terça-feira, agosto 30, 2005

IPCC contra a epistemologia

A filosofia desempenha um papel importantíssimo no estudo da teoria do conhecimento, ou epistemologia, para demarcar o que são teorias científicas do que é pseudociência. São conhecidos os trabalhos de Karl R. Popper, com o célebre critério da refutação, de Thomas S. Kuhn, com os escombros de velhos paradigmas, e de Mário Bunge, com os 20 critérios da demarcação.

Os filósofos também se têm debruçado sobre o folclore climático. Veja-se o que diz Simon Blackburn: «Casos mais insidiosos de alucinação de massas dependem …das necessidades institucionais das ciências específicas [subsídios, financiamentos, …]. Assim, por exemplo, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança Climática [IPCC] tem produzido incessantemente gráficos e relatórios dando conta dos efeitos iminentes e catastróficos do aquecimento global.»

Continua Simon: «Para os cientistas que fazem parte do Painel, essas teses justificam mais financiamento, sem falar em mais poder institucional, recursos informáticos e viagens de avião em primeira classe para ir a conferências em locais exóticos [o autor deve-se referir aos locais de realização das Conference of the Parties].»

Blackburn reflecte sobre o complexo de culpa das massas: «A paixão que nos faz receber estes relatórios…tão avidamente é, suponho eu, a culpa. Pois de facto apenas existem escassos dados que apoiem a tese do aquecimento global, e muitos e bons dados que apoiam a tese de que não há nenhum ou quase nenhum.»

O filósofo acrescenta: «Hume também cita aprovadoramente um dito de La Rochefoucault segundo o qual há muitas coisas acerca das quais o mundo deseja iludir-se. O impulso religioso é uma das manifestações desta verdade.» Assim nasceu a religião oficial do “climate change”.

Além disso, Simon salienta a exploração da angústia da opinião pública: «Mas outra [manifestação] é o impacto das emoções – incluindo o medo e a culpa – sobre a crença, e este é o mecanismo que nos leva a receber mensagens de desgraça e de desastre com as nossas faculdades de análise crítica adormecidas.»

O filósofo Simon Blackburn não deixa de comparar as verdades com as divagações:«… não há dados que comprovam a subida do nível do mar ou o aumento de agressividade climática (os escassos dados a favor disso advêm de medições feitas à superfície do globo e arbitrariamente distribuídas), ao passo que os dados substanciais contra essa ideia são proporcionados por satélites que têm um raio de acção sobre praticamente todo o planeta e por balões meteorológicos.»

Perante tanto show-off, Simon desabafa: «Mas uma declaração pública pode falar em nome de todo o edifício da ciência sem reflectir adequadamente o carácter dessa ciência. É às declarações públicas, quer sejam da Sociedade Americana de Psiquiatria, do Governo ou do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, que se tem de dar um grande desconto.»

Uma “projecção”, que é a base pseudocientífica das profecias do IPCC para 2100, não tem valor científico. Tem, sim, valor técnico. É apenas um método utilizado para prospectar, através de modelos informáticos, o futuro num determinado caminho predefinido de um mundo que não é previsível.

Obs.: Os textos de Simon Blackburn pertencem à tradução de Pedro Santos sobre a “Palestra Voltaire” organizada pela Associação Humanista Britânica proferida em 13 de Dezembro de 2001 no King’s College, London, publicada no excelente blog português de filosofia «Crítica» .

segunda-feira, agosto 29, 2005

IPCC contra o bom senso

O IPCC partiu de apenas três variáveis explicativas, as evoluções económicas, populacionais e tecnológicas a nível mundial – durante um século! – (pág. 18 do PNAC), para chegar às previsões catastróficas de 2100! Isto é o mesmo do que reconstruir as torres gémeas assentes em areias movediças. Se calhar alguns dos nossos descendentes terão de fazer a recolha dos escombros de Kuhn (vide a seguir).

O salto no escuro que se apresenta nos trabalhos do IPCC ignora completamente, de entre outros acontecimentos possíveis, uma hipótese importantíssima que é lançada para a discussão pelos especialistas do ramo petrolífero.

Isto mesmo já foi apontado por James E. Hansen, o muito célebre pai do aquecimento global, no seu conhecido artigo «Can we defuse the Global WarmingTime Bomb?», Natural Science, 1 de Agosto de 2003, 43 p., conforme a apresentação que fez no Council on Environmental Quality (Washington, DC), em Junho de 2003.

Convém recordar que James E. Hansen é Presidente do Goddard Institute for Space Studies da NASA, Prof. da Columbia University Earth Institute (New York City) e membro da Academia das Ciências dos EUA.

Realizou-se nos dias 19 e 20 de Março deste ano de 2005, na Fundação Gulbenkian, Lisboa, um seminário internacional da Association for the Study of Peak Oil and Gas (ASPO) sobre o esgotamento das reservas de petróleo e de gás natural a nível mundial.

A partir de meados do século XXI, segundo os especialistas altamente qualificados, deixará de haver emissões significativas de efluentes gasosos provenientes dos produtos refinados do petróleo. Curiosamente, de acordo com as previsões realistas da ASPO, por alturas de 2010 (data mítica de Quioto), a extracção de petróleo bruto conhecerá uma redução drástica.

Daí a escalada de preços do petróleo bruto que se verifica actualmente no mercado internacional pela aproximação desse pico, se é que já não se está em cima dele, contrariamente a outras hipóteses que pretendem esconder esta realidade que abalará seriamente as cotações bolsistas das empresas petrolíferas.

Por outro lado, é importante citar o prof. Jorge Dias de Deus, do Instituto Superior Técnico: «O tratamento das questões ambientais ilustra bem o que se passa. O verdadeiro cidadão deve estar a par dos grandes temas ambientalistas (buraco do ozono, efeito de estufa, etc., etc.)»

Continua o Prof.: «Mas como não se ensina ciência (O que é o buraco do ozono? O que é o efeito de estufa?) o que se faz é ensinar a papaguear frases feitas debitadas a partir de catecismos fundamentalistas.»

Dias de Deus destaca: «Por exemplo, o papel desempenhado pelos espectros das radiações, solar e terrestre, e a importância do jogo dos tamanhos das moléculas na atmosfera e dos comprimentos de onda das radiações, na criação do efeito de estufa permanecem como mistérios insondáveis.»

Conclui o prof. do IST: «E o efeito de estufa é mesmo assim tão mau, ou será também bom? Ou melhor, a partir de que concentração de gases passa ele de bom a mau?» – fim de citação do artigo “Engenheiro ou Cidadão”, Boletim da Ordem dos Engenheiros, de Junho de 2001.

Este texto simples revela a preocupação do rigor, o cuidado da dúvida e da comparação entre os inconvenientes e as vantagens sem exaltar aqueles e esquecer estas, que é o que acontece sistematicamente nalguns sectores que tratam destes temas.

sexta-feira, agosto 26, 2005

PNAC e SIAM contra a Climatologia e contra a Ciência

Foi entregue ao público, para debate do PNAC, apenas um volume que trata de generalidades. O outro volume obteve-se na Internet. Esta crítica também se refere ao volume que não foi distribuído.

Nota-se um manifesto desequilíbrio entre os estudos de base, do PNAC, até 2008-2012, num prazo de cerca de uma década a partir de 2000 e as “estimativas” (terminologia abusiva dos autores do PNAC) do SIAM para 2100, com um intervalo de um século, que se encontram a partir da pág. 165 do 2.º volume do PNAC.

Já se avaliou anteriormente o trabalho do SIAM como constituindo uma pura fantasia sem o mínimo significado científico ou climático e com um grau de confiança nulo.

Nas previsões do PNAC aplica-se uma metodologia econométrica aceitável (para o cálculo das emissões) num intervalo de tempo relativamente curto. Admitem-se hipóteses para o desenvolvimento económico - social que implicam procuras e ofertas de energia com emissões de GEE dentro de uma determinada gama.

Na sessão da Torre do Tombo foi dito pela mesa que o estudo do SIAM correspondia a visões de cientistas preocupados com estes problemas e que os resultados tinham apenas um carácter indicativo do que poderia suceder.

Também se disse, para espanto dos presentes, que os 100 anos não eram tão longos como isso visto que os 10 anos do PNAC são somente 1/10 de 100 anos do SIAM.

Mas se as visões são apenas indicativas, não se compreende como é que o volume do PNAC distribuído ao público esteja todo ele polvilhado de números mágicos do SIAM que assustam as pessoas (aumentos de temperaturas, subidas dos níveis do mar, doenças, etc.) atribuindo-se-lhes “confianças altas” e “confianças médias”, o que é um absurdo.

Se os responsáveis do SIAM estavam assim tão preocupados não deveriam ter ido à TV dizer: - «Sim, os cientistas como nós têm a certeza...» depois de ter sido colocada uma dúvida pelo pivô do programa.

E também deviam ter tido a preocupação de chamar a atenção para os exageros de vários órgãos da comunicação social (“Público”, “Visão”, RTP, SIC, TVI, p.e.) que alarmaram desnecessariamente a opinião pública com as visões do SIAM sem qualquer sentido.

Não se pode tentar convencer as pessoas abusando com o monopólio do conhecimento, a eficácia da pressão, a confiscação do direito ao debate (não é qualquer um que tem acesso à comunicação social), o lançamento do pânico e do medo, a intoxicação da opinião pública.

quinta-feira, agosto 25, 2005

PNAC contra o rigor

«Reunidas e sucessivamente confirmadas por eminentes cientistas, agremiados no Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, evidências suficientes sobre a dimensão dos riscos que a humanidade enfrenta em consequência do fenómeno do aquecimento global do planeta».

É assim que começa o Preâmbulo do PNAC no mais puro psitacismo climático, repetindo os mesmos slogans e clichés, recitando falácias atrás de falácias [“confirmadas” – através de modelos que não podem confirmar nada e não por observações directas dos fenómenos reais –, “eminentes cientistas” – mistura de burocratas com meteorologistas da escola dos modelos – e “evidências suficientes” – através de modelos insuficientes] dos documentos dimanados pelo IPCC sem a mais pequena vacilação. Segue-se o anúncio do estabelecimento de uma burocracia nacional típica nestas matérias.

Como não se informa como é que foram «reunidas e sucessivamente confirmadas…evidências suficientes…» pode-se pensar que «...eminentes cientistas…» andaram de lupa na mão ou com instrumentos de medida bem mais eficazes a fazer observações dos fenómenos reais ou a reproduzi-los em laboratórios.

Mas isso é pura e simplesmente falso. Utilizaram apenas os artigos encontrados na literatura feitos à medida da suas teses com base em modelos climáticos e somente modelos e computadores. E fundamentaram as suas conclusões num estudo (hockey stick) que está actualmente classificado com uma autêntica fraude científica. Voltaremos a este assunto.

«Entre outras causas, o clima é fortemente influenciado por mudanças nas concentrações atmosféricas de diversos gases que retêm parte da radiação infravermelha proveniente da superfície da Terra, produzindo o chamado “efeito de estufa”. É de notar que existe efeito de estufa sem intervenção humana, o denominado “efeito de estufa natural”, sem o qual a temperatura média da superfície da Terra seria negativa (cerca de 18 ºC negativos) e o planeta seria inabitável».

É esta a explicação franciscana da tese fundamental e falaciosa do IPCC, embora o PNAC envie para uma leitura mais detalhada do sítio da ex - Direcção Geral do Ambiente existente na Internet. E quem não tem acesso à Internet consegue perceber alguma coisa daquilo que está escrito acima? Mas valerá a pena perder tempo com aquele site?

Não falta, no PNAC, a afirmação especulativa e sem fundamento, para impressionar os incautos, nomeadamente os decisores políticos: «O IPCC reúne cerca de 3000 cientistas de todo o mundo e também desenvolve metodologias e trabalhos específicos, entre os quais as metodologias a serem adoptadas pelos países na elaboração dos seus inventários de gases com efeito de estufa».

O PNAC teria consultado os currículos dos tais 3000 (?) “cientistas” espalhados pelo planeta? Existem tantos climatologistas conhecedores profundos da matéria e espalhados por tantos países que andam à volta deste dossier ou a maior parte estará concentrada nos países desenvolvidos? Quatro ou cinco países forneceram 3000 climatologistas, ou seja, cientistas na terminologia anglo-saxónica? Ou o PNAC também contabilizou os burocratas indicados pelos governos para fazer parte dum painel intergovernamental? Se os responsáveis do PNAC conseguissem encontrar um décimo dos 3000 climatologistas anunciados já não seria mau.

Claro que não falta no PNAC o catálogo do apocalipse climático com o fantasma das cheias e das secas, da fusão dos glaciares, do aparecimento de insectos e de ventos fortes e até, vejam lá, do “aumento do risco de conflitos sociais”. Esta é boa…

Inventa-se uma sucessão de acontecimentos catastróficos baseados num não – acontecimento sem qualquer prova material ou observação científica. Que credibilidade tem, como se faz no PNAC, a atribuição de “confiança alta: 67 % - 95 %” e de “confiança média: 33 % - 67 %” aos acontecimentos imaginados através de modelos que não merecem qualquer confiança – representam tanto o clima como este blogue está escrito em chinês – e de cenários que são congeminações dos utilizadores desses modelos?

Uma das novidades do PNAC está no espantalho da fuga dos turistas devido a temperaturas elevadas com a atribuição de uma “confiança média” a este despautério…Deve-se, sim, atribuir uma total falta de confiança ou uma “confiança nula: 0 %” ao PNAC tal como ao SIAM!

Já pouco existe que nos possa espantar, mas o PNAC não é capaz de dar qualquer palpite para o que vai acontecer ao clima daqui a dez anos mas tem a coragem de dar credibilidade às profecias do SIAM para daqui a cem anos atribuindo, ainda por cima, confianças entre 33 % e 95 %...Mas que precisão nestes números; francamente 33 %, ao menos é uma capicua bonita!

No PNAC não faltam referências às fantasias climáticas do SIAM esquecendo-se ou ignorando-se que este estudo tem por base uma hipótese verdadeiramente inverosímil que é a da duplicação da concentração do dióxido de carbono entre 1990 e 2100.

Até o pai do aquecimento global, James Hansen, afirma que esta hipótese de duplicação é verdadeiramente um disparate. Mas já agora, disparate por disparate, nos estudos subsequentes os responsáveis do SIAM tiveram a ideia genial de admitir hipóteses com aumentos ainda superiores…Qual será a confiança a atribuir a estas fantasias: “alta”, “média” ou nula?

quarta-feira, agosto 24, 2005

PNAC e Quioto contra Portugal

No único documento distribuído, correspondente à versão 2001, para a dita discussão pública do PNAC, na pág. 15, apresenta-se um gráfico onde está desenhado o plano inclinado do compromisso de Portugal para atingir a meta de Quioto.

Em todos os documentos do PNAC estabelece-se uma enorme confusão entre toneladas de dióxido de carbono e toneladas equivalentes de dióxido de carbono reduzindo a massa de todos os gases com efeito de estufa (GEE) à massa equivalente daquele.

Este subterfúgio deve-se às deficiências dos modelos utilizados, incluindo os do IPCC, que não são capazes de trabalhar com a desagregação dos GEE. Daí se ouvir governantes a falar em “dióxido de carbono equivalente” o que é uma enormidade transmitida pelos responsáveis do dossier do PNAC, incluindo os do Instituto do Ambiente.

Mas, enfim, partindo do valor das emissões antropogénicas dos GEE, em 1990, de 60 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono aquela rampa vai até 2010 com uma inclinação de 27 % (aliás este aumento poderia ser atingido entre 2008 e 2012), valor comprometidamente assegurado pelo governo português.

Em 2000, Portugal já tinha ultrapassado largamente aquela meta, comprometida em Quioto, para 2008-2012. Se o crescimento real das emissões continuar neste ritmo até esta data final, Portugal terá de se sujeitar a sanções já tipificadas numa Conference of the Parties que faz parte da burocracia estabelecida pelo Protocolo de Quioto.

Essas sanções serão, essencialmente, e para já, limites mais apertados para os períodos seguintes e perdas no âmbito das medidas de flexibilização. Pode-se admitir que a própria UE penalize Portugal, se não "cumprirmos" as metas de Quioto, com medidas que poderão tomar outras formas que não tenham nada a ver com o Protocolo (subsídios comunitários?).

Já se sabia antes da reunião de Quioto que os valores comprometidos eram irrealistas pois os resultados do exercício do Plano Energético Nacional (PEN), de 1992, apontavam para valores mínimos de crescimento de 54,5 %, entre 1990-2010, somente para o CO2, num cenário a roçar uma crise económica – social durante este período.

Os valores mínimos do PEN-1992 correspondiam a um cenário de procura baixa e incluíam medidas de contenção de emissões de efluentes gasosos. Os máximos de crescimento, projectados para aquele período de 1990-2010 eram de 94,4 % - 100,0 %. Isto é, as projecções apontavam para um intervalo alargado de 50 % - 100 %.

Curiosamente, a taxa real de crescimento das emissões nacionais dos GEE entre 1990-2000 (Fig. II-1.2, pág. 9 do 2. º Vol. do PNAC) bate certa com as projecções do PEN-1992, relativamente ao CO2, ficando entre as projecções dos cenários médio e alto. Ficou além do cenário baixo, isto é, não se verificou o que então se designou por «absorção difícil das roturas sectoriais» resultantes do processo de ajustamento da economia portuguesa ao mercado comum europeu.

O compromisso de Quioto de 27 % corresponderia seguramente a um cenário de desenvolvimento sócio - económico de crise generalizada, ainda mais abaixo da hipótese do PEN das ditas roturas sectoriais. Se o nível de crescimento económico tivesse seguido conforme ao Protocolo de Quioto, agora, em vez de estarmos a discutir o PNAC, assistiríamos a manifestações de rua semelhantes às que aconteceram, em 2001-2002, na Argentina.

Como foi possível assinar um tal compromisso? Quem assume as responsabilidades pela falta de cumprimento do compromisso de Portugal? Por que escolheram o valor de 27 % e não de 26 % ou de 28 %? Em que estudos se basearam para tomarem um tal compromisso?

Hoje em dia ninguém se acusa como responsável por esta decisão irresponsável. Pelo contrário, já se ouve autores do PNAC a dizer em público que não têm qualquer responsabilidade e que desconhecem quem é o culpado. Afinal são todos zelosos cumpridores de ordens superiores. Mas qual seria o superior que levou os nossos governantes a assinarem um compromisso que não podiam cumprir?

terça-feira, agosto 23, 2005

PNAC contra a Climatologia

No dia 1 de Fevereiro de 2002 realizou-se no auditório da Torre do Tombo uma sessão dita de discussão pública do Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) - Versão 2001. A mesa era constituída pelo eng.º João Gonçalves, presidente do Instituto do Ambiente, pelos prof. Álvaro Martins e profª. Júlia Seixas, da equipa de projecto do PNAC.

A partir da intervenção do autor do blogue feita nessa reunião, bem como da análise dos documentos disponíveis para debate, foi apresentada uma Declaração Pública enviada à Comissão Nacional para as Alterações Climáticas.

Além dessa declaração do autor do blogue, parece que foi apresentada mais uma outra que também não conheceu a luz do dia. Estranha-se que não tenha sido publicado um volume com as declarações. Como tal, os Mitos Climáticos procuram resolver essa lacuna apresentando elementos dessa declaração.

Por aqui se vê, no secretismo dado às contribuições externas, que a chamada discussão pública mais não foi do que um simulacro de debate e constituiu antes uma série de sessões de esclarecimento dos autores do projecto do PNAC, avalisadas pelo Instituto do Ambiente, para manipulação da opinião pública.

O principal responsável da equipa de projecto é um distinto Prof. de economia. Nem ele nem a sua colega, eminente Profª. de ambiente, têm habilitações ou aptidões na área da climatologia. Não têm nem procuraram ter por iniciativa autodidáctica, tal como acontece com o autor do blogue, como se veio a provar não só nessa sessão da Torre do Tombo como em muitas outras onde apareceram a fazer propaganda do PNAC.

Mas o presidente do Instituto do Ambiente, insigne Engº. químico, não fica atrás no desconhecimento total sobre climatologia. No entanto, qualquer deles fala em público como se isso não acontecesse nem fosse necessário para abordar o extremamente complexo tema das alterações climáticas.

Para que serviria ter conhecimentos mínimos de climatologia se o PNAC não é mais do que uma emanação do psitacismo relativo ao discurso oficial vindo de Bruxelas? Os autores do PNAC representam apenas o papel de relés das ordens da Comissão Europeia.

E na Comissão Europeia está à frente de todo este processo a sua Direcção - Geral do Ambiente que também não se debruçou minimamente nos domínios da climatologia pois representou tão-somente o papel de mensageira do IPCC.

O IPCC não podia ter encontrado melhor discípulo do que o Director - Geral do Ambiente da CE que afirma “é assim porque é assim” quando se lhe pergunta o motivo da tomada de decisões obscuras.

O PNAC foi aprovado, virgula a virgula, pela CE e não é para as alterações climáticas porque não resolve nada sobre o clima. Será talvez um programa para a resolução de alguns problemas ambientais relacionados com a poluição e para a desarticulação da frágil indústria nacional.

Foi através do PNAC que o Instituto do Ambiente obrigou Portugal a converter-se à religião oficial do “climate change” à qual o autor dos Mitos Climáticos não adere. Mas isso não implica que seja contra o Ambiente pois tem o maior respeito por quem se bate honestamente pela melhoria do ambiente em Portugal, o que não é o caso dos moralistas do ambiente que até tiram partido material das suas campanhas demagógicas.

Não se confunda clima com poluição. A luta contra a poluição deve merecer um tratamento sério e apropriado pelos especialistas e será tanto mais eficaz quanto melhor se perceber que ela não tem que ver com o clima.

São merecedores do maior aplauso os resultados positivos no ataque à poluição qualquer que ela seja, nomeadamente a atmosférica. Quem não gostaria de ter um ar mais respirável ou menos doentio nas nossas cidades?

Por fim, estranha-se que exista uma Comissão Nacional para as Alterações Climáticas constituída por quem não tem conhecimentos mínimos sobre climatologia. Os seus membros são eminentíssimos especialistas de outros ramos da ciência e da política (ministérios do Ambiente, dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna, do Desenvolvimento Rural, das Pescas e da Ciência e Tecnologia), mas quanto à climatologia reconhece-se que, com alguma rara excepção, a Comissão não está habilitada para o efeito. Basta ler os documentos que produz para se tirar facilmente essa conclusão.

segunda-feira, agosto 22, 2005

SIAM contra a Ciência

Conforme se viu anteriormente, de acordo com a opinião da EPA, os norte-americanos nem sequer atribuem significado a um estudo climático que abrangesse uma área igual à do seu país. Por isso não gastaram um cêntimo que fosse com uma perda de tempo e de dinheiro que seria obter resultados sem qualquer significado.

Mas em Portugal houve quem não tivesse o pudor de realizar um estudo relativo ao nosso pequeno rectângulo. Mais grave do que a aplicação ao rectângulo continental foi ter-se feito um segundo estudo aplicado às ilhas dos Açores e estar em preparação mais outro para a ilha da Madeira. Tudo isto também com gastos de dinheiros públicos. Não sabemos se está também previsto algum para as Berlengas e os Farilhões…

Foi deste modo que apareceu, com pompa e circunstância, o designado “Climate Change in Portugal. Scenarios, Impacts and Adaptation Measures” (SIAM) pretendendo-se avaliar variáveis climáticas para um intervalo de um século, isto é, projectadas até 2100, para Portugal.

Este impensável estudo foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – do Ministério da Ciência e da Tecnologia –, pelo Instituto da Água e pela Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A lista das instituições, nacionais e internacionais, que apoiaram esta especulação sem sentido nem significado físico, científico ou climático é vastíssima. Eis alguns nomes que mancharam a sua reputação ao avalisar esta pura fantasia:

- Instituto do Ambiente, Direcção Geral de Energia, Direcção Geral de Saúde, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Instituto de Meteorologia, Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, Instituto Superior de Agronomia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, etc., etc.

- IPCC, Hardley Centre (UK) e o United Kingdom Meteorological Office (considerada a meca do dogmatismo climático). Este apoio não dignifica a elite que está à frente de um processo de tamanha repercussão para a humanidade.

Se é grave o envolvimento daquelas instituições nacionais, embora compreensível porque alguém as conduziu ao embuste, é gravíssima a participação das internacionais que tinham perfeito conhecimento de causa sobre a completa falta de credibilidade de um estudo deste jaez.

Se dúvidas houvesse sobre a ética, ou antes sobre a falta dela, com que o IPCC conduz este tema, este pequeno exemplo demonstra perfeitamente o modo enviesado como foram conduzidos os trabalhos do FAR, do SAR e o do TAR, já nossos conhecidos.

As muitas limitações dos modelos climáticos

Mesmo a escola da climatologia que vive à custa dos modelos climáticos reconhece limitações à sua aplicação como se refere a United States Environmental Protection Agengy (EPA) no site «http://www.epa.gov/globalwarming/uncertainties.html».

Esta Agência da administração pública norte-americana – equivalente ao Instituto do Ambiente – divide as “certezas– incertezas” em três categorias: - 1) “What’s known for certain ?” (zona clara); 2) “What’s likely but not certain” ? (zona cinzenta) e 3) “What are the big unknowns ?” (zona escura).

Interessa averiguar o que cai totalmente neste zona escura da qual a EPA afirma:

«What are the Big Unknowns?

Scientists have identified that our health, agriculture, water resources, forests, wildlife and coastal areas are vulnerable to the changes that global warming may bring. But projecting what the exact impacts will be over the 21st century remains very difficult. This is especially true when one asks how a local region will be affected. Scientists are more confident about their projections for large-scale areas (e.g., global temperature and precipitation change, average sea level rise) and less confident about the ones for small-scale areas (e.g., local temperature and precipitation changes, altered weather patterns, soil moisture changes). This is largely because the computer models used to forecast global climate change are still ill-equipped to simulate how things may change at smaller scales. [See the U.S. Climate section for more detail on climate models.]
Some of the largest uncertainties are associated with events that pose the greatest risk to human societies. IPCC cautions, "Complex systems, such as the climate system, can respond in non-linear ways and produce surprises. " There is the possibility that a warmer world could lead to more frequent and intense storms, including hurricanes. Preliminary evidence suggests that, once hurricanes do form, they will be stronger if the oceans are warmer due to global warming. However, the jury is still out whether or not hurricanes and other storms will become more frequent.More and more attention is being aimed at the possible link between El Niño events – the periodic warming of the equatorial Pacific Ocean – and global warming. Scientists are concerned that the accumulation of greenhouse gases could inject enough heat into Pacific waters such that El Niño events become more frequent and fierce. Here too, research has not advanced far enough to provide conclusive statements about how global warming will affect El Niño.

Living with Uncertainty

Like many pioneer fields of research, the current state of global warming science can't always provide definitive answers to our questions. There is certainty that human activities are rapidly adding greenhouse gases to the atmosphere, and that these gases tend to warm our planet. This is the basis for concern about global warming.The fundamental scientific uncertainties are these: How much more warming will occur? How fast will this warming occur? And what are the potential adverse and beneficial effects? These uncertainties will be with us for some time, perhaps decades.Global warming poses real risks. The exact nature of these risks remains uncertain. Ultimately, this is why we have to use our best judgement – guided by the current state of science – to determine what the most appropriate response to global warming should be.»

Interessa registar a preocupação do uso verbal tal como may, could, will be... if, should.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Protocolo de Quioto. Ásia, Estados Unidos da América e Austrália

Enquanto as emissões de dióxido de carbono, referidas em toneladas de carbono, baixaram de 698 t(C), em 1980, para 607 t(C), em 2000, no conjunto da França, Alemanha, Itália e Reino Unido, na Ásia (China, Índia, Japão e Coreia do Sul) e nos Estados Unidos da América seguiram uma trajectória contrária.

Naquele conjunto de países asiáticos, as emissões subiram de 772 t(C), em 1990, para 1455 t(C), em 2000; nos EUA passaram de 1289 t(C) para 1578 t(C) no mesmo intervalo de tempo.

Como se verifica, nos EUA, desde a data de início da contagem das emissões do Protocolo de Quioto (1990) até ao ano 2000, ano que era previsto ser o da ratificação, houve um crescimento de 18 %; quando os norte-americanos tinham assinado um compromisso de redução de pelo menos 7 % até 2010!

As fortes emissões norte-americanas explicam-se em grande parte pelo baixo índice de fiscalidade que incide nos combustíveis, especialmente os dedicados ao transporte, e pelo uso intensivo do carvão na produção de electricidade (cerca de 54 % em 2000) que é provocado pela concorrência interna.

A Austrália, que também utiliza intensivamente o carvão na produção de electricidade (cerca de 85 %) e na exportação, associou-se aos EUA em projectos de investigação custosos (FutureGen e Coal21) no domínio das tecnologias de baixas emissões de CO2 sem terem de renunciar ao uso do carvão nas centrais termoeléctricas.

Protocolo de Quioto. Política energética da União Europeia

A União Europeia tem uma história triste no domínio da Energia; embora nunca tenha estabelecido propriamente dito uma política comum para o sector, tem aprovado directrizes que variam conforme a direcção em que sopra o vento.

Começou por ter uma política energética em que apontava para «tudo a petróleo» até que apareceram os choques petrolíferos da década de 70 do século passado. Passou então para «tudo a nuclear» até acontecer o desastre de Chernobyl. Seguiu-se «tudo a gás» embora com muita relutância pelo peso que isso representava em relação à dependência da ex-URSS (anteriormente, chegou mesmo a ser proibido o uso do gás natural dentro da UE para produzir electricidade).

Agora anda à deriva pois não dispõe de grandes recursos endógenos, incluindo o esgotamento próximo das explorações energéticas do Mar do Norte e o abandono definitivo das minas de carvão. O vento aparece como um divertimento que vai sair bem caro aos bolsos dos contribuintes europeus.

Sabe-se que a combustão de gás natural emite aproximadamente 370 gramas de CO2 por cada kWh (quilowatt-hora) de energia eléctrica produzida contra os 750 gramas emitida pelo carvão.

É esta a razão pela qual a propaganda dos dirigentes políticos daqueles países acusa os outros pelo uso de um combustível, embora barato e abundante, apontado como sujo e antiquado. Agora fala-se muito em energias limpas, como se o conceito técnico-científico de energia tivesse alguma coisa a ver com isso.

Então, em Portugal, onde os governantes sempre tiveram vistas curtas, pensando mais nas tendências além fronteira do que no interesse nacional, dançou-se sempre ao som da música celestial vinda do norte europeu mas sempre com atraso em relação à moda.

Passou-se da energia hidroeléctrica – deixando a meio o aproveitamento do seu potencial global – para a termoeléctrica a petróleo (centrais do Carregado e de Setúbal), esboçou-se o nuclear sem convicção por falta de dinheiro para o seu financiamento, passou-se para a termoeléctrica a carvão (nacional na central da Tapada do Outeiro e internacional na central de Sines).

Actualmente, anda-se mesmo ao sabor do vento pelo que o País está a ser perfurado por torres eólicas que não resolvem nenhum problema climático. Resolvem sim, mas isso devia ser assumido pelos responsáveis e dito à opinião pública, uma pequeníssima parte da nossa elevadíssima dependência do exterior em energias primárias.

Protocolo de Quioto. Quem pode cumprir

Apesar de alguns países da União Europeia, como Portugal e Espanha, não serem mesmo capazes de cumprir o compromisso assinado pelos respectivos governos, pode acontecer que, na globalidade, esta região se aproxime do objectivo de Quioto.

Isso é possível de acontecer mesmo sem necessidade de aplicação de novas medidas nem com acréscimos de custos (ainda que o sector dos transportes da UE tenha aumentado desmesuradamente o consumo em 20 % entre 1990 e 2001).

Pode ser esta uma explicação para que alguns países da UE tenham sido, e continuem a ser, o motor febril do estabelecimento e do cumprimento das metas de Quioto, já que é fácil assinar compromissos quando não se sacrifica o essencial.

A Alemanha, por motivo do desmantelamento da indústria pesada que se seguiu à reunificação da parte oriental com a ocidental, reduziu substancialmente as suas emissões de dióxido de carbono (aqui expressas em toneladas de carbono per capita), passando de 14,8 toneladas/ano, em 1990, para 11,8 toneladas/ano, em 1999.

O Reino Unido, graças ao abandono do carvão no tempo da Madame Thatcher, ao apostar no gás natural do Mar do Norte e vacilar no nuclear, passou de uma capitação de 13,0 toneladas/ano, em 1990, para 10,8 toneladas/ano, em 1999.

A França, devido ao seu forte e histórico poderio na produção de electricidade por via nuclear (cerca de 80 % da sua produção total de electricidade), oscila entre 8,7 toneladas/ano e 8,2 toneladas/ano, entre 1990 e 1999.

São pois estes três países da UE os grandes campeões da propaganda política – ambiental (não climática) – energética já que têm o seu problema mais ou menos resolvido e querem obrigar os outros a não lhes fazer frente com produções industriais à base de energias primárias mais competitivas, como é o carvão.

O pano de fundo daqueles três países, que constituem a vanguarda dos moralistas ambientais (não climáticos), é a política europeia de abandono do carvão como fonte de energia primária para a produção de electricidade, a favor da energia nuclear e do gás natural.

Quando muito, apenas mencionam o motivo da falta de competitividade do carvão europeu face aos carvões de outros países (Colômbia, África do Sul, Austrália, etc.) que exploram minas a céu aberto muito mais rentáveis, mesmo com o sobrecusto do transporte.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Requiem por Quioto. Conclusões do flop

O estudo do rácio benefício-custo realizado pelo prof. W. Nordhaus conclui por uma relação de 1/7, isto é, por cada unidade de benefício gastam-se 7 o que demonstra, mais uma vez, a completa ineficácia do Protocolo de Qioto (PQ).

Os resultados do prof. Nordhaus são válidos para a hipótese dos Estados Unidos da América ratificarem o PQ. Caso contrário, eles serão ainda piores. Se a Rússia não tivesse ratificado, o custo global dos abatimentos subiria vertiginosamente.

Não se pode, por outro lado, argumentar que não existem alternativas ao PQ. O ataque preferencial ao metano (CH4) é uma alternativa possível. Richard Tol (Vd. «TOL, Richard S. J. - Kyoto, Efficiency, and Cost-Effectiveness: Application of FUND, The Energy Journal, Kyoto Special Issue, 1999, p. 131-156») investigador da Universidade de Amesterdão, afirma mesmo que os policymakers andam a vender diligentemente o PQ à opinião pública sem procurarem alternativas como seja a de começar pelo CH4.

O prof. James Hansen, director do Instituto Goddard, da NASA, também propõe uma alternativa no mesmo sentido (Vd. « HANSEN, James et al. - Global Warming in the 21st Century: An Alternative Scenario, NASA Goddard for Space Studies, (http://www.giss.nasa.gov/research/impacts/altscenario), 2000, p.4»).

O iminente declínio dos níveis de extracção anual do petróleo convencional a partir de 2010 irá provocar reduções das emissões provenientes do uso dos produtos petrolíferos. Esta hipótese é fundamentada em estudos efectuados por eminentes geólogos e especialistas do ramo petrolífero (Vd. « CAMPBELL, C.J., LAHERRÈRE, J.H. - The End of Cheap Oil, Scientific American, Março 1998, p. 59-65») mas nunca foi considerada pelo IPCC.

Para resolver um problema complexo (o do pretenso aquecimento global) devem ser encontradas soluções simples e não mais complexas do que o próprio problema que se procura resolver.

Conclusões:

Da análise dos resultados obtidos pelo prof. Nordhaus, tão insuspeitos que até o IPCC se refere a alguns deles (Vd. «IPCC - Climate Change 2001-Mitigation-Summary for Policymakers and Technical Summary of the Working Group III Report, 2001, p.51»), não se compreende que:

· O IPCC, a União Europeia (UE) e o Governo de Portugal (GP) tenham estabelecido e assinado o PQ sem terem estudado as consequências climáticas e os impactos económicos o que permitiria verificar antecipadamente a sua ineficácia;
· Só agora é que se esteja a estudar (Programa Nacional para as Alterações Climáticas, em Portugal, e outros PN na UE) para ver como é possível honrar o compromisso;
· O IPCC, a UE e o GP não tenham realizado qualquer estudo custo-benefício para avaliar os resultados da aplicação do PQ, designadamente quanto aos custos das reduções das emissões dos gases com efeito de estufa e quanto aos resultados do trading (quem e quanto vai pagar e quem e quanto vai receber).

quarta-feira, agosto 03, 2005

Requiem por Quioto. Alguns resultados económicos do flop

Quanto às variáveis económicas interessa salientar os “preços do carbono” (preços dos direitos de emissão de CO2), os valores actualizados dos “custos totais do abatimento” das emissões de CO2 e os resultados do “comércio de emissões” (quem perde e quem ganha).

Os “preços do carbono” são muito mais elevados com a aplicação do PQ do que nos “Cenário Óptimo” e “Cenário Comércio Global”. Os preços por tonelada de carbono são referidos em dólares americanos (USD) a preços de 1990. Para o caso que interessa a Portugal esses preços podem variar entre 57 USD (1990) / t (C), em 2010, e 300 USD (1990) / t (C), em 2100.

Relativamente aos “custos totais de abatimento” das emissões nos vários cenários, imputáveis aos países constantes do Anexo do PQ, os valores retirados do “Requiem por Quioto” são impressionantes e podem atingir quase um bilião (milhão de milhão) e meio de USD (1990) para os cenários mais desfavoráveis.

No caso que interessa à União Europeia e a Portugal (“Cenário Protocolo de Quioto”), atinge-se o valor de 828 mil milhões de USD (de 1990) que representa um custo de abatimento considerável.

As vendas (+) e as compras (-) do resultado do “comércio de emissões” entre os países do Anexo do PQ mostram que no trading das emissões há, evidentemente, quem ganhe bastante e quem perca muito.

Perdem sempre todos os países da UE (de -7 a -61 mil milhões de dólares de 1990) e, ainda mais, os EUA (de -10 a -73 mil milhões de dólares de 1990); ganham a Rússia (+13 a +100 mil milhões de dólares de 1990) e países da Europa Oriental (Polónia, Ucrânia, etc., +10 a +33 mil milhões de dólares de 1990).

O Japão começa por perder numa primeira fase para depois ganhar. Outros países de rendimento per capita elevado, como o Canadá e a Austrália, são colocados ao lado dos perdedores.

Não deixa de impressionar os ganhos da Rússia e de países da Europa Oriental, assim como as perdas da União Europeia. Também se compreende a não ratificação do PQ pelos Estados Unidos da América (perdem mais de 40 % das perdas totais, em 2010) que procuram encontrar outros caminhos mais eficazes. O preço para a União Europeia se vangloriar em ser o motor do movimento que conduziu ao PQ é demasiado elevado e terá consequências nefastas.

No caso português, verifica-se a hipótese plausível (Vd. «PLANO ENERGÉTICO NACIONAL – Incidência Ambiental da Evolução do Sistema Energético, 1990-2010, Ministério da Indústria e Energia, Lisboa, 1992, p. 27-35») de um défice, em 2010, de 24 Mt (milhões de toneladas) relativamente ao compromisso assinado (limite máximo de 40 Mt de CO2) de dióxido de carbono que correspondem a 6,5 Mt de carbono.

Nesse caso, o País pagará uma fortuna avaliada em mil milhões de euros, a preços de 2005, que se arrisca a ter de desembolsar para serem entregues à Rússia e a outros países da Europa Oriental (Polónia, Ucrânia, etc.) numa altura em que estes se apresentam como nossos concorrentes no mercado internacional. E tudo isto, nunca é de mais sublinhar, sem qualquer resultado prático para o clima!
Obs.: USD (1990) - dólares americanos a preços de 1990; t (C) - toneladas de carbono

terça-feira, agosto 02, 2005

Requiem por Quioto. Alguns resultados climáticos do flop

Em 2010, a diferença entre um cenário em que não se aplica qualquer controlo limitativo das emissões de dióxido de carbono (como é o de Referência) e o Protocolo de Quioto é de apenas 0,6 Gt (C) /ano, valor que é pouco significativo.

A ineficácia do PQ ainda é mais impressionante se analisarmos as consequências em relação ao aumento de temperatura. De facto, o diferencial de temperaturas é nulo até 2010 e é de apenas 0,13 ºC em 2100, considerando os cenários mais díspares.

Este valor não se afasta do determinado por um dos membros do IPCC (Vd. «WIGLEY, T.M.L. - The Kyoto Protocol: CO2 , CH4 , and climate implications, Geophysical Research Letters 25 (13), 1998, p. 2285-2288») que foi de 0,16 ºC.

Isto é incrível, pois os países que ratificaram o Protocolo assinaram um cheque em branco sem sequer antever as consequências em termos de custos (enormes) e de resultados (desprezáveis).

Do ponto de vista climático o prof. William Nordhaus tira a seguinte conclusão: «A aplicação do PQ terá um modesto impacto nas alterações climáticas, em relação a um cenário em que não se aplica qualquer controlo limitativo das emissões, devido aos pequenos valores que se conseguem reduzir nas emissões de carbono e impacto nulo na variação da temperatura média global».

O prof. W. Nordhaus aponta honestamente o facto de que interessa fundamentalmente comparar as diferenças obtidas entre cenários contrastados já que as incertezas inerentes a exercícios com períodos tão alongados se esbatem numa análise comparativa entre caminhos diferenciados.

Para não restarem dúvidas, o ponto de partida para o cálculo dos aumentos de temperatura foi o ano de 1800, pelo que assim se validou o próprio modelo RICE-98 que veio demonstrar a completa inocuidade do Protocolo de Quioto.

Em conclusão, haver ou não haver Protocolo de Quioto é exactamente a mesma coisa para o clima. É este o resultado da precipitação de todo este processo lançado pela revelação de Villach quando se colocam os desejos à frente da realidade.

Obs.: Gt (C) [gigatoneladas de carbono] = mil milhões de toneladas de carbono.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Requiem por Quioto. Hipóteses

De acordo com os pressupostos referidos do PQ, o prof. W. Nordhaus estudou consequências climáticas e impactos económicos em determinadas circunstâncias (incidindo especialmente na variação das emissões do dióxido de carbono por estas estarem fortemente ligadas ao desenvolvimento económico), projectando os resultados obtidos em 6 cenários diferentes, a saber:

- “Cenário Referência” correspondente a um cenário também designado por «business as usual» em que não se aplica qualquer controlo limitativo das emissões;

- “Cenário Óptimo” no qual se maximiza, no espaço e no tempo, a redução do dióxido de carbono, com um balanço óptimo dos custos de substituição entre inputs económicos (capital, trabalho e conteúdo de carbono-energia);

- “Cenário Comércio Global” no qual estão envolvidos todos países signatários do Protocolo;

- “Cenário Protocolo de Quioto” com os compromissos assumidos de reduções e o comércio de emissões dos países do Anexo do Protocolo de Quioto;

- “Cenário Comércio OCDE” incluindo todos os países desta organização, isto é, mesmo os que não constam do Anexo do Protocolo;

- “Cenário sem Comércio” que significa a adopção do PQ sem aplicação do Artigo 6 atrás referido.

Como não é possível neste blogue referir a análise completa dos estudos apresentados no “Requiem por Quioto”, vamos cingir-nos aos resultados que consideramos mais importantes para uma tomada de decisão nacional baseada em pressupostos racionais.

O modelo económico - climático utilizado pelo prof. Nordhaus é da sua própria autoria e tem incluídas as equações climáticas provenientes dos modelos do IPCC pelo que pressupõe os mesmos princípios de cálculo das emissões, dos aumentos da temperatura e do nível do mar.

Daí que as conclusões climáticas tenham apenas um valor platónico, já que a ligação entre as emissões GEE antropogénicos e o clima é apenas uma conjectura do IPCC sem fundamento científico.

O próprio IPCC reconhece valor neste modelo designado por RICE – 98 visto que ele é referido em documentos daquele organismo como seja o «Climate Change 2001 – Mitigation. Summary for Policymakers. WG III Report», embora sem falar nas suas críticas pertinentes.

Aliás, em vez de contrastar explicações divergentes, os documentos do IPCC não primam pelo rigor e ética científica ao perseguir quase exclusivamente o objectivo de divulgar a informação disponível na literatura científica que corrobore os preconceitos revelados em Villach e de afastar a que põe em causa a dita revelação.