quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Prémio Ignóbil

Na entrevista do Expresso ao Prof. Corte Real destacaram-se do corpo principal do texto as seguintes frases:

Os actuais modelos científicos estão a ser forçados para o aquecimento global

O desconhecimento sobre as alterações climáticas no nosso país é enorme

O livro ‘Uma Verdade Inconveniente’ tem aspectos muito empolados. Al Gore é um político e não um cientista, não merecia o Prémio Nobel da Paz. E o Painel [Intergovernamental] para as Alterações Climáticas das Nações Unidas também não

De facto, os modelos informáticos do clima, além de não apreenderem os principais fenómenos climáticos, estão preparados para darem apenas resultados de aquecimento. Nunca de arrefecimento.

Quanto ao desconhecimento é patente em documentos oficiais, como o PNAC – Plano Nacional para as Alterações Climáticas. E também em documentos para-oficiais, como o inconcebível estudo conhecido por “Mudança Climática em Portugal. Cenários, Impactes e Medidas de Adaptação – SIAM”.

Mas o desconhecimento prolonga-se nas presenças constantes na rádio e na televisão – até do Estado, imagine-se – dos mesmos protagonistas de sempre que não possuem um mínimo de conhecimentos para além da cartilha do IPCC e das notas de imprensa de qualquer ONG.

O frenético grupo de propagandistas do “aquecimento global” não tem formação nem preocupação de aprender para debater com elevação um assunto tão complexo. Não se dão ao incómodo de estudar. Exemplo flagrante é a constituição grotesca da Comissão Nacional para as Alterações Climáticas.

Toda esta gente (do PNAC, do SIAM, da CNPAC, etc.) desinforma a opinião pública, os jornalistas e os decisores políticos. Por sua vez, os jornalistas enchem páginas de jornais e horas de emissão reproduzindo as balelas daquele grupo, assustando as pessoas.

Os militantes do alarmismo causam males enormes a toda a sociedade com a sua manifesta incultura climática. Os erros que cometem vão ter repercussão a médio e longo prazo. A principal mitigação que se devia procurar fazer seria a do desconhecimento.

Os políticos repetem as desinformações sem consciência da triste figura que fazem.

Gastam-se dinheiros públicos na elaboração e publicação de falácias e na manutenção de gabinetes permanentes, sem qualquer utilidade, como no caso do SIAM.

Relativamente ao Prémio Nobel atribuído ao charlatão Al Gore e à fraude produzida pelo IPCC não dignifica a Ciência. Mas não se deve esquecer que foram políticos do parlamento norueguês a atribuir prémios a outros políticos. Estão bem uns para os outros.

Seria também interessante informar e esclarecer os responsáveis de empresas públicas e semi-públicas (como por exemplo, a CGD e a EDP) que há cerca de um ano pagaram uma fortuna ao cabotino Al Gore para vir a Portugal, por duas vezes, debitar as tontices que fazem da putativa verdade inconveniente uma grande conveniência... para ele.

Mas não se pense que é apenas em Portugal que se espezinha a Ciência. A Europa da ciência não está à altura da Ciência da Europa. Quem são os famosos especialistas, eminentes cientistas, mundialmente reconhecidos, independentes, experientes, competentes, os melhores conselheiros do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, para as alterações climáticas?

Ei-los:

Cesar Dopazo, Professor, Departamento de Ciência e Tecnologia de Materiais e Fluidos, Universidade de Saragoça;
Nicolas Hulot, criador da Fundação Nicolas Hulot, Paris;
Claudia Kemfert, Professor, Deutsche Institut für Wirtschaftsforschung (DIW), Berlim;
Allan Larsson, Presidente do Conselho de Administração da Universidade de Lund, Suécia;
Claude Mandil, Director Executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Paris;
Carlo Rubbia, Professor do CERN e Prémio Nobel da Física de 1984, Genebra;
Hans Joachim Schellnhuber, Director, Potsdam-Institut für Klimafolgenforschung (PIK), Berlim;
Sir Nicholas Stern, Conselheiro do Governo britânico para a economia das alterações climáticas e ex-economista-chefe do Banco Mundial, Londres;
Peter Sutherland, Presidente da British Petroleum, Londres;
José Viriato Soromenho Marques, Professor, Departamento de filosofia, Universidade de Lisboa;
Michael Zammit Cutajar, Embaixador para alterações climáticas, Malta, e ex-secretário executivo da Convenção-quadro das Nações Unidas para alterações climáticas, Genebra.

Será que todos têm mérito para pertencer a este grupo de conselheiros? Não parece. Pelo menos alguns não apresentam qualidades extraordinárias de especialistas (“os melhores” como diz Durão Barroso). Examinemos o caso de dois deles.

Nicolas Hulot (pela França) é um apresentador de televisão da TF1. Antigo responsável de um clube de motos, praticante de desportos motorizados e sem nenhuma bagagem científica. Não é evidentemente especialista científico do clima ou da energia. Ele é «independente» (à Barroso) porque dirige a associação ecologista "La fondation Hulot" e é gerente de produtos derivados Ushuaia. Afirma que as alterações climáticas são o principal desafio que se coloca à humanidade e assegura-nos que vai “salvar o planeta”.

José Viriato Soromenho Marques (por Portugal) é um puro literário. É titular de uma cadeira da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especializada em filosofia da história, da política e do direito. Coordena igualmente a filosofia da natureza e do ambiente. Este filósofo desconhece estritamente os problemas técnicos relacionados com alterações climáticas ou energia. Não tem capacidade para julgar a validade das hipóteses da climatologia. Dificilmente se percebe a sua «independência» barrosiana relativamente a estas questões. Está longe de ser um filósofo da estratosfera.

Finalmente, com todas estas credenciais Soromenho Marques não podia deixar de pertencer à Comissão Nacional para as Alterações Climáticas. E de aconselhar Durão Barroso a visitar o permafrost da Gronelândia mas a não subir ao local de onde partem os anticiclones móveis polares gronelandeses. É que aí a temperatura pode descer até quase aos 70 ºC, negativos…

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Entrevista corajosa

O Prof. Molion, citado na entrevista do Prof. João Corte Real, realizou conferências e regeu cursos de mestrado de Climatologia, em Portugal. Recentemente concedeu uma entrevista à revista brasileira ISTOÉ.

A revista ISTOÉ é uma revista semanal considerada, na sua especialidade, uma das quatro principais revistas a circular no Brasil. Publica-se a seguir aquela entrevista, preservando a variedade da língua portuguesa do Brasil.

“Aquecimento global” é terrorismo climático

Pesquisador diz que tendência dos próximos anos é o esfriamento da Terra e que efeito estufa é tese manipulada pelos países ricos

Por RODRIGO RANGEL

O professor Luiz Carlos [Baldicero] Molion é daqueles cientistas que não temem nadar contra a corrente. Na Rio 92 (ou Eco92), quando o planeta discutia o aumento do buraco na camada de ozônio, ele defendeu que não havia motivo para tamanha preocupação. Numa conferência, peitou o badalado mexicano Mario Molina, mais tarde Nobel de Química, um dos primeiros a fazer o alerta. Agora, a guerra acadêmica de Molion tem outro nome: aquecimento global. Pós-doutor em meteorologia formado na Inglaterra e nos Estados Unidos, membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim e representante da América Latina na Organização Meteorológica Mundial, esse paulista de 61 anos defende com veemência a tese de que a temperatura do planeta não está subindo e que a ação do homem, com a emissão crescente de gás carbônico (CO2) e outros poluentes, nada tem a ver com o propalado aquecimento global. Boa notícia? Nem tanto, diz. Molion sustenta que está em marcha um processo de resfriamento do planeta. "Estamos entrando numa nova era glacial, o que para o Brasil poderá ser pior", pontifica. Para Molion, por trás da propagação catastrófica do aquecimento global há um movimento dos países ricos para frear o desenvolvimento dos emergentes. O professor ainda faz uma reclamação: diz que cientistas contrários à tese estão escanteados pelas fontes de financiamento de pesquisa.

ISTOÉ - Com base em que o sr. diz que não há aquecimento global?
Molion - É difícil dizer que o aquecimento é global. O Hemisfério Sul é diferente do Hemisfério Norte, e a partir disso é complicado pegar uma temperatura e falar em temperatura média global. Os dados dos 44 Estados contíguos dos EUA, que têm uma rede de medição bem mantida, mostram que nas décadas de 30 e 40 as temperaturas foram mais elevadas que agora. A maior divergência está no fato de quererem imputar esse aquecimento às atividades humanas, particularmente à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e à agricultura, atrás da agropecuária, que libera metano. Quando a gente olha a série temporal de 150 anos usada pelos defensores da tese do aquecimento, vê claramente que houve um período, entre 1925 e 1946, em que a temperatura média global sofreu um aumento de cerca de 0,4 grau centígrado. Aí a pergunta é: esse aquecimento foi devido ao CO2? Como, se nessa época o homem liberava para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje? Depois, no pós-guerra, quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de petróleo também, houve uma queda nas temperaturas.

ISTOÉ - Qual seria a origem das variações de temperatura?
Molion - Há dez anos, descobriu-se que o Oceano Pacífico tem um modo muito singular na variação da sua temperatura. Me parece lógico que o Pacífico interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera terrestre é aquecida por debaixo, ou seja, temos temperaturas mais altas aqui na superfície e à medida que você sobe a temperatura vai caindo - na altura em que voa um jato comercial, por exemplo, a temperatura externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de zero. Ora, o Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando isso tudo, claro está que, se houver uma variação na temperatura da superfície do Pacífico, vai afetar o clima.

ISTOÉ - O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU) está errado?
Molion - O painel não leva em consideração todos os dados. Outra coisa que incomoda bastante, e que o Al Gore [exvice- presidente dos EUA e estrela do documentário Uma verdade inconveniente, sobre mudanças no clima] usa muito, é a concentração de CO2. O IPCC diz claramente que a concentração atingida em 2005, de 339 partes por milhão, ou ppm, foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é uma coisa ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não fazem menção a medições de concentração de gás carbônico anteriores. É como se nunca ninguém tivesse se preocupado com isso. O aumento de CO2 não é um fenômeno novo. Nos últimos 150 anos, já chegou a 550, 600 ppm. Como é que se jogam fora essas medidas? Só porque não interessam ao argumento? O leigo, quando vê a coisa da maneira que é apresentada, pensa que só começaram a medir nos últimos 50 anos. O Al Gore usou no filme a curva do CO2 lá embaixo há 650 mil anos e, agora, decolando. Ridículo, palhaço.

ISTOÉ - Esses temores são cíclicos?
Molion - Eu tenho fotos da capa da Time em 1945 que dizia: "O mundo está fervendo." Depois, em 1947, as manchetes diziam que estávamos indo para uma nova era glacial. Agora, de novo se fala em aquecimento. Não é que os eventos sejam cíclicos, porque existem muitos fatores que interferem no clima global. Sem exagero, eu digo que o clima da Terra é resultante de tudo o que ocorre no universo. Se a poeira de uma supernova que explodiu há 15 milhões de anos for densa e passar entre o Sol e a Terra, vai reduzir a entrada de radiação solar no sistema e mudar o clima. Esse ciclo de aquecimento muito provavelmente já terminou em 1998. Existem evidências, por medidas feitas via satélite e por cruzeiros de navio, de que o oceano Pacífico está se aquecendo fora dos trópicos - daí o derretimento das geleiras - e o Pacífico tropical está esfriando, o que significa que estamos entrando numa nova fase fria. Quando esfria é pior para nós.

ISTOÉ - Por que é pior?
Molion - Porque quando a atmosfera fica fria ela tem menor capacidade de reter umidade e aí chove menos. Eu gostaria que aquecesse realmente porque, durante o período quente, os totais pluviométricos foram maiores, enquanto de 1946 a 1976 a chuva no Brasil como um todo ficou reduzida.

ISTOÉ - No que isso pode interferir na vida do brasileiro?
Molion - As conseqüências para o Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem sofrer uma redução de chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo da região. Mas vai ter invernos em que a freqüência de massas de ar polar vai ser maior, provocando uma freqüência maior de geadas. A Amazônia vai ter uma redução de chuvas e, principalmente, a Amazônia oriental e o sul da Amazónia vão ter uma freqüência maior de seca, como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução de chuva. O que mais me preocupa é que, do ponto de vista da agricultura, as regiões sul do Maranhão, leste e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que apresentam sinais mais fortes. Essas regiões preocupam porque são a fronteira de expansão da soja brasileira. A precipitação vai reduzir e certamente vai haver redução de produtividade. Infelizmente, para o Brasil é pior do que seria se houvesse o aquecimento.

ISTOÉ - A quem interessaria o discurso do "aquecimento"?
Molion - Quando eu digo que muito provavelmente estamos num processo de resfriamento, eu faço por meio de dados. O IPCC, o nome já diz, é constituído de pessoas que são designadas por seus governos. Os representantes do G-7 não vão aleatoriamente. Vão defender os interesses de seus governos. No momento em que começa uma pressão desse tipo, eu digo que já vi esse filme antes, na época do discurso da destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os compostos de clorofluorcarbonos. Os CFCs tinham perdido o direito de patente e haviam se tornado domínio público. Aí inventaram a história de que esses compostos estavam destruindo a camada de ozônio. Começou exatamente com a mesma fórmula de agora. Em 1987, sob liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião em Montreal de onde saiu um protocolo que obrigava os países subdesenvolvidos a eliminar os CFCs. O Brasil assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque foi uma das condições impostas pelo FMI para renovar a dívida externa brasileira. É claro que o interesse por trás disso certamente não é conservacionista.

ISTOÉ - Mas reduzir a emissão de CFCs não foi uma medida importante?
Molion - O Al Gore no filme dele diz "nós resolvemos um problema muito crucial que foi a destruição da camada de ozônio". Como resolveram, se cientistas da época diziam que a camada de ozônio só se recuperaria depois de 2100? Na Eco 92, eu disse que se tratava de uma atitude neocolonialista. No colonialismo tradicional se colocam tropas para manter a ordem e o domínio. No neocolonialismo a dominação é pela tecnologia, pela economia e, agora, por um terrorismo climático como é esse aquecimento global. O fato é que agora a indústria, que está na Inglaterra, França, Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidos, tem gases substitutos e cobra royalties de propriedade. E ninguém fala mais em problema na camada de ozônio, sendo que, na realidade, a previsão é de que agora em outubro o buraco será um dos maiores da história.

ISTOÉ - O sr. também vê interesses econômicos por trás do diagnóstico do aquecimento global?
Molion - É provável que existam interesses econômicos por detrás disso, uma vez que os países que dominam o IPCC são os mesmos países que já saíram beneficiados lá atrás. O aumento de CO2 não é novo. Nos últimos 150 anos, já atingiu 600 ppm. Mas o Al Gore usou a curva do CO2 de 650 mil anos atrás.

ISTOÉ - Não é teoria conspiratória concluir que há uma tentativa de frear o desenvolvimento dos países emergentes?
Molion - O que eu sei é que não há bases sólidas para afirmar que o homem seja responsável por esse aquecimento que, na minha opinião, já acabou. Em 1798, Thomas Malthus, inglês, defendeu que a população dos países pobres, à medida que crescesse, iria querer um nível de desenvolvimento humano mais adequado e iria concorrer pelos recursos naturais existentes. É possível que a velha teoria malthusiana esteja sendo ressuscitada e sendo imposta através do aquecimento global, porque agora querem que nós reduzamos o nosso consumo de petróleo, enquanto a sociedade americana, sozinha, consome um terço do que é produzido no mundo.

ISTOÉ - Para aceitar a tese do sr., é preciso admitir que há desonestidade dos cientistas que chancelam o diagnóstico do aquecimento global...
Molion - Eu digo que cientistas são honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro nas pesquisas sobre clima para quem é favorável ao aquecimento global. Dinheiro que vem dos governos, que arrecadam impostos das indústrias que têm interesse no assunto. Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter os seus projetos aprovados. Dançam a mesma música que o IPCC toca.

ISTOÉ - O sr. se considera prejudicado por defender a linha oposta?
Molion - Na Eco 92, eu debati com o Mario Molina, que foi quem criou a hipótese de que os clorofluorcarbonos estariam destruindo o ozônio. Ele, em 1995, virou prêmio Nobel de Química. E o professor Molion ficou na geladeira. De 1992 a 1997 eu não fui mais convidado para nenhum evento internacional. Eu tinha US$ 50 mil que o Programa das Nações Unidas havia repassado para fazer uma pesquisa na Amazônia e esse dinheiro foi cancelado.

ISTOÉ - O cenário que o sr. traça inclui ou exclui o temor de cidades litorâneas serem tomadas pelo aumento do nível dos oceanos?
Molion - Também nesse aspecto, o que o IPCC diz não é verdade. É possível que, com o novo ciclo de resfriamento, o gelo da Groenlândia possa aumentar e pode ser até que haja uma ligeira diminuição do nível do mar.

ISTOÉ - Pela sua tese, seria o começo de uma nova era glacial?
Molion - Como já faz 15 mil anos que a última Era Glacial terminou, e os períodos interglaciais normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já estejamos dentro de uma nova era glacial. Obviamente a temperatura não cai linearmente, mas a tendência de longo prazo certamente é decrescer, o que é mau para o homem. Eu gostaria muito que houvesse realmente um aquecimento global, mas na realidade os dados nos mostram que, infelizmente, estamos caminhando para um resfriamento. Mas não precisa perder o sono, porque vai demorar uns 100 mil anos para chegar à temperatura mínima. E quem sabe, até lá, a gente não encontre as soluções para a humanidade.

domingo, fevereiro 24, 2008

Nova vaga de frio na China

Foi necessária nova vaga de frio na China para acordar os media nacionais. O Sol on-line noticia “Catástrofe. Vaga de frio na China já matou 129 pessoas” [Só?].

Diz o Sol: “Uma nova vaga de frio e de neve abate-se desde a semana passada sobre o sul da China, atingindo particularmente a província de Yunnan, no sudoeste, onde 12 mil pessoas ficaram isoladas pelas grandes quantidades de gelo.”

Fala-se num prejuízo, na China, avaliado em cerca de 82 mil milhões de euros na pior vaga de frio desde há meio século. Os cortes de energia eléctrica verificaram-se durante três semanas entre os fins de Janeiro e o início de Fevereiro.

A notícia do Sol relata também os acontecimentos do Tadjiquistão afirmando que: “Segundo a ONU, são precisos 17,1 milhões de euros para afastar do Tadjiquistão o espectro da catástrofe humanitária.” [E na China?].

As condições domiciliares, no Tadjiquistão, são insuportáveis e “A situação é idêntica nos hospitais e, sobretudo, nas unidades de pediatria, onde há relatos, desmentidos pelas autoridades, da morte de crianças por hipotermia”, acrescenta o Sol.

Tudo resultante da situação do Árctico que os pantomineiros de várias procedências, internacionais e nacionais, afirmam que está agonizante. No mar gelado oriental do Árctico as depressões de Barents não permitem o seu avanço.

Mais uma vez se regista que quanto mais elevado é o valor da pressão atmosférica anticiclónica do ar que parte do Árctico, mais cavada é a depressão que retorna. A Natureza não engana.

Comentário apropriado do leitor Jorge Oliveira:

"Vá lá que ainda há alguns jornais, neste caso o Sol, mas também o Correio da Manhã, que vão dando estas notícias.

Outros escondem-nas, porque é óbvio que uma vaga de frio como esta não é compatível com a propaganda do aquecimento global e a maioria dos meios de comunicação social portugueses, por óbvio alinhamento dos respectivos directores com o politicamente correcto, faz os possíveis por evitar a difusão de notícias que põem em causa a mítica teoria.

Ainda assim, mesmo nos casos em que a vaga de frio é noticiada, não se observa sequer um curto comentário em que sejam formuladas interrogações acerca da compatibilidade entre o que é observado e o que é propagandeado.".

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Actualidades do Inverno

Resumo de algumas consequências, por vezes dramáticas, deste Inverno excepcionalmente rigoroso no Hemisfério Norte, que se encontra num blogue francês Changement Climatique (Des nouvelles fraîches du réchauffement climatique):

- O Tadjiquistão, depois de sofrer o pior Inverno dos últimos 50 anos, pede auxílio à ONU. As várias semanas de frio intenso destruíram as infra-estruturas económicas e retrocederam a economia para níveis de há várias décadas atrás. A vida está paralisada, as pessoas morrem com falta de electricidade, de combustíveis para aquecimento dos lares e de águas sanitárias. Mesmo que o governo não deseje reconhecer oficialmente o balanço da catástrofe humana, um membro de uma ONG (organização não governamental) local afirma que o caos é pior que na Serra Leoa em guerra.

- 180 mil pessoas bloqueadas no Sul da China devido ao Inverno mais frio desde há meio século.

- Desaparecimento de 100 mil aves migratórias no meio de uma terrível tempestade de neve no Este da China. É uma das piores condições meteorológicas desde há vários decénios. Os prejuízos económicos já contabilizam mais de 15 mil milhões de dólares.

- Segundo o Instituto de Meteorologia da Dinamarca, o gelo entre o Canadá e o Sudoeste da Gronelândia atingiu a maior área desde há 15 anos.

- Quedas de neve sem precedente provocaram o encerramento do aeroporto de Kansas durante mais de seis horas, o que nunca tinha acontecido desde que foi inaugurado há 35 anos. Tempestades de neve lançaram a confusão em partes do Nordeste americano e pintaram Nova Iorque de branco.

- Uma queda de neve cobriu a Grécia e colou os aviões no solo.

O mais misterioso é que os nossos media se mantêm mudos e quedos. Para eles vivemos num planeta a derreter-se de calor. Vão publicando todo o lixo noticioso que encontram de modo a manterem os leitores convencidos do dito «aquecimento global».

Obs.: Acrescentaram-se os casos do Nordeste americano e de Nova Iorque.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Cheias de 18 de Fevereiro de 2008

Após uma prolongada aglutinação anticiclónica (AA) que durou grande parte do início do ano de 2008, veio uma chuvada que provocou cheias no dia 18 de Fevereiro de 2008. O Instituto de Meteorologia (IM) chama-lhe «Precipitação forte em Portugal».

Mas as regiões do País mais afectadas foram as de Lisboa e de Setúbal. Segundo o IM bateram-se recordes de precipitação que recuavam a 1864. O anterior recorde era de 110 mm e passou para 118 mm de precipitação (não é claro qual foi o intervalo de tempo).

O IM refere uma depressão que caminhou do Oeste da Madeira para Nordeste. É pena não se indicar o valor da depressão. Deve ter sido bem cavada.

Mas ficou por explicar como se passou de uma situação de estabilidade anticiclónica para uma de depressão tão cavada.

O fenómeno é semelhante ao que acontece quando termina uma onda de calor mais ou menos prolongada provocada por pressões atmosféricas elevadas das aglutinações anticiclónicas (AA).

As AA fortes e persistentes não permitem a entrada de ar fresco oriundo do Oceano Atlântico. O ar dos recentes Anticiclones Móveis Polares (AMP) vai-se aglutinando de acordo com as respectivas menores densidades relativas.

Mas, aparecendo um ou mais AMP intensos, com densidades de ar mais elevadas, a AA rompe-se e deixa-os passar. Com eles são arrastadas as depressões que os contornam e se formam nas suas partes laterais.

Se os AMP são suficientemente fortes (quanto mais fortes forem as pressões anticiclónicas mais cavadas são as depressões) atravessam rapidamente as antigas AA. Então, as depressões D escapam-se do corpo principal do AMP. Tal acontece no Inverno.

Deste modo, as precipitações provocadas por depressões cavadas dão origem a cheias rápidas como lhes chamam os especialistas na matéria.

Foi o que aconteceu no dia 18 de Fevereiro de 2008. Os AMP desceram até à Península Ibérica por não serem capazes de romper o núcleo centrado a Norte sobre a Grã-Bretanha.

Passada esta fase de rompimento da anterior AA, formou-se nova AA. Daí que as eólicas tenham novamente quase parado de rodar (Vide REN do dia 20 de Fevereiro de 2008).

Desta vez foi o Diário de Notícias que se destacou a desinformar a opinião pública acerca da cheia de 18 de Fevereiro. Lê-se neste jornal, na notícia intitulada “Temporais vão ser mais frequentes”, o seguinte parágrafo:

«Com o aquecimento global esta situação tem tendência a aumentar e a piorar reforça ainda Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, associação ambientalista».

Já lá vai o tempo em que os professores nunca falavam em público – a começar perante os alunos – de assuntos que não conhecessem aprofundadamente.

Não há nenhuma explicação plausível para que num cenário de aquecimento global surjam mais episódios de cheias. Antes pelo contrário. Não é no Verão que surgem cheias frequentes. Nem é no deserto do Saará que chove mais, apesar do aquecimento que por lá se observa.

A grande cheia de 1967 da região de Lisboa – quando se registaram 700 mortes – verificou-se durante um período de dezassete anos, de 1960 a 1976, em que se registou uma descida pronunciada de temperaturas (Vide Fig. 3).

Nessa altura o alarmismo era sobre «arrefecimento global». A catástrofe então anunciada seria a da entrada numa nova idade do gelo. Alguns dos alarmistas do frio dessa época são os mesmos que falam agora do calor. Tudo serve para amedrontar as populações.

E em 1946, quando as emissões de dióxido de carbono eram muito inferiores às actuais, também já se verificavam cheias em Lisboa, como pode ser visto numa foto (Fig. 105) enviada pelo colega Medina Ribeiro, autor do blogue Sorumbático.

Fig. 105 - Estrada de Benfica, Lisboa, 1946. Fonte: Medina Ribeiro.

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

La Niña

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou, em 11 de Fevereiro de 2008, uma nota sobre as descidas das temperaturas que se têm vindo a verificar. Compreende-se: as descidas das temperaturas aturdem o discurso oficial do «aquecimento global».

A OMM aproveita para dizer que o fenómeno La Niña arrefece a superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental (junto à costa da América do Sul, nomeadamente, contígua ao Peru).

A La Niña actual apareceu no último quadrimestre de 2007. Tudo indica que vá até ao fim do primeiro quadrimestre de 2008. Ou pode ser que continue até meados de 2008.

A nota da OMM informa que as temperaturas superficiais daquela região do Pacífico estão 1,5 ºC a 2 ºC abaixo da normal. Anuncia ainda que podem suceder episódios de chuvas nas regiões circunvizinhas.

A OMM recorda que o El Niño, contrariamente à La Niña, provoca um aumento da temperatura superficial do Pacífico equatorial e central. Mas, para a OMM, permanece o mistério da génese destes fenómenos meteorológicos.

Ninguém duvida que La Niña é um fenómeno natural. É uma prova mais de que a Natureza se sobrepõe ao efeito infinitesimal do dióxido de carbono antropogénico.

O homem não tem poder para influenciar a dinâmica do tempo e do clima, não só nesta como em qualquer outra circunstância.

Resumidamente, o El Niño está ligado ao posicionamento do equador meteorológico vertical (EMV) sobre o Oceano Pacífico, junto ao equador e adjacente à América do Sul.

O equador meteorológico resulta da convergência dos anticiclones móveis polares boreais e austrais próximo ao equador geográfico. A sua posição não é fixa e varia de acordo com a dinâmica do tempo e do clima no Hemisfério Norte.

O fenómeno do EMV foi referido, sucintamente, na sequência das notas sobre a ciclogénese (em Outubro de 2005). Pode-se consultar: Origem dos ciclones tropicias.

Recorda-se que o EMV é o eixo ou, antes, a superfície de simetria da circulação geral da atmosfera na confluência dos transportes de ar efectuados pelos anticiclones móveis polares. Esta superfície situa-se próxima do equador geográfico.

Deste modo, o El Niño é um dos resultados da circulação geral da atmosfera. A circulação, por sua vez, resulta do gradiente de temperatura entre Pólos e Equador. Acentuando-se o gradiente, por défice térmico polar, o El Niño aumenta de intensidade.

O El Niño está associado à deslocação para Sul do EMV em relação à sua posição normal e pelos ventos alíseos boreais e austrais que se concentram junto do EMV. Aparece de um modo irregular e não cíclico como se admitia inicialmente.

E La Niña? A La Niña não é mais do que o contra-El Niño. Isto é, representa um retrocesso à posição normal do EMV. Ou seja, actualmente, a circulação geral da atmosfera colocou o EMV na sua posição normal.

Tal como o El Niño é um fenómeno local-regional e não global, La Niña não tem características globais contrariamente à ideia da OMM. Os valores estatísticos das temperaturas globais não explicam o que se passa a nível local ou regional.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Janeiro de 2008

No mês de Janeiro de 2008 as anomalias negativas das temperaturas estenderam-se por quase toda a parte. A Fig. 104 , traçada pelo atento climatologista basco Antón Uriarte Cantolla dá-nos uma ideia de como se distribuíram as temperaturas ao longo do planeta.

Como é normal neste tipo de traçados, as temperaturas estão relacionadas com cores indicadas na régua colocada inferiormente. Os vários tons de azul situam-se em regiões com temperaturas abaixo da média. Os amarelados e encarniçados nas acima da média.

A Ásia central foi a mártir do frio. No Tadjiquistão o frio – mais acentuado dos últimos 50 anos – conduziu a uma crise alimentar como comenta a BBC. De facto, contrariamente ao que se ouve e se lê, o frio reduz a produção de alimentos enquanto que o calor a desenvolve.

Inclusive os termómetros de Hansen marcaram temperaturas de assustar no sentido da diminuição. À escala global, o mês de Janeiro de 2008, segundo o GISS, registou uma anomalia negativa de 0,23 ºC em relação à média dos meses de Janeiro dos últimos 30 anos.

Do mesmo modo, nas contas do GISS-Hansen a nível global, o mês de Janeiro de 2008 em relação ao de Janeiro de 2007 viu a temperatura média global descer de um valor determinado por:
1,09 ºC – 0,31 º C = 0,79 ºC.

Para quem tem acompanhado o desenvolvimento das explicações acerca da circulação geral da atmosfera, encontra na Fig. 104 o resultado a vermelho escuro para onde se deve ter dirigido o ar quente trazido da zona intertropical.

Também encontra justificada a temperatura abaixo da média no Antárctico central, na Gronelândia e no quase-triângulo do Pólo Norte. O mesmo acontece com a temperatura acima da média na Península do Antárctico.

A Fig. 104 também confirma o resultado dos modos de circulação rápido (no Inverno do Hemisfério Norte) e lento (no Verão do Hemisfério Sul). Naquele hemisfério, as transferências meridionais de energia e de ar foram mais acentuadas (vide cor encarniçada).

Salienta-se que as manchas castanhas da Fig. 104 devem resultar da falta de valores estatísticos de temperaturas. O gráfico regista uma anomalia mínima de – 10,1 ºC e uma máxima de + 8,5 ºC.

Fig. 104 - Janeiro de 2008. Fonte: Antón U. Cantolla.

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quarta-feira, fevereiro 13, 2008

O drama da seca

O jornal Público de hoje, dia 13 de Fevereiro de 2008, logo na primeira página salienta «Há 91 anos que não chovia tão pouco em Portugal».

Desenvolve o tema na página 4 com elementos fornecidos pelo Departamento de Monitorização e Sistemas de Informação do Domínio Hídrico do Instituto da Água.

A análise cobre o período de Setembro de 2007 até quase a meados de Fevereiro de 2008. O Director daquele Departamento, Rui Rodrigues, afirmou ao jornalista do Público, Ricardo Garcia, que “Neste século [no século XX], só em 1917 choveu tão pouco entre Setembro e Janeiro.”.

Acontece que 1917 se caracterizou pelo início de um período de temperaturas crescentes que foi de, aproximadamente, 1910 até 1930 (como se sabe, os anos extremos dependem um pouco das fontes estatísticas).

Entre 1910-1930, o índice Oscilação do Atlântico Norte comportou-se exactamente com se está a comportar actualmente. Diz-se que apresentou uma fase positiva. Significa que as transferências meridionais de energia e de ar foram acentuadas.

Nestas circunstâncias, a dinâmica do Árctico é semelhante. Como sempre, foram os anticiclones móveis polares mais potentes no Inverno que se responsabilizaram pela intensificação daquelas trocas meridionais.

Vários leitores desejariam que se dedicasse mais atenção às tendências do que à situação imediata de tal ou tal região. Já por mais de uma vez se salientou a complicação de avançar com tendências.

Mas também várias vezes se destacou que a dinâmica actual também se caracteriza pelo desvio do potencial precipitável cuja existência é uma das três condições draconianas da pluviogénese.

Já se avançou com a explicação do mecanismo da seca ligado às estabilidades anticiclónicas de longa duração. Também já se viu que seca (défice de vapor de água) e efeito de estufa não jogam bem.

A água no estado líquido vai para algures. Precipita no estado sólido ou até no líquido em regiões bem distantes da Península Ibérica. Alguns glaciares estarão até a aumentar a sua massa (deveríamos observar o que se passa na Escandinávia e no Pólo Norte, propriamente dito).

Mas o que nos interessa agora é admitir a continuação de uma dinâmica como a actual. Ou seja, a seca veio para ficar. Pergunta-se: - O que andam a fazer os decisores políticos para adaptar o País a uma seca que se prevê prolongada?

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Notável entrevista

[Transcrição integral da entrevista publicada no Expresso on-line]

[Fotografia] João Corte-Real, professor catedrático de meteorologia da Universidade de Évora

"Não estamos à beira de qualquer catástrofe"
João Corte-Real, 65 anos, o mais antigo investigador português do clima e o único professor catedrático em meteorologia do país (Universidade de Évora), afirma que os estudos científicos não permitem ainda concluir que a actividade humana é a principal responsável pelas alterações climáticas. E sublinha que o movimento contra o aquecimento global é politicamente orientado, tanto em Portugal como no resto do mundo. Mas acha positivas as medidas tomadas pelos governos para reduzir as emissões de dióxido de carbono, embora sublinhe que "o CO2 não é um gás poluente, porque é fundamental na fotossíntese, só que em excesso afecta a radiação infravermelha que a Terra recebe, isto é, o aquecimento à superfície".
Virgílio Azevedo [entrevistador]

P - Estamos à beira de uma catástrofe nas alterações climáticas?
R - Acho que não vai haver qualquer catástrofe, e se estivermos, de facto, a viver uma alteração climática à escala planetária, que vai certamente bulir com os nossos hábitos e com muitas das nossas actividades, saberemos encontrar soluções para enfrentar essa situação. Falar em catástrofe não é científico, não é humano, é uma forma primitiva de apresentar as questões.
P - Porquê?
R - O clima não é uma constante, é por natureza variável, e o planeta Terra já foi sujeito a alterações climáticas no passado, para climas mais quentes e mais frios, e nunca houve um fenómeno catastrófico. Agora, muitos dos acontecimentos dramáticos que hoje observamos resultam ou de incúria ou de falta de adaptação a essas situações. Por exemplo, estamos a viver de novo cheias em Moçambique e mais uma vez as populações estão a ser sujeitas a fenómenos desastrosos para a sua vida pessoal, mas a verdade é que estas cheias são previsíveis e não há nenhuma medida muito visível para proteger as populações, que continuam a viver nos mesmos locais, com os mesmos hábitos.

P - Ou seja, não foram tomadas medidas de adaptação...
R - Exactamente. Temos de nos adaptar ao tempo que enfrentamos e tomar medidas eficazes. Só que estas medidas podem ser dispendiosas e os governos, como os fenómenos não acontecem todos os anos, vão esquecendo essas medidas ou têm dificuldades financeiras e, portanto, vão adiando a solução.

P - Os dados sobre o clima são fiáveis?
R - Há resultados de observações que apontam para uma alteração do clima e eu não os vou pôr em causa. O que ainda é discutível é se o homem é o principal responsável por essa mudança, isto é, não há certezas em relação às causas principais do fenómeno.

P - Portanto, aposta mais em medidas adaptativas do que em medidas para contrariar o aquecimento global...
R - Há aqui dois aspectos a considerar. Um é o tempo. A atmosfera tem comportamentos previsíveis com uma certa antecedência, que estão bem compreendidos, e aí julgo que os governos podem actuar sem grandes dúvidas. O caso das cheias em Moçambique. Em relação ao clima, como este é o apuramento estatístico de um certo período temporal – de 30 anos, no mínimo -, aí não temos ainda previsões.

P - E a actuação dos governos?
R - Tem de ser de um tipo diferente. O que dispomos em relação ao futuro são apenas cenários. Uma boa parte dos governos do planeta acredita que estamos a viver uma alteração climática que se vai acentuar, e que a causa é o lançamento para a atmosfera de gases ditos com efeito de estufa. Por isso, as medidas já tomadas apontam no sentido de diminuir as emissões e de desenvolver novas formas de produção de energia, já que as formas habituais lançam esses gases. Estas são medidas que os governos podem e devem tomar.

P - Porquê?
R - Não temos a certeza se é essa a principal causa das alterações climáticas. Mas é sempre positivo desenvolver formas de energia mais eficientes e que castiguem menos o ambiente.

P - Então defende uma alteração de prioridades, em que as medidas de adaptação passem a ser mais importantes?
R - Em relação aos fenómenos de tempo tem de haver medidas de curto prazo. Quanto ao clima, as medidas adaptativas devem também existir, nomeadamente no desenvolvimento de novas energias. Mas não apenas nisso, porque o homem está a perturbar o ambiente com incêndios florestais numa escala bastante apreciável, com formas de utilização do solo não adequadas à região em que se inserem e às alterações climáticas que já estamos a viver e, por consequência, há um certo número de actividades humanas que deveriam ser revistas e até evitadas. Portanto, não é apenas a redução das emissões de gases que interessa. Se alteramos o revestimento e o uso do solo estamos a mudar o albedo planetário, isto é, o coeficiente de reflexão para a radiação solar. E o albedo é um factor climático muito importante. Ou seja, devíamos olhar para as alterações climáticas de uma forma integrada.

P - Será possível prever um dia o clima?
R - Sim, com os desenvolvimentos tecnológicos, quer nas observações quer no cálculo científico, tal como hoje temos previsões do tempo. Agora, os actuais modelos de clima terão de ser muito melhorados em certos aspectos.

P - Em quais?
R - Repare que os actuais modelos estão a ser forçados para aquecer e, por consequência, se os processos naturais que podem contrariar o aquecimento estiverem mal representados nos modelos, obviamente que eles vão dar aumentos de temperatura que não se vão observar. É essa uma das razões por que prestigiados cientistas como Richard Lindzen, professor de meteorologia do MIT, não acreditam na corrente de pensamento dominante. Ele argumenta, e com razão, que o papel das nuvens, que é fundamental, está pessimamente representado nos modelos de clima existentes. E, de facto, estes modelos são ainda muito limitados – apesar de terem evoluído de uma forma fantástica - porque os processos ligados ao clima são muito complexos. Não é fácil estar a entender e a modelar estes processos.

P - Ainda não há uma Teoria do Clima?
R - Não, e é esse o problema. Enquanto nos limitarmos a utilizar estatisticamente resultados de modelos imperfeitos, as coisas não vão avançar muito. Mas os cientistas que usam métodos estatísticos quer para tratar observações quer para tratar de resultados de modelos não são para descredibilizar. Há muitas incertezas ligadas a esta problemática. Temos de investigar mais, de melhorar mais os modelos e de procurar entender os processos.

P - As conclusões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU são credíveis?
R - O IPCC é formado por um conjunto de pessoas que vão traduzir o trabalho da comunidade científica. São pessoas credíveis, agora não podemos esquecer que o Painel é politicamente orientado, as suas conclusões não são puramente científicas. E são apresentadas em termos probabilísticos, porque o IPCC toma as suas precauções na forma como fala. Mas também reconheço que muitas das pessoas que, em Portugal e fora do país, estão ligadas a esta problemática das alterações climáticas não são cientistas do clima.

P - Então por que estão eles envolvidos no processo?
R - Por causa da tal orientação política e porque as novas formas de produção de energia, justificadas pela necessidade de reduzir as emissões, envolvem interesses económico-financeiros, tal como as energias fósseis. Em Portugal há uma dezena de cientistas ligados ao clima que está fora de todo o processo nacional e internacional de preparação de medidas para enfrentar as alterações climáticas. A composição da delegação portuguesa na Cimeira de Bali é um bom exemplo desta realidade.

P - Há outros riscos ambientais que não estão relacionados com as alterações climáticas?
R - Sim, e é preciso estudar estes riscos e compará-los com os outros. Riscos ligados ao clima são riscos de emissões, de aumento de concentração de gases - que não são poluentes, porque o CO2 é um gás fundamental na fotossíntese, mas em excesso afecta a radiação infravermelha que a Terra recebe, isto é, o aquecimento à superfície. Mas há outros riscos ligados à energia nuclear, à produção artificial de alimentos, aos transgénicos, que podem ser superiores ou não - é preciso avaliar isso - aos riscos ligados à alteração do clima. As alterações climáticas vão ter impactos adversos na agricultura, na saúde, no turismo, na energia, nos recursos hídricos, etc., mas há outras actividades humanas que também têm impacto nos mesmos sectores.

P - E quanto aos fenómenos naturais?
R - Olhe, em 2007/2008 temos um bom exemplo: estamos a viver um fenómeno que começa no hemisfério Sul, o La Niña (o oposto do famoso El Niño), bastante intenso, que provocou anomalias em várias regiões do globo. Quando há um El Niño há um aquecimento global da troposfera. Acredita-se que foi devido ao La Niña que o último Verão foi fresco e chuvoso, por exemplo. O instituto meteorológico do Reino Unido já veio dizer que 2008 vai ser provavelmente o ano mais frio depois de 2000 por causa do La Niña. Isto justifica os fenómenos extremos que se têm registado no mundo, sobretudo na América do Sul. Esses fenómenos são preditíveis, as suas consequências são conhecidas e pode haver, por isso, uma intervenção humana para os mitigar.

P - O clima na Europa está mais quente?
R - Um trabalho de investigação feito pelo investigador João Santos, da Universidade de Évora, no âmbito do projecto europeu MICE (Impactos Extremos de Clima na Europa) conclui que sobre a Europa, quer na temperatura mínima quer na máxima, o número de episódios frios (em que as temperaturas mínima e máxima estiveram abaixo da média) diminuiu entre 1961 e 1990, e o número de episódios quentes aumentou. Mas esse aumento não foi uniforme, deu-se sobretudo numa parte da Europa do Norte e no Mediterrâneo Ocidental. Quando se fala em aquecimento global, não quer dizer que ele se dê em todos os lados e em todos os locais. Quer antes dizer que o positivo dominou o negativo na evolução das temperaturas. João Santos verificou também que a grande responsabilidade destas distribuições de temperaturas no período de referência (estamos a falar em dados reais e não em cenários) é devida à Oscilação do Atlântico Norte (NAO). Registaram-se anomalias aquecimentos nuns lados, arrefecimentos nos outros - porque houve uma predominância da fase positiva da NAO em 1961-1990. Isto significa que não nos temos que reportar necessariamente a alterações climáticas.

P - Além do NAO, há outros exemplos?
R - Há também a chamada Oscilação Decadal do Pacífico, de baixa frequência, que acontece de 10 em 10 anos, que é referida por um cientista brasileiro que também não acredita nada no aquecimento global, Luís Carlos Molion, da Universidade de Alagoas, em Maceió. Segundo ele, o clima global é muito condicionado por esta oscilação na temperatura das águas do Pacífico (que sobe ou desce). E constata que esta oscilação está a caminhar para a sua fase negativa, o que significa que a partir de 2012-2015 vamos começar a ver as temperaturas na atmosfera a descer. Eu não sei se ele tem razão ou não, mas o que de facto sabemos é que quando determinadas oscilações estatísticas persistem, vão criar anomalias de tempo, de temperatura. Se existirem oscilações de grande período (de baixa frequência), podemos estar a sentir uma subida de temperatura e julgar que é uma tendência, quando na verdade não é.

P - E como pode a ciência explicar estas diferenças?
R - A atmosfera tem de obedecer às leis da Física, que obrigam a certos balanços de massa, de energia, de momento angular, etc. A circulação da atmosfera tem de ser feita para satisfazer esses balanços globais. Quando as temperaturas excedem um limiar, a atmosfera desestabiliza-se e criam-se perturbações (as frontais, as frentes) que acabam com a instabilidade. Portanto, podem acontecer ciclones tropicais para redistribui energia e momento angular. E isso pode explicar muita coisa, não é preciso pensar só em alterações climáticas.

Versão integral da entrevista publicada na edição do Expresso de 9 de Fevereiro de 2008, 1.º Caderno, páginas 30 e 31.

Prof. Doutor João Corte Real

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sábado, fevereiro 09, 2008

Velas iluminam chineses

O Met Office (instituto de meteorologia do Reino Unido) anunciou dia 6 de Fevereiro que as forças armadas chinesas organizaram uma ponte aérea para transportar meio milhão de velas para a prefeitura de Enshi, na província de Hubei.

As velas destinaram-se a auxiliar as famílias chinesas dali, privadas de electricidade durante mais de uma semana. Este blackout deveu-se aos problemas causados pelas tempestades de neve já descritas anteriormente no MC.

A notícia do Met Office acrescenta que o peso da neve derrubou cerca de 1000 postes das linhas aéreas de muito alta tensão da província de Hunan. Foi assim cortado o abastecimento de energia eléctrica a uma vasta área do sul da China.

Para aquecerem as suas casas os habitantes de Chenzou tiveram de se socorrer do agora considerado maldito carvão, recolhido à mão. Foi uma corrida ao carvão.

Ainda não se conhece o balanço deste desastre humanitário que poderá ultrapassar as 60 mortes anunciadas pelos media ocidentais.

Esta notícia também se encontra no blogue CO2.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Os ursos-polares não acreditam no Al Gore.

Diz o urso: - "Estou-me nas tintas para o que diz o Al Gore. Tenho frio."


Os serviços meteorológicos dos EUA anunciaram que, no dia 6 de Fevereiro de 2008, a temperatura de
- 57 ºC no Alasca se aproximou do recorde de
- 58 ºC.

No Alasca já se registaram temperaturas estivais de
+ 45 ºC.

De facto, o Alasca fica num espaço aerológico onde as temperaturas têm oscilado entre extremos consideráveis desde o shift climático de 1975-76.

No entanto, apenas são anunciadas nos media as temperaturas elevadas e "esquecidas" as baixas.

A notícia desenvolvida pode ser lida no Newsminer.com
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Obs. : Corrigida a "fala" do urso por indicação de um leitor.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Tabefe

O Árctico acaba de dar um tabefe sem mão a todos aqueles que o davam como morto dentro de pouco tempo. Com quase um mês de antecedência em relação à data do pico anual, o mar gelado já atingiu praticamente um valor igual ao máximo que alcançou em 2007.

O mínimo do ano passado, com nova abertura da Passagem do Noroeste, foi aproveitado para anunciar – através de uma regra de três simples – o fim próximo do mar gelado do Árctico. Tudo por gente mal formada que gosta de aterrorizar.

Sabe-se que no século XX houve pelo menos as seguintes cinco travessias de barco daquela Passagem (não há registo de travessias realizadas pelos soviéticos):

a) 1903/1904 Pelos navegadores Nansen e Amundsen ,
b) 1940 Pelo St. Roch da Polícia Canadiana no período quente de 1910-1940,
c) 1957 Pelo Storis da United States Coast Guard (USCG),
d) 1969 Pelo Manhatten da USCG,
e) 1985 Pelo quebra-gelo Polar Sea da USCG.

Mas, a dinâmica do Árctico foi sempre insensível a qualquer das travessias. Incluindo a de 2007. A situação alcançada no dia 5 de Fevereiro de 2008 está registada na Fig. 103. A anomalia total aproximou-se do valor zero (área igual ao valor médio do período 1979-2000).

Os leitores podem fazer um exercício de avaliação da contribuição de cada uma das regiões para aquela anomalia. A averiguação deve utilizar a página Cryosphere Today da Universidade de Illinois.

A investigação deve ser feita pela orientação colorida do mapa correspondente às regiões designadas por:

Arctic Basin, Bering Sea, St. Lawrence, Baffin/Newfoundland Bay, Greenland Sea, Barents Sea, Kara Sea, Laptev Sea, East Siberia Sea, Chuckchi Sea, Beaufort Sea, Canadian Archipelago, Hudson Bay e Sea of Okhotsk.

Desse modo encontram-se as anomalias com que cada uma delas contribuiu para a soma total de aproximadamente menos meio milhão de metros quadrados.

Aquela anomalia negativa concentrou-se praticamente nas regiões de Barents Sea, Greenland Sea e Kara Sea.

Por que motivo isso aconteceu? Pois foi na parte oriental do Árctico que penetraram as massas de ar quente e o calor oceânico.

O ar proveio do retorno à região boreal das depressões que se desprenderam dos anticiclones móveis polares ou do que sobrevoou os AMP. O calor oceânico foi transportado pela corrente termohalina.

Quando será que terminam as mentiras sobre o Árctico e se passa a falar verdade? O mesmo acontece com a Gronelândia que está saudável, contrariamente às mentiras correntes. Os ursos-polares devem rir-se de tantas intrujices (quackeries) algorianas.

O charlatão internacional Al Gore e os seus semelhantes nacionais como Filipe Duarte Santos usam uma técnica refinada de terrorismo climático. Para eles o presumível aquecimento global seria mau para tudo o que é bom (extinguiria ursos, p.e.) e bom para tudo o que é mau (desenvolveria carraças, pulgas e dengues, p.e.).

Sobre a região do Árctico foi recentemente publicado o artigo “Grudd, H. 2008. Torneträsk tree-ring width and density AD 500–2004: a test of climatic sensitivity and a new 1500-year reconstruction of north Fennoscandian summers. Climate Dynamics, DOI 10.1007/s00382-007-0358-2” analisado no blogue World Climate Report.

Fig. 103 - Mar gelado do Árctico. 5 de Fevereiro de 2008. Fonte: Universidade de Illinois.

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sábado, fevereiro 02, 2008

Situação aflitiva na China

Novas quedas de neve mantêm uma parte da China paralisada.

Os serviços de socorro chineses esforçam-se, neste sábado, dia 2 de Fevereiro, para restabelecer o fornecimento de energia eléctrica nas regiões do sul do país. Estas regiões estão privadas de corrente desde há uma semana.

Tudo devido às quedas de neve excepcionais que poderão durar mais uma semana, segundo os serviços meteorológicos chineses.

Trezentos mil militares e mais de um milhão de reservistas foram mobilizados para restabelecer as redes eléctricas, ferroviárias e viárias, segundo a agência Nova China.

Na província de Hunan, a cidade de Chenzhgou – quatro milhões de habitantes – está privada de água e electricidade desde há mais de uma semana. Os habitantes aprovisionam-se nas tomadas de água dos bombeiros.

Nesta cidade, que tem sido flagelada com frequentes quedas de neve, receia-se uma escassez de combustíveis para automóveis.

As notícias relatadas atrás provêm do Le Monde que fornece juntamente algumas fotografias impressionantes.

A situação na China torna-se difícil de esconder da opinião pública portuguesa como conviria para manter aceso o fogo sagrado da ideologia das alterações climáticas.

Até o Público, porta-voz dos segmentos mais retrógrados do movimento ambientalista nacional, também noticia a situação chinesa.

O próprio Instituto de Meteorologia noticia “Neve na China não é alteração climática”. O IM fornece um link neozelandês e acrescenta:

«Cientistas afirmam que as violentas tempestades de neve que assolaram a China não são resultado de alterações climáticas, mas sim fenómenos extremos, que neste caso foram causados por temperaturas de Inverno abaixo da média associadas ao fenómeno La Niña.»

Continua a nota do IM «O fenómeno La Niña trouxe ar mais húmido sobre o Sudoeste da China, o qual combinado com as baixas temperaturas que se faziam sentir, resultou em fortíssimas quedas de neve, de acordo com a opinião de diversos cientistas chineses.»

Por aqui se vê, através desta explicação tão estrambólica, quanto os clássicos são incapazes de compreender os fenómenos meteorológicos.

Poderia perguntar-se qual teria sido a génese da La Niña invocada pelos cientistas chineses e repetida pelo IM sem qualquer comentário.

Tantas mentiras andam a dizer acerca da situação do Árctico que não enxergam que é lá que está a origem destas tempestades de neve. O leitor Luis de Sousa bem poderia dar uma lição aos cientistas chineses e não só.

Os mais simplistas afirmam que o facto de haver frio e tempestades de neve não implica a não existência do famigerado “aquecimento global”. Mas não se preocupam a explicar correctamente a origem das tempestades de neve.

Os clássicos não têm resposta para estas e para outras questões. Como por exemplo não são capazes de explicar a génese do El Niño e da La Niña. Se forem às fontes encontram sempre a dinâmica do Árctico e, também, do Antárctico.