (hectopascal). Assim, para uma queda de pressão de 100 hPa o nível do mar eleva-se de 1 m. Esta elevação aumenta fortemente pela tensão considerável do vento sobre a água que se orienta para o centro do ciclone.

A onda do furacão eleva o nível dos rios no momento em que se produzem chuvas intensas com inundações. Os seus efeitos são amplificados pela configuração dos litorais, como aconteceu provavelmente em Nova Orleães.
Fig. 30 - O furacão Katrina na sua aproximação a Nova Orleães. O olho estreito denota a sua violência. Fonte: NASA.Posted by Picasa

quarta-feira, outubro 12, 2005

Ciclones tropicais

A temporada de 2005 dos ciclones tropicais originou grandes catástrofes que foram imediatamente transformadas em acontecimentos representativos dos resultados das emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa.

Para chegar à análise de uma hipotética ligação entre os ciclones tropicais e o efeito de estufa convém dar uma vista de olhos à ciclogénese. Não se trata de um assunto fácil. Pode-se mesmo afirmar que as tragédias dos tufões Katrina e Rita constituem o melhor exemplo da nossa enorme ignorância acerca da dinâmica do tempo e do clima.

A palavra ciclone, do grego kuklos que evoca o enroscamento da serpente, foi utilizada pela primeira vez em 1854 por Piddington, em Calcutá, para designar a tempestade tropical (tropical storm). Em seguida foi generalizada para designar todas as depressões - ( Leroux, Marcel - La dynamique du temps et du climat. 2ª ed. , Dunod, Paris, 2000, p.194).

O ciclone tropical é chamado typhon no Extremo-Oriente (thaï fong em chinês, taï fu em japonês, toofan em indiano, tufan em árabe), baguio nas Filipinas, willy-willy na Austrália (termo designando também os tornados), cordonazo no México enquanto o termo nas Caraíbas hura kan deu huracàn em castelhano, hurricane em inglês e ouragan em francês - (idem).

Em português estão consagrados os termos furacão para os ciclones tropicais do Atlântico e tufão para os do Pacífico (mnemónica: f/A e t/P, com f antes de t e A antes de P na ordem alfabética).

Os ciclones mais importantes merecem o qualificativo de super. Fenómenos impressionantes e destruidores os ciclones têm centralizado a investigação tropical. Eles começaram a ser mais bem conhecidos muito recentemente, após voos no interior do seu designado olho e da inspecção com o uso de satélites.

Existem porém muitas divergências de opinião quanto à génese dos ciclones tropicais. Uma delas, em particular, é a do grau de importância das condições térmicas dos oceanos. Outra é acerca das causas das suas trajectórias, consideradas caprichosas e imprevisíveis.

Se fosse possível prever as trajectórias e - mais ainda - rectificá-las, quantas vidas humanas não teriam sido salvas até hoje? Mas nem os mais potentes computadores nem os melhores modelos climáticos conseguem efectuar tais previsões.

E porquê? Porque não se conhece o esquema conceptual deste fenómeno físico. Por isso não é possível transpô-lo para modelos. O mesmo se passa com os modelos climáticos em geral que pretendem prever o aquecimento global, as alterações climáticas e os fenómenos extremos – cheias, secas, tufões, p.e. – sem se conhecerem as explicações físicas exactas para tais fenómenos.

De acordo com o Tropical Prediction Centre, Miami, o registo dos tufões – desde 1851 – que atingiram a costa dos Estados Unidos, indica que foi a década de 1941-1950 aquela que apresentou a maior actividade (24 tufões).

Os anos da década de 40 do século XX situaram-se a meio do Óptimo Climático Contemporâneo (1930-1960). Deste modo, não foi seguramente o aquecimento global que motivou o aparecimento dos 24 ciclones de então. O Intergovernmental Panel on Climate Change acusa o aquecimento global de ter começado a actuar apenas mais de vinte anos depois de 1950 (Vd . o “hockey stick”).

Daí, associar o número de tufões por década (por ano tem menos significado) ao efeito de estufa é mais um dos abusos sem sentido realizado pelos defensores de uma teoria já refutada no blog.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Com o Árctico não se brinca

A avaliação das temperaturas regionais envolve um processo muito complicado, especialmente no caso do Árctico. Não se pode raciocinar em termos de períodos muito reduzidos nem desprezar o que se passa na vizinhança dentro da mesma unidade aerológica.

O estudo da NASA, que deu brado nos noticiários dos media de final de Setembro passado, engloba apenas um reduzidíssimo período de duas décadas e limita-se a uma porção do Árctico. Recorde-se que o clima é definido para um período de trinta anos.

Igor V. Polyakov, já referido no blogue, publicou com outros autores três artigos importantes sobre o Árctico: 1 - «Trends and Variations in Arctic Climate System. 2002, EOS, 19 Nov. 547-548», 2 - «Observationally based assessment of polar amplification of global warming. Geophysical Research Letteres, 2002, vol. 29, nº 18», 3 - «Variability and trends of air temperature and pressure in maritime Arctic, 1875-2000. 2003, Journal of Climate, 16, nº12, 2067-2077».

Polyakov (relembre-se que os russos possuem a melhor informação do Árctico que foi considerado uma zona estratégica durante a guerra fria) conclui que os dados estatísticos não suportam a hipótese de amplificação polar devida ao aquecimento global prevista pelo IPCC. As temperaturas e as pressões da superfície do Árctico foram examinadas para o período 1875-2000, a norte da latitude 62 º N.

As temperaturas superficiais apresentam uma mais forte variabilidade por décadas na região polar, propriamente dita, do que nas baixas latitudes. A Fig. 29 destaca dois períodos em que as temperaturas foram mais elevadas, o primeiro entre 1930-1940 (os anos mais quentes) e o segundo durante as décadas mais recentes. Entre estes dois períodos verificou-se um outro 1940-1970 de arrefecimento pronunciado.

Ora, o primeiro período de aquecimento do Árctico (1930-1940) cai dentro do Óptimo Climático Contemporâneo (aprox. 1930-1960) e o período de arrefecimento abrange parte daquele e o período de arrefecimento recente do planeta (aprox. 1960-1970).

Calculando o valor médio do aumento da temperatura, desde 1875, encontra-se 0,094 ºC por década. No entanto, calculando a tendência desde 1940 obtém-se um arrefecimento. Isto mostra o cuidado que se deve colocar na determinação das tendências que dependem dos períodos.

Além disso, numa região tão sensível como o Árctico, os valores médios anuais escondem as tendências sazonais. De facto, no Inverno a tendência tem sido de arrefecimento, enquanto entre a Primavera e o Outono tem sido de aquecimento.

Por isso, o estudo da NASA, que não distingue as estações do ano e se refere apenas aos valores anuais, engana quem não está por dentro destes pequenos-grandes detalhes. Mas falta ainda dizer que os resultados destas análises dependem ainda fortemente das latitudes da região polar.

Resumindo, o comportamento térmico do Árctico é relativamente bem conhecido mas as análises térmicas ainda conduzem a alguma confusão quando são referidos valores médios tanto no tempo como no espaço do próprio Árctico. E quem está interessado na confusão?

Fig. 29 - Anomalias anuais das temperaturas do ar superficial do Árctico (ºC). Os algarismos marcados no eixo horizontal indicam o número de estações meteorológicas consideradas no cálculo das médias. Fonte: Igor V. Polyakov. Posted by Picasa

Outra vez o Árctico…

Nos quatro posts «O Árctico (1)» a «O Árctico (4)», de Maio de 2005, a situação actualizada desta zona do globo foi analisada em pormenor. No post «Árctico (3)» afirma-se: «Um estudo a partir de medições de satélites durante o período recente de 1978-1998 parece indicar uma diminuição substancial, até 14%, da área coberta pelo gelo multi-anual (Vd. Johannessen, O. M. et al., Satellitteÿ evidence for an arctic sea cover in transformation, Science, 286, 1937-1939, 1999)».

Até agora nada se passou de novo que merecesse alguma atenção especial. Porém, em finais de Setembro passado, a NASA apresentou publicamente uma actualização daquele estudo afirmando que o mar gelado do Árctico, em 2005, tem o valor mais baixo desde a era de observações por satélite iniciada em 1978/9.

Este anúncio foi feito com pompa e circunstância nos media que propalaram o alarmismo tradicional. Eis alguns spots do dia 29 de Setembro:
Arctic ice ‘disappearing fast’” (BBC News); “Arctic ice melts faster as it gets warmer” (USA Today); “Arctic meltdown just decades away, scientists warn” (Sydney Morning Herald).

Em Portugal, como é evidente, os nossos media papaguearam a notícia, nomeadamente nos telejornais, com imagens e discursos de proeminentes cientistas, incluindo o Dr. Josefino Comiso da NASA. Este cientista foi o principal autor do artigo «The polar ice cover. How it is changing» que originou todo este burburinho.

O responsável dos Mitos Climáticos, no dia 28 de Setembro, enviou ao Dr. Comiso o seguinte mail, referindo-se exactamente àquele artigo:

«Dear Mr. Comiso: Conhece o livro “Global Warming: Myth or Reality?” de Marcel Leroux? Este cientista francês afirma: ‘No Árctico como no Antárctico, o défice térmico intensifica a emissão de ar frio nas altas latitudes. Esta evolução dinâmica no Árctico é um dado fundamental, não somente para o próprio Árctico, mas para a totalidade do hemisfério Norte. Melhores cumprimentos.»

O Dr. J. Comiso respondeu, no dia 29 de Setembro:

«Dear Dr. Moura: Não sei de que lado o Sr. está mas há de facto uma grande controvérsia sobre o aquecimento global e especialmente o associado aos gases com efeito de estufa. Eu penso que os dados dos satélites têm proporcionado a melhor prova dos sintomas de aquecimento no Árctico. Por exemplo, o eterno mar gelado está actualmente a retrair-se ao ritmo de 9,8 % por década sendo o registo deste ano o recorde inferior desde a era dos satélites. No entanto, os registos dos satélites são relativamente curtos e o sistema climático é muito complexo. Aquele é um grande sinal (a adicionar a outros) para que necessitemos de ter receio. Devemos esperar até termos certezas ou devemos começar a repensar como nós os humanos conduzimos as nossas actividades? Joey Comiso»

Nesse mesmo dia 29 de Setembro, o responsável dos Mitos Climáticos respondeu:

«Dear Dr. Josefino Comiso: Agradeço muito a sua resposta. Sou um principiante em climatologia. Tenho muitas, muitas dúvidas. Por exemplo, o Sr. diz: “Eu penso que os dados dos satélites têm proporcionado a melhor prova dos sintomas de aquecimento no Árctico.” Eu não discuto os dados fornecidos pelos satélites e que o eterno mar gelado esteja em retracção nesta fase. Estas são provas das imagens dos satélites. Mas eu não sei como é que o Sr. pode provar a ligação dessas imagens com o “global warming” e “especialmente àquele associado aos gases com efeito de estufa (naturais ou antropogénicos?) ”. O Sr. afirma “…o sistema climático é muito complexo.” Eu estou inteiramente de acordo consigo acerca desta afirmação. O que pensa da circulação geral da atmosfera? O que pensa dos Anticiclones Móveis Polares – que as imagens dos satélites provam como sendo um fenómeno real – originados a partir da região do Árctico que está a arrefecer [que não foi referida no artigo nem apresentada nas televisões]? Marcel Leroux explica: “O efeito de estufa não é a causa das alterações climáticas. Os modelos sobrestimam as suas projecções. A circulação geral é perfeitamente organizada. O efeito de estufa não controla a evolução da temperatura. O efeito de estufa não controla o clima do passado, do presente e do futuro…O efeito de estufa não determina o estado do tempo, e, portanto, não controla as chuvas ou as secas. O mar é um microcosmo da globalidade do debate sobre o efeito de estufa.” Peço desculpa, mas gostaria de conhecer a sua abalizada opinião acerca das minhas dúvidas. Melhores cumprimentos.»

Até hoje, e já lá vão mais de 10 dias, o Dr. Josefino não respondeu. Esta troca de mensagens ilustra bem o que se passa com o debate internacional (que nem sequer existe em Portugal) sobre o efeito de estufa – aquecimento global – alterações climáticas.

Um punhado de cientistas observa determinados fenómenos (espessura de camadas de gelo, concentrações de dióxido de carbono e de metano) com importantes instrumentos de medida (satélites, estações meteorológicas fixas e móveis).

Não tem provas materiais da ligação destes fenómenos com as temperaturas que são recolhidas algures e que formam um conjunto heterogéneo mas dizem: “Eu penso que…”

A seguir a esta congeminação extrapolam os seus conhecimentos e acham que se deve actuar com uma não-solução (p.e., Protocolo de Quioto) para resolver um não-problema.

E não têm o mínimo de ética quando se apresentam à frente de jornalistas e câmaras de televisão: - Anunciando o que não sabem, actuando como se soubessem. Ao lançar hipóteses como sendo conhecimento seguro põem em causa a sua probidade científica.

quarta-feira, outubro 05, 2005

O que realmente aconteceu no Verão de 2003

À chegada incessante ao continente europeu de anticiclones móveis polares (AMP) que partiram do Árctico – viajando pelo Canadá, pelos Estados Unidos e pelo Atlântico – juntaram-se AMP vindos directamente da Gronelândia através da trajectória escandinava.

Os bloqueamentos impostos pelos relevos – como os Cantábricos, os Pirenéus, as serras espanholas e o planalto da Meseta, os Alpes, os Alpes Dináricos, os Cárpatos, os Balcãs, a cadeia do Atlas –, provocaram a formação de uma imensa área anticiclónica sobre o Oceano Atlântico, o continente europeu e o Mediterrâneo.

Verificou-se a particularidade de uma duração inabitual da potentíssima e extensa aglutinação anticiclónica constante e regularmente realimentada pelos sucessivos AMP.
A canícula não pode ser assacada ao efeito de estufa muito diminuto quando o ar está seco, nem mesmo nas cidades onde a actividade estival é reduzida.

Evoca-se uma causa hipotética não demonstrada, o efeito de estufa, mas ignora-se um mecanismo real demonstrado porque observado, os AMP. A canícula resultou sem a menor ambiguidade de uma alta inabitual da pressão. Contrariamente, a pressão baixaria se a elevação de temperatura fosse a causa primeira. Esta alta de pressões foi comandada pela frequência mais elevada dos AMP que atingiram o território europeu.

Este aumento de pressões está associado ao arrefecimento – contínuo depois dos anos 1970 – do Árctico ocidental, onde nascem a maioria dos AMP. Nesse Verão de 2003 – vejam só – o gelo do Árctico atingiu uma forte espessura enquanto a temperatura foi arrefecendo.

Este arrefecimento (que oferece ainda um desmentido flagrante às previsões dos modelos) dá desde à partida mais potência aos AMP, e assegura uma grande coerência à aglutinação anticiclónica que eles formaram em seguida sobre a Europa.

A canícula não foi pois um fenómeno devido ao acaso, imprevisível, ou isolado no tempo: há várias décadas que a pressão se eleva e que a frequência dos AMP aumenta. O fim brutal desse Verão, com uma queda de temperatura de 15 ºC a 20 ºC, esteve associado à invasão de AMP de trajectória escandinava rompendo a aglutinação anticiclónica.

É necessário pois, até porque se sofre cada vez mais a seca, estival e invernal, contrariamente às precipitações particularmente intensas, antever atempadamente as medidas possíveis para fazer face a um futuro com elevadas pressões sobre a Europa e as respectivas consequências.

A análise precisa da evolução real do tempo permitirá fazer a gestão correcta dos riscos que lhes estão associados, quer para a Natureza quer para os homens. É pois altura de parar com raciocínios errados, contra a realidade, e aprender as lições que a Natureza nos dá. Mesmo que isso custe, directa ou indirectamente, aos que ganham com a confusão actualmente estabelecida.

terça-feira, outubro 04, 2005

Como amortecem as aglutinações de AMP

A perda de velocidade e de potência dos Anticiclones Móveis Polares associada ao seu afastamento progressivo dos pólos pode provocar a formação de potentes aglutinações, nomeadamente com a aproximação da zona tropical.

Tal é o caso a leste do Atlântico Norte, onde os AMP alimentam em permanência as altas pressões que não poderiam existir, sublinhe-se, sem a chegada incessante de novos AMP, amortecidos no seu deslocamento, travados e/ou desviados pelos relevos geográficos da Europa e da África.

A extensão da aglutinação anticiclónica é então função da potência e da renovação incessante de novos AMP que pode ser da ordem de pouco mais de um por dia. Recorde-se ainda que os AMP são mais dinâmicos no Inverno do que no Verão. A aglutinação forma-se mais a Sul no Inverno e constitui-se mais a Norte no Verão quando os AMP conservam durante menos tempo a sua autonomia.

Como pode acabar uma tal situação anticiclónica? Quando um AMP mais potente penetra na aglutinação e abre ou rasga na sua face frontal um corredor depressionário que canaliza o potencial precipitável (vindo do Sul).

Essa abertura origina movimentos ascendentes, nuvens e chuvas, tanto mais intensas quanto o AMP que provocou a fenda é mais vigoroso. O ar do AMP provoca de seguida um arrefecimento mais ou menos acentuado.

Pode ser mesmo um arrefecimento pronunciado se o AMP tiver uma trajectória escandinava. Foi assim que se interrompeu o período de canícula sobre a Europa nos dias 16 e 17 de Agosto de 2003.

Será provavelmente assim a interrupção da actual situação de seca prolongada se é que ela não se vai manter com a contínua transformação da água existente no planeta no estado gasoso para o estado sólido da região do Pólo Norte.

Registe-se a contribuição do Prof. J. J. Delgado Domingos, do Instituto Superior Técnico, e do Prof. João Corte Real, da Universidade de Évora, na recolha e fornecimento de dados pedidos pelo autor dos Mitos Climáticos.

Esta recolha serviu para o estudo de actualização da situação climática de Lisboa levada a cabo pelo Laboratoire de Climatologie, da Universidade de Lyon, com a supervisão do Prof. Marcel Leroux que solicitou aqueles elementos ao autor dos MC.

Primeiramente, o pedido foi dirigido ao Instituto de Meteorologia que cobrou uma pequena fortuna mas que acabou por ser inútil devido à precariedade dos elementos disponibilizados mesmo depois de se enfrentar um processo burocrático tipicamente português.

Esse estudo veio corroborar a situação de elevação da pressão atmosférica sobre Lisboa que se tem verificado desde os anos de 1970 por efeito da acção da passagem dos AMP com trajectórias meridionais com acentuação do modo rápido.

Deste modo, a continuação ascendente da curva da Fig. 1 até ao presente ano de 2005 é uma prova do permanente arrefecimento da zona ocidental do Pólo Norte e da parte ascendente da Gronelândia onde estão os berços dos AMP no hemisfério Norte.

Quem diria, agora que tanto se ouve, se vê e se lê que o Pólo Norte está em risco de desaparecer e que a Gronelândia está a derreter…

segunda-feira, outubro 03, 2005

Como se estabelecem as AP sobre a Europa

Qual é a explicação para a formação das grandes extensões de altas pressões? Os partidários do pensamento mágico têm uma resposta na ponta da língua para o caso da Europa: é da responsabilidade do “anticiclone dos Açores”!

Esta personagem mítica é inexplicável à luz do pensamento clássico da meteorologia-climatologia: na sua presença diz-se que ele “encheu”; na sua ausência diz-se que ele “esvaziou”. Estas variações permanecem misteriosas mas também se diz, sem fundamento, que “deixa” ou “não deixa” passar as perturbações segundo o valor da pressão.

Este tipo de explicação releva do animismo meteorológico, porque o anticiclone dos Açores, só por si, não tem autonomia (pelo menos na forma como é normalmente apresentado)! E os clássicos não têm explicações plausíveis tanto neste como noutros fenómenos meteorológicos.

Igualmente, não sabem justificar como e porquê o ar quente vem do Sul. É simplista: não faz mais calor a Sul? Não é evidente? Não é mais compreensível, embora esta “evidência” seja infundamentada, do que explicações complexas, mesmo que fundamentadas?

Todavia, deve-se começar por chamar a atenção que a água que cai sobre a Europa provém do Sul na maior parte dos casos – o resto vem do Atlântico –, e em todos os casos quando caiem chuvas torrenciais nos contornos do Mediterrâneo!

A realidade, que é um pouco mais complexa, não é devida à intervenção misteriosa de qualquer divindade, nem a qualquer desregulação do tempo. Ela resulta de uma intensificação dos mecanismos habituais, organizados por fenómenos bem concretos e bem individualizados.

De modo permanente, as lentes anticiclónicas (2 a 3 mil quilómetros de diâmetro) formadas por ar inicialmente frio e pelicular (1500 metros de espessura média) saem regularmente dos pólos em direcção aos Trópicos: são os Anticiclones Móveis Polares ou AMP.

No seu deslocamento, estes AMP provocam a subida do ar quente, que passa por cima deles, e o seu transporte no sentido inverso (em direcção aos pólos) – daí a contribuição para algumas perturbações na região do Árctico que são erroneamente atribuídas ao imaginário aquecimento global. (Como estaria o Árctico no tempo de D. Afonso Henriques?)

Assim, podem-se desenvolver as perturbações de origem pluviométrica pelo contacto entre o ar frio e o ar quente na face frontal dos AMP, que se deslocam habitualmente de oeste para este como qualquer um pode facilmente observar nas imagens dos satélites meteorológicos.

A sucessão dos períodos de “mau tempo” (depressão = advecção* de vapor de água, ascendências e nuvens sobre a face frontal dos AMP) e de “bom tempo” (AMP = estabilidade anticiclónica e céu mais ou menos limpo) está assim estreitamente ligada à frequência e à potência dos AMP. Se os AMP se seguem de maneira regular os períodos de mau tempo e de bom tempo alternam, todos os 2-3 dias.

Mas, o que interessa agora considerar, os AMP podem encaixar-se e fundir-se para formar uma aglutinação anticiclónica, mais ou menos potente e extensa em função do número de AMP que a constituem. Vários factores favorecem a formação destas áreas de altas pressões extensas, e entre esses factores está o relevo.

São pois estas aglutinações anticiclónicas que estabelecem as vastas áreas de altas pressões, nomeadamente sobre a Europa, mas não só. O anticiclone dos Açores não é mais do que uma aglutinação anticiclónica de AMP, embora possa ser passageira. No entanto, as aglutinações formam-se em várias regiões do globo.

Os AMP são formações de ar frio e denso que não podem passar por cima dos edifícios geográficos mais altos (um relevo da ordem dos 1000 metros é assim determinante). Quando encontram um destes obstáculos geográficos os AMP são amortecidos, bloqueados e encaixam-se uns nos outros.

Isso só não acontece se os AMP conseguirem passar pelos interstícios geográficos ou desfiladeiros quando são possuídos de grandes velocidades associadas às elevadas potências como sucede nos períodos mais rigorosos do Inverno (modo de circulação rápido).

No caso dos Açores, sem relevos geográficos locais, a menos no Pico – eles existem na Península Ibérica –, é típica a situação de uma aglutinação provocada, nomeadamente, pela resultante entre a velocidade amortecida dos AMP e a velocidade de rotação da Terra.

Obs.: * advecção. Transporte na horizontal pela acção do vento de uma determinada propriedade atmosférica ou contaminante do ar (Dicionário de Terminologia Energética, Associação Portuguesa de Energia, 3ª edição, 2001, p. 70).

sábado, outubro 01, 2005

Refutação da teoria do efeito de estufa antropogénico do IPCC

Os valores elevados da pressão atmosférica sobre a Europa durante o Verão de 2003, inscrevem-se na subida que se observa desde o shift dos anos 1970, como mostra a Fig. 1, representativa da evolução da pressão sobre o conjunto do território europeu (de Lisboa a Constança) no decurso do período de 1920-1995.

Essa alta das pressões observa-se sobre a quase totalidade da Europa, como mostram as curvas de Lisboa, em Portugal, e Constança, na Roménia, sobre as quais aparece claramente a nítida rotura dos anos 1970 (Fig. 1) com um salto da ordem de 5 hPa (hectopascal = 100 vezes 1 pascal).

A forte estabilidade anticiclónica (calma ou vento fraco, ausência de movimentos ascendentes) favorece o aquecimento do ar nas baixas camadas. A condução do calor é com efeito tanto mais forte quanto a pressão é mais elevada e desde que o ar não se possa elevar – devido à subsidência –, sobreaquecendo portanto (para a mesma quantidade de energia recebida do Sol) as camadas próximas do solo.

O calor provoca uma forte diminuição da humidade relativa, isto é, uma forte secagem do ar, que é tanto mais seco quanto o vapor de água atlântico ou mediterrânico não penetra no interior do ar anticiclónico (o que reduz consideravelmente o efeito de estufa natural que está principalmente associado ao vapor de água).

A nebulosidade muito reduzida a nula oferece um ar soalheiro óptimo, e a elevação do calor atinge gradualmente (por efeito cumulativo) a “canícula”, sobretudo nas cidades (menos ventiladas, mais quentes, mais secas) onde se reforça a bolha de calor urbano.

Ao mesmo tempo o carácter anticiclónico (limitado às baixas camadas) e a ausência de movimentos horizontais e verticais concentram a poluição nos níveis inferiores (sob um nível de inversão situado cerca de 1000 a 1500 metros), enquanto a forte insolação acelera a fotodissociação (produção de ozono).

Calor, seca e poluição são pois as consequências das altas pressões. E não é seguramente o inverso. Sublinhe-se que a aceitar-se como válida a teoria do “efeito de estufa” do IPCC teríamos de inverter a realidade.

Nesse caso, a poluição seria a origem da elevação de temperatura que provocaria pelo contrário uma baixa de pressão pois o ar quente elevar-se-ia por não se verificarem as condições anticiclónicas com subsidência.

São, portanto, as condições anticiclónicas com subsidência que constituem a chave do que está a acontecer! Mas referi-las é insuficiente se não soubermos explicá-las como não sabem os defensores de uma teoria refutável pela própria Natureza.

Pergunta-se: é a Natureza que está errada ou é a teoria do IPCC que deve ser refutada e substituída pela teoria dos Anticiclones Móveis Polares tal como tem vindo a ser explicada exaustivamente no blogue?

Sugere-se a todos os leitores uma revisão do estudo dos AMP tal como foram tratados na série de 8 posts – Anticiclones Móveis Polares (1) a (8) – produzidos no mês de Maio de 2005.

Mas afinal o que está a acontecer?

Para se refutar a teoria do efeito de estufa adicional, ou de origem antropogénica, o consequente aquecimento global e as alterações climáticas, pode-se analisar o Verão de 2003 como o fez Marcel Leroux e a sua equipa do Laboratório de Climatologia da Universidade de Lyon.

Os defensores da tese do aquecimento global atribuíram ao efeito de estufa (eles nunca distinguem o natural do adicional ou antropogénico) as consequências da vaga de calor do Verão de 2003, assim como da seca deste ano de 2005 e das inundações do Verão de 2002 ou de 2005 que se verificaram em diferentes regiões da Europa.

De acordo com os fãs das alterações climáticas todos os acontecimentos meteorológicos irregulares são a ilustração das previsões dos modelos do IPCC! No entanto, eles nunca são capazes de explicar a relação física entre estes fenómenos.

Seria interessante indagar a razão pela qual a vaga de calor de 2003 se circunscreveu a uma parte da Europa (em Moscovo registaram-se temperaturas extremamente baixas para a época do ano) sem ter atingido, por exemplo, os Estados Unidos da América ou o Canadá.

Por outro lado, o abuso do termo “global” não consegue explicar a simultaneidade de vagas de calor em partes do hemisfério Norte e vagas de frio no hemisfério Sul. No Verão de 2003 nevou na ilha da Reunião (nas Maurícias), registou-se frio intenso em Madagáscar, na Argentina e no Chile.

É bastante curioso que, simultaneamente, numa região ou numa zona se verifiquem secas, noutra ao lado se sofram as consequências de cheias, numa zona aparece calor, noutra ao lado há frio, no mesmo hemisfério, na mesma Europa. Tudo isto é devido ao aquecimento global? Francamente…

O efeito de estufa (qual?), que provoca ao mesmo tempo alterações climáticas diferentes conforme os gostos de cada um, serve para explicar tudo…Será que não se consegue enxergar que alguma coisa está errada nesta pretensa explicação? Mas onde é que está o “global”?

Como é que se consegue demonstrar uma relação física entre fenómenos simultâneos a distâncias tão curtas ou mais longas com resultados tão díspares? Não há o mínimo discernimento para admitir que a explicação deve ser outra? Qual será?

Comece-se por analisar no plano meteorológico o período estival de 2003. Desde o mês de Junho desse ano que a situação meteorológica foi dominada pela presença duma vasta área de altas pressões que cobriram a Europa, o Mediterrâneo e o leste do Atlântico.

Este imenso anticiclone afastou dos seus domínios as perturbações de origem pluviométrica que foram desviadas para algures, nomeadamente em direcção à Escandinávia que foi vítima de chuvas diluvianas.