segunda-feira, fevereiro 27, 2006

As neves do Kilimanjaro

Esta história – que não é a de Hemingway – começou em 2002 com a publicação de um artigo, do glaciologista Lonnie Thompson (1), da Universidade Estatal de Ohio, na revista Science.

Nesse artigo previa-se que os glaciares do Kilimanjaro desapareceriam cerca de 2020. A história tem sido e continua a ser repetida centenas de vezes pelas televisões. As repetições são suportadas com filmes mostrando os horrores do «global warming».

No entanto, uma análise fria dos dados publicados na Science permitiria concluir que o desaparecimento (temporário) aconteceria mesmo que todos os homens vivessem como vivem os indígenas a alguns quilómetros a oeste do Monte de Kilimanjaro.

Lonnie Thompson fez referência a cinco relatórios publicados em 1912, 1953, 1976, 1989 e 2000. De 1912 a 1953, a designada temperatura média global (reconstruída a partir de medidas controversas de termómetros de superfície) aumentou 0,4 ºC.

Este aumento ocorreu antes de emissões significativas dos designados gases antropogénicos com efeito de estufa. Mas os glaciares do Kilimanjaro perderam 45 % da sua área inicial nessas quase quatro décadas com diminuta intervenção humana.

Se os glaciares tivessem continuado a recuar ao mesmo ritmo hoje já pouco restava. Mas eles ainda estão lá. De 1953 a 1976, desapareceram outros 21 % da área original. Recorde-se que nestas pouco mais de duas décadas aconteceu parte do Óptimo Climático Contemporâneo (seis anos) e sucedeu parte do período de arrefecimento (dez anos).

Isto é, mesmo com temperaturas médias globais estacionárias entre 1930 e 1960 seguidas de uma descida entre 1960 e 1970, os glaciares de Hemingway continuaram a minguar.

Seria caso para dizer, em 1976, que «os glaciares do Kilimanjaro iriam desaparecer até 2015 se continuasse a tendência de “arrefecimento global”». Isto mostra obviamente que não existe correlação entre a evolução dos glaciares do Monte de Kilimanjaro e a temperatura média global.

De 1976 até 2000 desapareceram outros 12 % da área inicial dos glaciares. Ou seja, quando a temperatura média global conheceu uma taxa de crescimento mais acentuada, a redução dos glaciares verificou-se a uma taxa mais reduzida.

Em 1979 entraram em acção os satélites meteorológicos. Poucos discordam que eles fornecem observações mais seguras do que os rudimentares termómetros de superfície. Pois os dados dos satélites são surpreendentes como se verifica na Fig. 41.

A figura está estilizada como é comum em documentos da NASA. Representa uma quadrícula com evoluções da temperatura entre 1979 e 2001. Essas evoluções são calculadas em variações da temperatura por década.

Em climatologia a década já é importante para estudos evolutivos. As variações vão dos – 1 ºC / década (azul escuro) a + 1 ºC / década (vermelho escuro). O branco significa temperaturas estacionárias por década.

Portugal aparece parcialmente na fotografia com uma tendência da ordem de +0,1 ºC / década a + 0,2 ºC / década. Portugal está a arder? Esta tendência tem a ver com o aumento da pressão atmosférica que se verifica desde a década de 70 do século XX. O motivo é a formação dos campos de pressão originada pelas passagens dos anticiclones móveis polares.

A figura mostra um arrefecimento de 0,22 ºC / década entre 1979 e 2001 à volta da região do Kilimanjaro para camadas atmosféricas situadas entre 1500 metros e 4500 metros (o pico situa-se a cerca de 6129 m). No entanto, os seus glaciares mantiveram o recuo durante este período de arrefecimento local!

Este exemplo mostra que a evolução de um glaciar não depende exclusivamente da temperatura com diz o glaciologista francês Prof. Robert Vivian. Consequentemente, estas histórias nunca têm em consideração a realidade. Servem para chercher à épater les bourgeois.

Vivian diz que, em primeira aproximação, a evolução de um glaciar depende das precipitações invernais e das temperaturas estivais. Mais detalhadamente, não depende da média das temperaturas e das precipitações.

Depende da distribuição da temperatura e das precipitações segundo os meses do ano e do papel dos dados hipsométricos do glaciar. Incluindo a pressão atmosférica e o coeficiente de atrito entre o gelo e o suporte, entre outras variáveis.

Os dados a analisar devem ser mais finos do que a grosseira média anual. Interessa considerar a escala sazonal, trimestral, mensal e diária. A vida de um glaciar depende da sua localização.

Os glaciares, tal como o clima, de modo quase síncrono, flutuam de modo sazonal, interanual, secular e milenar. Em determinados períodos, uns glaciares recuam, outros avançam e, ainda, há glaciares que se mantêm estacionários.

Não deve haver motivo para alarme. Os glaciares do Kilimanjaro, tal como outros actualmente em contracção, serão recuperados mais tarde. Os nossos descendentes, de várias gerações, serão testemunhas disso.

(1) Thompson, Lonnie et al. 2002. Kilimanjaro ice core records: Evidence of holocene climate change in tropical Africa. Science 298: 589-93.
Fig. 41 - Monte de Kilimanjaro. Evolução das temperaturas em ºC por década (1979-2001). Fonte: NASA.Posted by Picasa

Fusão dos mantos de gelo?

- «The ice masses at the two poles to the north and the south are diminishing. They are melting. » - Senador Robert Byrd, 8 de Agosto de 2001

- «The great ice cover that stretches across the top of the globe is about forty percent thinner than it was just two to four decades ago. We find that through our data from nuclear submarines that have been plying the Arctic Ocean. » - Senador John Kerry, 17 de Maio de 2000

Alguns políticos (diletantes) têm emitido mensagens de alarme sobre a fusão dos mantos de gelo existentes no planeta. Depois, cientistas de vários cantos do Mundo testemunham perante os media dizendo que seria verdade.

Press releases de universidades e revistas ditas científicas preparam a comercialização da história. Os media têm o dia ganho com mais uma notícia para angustiar a opinião pública e pressionar outros decisores políticos.

Estarão realmente os mantos de gelo do Pólo Norte a fundir-se a um rimo sem precedentes devido ao «global warming»? Os imensos glaciares da Gronelândia e da Antárctica estão a ceder massas de gelo aos oceanos provocando a elevação dos seus níveis devido ao aquecimento global?

Vamos analisar algumas histórias. Subindo ao Kilimanjaro. Escalando glaciares peruanos. Visitando o Parque Nacional dos EUA. Sem esquecer os mares gelados do Árctico, a Gronelândia, os exageros do IPCC e a ficção científica editada pelos media.

As notas que se seguem vão complementar o que Mitos Climáticos já publicou sobre a Antárctica [(1), (2), (3), (4), (5)], a Gronelândia [(1), (2)], o Árctico [(1), (2), (3), (4), (5)] e os glaciares [(1), (2), (3)].

O livro «Meltdown - The Predictable Distortion of Global Warming by Scientists, Politicians, and the Media», do climatologista americano Patrick J. Michaels – antigo presidente da Associação Americana de Climatologistas públicos –, editado em 2005, vai servir de guia.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Furacões: o Homem continua inocente

À medida que o conhecimento avança, a inocência do Homem prevalece. Um relatório recentemente produzido para a Organização Meteorológica Mundial vem demonstrar a falta de provas da relação entre “global warming” e ciclogénese.

Juntam-se alguns comentários em Inglês para meditação:

«Climate change can't be blamed for any of the events that made the past tropical cyclone season the worst in recent times, a report by a group of international experts says. "No single high impact tropical cyclone event of 2004 and 2005 can be directly attributed to global warming," it says in a report submitted to the World Meteorological Organization's (WMO)Commission for Atmospheric Sciences, which is meeting in South Africa
--Judy Skatssoon, ABC Science Online, 21 February 2006

«John McBride says there's no proof that cyclones have become more common or will become more frequent in the future, or that they'll take place in more parts of the world. "Worldwide, there's really no evidence for any change," he says. He says the report also questions claims that tropical cyclones have become more intense over the past 50 years, saying data used in the past may be inaccurate or incomplete because of limitations with the
technology of the day

--Judy Skatssoon, ABC Science Online, 21 February 2006

«It is clear that the politicising of climate science has resulted in an abandoning of good scientific practice and ethics. Any critical scientific discussion of the science behind the AGW doctrine is shouted down, ridiculed or ostracised. We geologists can help to steer climate science away from the ideological hype and straight-jacket and return it to its proper functioning
--Gerrit J. van der Lingen, Newsletter of the Geological Society of New Zealand

«The question of the place of science in human life is not a scientific question. It is a philosophical question. Scientism, the view that science can explain all human conditions and expressions, mental as well as physical, is a superstition, one of the dominant superstitions of our day; and it is not an insult to science to say so
--Leon Wieseltier, The New York Times, 19 February 2006

Obs.: AGW – anthropogenic global warming (aquecimento global antropogénico)

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Declaração de Leipzig

Foi retomada a recolha de assinaturas de subscritores da Declaração de Leipzig. Esta Declaração baseia-se nas conclusões do «International Symposium on the Greenhouse Controversy», realizado em Leipzig, Alemanha, em 9-10 de Novembro de 1995, e em Bona, Alemanha, em 10-11 de Novembro de 1997.

Da actual lista de subscritores já fazem parte destacados nomes da Ciência a nível mundial, tais como o Prof. Doutor Tor Ragnar Gerholm (membro do comité de selecção do Prémio Nobel da Física), o Prof. Doutor Eckhard Grimmel e o Prof. Doutor Richard S. Lindzen.

A Declaração de Leipzig condena não só o inócuo Protocolo de Quioto como também toda a panóplia de mitos ligada à pseudo teoria do efeito de estufa antropogénico em que ele se baseia.

Alguns dos subscritores foram colaboradores do IPCC. Retiraram a colaboração perante o nítido défice de honestidade intelectual e científica do núcleo duro (um punhado) que tomou conta do poder de decisão do IPCC.

domingo, fevereiro 19, 2006

Bolas de cristal

O IPCC não percorre a estrada real para se dirigir ao palácio da ciência. Perde-se em veredas. Já anteriormente se analisou «A organização burocrática do IPCC». O carácter “científico” é dado pelo Working Group I.

Este WG I recolhe a informação científica disponível sobre as “alterações climáticas”. A recolha é defeituosa pois selecciona artigos que defendem o ponto de vista do IPCC. Ignora os contrários.

O trabalho do Working Group III é o de maior impacto. As suas publicações (First, Second e Third Assessment Report) foram redigidas para marcar a agenda política e não científica.

Está quase a aparecer o Fourth Assessment Report (4AR na terminologia burocrática do IPCC para não se confundir com o FAR). Neste momento está em discussão interna, mais ou menos secreta. Mas já se conhecem alguns detalhes pouco recomendáveis.

Para se ter uma noção de como são conduzidos os trabalhos do WG III apresenta-se o artigo «Crystal balls, virtual realities and ‘storylines’». Este artigo foi publicado, em 2001, na revista Energy and Environment da Hull University, do Reino Unido.

O seu autor foi peer-reviewer (revisor científico) do WG III. Entretanto, afastou-se de colaborar com o IPCC. Richard S Courtney afirmou “I think what it says is shocking, especially because it is all true” (penso que o artigo é chocante porque é verdadeiro) quando se pediu autorização para citar o seu trabalho.

A leitura permite concluir que a publicação da projectada subida da temperatura de 1,4 ºC a 5,8 º C entre 1990 e 2100 é um puro devaneio. Mas os 5,8 ºC são o contentamento dos media. Nem os 1,4 ºC tem valor científico quanto mais os 5,8 ºC…

Richard critica os modelos de circulação geral (GCM) e os cenários utilizados nestes trabalhos vulgares. É curiosa a conclusão: «this is pseudo-science of precisely the same type as astrology» (esta pseudo-ciência é do género da astrologia).

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

NYC

No domingo 12 de Fevereiro de 2006 calhou a vez a Nova Iorque ficar mergulhada em neve. Mas não foi só a cidade. Foram 14 estados norte-americanos do nordeste os visitados pelos anticiclones móveis polares da trajectória americana.

Bateram-se recordes de queda de neve como a registada no Central Park. Foram cerca de 68 cm de neve. Valor acima do antigo recorde que datava de 1947. Torna-se normal ultrapassar valores de há sessenta anos atrás.

A catadupa de refutações da teoria do efeito de estufa antropogénico desta vez não teve consequências trágicas. Os americanos estão mais preparados para enfrentar fenómenos extremos (vagas de frio e de calor) do que os europeus.

Em todo o caso regista-se mais uma vez que durante estas tempestades de neve falham alimentações de energia. Por isso, deve haver reserva suficiente (em funcionamento e parada) para fazer face a eventualidades deste género.

Ejectados da região do Árctico (e do Antárctico), os anticiclones móveis polares formam massas de ar frio, discos densos, com uma espessura média de quilómetro e meio e com um diâmetro que pode atingir dois a três mil quilómetros.

As condições dinâmicas de deslocamento dos AMP variam em função da estação do ano e do substrato em que se movem. Os continentes perturbam fortemente o movimento dos AMP devido aos relevos ou edifícios geográficos.

As Montanhas Rochosas dos EUA determinam uma vasta unidade de circulação. Muito mais do que as correntes oceânicas são as Rochosas que determinam as diferenças climáticas nas fronteiras do Atlântico Norte, a oriente e a ocidente. O «The day after tomorrow» está muito mal contado…

O relevo da Gronelândia reparte as trajectórias desde que os AMP nascem na região do Árctico. Força o deslocamento preferencial dos AMP sobre a América do Norte. Seguem a caminho do Golfo do México até estabelecer o equador meteorológico.

Recorde-se que é no Golfo que têm origem muitos dos ciclones tropicais. Ora se o efeito de estufa antropogénico não consegue explicar a génese dos AMP como é que pode explicar a dos ciclones tropicais? Mas a pseudo teoria do efeito de estufa antropogénico explica alguma coisa?

Pois as duas géneses estão associadas. Na altura do ano em que se reunem as cinco condições draconianas aparecem os Mitch, os Wilma, os Katrina, etc. Neste momento faltam quatro delas para nascer um novo parente destes furacões.

domingo, fevereiro 12, 2006

Cocktail explosivo

Não se pretende ironizar com a publicação deste post. A ironia poderia ferir a susceptibilidade de muita gente. Em Portugal bloqueia-se o debate. Censura-se mesmo com argumentos pueris.

Debate frontal não é possível. As susceptibilidades surgem em pequenos detalhes. À luz do dia não são possíveis discussões entre “warmers” e “sceptics” (ou “skeptics”) como acontece na Internet.

Esses grupos incluem cientistas dos EUA, Canadá, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, etc. No fundo, aprende-se imenso com as várias linhas de pensamento. Umas coisas aqui, outras ali.

Nos media, em Portugal como no estrangeiro, a teoria do efeito de estufa antropogénico vigente esmaga qualquer observação por mais inocente que seja. Não admira que apareçam movimentos como o da notícia «´Green´ gospel».

Divulga-se a notícia apenas por duvidar que os media portugueses peguem nela. Um grupo de mais de oitenta evangélicos, dentre os quais o conhecido reverendo Jerry Falwell, tomou posição contra o aquecimento global.

O grupo evangélico «…has released a statement conveying what they describe as a biblically driven pledge to address issues of "global warming."»

Já no Reino Unido aparecera, não há muito tempo, um movimento semelhante de origem evangélica empenhado em promover uma luta religiosa contra o “global warming”.

Estes evangélicos consideram o dióxido de carbono ofensor de Deus. O dióxido de carbono é acusado de poluidor, por uns, e ofensor, por outros. Esquece-se que, no fundo, é fundamental à vida do planeta.

O cocktail entre ciência, política e religião é explosivo. Não admira que o lobby da energia nuclear se aproveite dele para lançar mais achas na fogueira ao propor o renascimento da produção de electricidade por via nuclear.

Não se discute aqui os prós e contras desta forma de energia. Assim como de qualquer outra. O homem vai necessitar de muita energia. Para aquecer e arrefecer a sua sobrevivência.

Escolha a que mais lhe convier (económica, eficaz, eficiente). Mas utilizar o espantalho do clima para promover negócios ou movimentos evangélicos é censurável.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Janeiro de 2006

O mês de Janeiro findo foi de contrastes térmicos assinaláveis. Enquanto numas regiões do planeta o estado do tempo foi ameno, noutras foi bastante agreste. A Europa de leste conheceu um dos Invernos mais rigorosos desde há várias décadas.

Moscovo registou mesmo as temperaturas mais baixas desde os anos 20 do século passado. Isto é, os valores das suas temperaturas recuaram aos registos de quase oito décadas atrás. Não admira as dificuldades de abastecimento de energia.

A NASA publicou uma figura estilizada com as anomalias das temperaturas à superfície da terra verificadas em Janeiro. A colheita de dados foi obtida através do radiómetro instalado no satélite TERRA.

Na imagem da Fig. 40 as temperaturas reais do período compreendido entre 1 e 24 de Janeiro são comparadas com as médias das várias regiões durante o quinquénio 2001-2005. Não se trata de um período significativo mas dá para avaliar uma curta evolução.

As regiões onde as temperaturas se situaram 10 ºC abaixo da média estão pintadas a azul-escuro. Aquelas onde as temperaturas foram 10 ºC acima da média estão a vermelho-escuro. Finalmente, as que se mantiveram na média estão a branco.

Ninguém duvida que a NASA, tal como a NOOA, possui meios de observação meteorológica dos mais importantes que existem no Mundo. Trata-se dos seus satélites. Uma coisa é observar. Outra é analisar os resultados da observação.

Mas não só neste domínio a NASA é merecedora de reconhecimento. A humanidade deve a esta organização, entre sucessos e fracassos, avanços consideráveis em vastos domínios do conhecimento.

Para a análise da figura foi convidado o climatologista David Rind, do Goddard Institute for Space Studies, da rede de instituições da NASA. Recorda-se que o director do GISS é o prof. James E. Hansen que está associado à proclamação do “global warming”.

Rind diz que o hemisfério Norte sofreu uma peculiar formação do jet stream. Trata-se de um conceito utilizado nos EUA. Imagina-se uma corrente de ar polar em altitudes elevadas. Num link da notícia da NASA pode-se encontrar a definição.

A corrente de ar dividir-se-ia entre frio e calor consoante a altitude da formação. O jet stream teria picos e cavas, parecido com uma onda sinusoidal, variando com a latitude. Segundo David Rind, em Janeiro de 2006, seriam estas que flagelaram a Europa.

Esta descrição não corresponde à realidade dos factos mas é bem imaginada. O que mais impressiona não é a persistência na utilização de conceitos inobservados nas imagens dos satélites. É a afirmação que o tempo é um sistema caótico contrariamente ao que os satélites mostram.

Regista-se que David não fala uma única vez em “global warming” ou em “climate change”. Entre os cientistas da NASA, que se dedicam à meteorologia e à climatologia, existem opiniões bastante divergentes.

Nem todos navegam na mainstream. Mas os do GISS alinham normalmente com o presidente. Por isso, não parece normal a análise de David Rind. Só faltou dar o salto para uma explicação condizente com a realidade.

O GISS acaba de anunciar a anomalia de Janeiro de 2006 daquilo a que convenciona designar por «Global Temperature Anomalies» relativamente à média do período 1951-1980. O valor publicado foi de 0,61 ºC (o centésimo tem pouco significado).

O que teria acontecido se o “aumento da temperatura” do planeta não tivesse sido tão elevado? De facto, a variável explicativa da actual dinâmica do tempo e do clima não é a temperatura. É, antes, a pressão atmosférica.

Fig. 40 - Janeiro 2006. Anomalias das temperaturas. Fonte: NASA.Posted by Picasa

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Previsão no Hemisfério Norte

(Quinta e última resposta ao leitor)

Esta previsão (cautelosa) limita-se à zona temperada do Hemisfério Norte. Mantém-se, tal como para a zona tropical, o pressuposto de que o Árctico ocidental não regressa a situações que existiram durante o Óptimo Climático Contemporâneo (1930-1960) e o pequeníssimo período de frio (1960-1970).

Assim, verificar-se-ia:

- Uma aceleração progressiva do arrefecimento das regiões mais próximas da bacia do Árctico e das pertencentes às trajectórias escandinavas e asiáticas dos anticiclones móveis polares (AMP).

- A continuação temporária do aquecimento provocado pelos AMP a norte das suas trajectórias. Isso seria provocado pelo fluxo vindo do sul desviado para norte sobre a parte frontal dos AMP.

- Uma maior variabilidade das temperaturas. Acentuar-se-iam os contrastes térmicos. No Inverno, vagas de frio intenso (AMP mais potentes com trajectórias meridionais mais directas) e mais frequentes.

- No Verão, um maior número de vagas de calor. Poderiam ocorrer pelo fluxo de ar desviado, sobrevoando as frentes dos AMP mais vigorosos, e pelas aglutinações de AMP de longa duração.

- Um acréscimo da irregularidade pluviométrica com longas sequências pouco chuvosas. As aglutinações anticiclónicas vastas de longa duração, com elevadas pressões atmosféricas, rejeitariam as precipitações.

- O aparecimento de curtas sequências muito pluviosas com inundações. Os AMP reforçados poderiam provocar primeiro fortes precipitações e, de seguida, fortes aglutinações com seca.

- O encontro dos AMP com o ar quente das latitudes mais baixas que poderia conduzir ao retorno das condições meteorológicas mais severas do início do século XX, anteriores ao Óptimo Climático Contemporâneo de 1930-1960.

- A violência do tempo com tempestades de neve mais frequentes e acumulações de neve muito espessas, especialmente na Europa e na Ásia, à semelhança do que aconteceu no Inverno de 2006.

Destacam-se os Invernos frios e os Verões quentes com longas sequências pouco chuvosas em ambas as estações. A necessidade de aprovisionar energia e água para fazer face a estas situações deveria ser uma preocupação dos decisores.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Previsão na zona tropical

(Continuação da resposta ao leitor que vai desculpar este interregno)

No pressuposto de que a evolução actualmente observada vai prosseguir – com o Árctico ocidental a arrefecer ou não aumentar a temperatura de referência da sua dinâmica – seguem-se algumas (cautelosas) previsões.

Entre o equador geográfico e a latitude 30 ºN seria possível o deslocamento das linhas com a mesma pluviosidade (isoiéticas) para o sul na África tropical setentrional. Isto é, a seca deixaria de ser apenas saheliana.

Assim sendo, apareceria uma maior irregularidade pluviométrica na margem tropical norte. O défice pluviométrico deveria, pois, estender-se para sul.

Quanto ao Pacífico, não seria de afastar um aumento da frequência e da intensidade dos fenómenos designados por El Niño. Deste modo, a corrente termohalina poderia acelerar o seu ritmo (em direcção oposta ao enredo do «The day after tomorrow»).

Os efeitos típicos do El Niño no Pacífico tropical e noutras regiões do planeta acentuar-se-iam. Assim, no Equador e no Peru agravar-se-ia a temperatura e a humidade. Na outra costa da América do Sul, a atmosfera do nordeste brasileiro tornar-se-ia ainda mais seca.

No norte da Austrália poderia suceder tempo frio e seco. No sul dos Estados Unidos o tempo tornar-se-ia húmido. Tudo isto são hipóteses que se relacionam com as consequências que se verificam normalmente com o surgimento do El Niño.

Por outro lado, na hipótese de base, verificar-se-ia um aumento das possibilidades da ciclogénese a sul do equador geográfico, especialmente no Pacífico. O equador meteorológico seria tendencialmente empurrado para sul do equador geográfico.

No Atlântico tropical aumentaria também a possibilidade da ciclogénese por aumento das monções e dos ventos alísios. Seriam mais oportunidades para os media continuarem a especular com os furacões.

Mas o estudo da ciclogénese vai-se aprofundando e a NASA teria condições de procurar a resolução das imensas dúvidas que lhe suscitaram os estranhos fenómenos observados durante os mais recentes furacões.

sábado, fevereiro 04, 2006

Campo de pressões

Com as vénias devidas, a “Fig. 39 – Neve em Lisboa, uma fria refutação…”, foi retirada da pág.2 de o PÚBLICO do dia 31/Janeiro/2006, de uma notícia intitulada «Queda de neve foi fenómeno e não um reflexo das mudanças do clima».

Por sua vez, aquele diário indica o Instituto de Meteorologia como fonte. Interessa analisar a figura e não o texto do artigo. Esta imagem representa um documento interessantíssimo. Trata-se de uma carta sinóptica das pressões atmosféricas, registadas às 12 horas, ao nível do mar, no dia em que nevou em parte substancial de Portugal.

Vemos um exemplo flagrante de um campo de pressões estabelecido pela passagem de anticiclones móveis polares (AMP). A cada par A (alta pressão) e B (baixa pressão) corresponde um AMP.

Sabe-se que a estrutura básica é formada pelo AMP propriamente dito (A), que é o motor do conjunto, por uma depressão fechada (B) com ar quente (menos frio) e por um corredor depressionário (que não aparece na figura).

Este corredor depressionário é a parte frontal dos AMP que está implicada nas chuvas, nas cheias e na ciclogénese (Katrina, Wilma, Mitch, etc.). Mas isso é outra história. Parte dela já foi contada atrás.

A queda de neve sobre Lisboa começou três horas depois e deve ter sido inicialmente provocada pelo AMP situado sobre a isobárica 1005 (mbar*). A aglutinação de AMP (A, A, A, A) com começo na Grã-Bretanha e extensão à Europa continental foi a causadora do fenómeno raro da descida até Lisboa.

O AMP situado sobre a Grã-Bretanha – incorrectamente designado na figura como «O anticiclone dos Açores…» – foi o principal bloqueador das trajectórias normais, em direcção à Escandinávia, dos AMP sucessivos que iam nascendo na região boreal (Pólo Norte e Gronelândia).

Esta posição foi exactamente aquela que em 2003 ocupou uma fortíssima aglutinação de AMP originando, então, a vaga de calor do Verão. Felizmente não se repetiu em 2004 nem em 2005. Os AMP nestes dois últimos anos foram passear para outras paragens.

O estabelecimento deste campo de pressões vai contribuir para marcar o estado do tempo nos próximos dias deste ano. Incluindo o Verão. As altas pressões A vão originar calor. Se vier uma vaga de calor, é aqui que se encontra a origem.

A subida contínua das pressões atmosféricas desde o ano 1970 é que representa a causa do aumento da temperatura em certas regiões do planeta. Ela vai aumentar a condutibilidade térmica do ar que aquecerá mais para a mesma radiação solar recebida.

A uma passagem de ar frio corresponderá uma vinda de ar quente. A máquina termodinâmica do planeta funciona como tal. Trocas de calor-frio continuamente. É a circulação geral da atmosfera ao nível da troposfera que marca o tempo.

Nisto, o efeito de estufa antropogénico tem uma intervenção infinitamente pequena. É um infinitésimo de ordem superior. Ressalve-se ainda que as pressões mostradas na figura se situavam ao nível do mar e que os AMP voam a uma altitude entre baixa e média.

Os AMP chocam-se, por exemplo, com os Montes Cantábricos, os Pirenéus e os Alpes. Desta vez até se chocaram com o Pico, nos Açores. Às vezes esboroam-se e produzem as nuvens que se vêem espalhadas pela atmosfera.

*Obs.: mbar – significa “milibar”, ou milésima de bar, sendo a pressão normal cerca de 1013 mbar.
Fig. 39 - Neve em Lisboa, uma fria refutação.
Isobáricas. 29/01/06 (12 h). Fonte: PÚBLICO-IM.Posted by Picasa