quarta-feira, setembro 30, 2009

O milagre das renováveis em Portugal (**)

Por Jorge Pacheco de Oliveira (actualização)

Em Portugal, o contributo relativo das energias renováveis para o consumo bruto de energia eléctrica (produção bruta + saldo importador) revela, estranhamente, dois números possíveis : o valor real e um valor fictício, supostamente oficial, que resulta da correcção do primeiro mediante um critério de conveniência à frente explicitado.

Vejamos os valores que podemos encontrar nos últimos anos, recuando até 2001 :

Em 2008, um contributo real de 27,8 % foi corrigido para 43,3 %.

Em 2007 um contributo real de 31,1 % foi corrigido para 42,7 %.

Em 2006, um contributo real de 30,6 % foi corrigido para 36,0 %.

Em 2005, um contributo real de 16,8 % foi corrigido para 35,9 %.

Em 2004, um contributo real de 25,2 % foi corrigido para 35,3 %.

Em 2003, um contributo real de 37,3 % foi corrigido para 34,6 %.

Em 2002, um contributo real de 21,8 % foi corrigido para 32,3 %.

Em 2001, um contributo real de 35,5 % foi corrigido para 36,2 %.

Em suma, com excepção do ano relativamente longínquo de 2003, os números oficiais têm sido sempre superiores aos números reais, em vários pontos percentuais. Um verdadeiro milagre das renováveis…

Os valores acima indicados foram retirados da página de internet da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), encontrando-se num documento em PDF, intitulado “Renováveis - Estatísticas Rápidas - Julho de 2009”, em que a DGEG explica (quase) tudo.

Este documento estatístico não é disponibilizado de uma forma imediata, nem deixa um link acessível. O visitante da página da DGEG tem de seguir as indicações “Estatísticas e Preços”, depois “Energias Renováveis”, depois ainda “Estatísticas Rápidas” e, finalmente, o ficheiro PDF. O mais recente, nesta data, diz respeito a Julho de 2009. (Nota : segundo informação do autor do blog "Ecotretas", a quem aqui se deixa um particular agradecimento, é possível aceder directamente ao documento da DGEG através deste link).

Na pág. 4 deste documento a DGEG diz o seguinte :

A incorporação de FER [Fontes de Energia Renovável] no consumo bruto de energia eléctrica, para efeitos da Directiva*, foi de 43% em 2008. Portugal continua a ser, em 2007, o terceiro país da União Europeia (UE15) com maior incorporação de energias renováveis.

Para “efeitos da Directiva” ! Trata-se da Directiva 2001/77/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Setembro de 2001, relativa à promoção da electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis no mercado interno da electricidade.

Em pé de página é descodificado o asterisco :

As metas indicativas da Directiva 2001/77/CE são para a parte da electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis no consumo bruto de electricidade em 2010 (Produção bruta + saldo importador). O cumprimento é calculado assumindo a mesma hidraulicidade do ano base relativamente à qual foi definida a meta (1997), em linha com as declarações no anexo e a posição nacional assumida durante a discussão da Directiva.

Ah, bom ! Os números oficiais são, então, para a União Europeia ver! E, obviamente, para o Governo embandeirar, uma vez que, com a excepção de 2003, as percentagens oficiais do contributo das energias renováveis, “para efeitos da Directiva”, são todas superiores aos valores efectivamente verificados !

Esta discrepância resulta de um critério bizarro que permite a manipulação dos números respeitantes à produção hidroeléctrica. E dizer bizarro já é ser simpático, pois tal critério não merece outra classificação senão a de puro ludíbrio. Mas que favorece as pretensões propagandísticas das autoridades nacionais, lá isso favorece, e bem.

De facto, quem não conhece o engenhoso critério e é confrontado com os números oficialmente anunciados é levado a acreditar que o actual Governo colocou Portugal na “linha da frente” das energias renováveis, um “feito” que o actual Primeiro Ministro não se cansa de referir e que o ex-ministro da Economia repetia com uma cara muito circunspecta, como se se tratasse de uma verdade científica.

A tal ponto a propaganda resultou que é frequente ler-se e ouvir-se elogios ao Governo acerca da política das energias renováveis, mesmo da parte de comentadores fortemente críticos da actual governação.

Como acima se observou, o documento com os valores estatísticos da DGEG não é disponibilizado de uma forma simples, o que leva a crer que pouca gente, para além dos especialistas do sector energético, tenha tido a oportunidade de observar as discrepâncias entre os números reais e os números oficializados. Isto, naturalmente, torna a vida fácil às entidades governamentais, que não se dão sequer ao trabalho de referir que o contributo relativo das energias renováveis, a que frequentemente se referem, não é o valor real, mas sim um número “corrigido” na secretaria.

A controversa correcção consiste em transformar o valor real da produção hidroeléctrica num valor virtual para efeitos de verificação do cumprimento, por parte de Portugal, da Directiva 2001/77/CE.

Na verdade, esta correcção não está prevista no articulado da Directiva, nem é satisfatoriamente justificada na nota de pé de página ao documento estatístico atrás referido, em que a DGEG diz que a correcção está em linha com as declarações no anexo e a posição nacional assumida durante a discussão da Directiva.

Repare-se : Com as declarações no anexo “e” a posição nacional… Acontece que as declarações no Anexo da Directiva traduzem a posição nacional. Aquele “e” significa o quê? Que houve mais alguma coisa dita pelos negociadores nacionais que não consta da Directiva? De concreto, a posição nacional é referida na Nota 4 ao Anexo da Directiva, nos seguintes termos :

(4) Ao tomar em consideração os valores de referência fixados no presente anexo, Portugal declara que, para manter como meta indicativa para 2010 a quota de 1997 de electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis, presume-se que:
- o plano nacional de electricidade poderá prosseguir a construção de nova capacidade hidroeléctrica superior a 10 MW,
- outro tipo de capacidade renovável, só possível mediante auxílios estatais, venha a aumentar a uma taxa anual oito vezes superior à verificada recentemente. Estas previsões implicam que a nova capacidade de produção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis, com exclusão das grandes centrais hidroeléctricas, aumente a uma taxa duas vezes superior à do crescimento do consumo interno bruto de electricidade.

Não há aqui nada que justifique a correcção que tem sido levada à prática pelas entidades oficiais, e que consiste em converter o valor real da produção hidroeléctrica verificado num dado ano, num valor virtual, aquele que se verificaria caso o Índice de Produtibilidade Hidroeléctrica (IPH) desse ano fosse o IPH de 1997, o ano tomado como referência para efeitos da Directiva.

O Índice de Produtibilidade Hidroeléctrica depende da pluviosidade e, portanto, das afluências aos cursos de água em que se situam as centrais hidroeléctricas. O IPH traduz a razão entre dois possíveis valores da produção hidroeléctrica : a produção realizável com as afluências verificadas no ano em apreço (a produção efectiva pode ser concretizada com maior ou menor aproximação) e a produção hipotética que seria realizável com as afluências de um ano considerado médio. O regime hidrológico médio, a que corresponde IPH=1, é definido com base numa série histórica de várias dezenas de anos (actualmente são considerados os últimos quarenta anos).

Sucede que 1997, o ano de referência da Directiva, foi um ano chuvoso em Portugal, com um IPH=1,22. Trata-se de um IPH elevado, sendo pouco provável encontrar muitos anos com um IPH superior. E, de facto, em Portugal, entre 2001 e 2008, apenas em 2003 se verificou um IPH=1,33 superior ao IPH de referência.

Assim, se a produção hidroeléctrica de um dado ano for corrigida, proporcionalmente, para o valor virtual que se observaria caso a pluviosidade e as afluências desse ano fossem as mesmas de 1997, é provável encontrar uma maioria de valores corrigidos superiores aos valores reais, o que permite inflacionar o contributo oficial das energias renováveis no consumo bruto de energia eléctrica do país.

Por exemplo, 2008 foi um ano de fraca pluviosidade, com um IPH de 0,562 e uma produção hidroeléctrica real de 7.102 GWh. Se este valor for multiplicado por 1,22/0,562 obtém-se um valor virtual de 15.406 GWh (mais do dobro!), o que permite refazer os cálculos e transformar o contributo real das renováveis, que foi de 27,8 % , num contributo publicitário de 43,3 %...

Dito isto, justifica-se uma conjectura, respeitante à razão profunda por detrás desta situação.

É verdade que as energias renováveis estão na moda, pelo que qualquer governo que preste muita atenção à imagem, como é notoriamente o caso do actual, se sente na obrigação de apresentar grandes realizações no domínio das renováveis.

Mas existe uma razão subtil. A generalidade das pessoas associa a questão das energias renováveis à problemática do aquecimento global. Poucas se apercebem de que uma coisa não tem a ver com a outra, mas a realidade é que os alarmistas climáticos, auxiliados por um vasto conjunto de instituições internacionais e órgãos de comunicação social dirigidos por simpatizantes da causa, ou simplesmente ignorantes, conseguiram associar, de forma eficaz, as energias renováveis ao aquecimento global.

Como não podia deixar de ser, o elo de ligação entre os dois temas é o vilipendiado dióxido de carbono, um gás com efeito de estufa que é emitido durante a produção de energia através da queima de combustíveis fósseis, mas que será evitado se recorremos às benévolas energias renováveis.

Montado o cenário, basta massacrar os ouvidos do gentil público com o slogan : não aos combustíveis fósseis, sim às energias renováveis. Como se os combustíveis fósseis não tivessem os dias contados e o recurso às energias renováveis não fosse inevitável e, em si mesmo, uma opção com mérito, dispensando a propaganda alarmista do aquecimento global…

Claro que a produção pela via nuclear também não emite dióxido de carbono, mas essa opção costuma ser liminarmente rejeitada porque, em virtude do baixo preço da energia eléctrica assim obtida, muitas das negociatas das energias renováveis ficariam inconvenientemente comprometidas.

Dada esta associação entre o aquecimento global e as energias renováveis, não surpreende que as atoardas dos alarmistas em matéria de alterações climáticas se reflictam nas energias renováveis. Quem mente numa coisa, certamente não hesitará em mentir na outra.

De facto, em Portugal, as energias renováveis têm vindo a ser referidas de uma forma panfletária, susceptível de levantar muitas dúvidas. Sabendo-se que o actual Governo também se declara empenhado no combate às alterações climáticas, não admira que goste de se apresentar como campeão das renováveis. Na verdade, e como se viu, não passa de um campeão na secretaria.

_____________

(**) Este texto actualiza o que foi publicado em 31-08-2009

sábado, setembro 26, 2009

Sociedade Civil

O programa Sociedade Civil, do 2º canal da Radiotelevisão Portuguesa (RTP2), do dia 22 Setembro de 2009, precedeu a estreia do documentário "A Era da Estupidez?" importado dos EUA pela Quercus.

“A Era da Estupidez?” é um remake de “Uma Verdade Inconveniente” de Al Gore e aborda de novo as designadas “alterações climáticas”, desta feita fazendo profecias quanto à situação do Mundo em 2055. Ora, profecias, cada um faz as que quer, mas é bom que se diga que isto nada tem a ver com ciência.

Felizmente, no mesmo dia, o programa Sociedade Civil organizou um debate moderado pela apresentadora, Fernanda Freitas, em que participaram:

Francisco Ferreira, vice-presidente da Quercus.
Filipe Duarte Santos, Prof. de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
José Delgado Domingos, Prof. catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico (sítio web).
Rui Moura, Engenheiro Electrotécnico, com mestrado em Meteorologia, responsável por este blogue.

A agenda do programa era ambiciosa. Pretendia-se discutir os seguintes subtemas:

- Erros ambientais cometidos no passado
- As soluções urgentes
- Resultados das ultimas conferências mundiais
- As alterações climáticas
- Aquecimento global: de quem é a responsabilidade?
- Papel do cidadão.

Como se pode verificar pelo vídeo anexo, o programa permitiu algum esclarecimento. Em particular o autor do MC congratula-se pelo facto de lhe ter sido possível deixar bem claro que o clima, por um lado, e o ambiente e a poluição, por outro lado, são realidades completamente distintas, acentuando que se o Homem tem influência no ambiente e na poluição, não tem a mínima possibilidade de influenciar o clima, pelo que, quaisquer alterações climáticas não são, nem serão, da responsabilidade do ser humano.

Cada um pode tirar as conclusões que entender ao assistir ao vídeo.

Apenas gostaríamos de destacar, pela negativa, a intervenção de Filipe Duarte Santos (FDS), apresentado como “especialista de alterações climáticas” e um dos altos responsáveis pela política climática do governo português, na medida em que dirige a “Comissão para as Alterações Climáticas”.

Além de não ter apresentado qualquer argumento sólido, FDS teve uma intervenção surpreendente e até mesmo lamentável ao afirmar que o discurso científico não é mais do que “um discurso social, entre outros”! Para uma pessoa com a sua formação, uma afirmação desta natureza revela uma grande confusão de espírito. E ainda mais quando FDS tentava chamar a si o privilégio do discurso científico, supostamente por oposição ao discurso dos dois participantes que o confrontavam, imagine-se, com argumentos científicos.

Em todo o caso, é de assinalar que a emissão deste programa, embora confinado a um canal televisivo de menor audiência, constituiu uma das poucas vezes em que foi possível romper a censura férrea imposta pela generalidade dos meios de comunicação social portugueses aos críticos da teoria dominante. Esperemos que outras oportunidades se proporcionem.

Sociedade Civil









sexta-feira, setembro 25, 2009

TOPEX-Poseidon

O avanço tecnológico da altimetria espacial permite, teoricamente, determinar o valor instantâneo do nível médio dos mares. Este último é então determinado por referência à órbita do satélite; a medida do tempo de percurso de uma onda radar entre a órbita e o oceano permite determinar a distância entre o mar e o satélite.

Efectuando a média de um número elevado de medidas deveríamos assim ter uma boa aproximação do nível médio dos mares. Tudo depende da precisão com a qual se determinará a órbita, e a qualidade das correcções necessárias.

A precisão do cálculo da órbita é de 3 cm a 4 cm em altitude a partir da utilização do programa TOPEX-Poseidon (ou Poséïdon), lançado em 1992; já a precisão das medidas dos satélites precedentes era considerada como insuficiente (1).

As correcções necessárias são devidas aos factores que podem afectar a velocidade de propagação do feixe radar. Trata-se nomeadamente:

- Da ionização da alta atmosfera, que pode arrastar uma correcção de 1 cm a 20 cm;
- Da humidade atmosférica, que pode necessitar de uma correcção de alguns decímetros;
- Da pressão atmosférica (uma variação de 1 hectopascal traduz-se por uma subsidência de 1 cm do nível da água);
- Da amplitude das marés (aproximadamente 2 m no meio dos oceanos, podendo ultrapassar 10 m junto das costas);
- Do efeito de carga ligado às marés, que pode traduzir-se por uma subsidência dos fundos marinhos de alguns centímetros.

Estas correcções são efectuadas graças à utilização de ondas radar de frequências diferentes, à utilização de aparelhos complementares embarcados nos satélites e ao emprego de algoritmos determinados por modelos matemáticos (2).

Realizadas todas as correcções, a Universidade de Colorado e o CNES [o mesmo satélite tem aparelhos de medida pertencentes aos EUA e à França, daí o nome TOPEX (EUA) – Poséïdon (França)] publicam a evolução recente do nível dos mares determinada a partir das medidas altimétricas dos satélites TOPEX-Poseidon e Jason.

Internacionalmente, é difundida a curva representada na Fig. 190 com valores TOPEX-Poseidon e Jason. Os que querem que o nível dos mares esteja a subir ficam radiantes pois a tendência linear parece dar-lhes razão. O IPCC é uma das organizações que aceita esta curva como boa.

Mas ela é criticável nomeadamente pela representação linear da tendência. De facto, é bem saliente que a curva apresenta saturação a partir de 2005, com descida a partir desde então. A saturação e a descida são aparentemente encobertas pelo alisamento linear.

Levanta-se uma questão curiosíssima. O IPCC não aceita a evolução das temperaturas registadas pelos satélites. Só aceita as medidas termométricas. Mas aceita as medidas dos satélites para a evolução do nível dos mares. Porque será?

Esta questão leva ao estudo comparativo das tecnologias dos satélites que fornecem evoluções das temperaturas e dos níveis dos mares. É o que o MC fará proximamente. É necessário determinar se os sistemas dos satélites são significativamente diferentes de modo a confiarmos num e não no outro.

Notas:
(1) Os satélites precedentes eram Seasat (1978), Geosat (1990), ERS (1991), os seguintes são Jason (2001), Envisat et GRACE.

(2) Consultar nomeadamente: Olympiades de Physique France.
http://olympiades-physique.in2p3.fr/

Fig. 190 - Medidas TOPEX-Poseidon e Jason. Fonte: Universidade de Colorado.

Posted by Picasa

quarta-feira, setembro 23, 2009

Portugal e o nível do mar

O resumo do estudo “Evolução recente do nível médio do mar em Portugal” de J. M. Alveirinho Dias e Rui P. M. Taborda, de 1988, começa por afirmar:

Analisaram-se os dados das estações maregráficas com um mínimo de 10 anos de observações (Cascais, Lagos, Leixões, Lisboa e Angra do Heroísmo). Apenas duas destas estações (Cascais e Lagos) possuem registos suficientemente longos para possibilitarem a determinação da tendência secular de elevação do nível médio do mar com um mínimo de segurança. Os resultados obtidos para estas duas estações apontam para uma elevação média do nível referido, desde o início do século [XX], de 1,3 mm ± 0,1 mm e 1,5 mm ± 0,2 mm respectivamente.

Os autores acrescentaram ainda no resumo:

A análise dos dados referentes à estação de Cascais permitiu ainda dividir a série em dois domínios temporais: um, desde o final do século passado [XIX] até ao ano de 1920, em que a tendência é de pequena descida, e outro, posterior ao ano de 1920, em que a tendência é consistentemente de subida. Esta inflexão ao comportamento da série poderá estar relacionada com a transição da «Pequena Idade do Gelo», que terminou no final do século passado [XIX], para o episódio climático actual.

Aquelas médias anuais da orla costeira continental conformam-se com os vários valores apresentados anteriormente no MC para as médias globais determinadas por vários investigadores [ver (1), (2), (3) e (4)].

Os investigadores portugueses atrás referidos, anunciam no seu estudo, uma previsão de uma subida do nível do mar para Portugal continental de 0,14 m a 0,572 m até 2100. Estes valores seriam compatíveis com as previsões globais do IPCC anunciadas em 2007.

Todavia, as previsões para 2100 do projecto SIAM para Portugal são mais altas do que as globais. Não obstante o IPCC ter anunciado, em 2007, apenas 0,58 m para o valor mais alto, o SIAM indica valores compreendidos entre 0,5 m e 1 m.

Ou seja, enquanto Dias e Taborda apontem para Portugal continental, em 2100, uma previsão máxima (0,572 m) próxima da do IPCC (0,58 m), o SIAM vai até a um máximo de 1 m! É obra…

É caso para pensar que, do ponto de vista climático, seguindo os autores do SIAM, os portugueses escolheram para viver o pior dos rincões existentes no planeta…

Ou tratar-se-á apenas de resultados inflacionados para dar satisfação a responsáveis políticos ansiosos por previsões catastrofistas…?

segunda-feira, setembro 21, 2009

Polémica do nível dos mares

A flutuação do nível dos mares não é uniforme à volta do globo. Se no Atlântico Norte o nível do mar sobe ligeiramente, embora com irregularidades, noutras regiões o nível baixa ou sobe muitíssimo menos.

Nomeadamente, é o caso que se verifica na Austrália que é banhada por três oceanos. O Bureau of Meteorology, da Austrália, através dos especialistas do National Tidal Centre-NTC declara que não encontrou praticamente qualquer elevação no séc. XX.

O Oceano Pacífico Sul não parece ter sido afectado pela elevação recente do nível dos mares. Contudo, estalou uma polémica que não tem nada de científica. Mas foi suficientemente intensa para merecer uma menção no relatório do IPCC de 2007.

Na realidade, Tuvalu tem sido notícia permanente dos media como ameaçada de desaparecer pela subida do nível do mar. O governo de Tuvalu, atiçado pela Greenpeace, já exigiu uma indemnização aos “países causadores do aquecimento global”.

O IPCC tomou posição nesta polémica ao citar os trabalhos que apresentavam elevações médias globais do nível dos mares de 2,0 mm ± 0,1,7 mm no século passado.

Só que tais valores a nível global não se detectaram nos estudos regionais e locais do NTC que abrangem Tuvalu (ver Fig. 189). Em Março de 2002, o NTC concluiu: «Os registos não indicam qualquer prova de aceleração da tendência para a subida do nível dos mares.»

O IPCC, sem o nomear, visava o romance de Michael Crichton «State of Fear». Crichton referiu o caso da ameaça, em 2004, de apresentação de uma queixa contra os EUA pela submersão dos atóis. Mas foi apenas uma ameaça … já que a acção não entrou em qualquer tribunal.

Podem-se encontrar valores díspares mesmo quando se comparam locais não muito longínquos como, por exemplo, Brest, França, e Estocolmo, Suécia, situados no Atlântico Norte.

No período 1800-2000, observou-se em Brest uma tendência de pequena elevação do nível do mar e em Estocolmo de descida ligeira. Esta descida justifica-se pela tectónica escandinava.

Os marégrafos têm o seu referencial na terra. Se o referencial se altera, por exemplo, por razões tectónicas, como no caso de Estocolmo, o resultado dos marégrafos indica também os movimentos do solo e não unicamente do nível do mar.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Nils-Axel Mörner e o nível dos mares

Não é possível falar do nível dos mares sem citar o Prof. Nils-Axel Mörner, jubilado da Universidade de Estocolmo. Eis uma apresentação rapidíssima de Mörner:

Dr. Nils-Axel Mörner has studied sea level and its effects on coastal areas for some 35 years. Recently retired as director of the Paleogeophysics and Geodynamics Department at Stockholm University, Mörner is past president (1999-2003) of the INQUA Commission on Sea Level Changes and Coastal Evolution, and leader of the Maldives Sea Level Project.

O Prof. Mörner concedeu uma extensa entrevista que abrange muitos aspectos relacionados com a elevação do nível dos mares. Toca inevitavelmente nos casos de Tuvalu e de Veneza que os propagandistas colocam à beira do colapso.

Mas tal é falso como quase tudo o que eles anunciam com o beneplácito dos media. Regista-se nesta nota uma parte da resposta relativa a Tuvalu que é das bandeiras mais brandidas até por pessoas aparentemente capazes.

Um outro lugar famoso é Tuvalu que deveria desaparecer em breve por causa das emissões de dióxido de carbono [dizem os alarmistas]. Existe lá um marégrafo que começou a registar o nível do mar a partir de 1978, isto é, há mais de 30 anos. Se olharmos para os registos deste marégrafo não encontramos nenhuma tendência, o mar não subiu.

Nils-Axel aproveita para se referir a outro local a norte da Nova Zelândia e Fiji, a ilha de Tegua. “Disseram que a população desta ilha teve de ser evacuada pois o nível do mar estava a subir. Mas, novamente, olhando para os registos do marégrafo não se encontra qualquer elevação do nível do mar. Antes pelo contrário, registou-se uma ligeira descida”, afirma o Prof. Mörner.

Então como explicar todo o frenesim dos propagandistas, a começar pelo IPCC? “Eles inspiram-se nos resultados dos modelos e andam sempre com esperança de ver confirmados os resultados dos seus exercícios de modelação na observação real”, explica o professor.

Na resposta à mesma pergunta, o Prof. Nils-Axel aproveitou para falar no caso de Veneza que também serve de espantalho para os alarmistas afirmarem a necessidade de mitigar as emissões de dióxido de carbono.

Segundo o professor, os registos de 300 anos mostram subidas e descidas do nível do mar, que banha Veneza, com um valor médio que se mantém inalterado desde então. Em 1970 registou-se uma subida que terminou pouco depois com regresso ao passado.

Como se diz no jogo da batalha naval: os propagandistas andam a dar tiros na água! Não acertam um… A Fig. 188 do Bureau of Meteorology-BoM, do governo australiano, dá razão ao Prof. Nils-Axel Mörner.

Nessa figura apresentam-se as evoluções do nível do mar junto de várias ilhas que são monitorizadas pelo BoM. De entre elas aparecem Tuvalu e Fiji que o professor refere na sua entrevista.

A Fig. 189 é ainda mais elucidativa quanto à evolução do nível do mar à volta de várias ilhas, nomeadamente as de Tuvalu, Fiji e Kiribati que o professor enumerou na entrevista.

Nesta figura está traçada a evolução desde 1992 até Junho de 2004. A fonte é também o BoM, da Austrália. Não restam dúvidas acerca da desmesurada falta de verdade no caso Tuvalu e ilhas adjacentes.

Fig. 189 - Evolução do nível do mar no Pacífico. 1992-2004. Fonte: BoM, Austrália.

Posted by Picasa

Fig. 188 - Anomalias do nível do mar. Ilhas do Pacífico. Fonte: BoM, Austrália.

Posted by Picasa

quarta-feira, setembro 16, 2009

Carl Wunsch e o nível dos mares

Carl Wunsch é Prof. do Massachusetts Institute of Technology (MIT). É uma autoridade mundial em matéria de Oceanografia Física. O documentário “The Great Global Warming Swindle” incluiu um depoimento seu que originou uma enorme polémica.

Depois de pressionado pelos propagandistas do “global warming” solicitou ao autor daquele documentário que o seu depoimento fosse retirado. Fê-lo com receio de perder a sua cátedra (Cecil and Ida Green) e financiamentos para a investigação científica.

Mas, de qualquer modo, o seu pensamento, tal como foi apresentado no “The Great Global Warming Swindle”, está registado em muitos artigos científicos publicados em revistas com revisão pelos pares. Destacam-se agora os seguintes:

C. Wunsch, 2007. The Past and Future Ocean Circulation from a Contemporary Perspective, in AGU Monograph, 173, A. Schmittner, J. Chiang and S. Hemming, Eds., 53-74, (pdf)

C. Wunsch, R. Ponte, P. Heimbach, 2007. Decadal trends in sea level patterns: 1993-2004 J. Clim., (pdf)

Nestes artigos, Carl Wunsch destaca as consideráveis carências dos modelos informáticos actuais. Apela à razão dos seus colegas das ciências do clima para terem a maior humildade e prudência na interpretação dos resultados dos modelos.

Claro que esse apelo não teve qualquer efeito entre os alarmistas. Estes estão a pôr em causa a climatologia. Continuam a pavonear-se à frente dos media brandindo resultados tanto mais catastróficos quanto mais longínquos os prazos que anunciam (2100!).

Mas os espíritos racionais começam a acordar e a considerar que a fantochada já foi longe de mais. Os resultados apresentados pelos visionários, tipo projecto SIAM, para Portugal, têm bases demasiado frágeis.

Como o nome indica, o segundo daqueles artigos trata do nível dos mares. Carl Wunsch e colegas apresentam para elevação do nível dos mares, entre 1993 e 2004, o resultado de 1,61 mm ± 0,07 mm por ano.

Ou seja, estes autores são mais cautelosos do que os autores que se baseiam nas medições dos satélites que apontam uma elevação do nível dos mares bastante mais alta: 2,6 mm ± 0,7 mm por ano entre 1993 e 2000.

Eis o que diz a equipa de Carl Wunsch:

Useful estimation of the global averages is extremely difficult given the realities of space–time sampling and model approximations. Systematic errors are likely to dominate most estimates of global average change: published values and error bars should be used very cautiously.

A superfície dos mares varia continuamente sob os efeitos conjugados dos ventos, das correntes e da pressão atmosférica. A superfície dos mares não é plana nem redonda. Ela possui amolgadelas!

A diferença entre as cavas mais profundas e os relevos mais pronunciados pode ultrapassar 100 m a 200 m. As inclinações entre as cavas e os picos podem variar entre 0,1 m / 3000 km e 1 m / 100 km.

É evidente que estas cavas e estas bossas são fracas em relação ao diâmetro terrestre. Por esse facto, elas não impedem que o nosso planeta se assemelhe a uma esfera perfeita, vista de longe, no espaço.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Algorismo e o nível dos mares

(Algorismo = alarmismo de Al Gore)

O documentário “Uma verdade inconveniente”, em louvor do profeta da catástrofe iminente Al Gore, evoca elevações futuras do nível do mar da ordem de seis metros. O que seria certamente aterrador.

Mas, como sempre, a realidade é bastante mais calma do que o terror sugerido pelos modelos informatizados do clima. Dois estudos recentes mostram que a elevação do nível dos mares não conheceu nenhuma aceleração significativa no decurso do século XX.

Para tranquilidade de todos nós, fica-se a saber que em 134 anos a aceleração da elevação do nível dos mares foi de apenas 13 milésimos do milímetro por ano quadrado!

S. Jevrejeva e a sua equipa analisaram a evolução do nível do mar desde há 150 anos, na base de uma rede permanente de marégrafos de dados homogeneizados (base de dados da Permanent Service for Mean Sea Level – ver Nota em baixo) de 12 regiões oceânicas extensas.

Para este efeito, os cientistas usaram o método Monte Carlo Singular Spectrum Analysis (MC- SSA) e retiraram o sinal das oscilações quase-periódicas. O resultado está resumido na Fig. 187.

Nesta figura, representou-se na parte superior a elevação do nível dos mares (gsl) e na parte inferior a aceleração da elevação (gsl rate) com as margens de erro marcadas numa faixa cinzenta.

Conclusão dos investigadores: a elevação recente (2,4 mm ± 1,0 mm por ano) registada entre 1993-2000 é inferior à verificada entre 1920-1945 (2,5 mm ± 1,0 mm por ano). Aparece uma pequena desaceleração à medida que avança o tempo.

Os valores encontrados neste estudo são comparáveis com o indicado pelas medições feitas por satélite: 2,6 mm ± 0,7 mm por ano no período 1993-2000 (1). É preciso ter sempre presente que os satélites começaram a trabalhar há muito pouco tempo.

A análise da Fig. 187 revela que a aceleração da elevação (gsl rate) mais importante se situou entre 1850 e 1875. Recorda-se que cerca de 1850 terminou a Pequena Idade do Gelo e que daí até 1875 as emissões de gases com efeito de estufa foram residuais.

A conclusão importante a tirar é certamente a de que este estudo não permite vislumbrar uma aceleração especialmente perigosa no decurso do século XX como muitas vezes se ouve anunciar.

Noutro estudo também recente, John Church et Neil J. White (ver Nota) chegaram a uma conclusão semelhante: os mares elevaram-se 1,7 mm ± 0,3 mm por ano no século XX e a aceleração em milímetros por ano quadrado teria sido de 0,013 mm ± 0,006 mm.

Estes autores, que seguiram uma metodologia diferentes da dos anteriores, encontraram também ciclos irregulares: forte aceleração entre 1930-1960, seguida de altos e baixos depois deste período.

Somos portanto confrontados com uma conclusão muito interessante. Para além dos fenómenos tectónicos, o nível dos mares eleva-se por duas causas: pelo aumento da temperatura da água (que se dilata) ou pela contribuição dos glaciares que derretem.

O leitor é bombardeado pelos media com o aquecimento que não pára de aumentar. O mesmo bombardeamento acontece com o derretimento dos glaciares com imagens aterradoras nas TV, a começar pela Rádio Televisão Portuguesa paga pelos contribuintes.

Estes acontecimentos deveriam reflectir-se com fidelidade no estado dos oceanos. Mas a informação que se obtém através do estudo da elevação do nível dos oceanos desmente esta cantata do algorismo.

De facto, por mais que se procure, não se encontrou nenhuma aceleração significativa da elevação do nível dos mares a não ser os tais miseráveis treze milésimos do milímetro. Quando será que os media passam a falar verdade?
____________

(1) Teremos oportunidade de falar na missão do satélite TOPEX-Poseidon. Esta missão pertence a um projecto conjunto das agências espaciais norte-americana NASA e francesa CNES.

Referências:

Jevrejeva, S., A. Grinsted, J. C. Moore, and S. Holgate (2006), Nonlinear trends and multiyear cycles in sea level records, J. Geophys. Res., 111, C09012, doi:10.1029/2005JC003229.

Church J.A. et N.J. White (2006), A 20th century acceleration in global sea-level rise, Geoph. Res. Lett., 33, L01602, doi:10.1029/2005GL024826.

Nota:

Os estudos de Church et White e os de Jevrejeva et al., assim como outros dados do PSML podem ser obtidos neste link.

Fig. 187 - Nível dos mares. Elevação (gsl) e aceleração (gsl rate). Fonte: S. Jevrejeva.

Posted by Picasa

sexta-feira, setembro 11, 2009

Inverdade conveniente do nível dos mares

Um recente artigo científico sobre o nível dos mares suscitou um enorme debate. A discussão subiu de tom porque o artigo mencionava os valores extravagantes do documentário de ficção científica “Uma verdade inconveniente”.

Assinale-se que este estudo rompe com o dito documentário que apresentou as águas dos mares em fúria com cidades inteiras a serem engolidas para nos conduzir a uma enorme acesso de culpabilidade e de angústia.

Neste estudo, Simon J. Holgate (do Proudman Oceanographic Laboratory, de Liverpool) utilizou séries homogéneas de nove marégrafos localizados em diversos pontos do globo bem distanciados entre si.

O valor médio da elevação do nível dos mares encontrado para o período global de 1904-2003 (um século) foi de 1,74 mm ± 0,16 mm por ano, ajustando-se bem a outras estimativas realizadas com um maior número de marégrafos.

A análise de Simon mostra que a primeira parte do período (1904-1953) conheceu uma elevação média de 2,03 mm ± 0,35 mm por ano, enquanto que a elevação da segunda parte (1954-2003) foi de 1,45 mm ± 0,34 mm por ano.

Isto é, o ritmo médio de elevação do nível dos mares desacelerou de um período para o outro, como era normal que acontecesse pois à medida que vamos ao encontro da próxima glaciação os ritmos de elevação tendem para zero.

Holgate concluiu no seu estudo que “a forte variabilidade do ritmo de elevação do nível dos mares nos últimos 20 anos não é particularmente fora do habitual”. Ou seja, concluiu que Al Gore mentiu.

Concluiremos pela nossa parte que este estudo não sugere a hipótese de uma aceleração inexorável da elevação do nível dos mares como os propagandistas nos querem fazer crer. Bem pelo contrário…

As previsões feitas para 2100 que aparecem no relatório do IPCC, cujo resumo para os decisores políticos foi apresentado em Fevereiro de 2007, não são consentâneas com a realidade e revelam extrapolações sem base científica.

Referência:
Holgate, S. J. (2007), On the decadal rates of sea level change during the twentieth century, Geophys. Res. Lett., 34, L01602, doi:10.1029/2006GL028492.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Momentos de lucidez em Genebra


Posted by Picasa
O MC terminou o post anterior com um flash da New Scientist. Esta revista manteve, em Genebra, um enviado especial na World Climate Conference – 3. A conferência foi organizada pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial que depende daquela.

O enviado especial Fred Pearce publicou na New Sientist on-line uma reportagem sobre aquela reunião que se realizou entre 31 de Agosto e 4 de Setembro p.p. É conveniente saber que a New Scientist pertence ao material de propaganda do «global warming».

Por este facto, mais interessante se torna o texto de Fred Pearce que seria uma surpresa se aparecesse nos media portugueses. Embora mereça ser lido na íntegra, retiramos da reportagem de Pearce algumas passagens mais salientes.

As previsões das alterações climáticas estão prestes a ser contrariadas. Um dos modeladores de topo disse, na quinta-feira, que poderíamos estar proximamente numa fase de uma a duas décadas de arrefecimento”, começou por dizer o enviado especial da New Scientist.

Baseou-se nas afirmações de Majib Latif feitas no plenário da ONU, perante os 1500 participantes. Latif é um dos autores principais do IPCC. Trabalha no Leibniz Institute of Marine Sciences, da Kiel University, Alemanha.

Para não haver dúvidas, Majib Latif disse: “Eu não sou um dos cépticos”. Mas acrescentou: “No entanto, temos de colocar questões desagradáveis. Caso contrário, outros fá-lo-ão por nós.

Poucos cientistas presentes foram tão longe como Latif. Mas, segundo Pearce, “cada vez mais cientistas concordam que as previsões de curto prazo são muito menos certas do que se pensava.

Natureza vs humanos

Atravessamos um mau momento. A ONU e a Organização Meteorológica Mundial [WMO, na sigla inglesa] convocaram a conferência, a fim de aprovar um plano de serviços climáticos globais para todo o Mundo”, escreveu Fred Pearce.

Explicitou a seguir: “Isto é, pretende-se fornecer previsões climáticas úteis para todos, desde os agricultores, preocupados com a próxima estação chuvosa, até aos médicos que tentam prever epidemias de malária, passando pelos construtores de barragens, de estradas e outras infra-estruturas que necessitam de avaliar o risco de inundações e secas, durante os próximos 30 anos.

No entanto, Fred diz que há dúvidas acerca deste empreendimento: “Mas alguns dos cientistas reunidos em Genebra, para discutir como isso poderia ser feito, admitem que, em tais prazos, a variabilidade natural é pelo menos tão importante quanto as alterações climáticas previstas no longo prazo.

Fred Pearce deve ter ficado atónito ao ter de escrever: “A evolução do Árctico nos Verões recentes foi devida a ciclos naturais e não ao aquecimento global”, segundo ouviu a cientista Vicky Pope dizer. Vicky pertence ao Met Office (Instituto de Meteorologia), do Reino Unido.

E mais perplexo deve ter ficado quando ouviu Tim Stockdale, a propósito dos modelos informáticos do estado do tempo, afirmar: “We have a long way to go to get them right. They are hurting our forecasts.

Tim Stockdale trabalha no European Centre for Medium –Range Weather Forecasts-ECMWF, de Reading, Reino Unido. Este centro fornece previsões meteorológicas para países da União Europeia seus associados.

Claro, Fred não conseguiu perceber o estado de confusão dos espíritos dos cientistas presentes ao ligarem a North Atlatinc Oscillation-NAO a fenómenos tão distantes como as monções da Índia.

Mas esta Climate Confusion faz parte do estado a que chegou a climatologia conduzida pelos modeladores que não são climatologistas (James E. Hansen, Gavin Schmidt, Michael Mann, p.e.).

segunda-feira, setembro 07, 2009

A histeria insana dos jornalistas do «Público»

Temos de interromper a série de notas sobre o nível dos mares a fim de falar de uma questão lateral. Trata-se da enxurrada de mentiras do jornal Público. Este quotidiano especializou-se na desinformação climática. Ele tem um enorme naipe de maus profissionais do jornalismo que se aproveitam do órgão em que trabalham para dar vazão ao seu fanatismo aquecimentista.

Era previsível que com a aproximação do "concílio" de Copenhaga a histeria climática subisse de tom, tal como nas reuniões anteriores do IPCC. Na de Buenos Aires chegou a aparecer um estudo ACIA que dava o Árctico como morto — mas ele continua vivo e bem vivo.

Agora, na preparação para Copenhaga, reuniram-se em Genebra uma série de iletrados do clima como o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa. Este chefiou a delegação portuguesa, mas nela não houve qualquer cientista minimamente qualificado em climatologia.

À partida de Lisboa, Adérito Vicente Serrão, presidente do Instituto de Meteorologia, de Portugal, anunciava aos jornalistas que ia a Genebra resolver o problema do clima que estaria a aquecer em Portugal mais do que em outras partes do Mundo… Mal vai a meteorologia em Portugal com um responsável que debita tais sandices.

Já em Genebra, o sr. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, fez a prédica do Apocalipse segundo o Evangelho da ONU. Logo as trombetas dos media anunciaram o precário destino dos cidadãos do Mundo se não mudassem de vida passando a produzir menos CO2.

Por sua vez, o sr. Ricardo Garcia, que sofre de fanatismo climático crónico e distorce a realidade para satisfação dos seus amigos do Ambiente, publicou no Público do dia 3 de Setembro de 2009, na página 16, artigo com o título “Líder da ONU apela no Árctico ao empenho na luta do clima”.

O artigo tinha o subtítulo “Ban Ki-moon tenta mobilizar dirigentes mundiais em ano crucial das negociações para um acordo pós-Quioto”. Como cabeçalho desta página escrevia-se “Aquecimento global – Ponto sensível da Terra serve de alerta global”.

O sr. Ricardo Garcia começa a sua escrita deste modo: “O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, viajou até ao frio para lançar um novo apelo ao combate contra o aquecimento global.

Aquecimento global? Então estes senhores não sabem que as temperaturas médias globais têm estado a declinar? Esconde-se a realidade à opinião pública e escrevem-se mentiras sobre mentiras. Aquecimento global ou mentira global?

Ali o sr. Ricardo Garcia repete a ladainha do Árctico a desaparecer: “Ban Ki-moon encontrou-se com cientistas e andou ontem sobre o gelo do Árctico, que especialistas afirmam estar a fundir-se a um ritmo mais acelerado do que se julgava.” É sempre tudo mais acelerado, até a mentira.

Desvenda-se o véu: “O Árctico é o ponto do mundo onde o aquecimento climático é mais rápido [é evidentemente falso, como se verificará a seguir no tema da amplificação polar]”, disse o secretário-geral da ONU. Depois de desembarcar do navio KV Svalbard, da guarda costeira norueguesa, para se encontrar com cientistas sobre a plataforma gelada, Ban Ki-moon disse à agência Reuters: “Aqui sobre o gelo polar, sinto as forças da natureza e, ao mesmo tempo, tenho um sentimento de vulnerabilidade" [estaria a referir-se à sua ignorância climática?].

Seguiu-se um rol de mentiras que só lendo se acredita (ler a peça, mas que peça…). O escrito do sr. Ricardo Garcia é acompanhado de uma fotografia, a um quarto de página, do sr. Ban Ki-moon na ilha norueguesa de Svalbard, presume-se.

Esta ilha, no Mar de Barents, onde regressa o ar quente e húmido resultante da circulação geral da atmosfera, é a mesma onde o sr. Durão Barroso já fora anunciar o fim do Mundo. É uma espécie de púlpito do apocalipse climático e não só: Ali se localiza a famosa caverna com as “sementes do juízo final”.

Só que o Árctico já apresentou situações semelhantes ou com menos gelo em final de estiagem quando ainda estas pessoas não eram nascidas [ver por exemplo as notas “Desastre no Árctico (1) e (2)”].

Para agravar as mentiras oficiais do jornal Público, na mesma página acima referida, a sra. Teresa Firmino escrevia o artigo “Aquecimento do Árctico é amplificado” o que é rotundamente falso.

E qual foi a fonte para a sra. Teresa Firmino mentir aos leitores do Público? Nada mais, nada menos do que um “Relatório do WWF” segundo o cabeçalho do artigo em que se mente aos leitores sem o mínimo de consideração por estes.

Este assunto da “amplificação polar” já foi tratado pelo MC mais do que uma vez. Não há amplificação polar no Árctico. A senhora jornalista não se deveria basear em fontes poluídas como a WWF (também conhecida como World Wide Fraud). Leia por exemplo a página web do International Arctic Research Center-IARC, da University of Alaska Fairbanks-UAF, onde pode aprender alguma coisa e diminuir o seu desconhecimento da realidade climática que é transmitido aos leitores do Público.

Para agravar o histerismo do Público, a sra. Helena Geraldes, escreve na edição de Sábado, dia 5 de Setembro de 2009, na pág. 15, “Gases com efeito de estufa suspendem ciclo natural de arrefecimento do Árctico”. Este artigo tem como subtítulo uma mentira gigantesca “A última década foi a mais quente dos últimos 2000 anos no Árctico, conclui novo estudo”. Este estudo é um prolongamento da fraude do “hockey stick global” e do “hockey stick do Antárctico”. Agora temos a fraude do “hockey stick do Árctico”. É uma trilogia de fraudes.

Ou seja, o jornal Público é um órgão de comunicação social que se especializa na promoção de fraudes científicas. E, à revelia de todos os códigos deontológicos do jornalismo, este jornal despeja sobre os seus leitores uma visão estritamente unilateral pois recusa-se a apresentar pontos de vista contraditórios. Grande parte dos jornalistas do Público deveria voltar à escola a fim de aprender o B-A-BÁ da profissão, ou seja, que quando se faz uma notícia é preciso ouvir também o outro lado.

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que no Período Quente Medieval o Árctico tinha menos gelo do que actualmente. Foi por esse facto que os árabes subiram até ao norte da Península Ibérica. Comprova-o a fase da NAO-North Atlantic Oscillation dessa época. D. Afonso Henriques bem correu atrás dos árabes para fundar uma nação.

Mas não é preciso ir tão longe no tempo. Leiam uma informação da NOAA de Novembro de 1922: The Changing Arctic. Senhores jornalistas, informem-se e informem correctamente os leitores.

Por exemplo, porque razões não publicaram esta notícia:

WMO CONFERENCE WARNING:
WORLD CLIMATE MAY CONTINUE TO COOL FOR TWO DECADES

-------------------------------------------

Does this mean we can now study the climate without relying on mass hysteria and scare tactics?

--A New Scientist reader, 5 September 2009
Forecasts of climate change are about to go seriously out of kilter. One of the world's top climate modellers said Thursday we could be about to enter "one or even two decades during which temperatures cool." People will say "this is global warming disappearing", Latif told more than 1500 of the world's top climate scientists gathering in Geneva at the UN's World Climate Conference. Few climate scientists go as far as Latif, an author for the Intergovernmental Panel on Climate Change. But more and more agree that the short-term prognosis for climate change is much less certain than once thought.

--Fred Pearce, New Scientist, 4 September 2009.

Mentir muito é possível. Mentir para sempre é que não. Cedo ou tarde a verdade vem ao de cima e os mentirosos ficam desmoralizados.

sexta-feira, setembro 04, 2009

IPCC e o nível dos mares

A previsão para 2100 publicada pelo IPCC em Fevereiro de 2007 é um recuo em relação às visões apocalípticas anteriores. Em 12 anos, entre 1995 e 2007, o IPCC recuou quase 40 cm.

De facto, em 2007, o IPCC apontava o valor de 58 cm como o mais elevado da subida dos mares para 2100. Em 2001 apresentara o valor de 88 cm. Andando mais para trás, em 1995, tinha sido de 94 cm o valor anunciado pelo IPCC.

Certos membros do IPCC protestaram contra esta moderação de 2007. Mas um maior número de leitores do relatório regozijou-se pelo “progresso dos modelos” e manifestou a esperança de que a ameaça da subida dos mares se reduziria no próximo relatório.

Ou seja, de relatório em relatório o IPCC, se ainda existir, concluirá que o nível do mar vai baixar. Durante o século XX estima-se que a subida se situou entre 10 cm a 20 cm. Subida esta que não parece ter prejudicado quem quer que fosse.

Ora, como tendencialmente, à medida que nos aproximamos da próxima glaciação as elevações do nível dos oceanos se apresentam com taxas inferiores, é plausível que a subida seja inferior aos 10 cm.

Mas, como muitos outros se mostraram perplexos perante a dissonância entre os vários relatórios, o IPCC viu-se obrigado a justificar os números apresentados em Fevereiro de 2007 para contentar a família dos alarmistas.

Fê-lo logo no designado relatório científico que publicou em Maio de 2007 (1). Em primeiro lugar, disse que os relatórios precedentes contemplavam o período 2000-2100 enquanto o de 2007 estabelecia uma variação entre o período 1980-1999 e o período 2090-2099.

O IPCC declarou seguidamente que a amplitude mais reduzida das previsões era uma consequência de um “progresso na resolução das incertezas”. Como se isso convencesse alguém minimamente conhecedora das deficiências dos modelos informáticos.

Desculpou-se ainda com os modelos utilizados que nem sempre têm em conta o escoamento mais rápido dos mantos de gelo dos glaciares bordejando a Gronelândia, dizendo então que estes débitos de escoamento poderiam aumentar no futuro.

Estamos perante uma verdadeira fantasia climática pois os exercícios do IPCC para 2100 não têm valor científico. São uma afronta à ciência. O IPCC não tem em conta as realidades geológicas da Gronelândia e do Antárctico.

Enfim, o IPCC insiste na fé de que a fusão dos mantos de gelo e a subida dos mares prosseguirá muito para lá de 2100. Isso aconteceria, nomeadamente, devido à fusão possível do inlandsis gronelandês e talvez de uma parte dos mantos antárcticos, coisa que não acontece há 80 milhões de anos.

Dito isto, convém voltar a dados concretos que foram finalmente avançados pelo IPCC relativamente aos factores que consideram responsáveis pela subida dos mares e que são indicados na tabela seguinte:

Subida do nível dos mares (mm/ano)

Factor responsável………...1961-2003………….1993-2003

Dilatação..............................0,42 ± 0,12………........1,6 ± 0,5
Fusão de glaciares………........0,50 ± 0,18……….....0,77 ± 0,22
Gronelândia……………….........0,05 ± 0,12………..... 0,21 ± 0,07
Antárctico………………….........0,14 ± 0,41………......0,21 ± 0,35

Total………………………...............1,1 ± 0,5………….......3,1 ± 0,7

Ressalta desde logo a grande indeterminação de alguns elementos. Em particular, a fusão do inlandsis gronelandês e do inlandsis antárctico teriam uma incidência sobre a subida dos mares cujo sinal é indeterminado.

Em razão da enorme imprecisão da estimativa, pode-se também concluir mais rigorosamente que a incerteza é tal que nenhuma conclusão pode ser tirada.

Em complemento dos dados precedentes, o IPCC indicou que a subida dos mares foi para o período 1961-2003 de 1,8 mm por ano e para o decénio 1993-2003 de 3,1 mm ± 0,7 mm por ano.

Pode-se questionar o valor desta última estimativa para 1961-2003 (1,8 mm/ano) que é muito superior à soma dos valores do quadro anterior para o período 1961-2003 (1,1 ± 0,5).

Talvez se encontre aqui uma razão para se verificar uma diminuição sucessiva da taxa de elevação à medida que nos afastamos da última glaciação.

Mas interessa, sobretudo, colocar a questão de saber como se mede o nível dos mares.
____________

(1) O IPCC não deveria espantar-se por ter sido mal interpretado pois foi ele que escolheu, por razões mediáticas e políticas, publicar o resumo para decisores políticos (em Fevereiro de 2007) antes de publicar o relatório propriamente dito (em Maio de 2007) o que é uma metodologia muito estranha.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Por mares nunca dantes navegados

Pretende-se fazer crer que a fusão dos glaciares e a subida dos mares sejam testemunhos do proclamado aquecimento global. A emissão do CO2 é invocada para justificar essa pretensão. Porém, o recuo dos glaciares e a subida dos mares não começaram com a Revolução Industrial.

No entanto, é legítimo questionar se estaremos ameaçados por uma aceleração futura da fusão dos glaciares e da subida dos oceanos. Trataremos agora apenas destes último caso. Ameaçam-nos com a submersão de várias regiões do Mundo, algumas das quais seriam das mais povoadas.

Os investigadores do Laboratório Oceanográfico Proudman, do Reino Unido, temem uma subida dos oceanos de 1,5 metros até ao fim deste século. O filme «Uma Verdade Inconveniente» evocou uma subida de 6 m para o nível dos mares.

Felizmente, o resumo do IPCC, destinado aos decisores políticos, aprovado em Fevereiro de 2007, veio aliviar o pânico ao limitar a sua previsão para o final do séc. XXI «numa subida do nível do mar entre 19 cm e 58 cm».

Todavia, para lançar uma esponja sobre as visões apocalípticas de Al Gore, o IPCC acrescentou que: «a muito longo prazo (vários milénios), poder-se-á atingir uma subida da ordem de 7 m [próximo do número mágico de Gore] devido à fusão da Gronelândia».

A fusão da Gronelândia é um bicho-de-sete-cabeças que o IPCC não sabe deslindar. Geologicamente, a realidade da Gronelândia não tem nada a ver com os modelos simplistas usados pelo IPCC. Por isso, a fusão só aparece nos modelos.

Este tema do nível dos mares tem um vasto contencioso. Serve para alarmar mais do que qualquer outro dos preferidos pelos alarmistas. Não é possível dar uma resposta exacta à questão: - Os mares estão a subir ou não?

Com esta primeira nota o MC vai dedicar alguma atenção ao tema da subida do nível dos oceanos. No entanto, as respectivas notas poderão ser interrompidas pela publicação de outras acerca de assuntos mais actuais.

A bibliografia sobre este tema é generosa. O livro recente «L’ Homme est-il responsable du réchauffement climatique?» do autor francês André Legendre, EDP Science, 2009, ISBN 978-2-7598-0383-5, é uma hipótese recomendada.

Vão ser analisadas várias fontes de informação, nomeadamente quanto ao modo de medir a elevação do nível médio dos mares que é uma questão, aparentemente, irresolúvel. Existem métodos antigos (marégrafos) e modernos (satélites).

Apareceu um estudo interessante realizado pelo autor do blogue Ecotretas que conclui como quase todos os outros: nuns sítios verificam-se subidas, noutros descidas ou, até mesmo, estabilidade dos níveis.

Tal como a temperatura média global tem significado estatístico, também o nível médio global dos mares é um valor essencialmente estatístico. Em termos gerais, num período interglacial, como o que vivemos, os oceanos sobem.

Essa subida é acelerada na saída da glaciação e tende para um valor limite com acréscimos cada vez mais reduzidos à medida que nos aproximamos da próxima glaciação como qualquer função que tenda para um limite horizontal. Esta explicação concretiza-se na Fig. 186 de um estudo de Robert A. Rhode.

Esta figura representa a subida do nível dos mares iniciada há 18 mil anos. A descrição encontra-se no estudo de Rhode. A Fig. 186 mostra como evoluiu o nível dos mares desde o ultimo período glacial (terminado entre 12 mil e 14 mil anos atrás).

A elevação tem prosseguido sem interrupção até aos nossos dias. A inflexão brutal deu-se no momento em que terminou a fusão fundamental (com excepção das calotes polares) da crioesfera existente no período glacial.

A amplitude total da subida foi de aproximadamente 140 metros. Desde há cerca de 7 mil anos que os mares passaram a subir muito suavemente. Nada disto tem que ver com o «global warming».

Fig. 186 - Subida do nível dos mares pós-glaciação. Fonte: Robert A. Rhode.

Posted by Picasa