sexta-feira, outubro 30, 2009

Dito e feito: a temperatura do Antárctico a subir, dizem eles…

Ainda muito recentemente, no post Recorde do Antárctico em 2009 escreveu-se:

«A maior parte do Antárctico está a arrefecer. Apenas a Península não está porque recebe o ar quente e húmido importado pelo Antárctico em troca do ar frio exportado pela região central.

Pois é precisamente para a Península do Antárctico que se dirigem os “turistas do global warming” (como o jornalista José Rodrigues dos Santos que escreveu o livro sensacionalista “O Sétimo Selo”) para anunciarem depois ao Mundo que o Antárctico (todo ele!) está a aquecer, “com consequências irreversíveis, mais depressa do que o previsto”…

Eles que não se limitem a passear na Península! Vão até à parte central do continente, mas bem agasalhados (89 graus Celsius, negativos, em 21 de Julho de 1983!).
»

Entretanto, MC tomou conhecimento pelo jornal Público (edição impressa do dia 28 de Outubro de 2009, pág. 13, e online) da notícia “Temperaturas do solo sempre congelado na Antárctida estão a subir durante o Verão”.

Nesta notícia, redigida pela jornalista Teresa Firmino, fica-se a saber que uma equipa de investigação do Centro de Estudos Geográficos (CEG) da Universidade de Lisboa tem estado nas ilhas de Linvingston e Deception que fazem parte do arquipélago das South Shetland Islands (ver Fig. 193).

A notícia do Público fala na região da Península do Antárctico, mas as ilhas investigadas afastam-se um pouco da Península propriamente dita. Ficam na trajectória de retorno do ar quente e húmido que chega ao Pólo Sul em troca do ar frio que sai do centro do Antárctico.

Como tal, é uma zona atípica quanto à evolução fundamental das temperaturas do Antárctico e da dinâmica deste continente que é fundamental na dinâmica do tempo e do clima do Hemisfério Sul.

A jornalista fala numa sessão de divulgação promovida pelo coordenador do Grupo de Investigação em Ambientes Antárcticos e Alterações Climáticas do CEG, Gonçalo Vieira.

É evidente que nesta zona investigada não se pode concluir que “Com esses dados, os modelos climáticos, utilizados pelos cientistas para fazer projecções sobre a evolução do clima da Terra, poderão ser calibrados. Para projectar o clima do futuro é preciso conhecer em pormenor o que se passa actualmente” como escreve a sra. Teresa Firmino.

E muito menos se deve concluir que “Além disto tudo, os resultados apresentados pela equipa portuguesa são mais uma indicação de que, naquela zona da Terra, está a dar-se um aquecimento. Juntam-se assim a um coro de dados, para muitas outras regiões, de que o planeta tem estado a aquecer” como acrescenta a jornalista.

Duvida-se que o investigador Gonçalo Vieira tenha proclamado tais aberrações. Espera-se mesmo que a equipa do CEG tenha a noção de que não está a investigar o Antárctico mas sim uma zona limítrofe, bem afastada do centro, que não permite extrapolações como faz levianamente a jornalista.

Fig. 193: South Shetland Islands. Fonte: Wikipedia.

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quarta-feira, outubro 28, 2009

Energias renováveis, exemplo de Portugal ao mundo…!?

Por Jorge Pacheco de Oliveira

Durante uma tertúlia realizada há alguns dias no Casino da Figueira da Foz, o General Ramalho Eanes mostrou-se favorável à instalação de centrais nucleares em Portugal, opinião que foi posteriormente desenvolvida pelo antigo Presidente da República numa entrevista ao Jornal “i”.

O presente texto não tem por objectivo discutir os méritos ou deméritos da energia nuclear. Foi suscitado por uma opinião manifestada no Semanário Sol, de 23/10/2009, pelo jornalista Ricardo David Lopes, na coluna Quente e Frio, em que Ramalho Eanes, por obra e graça da apologia que fez da energia nuclear, foi colocado no lado do “Frio”.

Obviamente, o jornalista tem direito a ter uma opinião contrária à de Ramalho Eanes e pode colocar no Quente e no Frio quem bem entender. No caso em apreço é notório que o jornalista abomina a energia nuclear, que classifica como uma tecnologia que, a ser introduzida em Portugal, se traduziria por "um grande passo atrás”.

Não vale a pena conjecturar acerca dos conhecimentos técnicos do jornalista para fazer tal afirmação. Qualquer pessoa, ainda que não seja especialista em coisa nenhuma, tem direito a manifestar-se contra o recurso a uma determinada tecnologia ou processo industrial que lhe pareça pôr em risco a sua qualidade de vida. E a energia nuclear, bem ou mal, alimenta os receios de muitas pessoas, sejam ou não especialistas na matéria, que se sentem no direito de reagir contra a perspectiva de instalação de centrais nucleares no país.

No meu entender é pena que assim seja, na medida em que sou favorável à opção nuclear, mas o que, neste caso, justifica a minha reflexão é a parte final do comentário crítico do jornalista, quando diz que “o país está no bom caminho, dando o exemplo ao mundo”.

Qual bom caminho, qual exemplo ao mundo?

Embora não seja explícito, percebe-se facilmente que o jornalista está a contrapor à energia nuclear as energias renováveis, sector em que a propaganda governamental tem procurado difundir a ideia de que Portugal está a dar lições (!) ao mundo.

Esta ideia, além do provincianismo subjacente, não passa de uma fábula. Já aqui tive a oportunidade de denunciar o "milagre" das energias renováveis em Portugal, cujo contributo para a produção de energia eléctrica no nosso país tem sido artificialmente avolumado pelas entidades oficiais.

Ainda se pode compreender que um cidadão médio se deixe levar por uma campanha publicitária em que é estimulado o orgulho popular, invocando uma pretensa lição de Portugal ao mundo. Que um jornalista não desconfie da fartura e não suspeite de que pode estar a ser enganado pela propaganda governamental, já é menos compreensível.

Na verdade, exceptuando o caso da energia hidroeléctrica, em que temos de considerar também o valor intrínseco da água que é armazenada nas albufeiras, as energias renováveis em Portugal não têm beneficiado ninguém, a não ser os respectivos promotores. De facto, estes gozam de uma dupla vantagem : não só a rede eléctrica é obrigada a adquirir-lhes a energia que produzem, como tem de a pagar por valores muito superiores ao que pagaria pela mesma quantidade de energia produzida por centrais termoeléctricas, clássicas ou nucleares.

Os subsídios concedidos aos promotores das energias renováveis, sobretudo a eólica e a fotovoltaica, mais não são do que impostos sobre a energia eléctrica. E, não obstante os custos elevadíssimos destas formas de energia, a sua penetração encontra um conveniente pretexto no cenário alarmista do aquecimento global, uma campanha eficazmente conduzida a nível mundial com o objectivo de predispor os cidadãos a aceitarem o agravamento dos impostos sobre a energia.

A Conferência de Copenhaga, a realizar em Dezembro, não tem outro objectivo, motivo pelo qual está a levantar uma forte onda de contestação nos países em que estes assuntos são discutidos abertamente. Em Portugal não, porque a generalidade da comunicação social não tem coragem para assumir posições politicamente incorrectas.

À medida que a quota das renováveis, com destaque para a eólica, tem vindo a aumentar em Portugal, os subsídios de que beneficiam os respectivos promotores tornaram-se de tal modo elevados que o governo não quis arriscar-se a reflecti-los totalmente na tarifa de electricidade de um ano para o outro, sob pena de provocar algum movimento de contestação.

Assim, a parte do diferencial das renováveis que não é paga de imediato pelo consumidor tem vindo a ser acumulada no chamado “défice tarifário", recorrendo-se depois ao expediente de distribuir o respectivo pagamento em prestações mais suaves ao longo de dez a quinze anos.

As empresas de electricidade, essas, não esperam. Recorrem à banca para receber o diferencial. E a banca avança o pagamento com muito gosto porque se trata de um empréstimo avalizado pelo Estado. Os consumidores, esses, têm de suportar também os juros do empréstimo. Tudo isto constitui um logro. Ou, para ser mais preciso, constitui uma desonestidade com selo oficial.

Diga-se, em abono da verdade, que o défice tarifário não se deve apenas ao diferencial das renováveis, uma vez que há ainda mais quem esteja a viver à custa das tarifas de electricidade, com relevo para as câmaras municipais que, coitadas, fazem um esforço enorme a ver passar as linhas de energia através dos respectivos terrenos. O certo é que este défice revela já um valor próximo de dois mil milhões de euros e constitui uma carga injustificada que ameaça os bolsos dos consumidores portugueses, actuais e descendência. Se é este o exemplo que Portugal está a dar ao mundo, que triste exemplo.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Recorde do Antárctico em 2009

Quase ao mesmo tempo que o mar gelado do Árctico atingia o seu mínimo anual, no dia 13 de Setembro de 2009, o mar gelado do Antárctico atingia o seu máximo. Mas não foi um máximo qualquer.

Desde que existem observações de satélites, isto é, desde 1979, a superfície do mar gelado do Antárctico atingiu este ano o seu valor máximo maximorum.

O máximo de 2009 ultrapassou em mais de um milhão de quilómetros quadrados o máximo do ano anterior. Assinale-se ainda que o actual recorde máximo ficou cerca de um milhão de quilómetros quadrados acima do valor médio dos 30 anos de observações por satélite (ver Fig. 192).

O conjunto dos mares gelados do Árctico e do Antárctico tem-se mantido estável desde 1979, o que é notável num período tão alargado, do ponto de vista humano, evidentemente, como 30 anos. Recorde-se que, por norma, é um período de 30 anos que é considerado estatisticamente para a definição de clima.

A revista científica Geophysical Research Letters publicou recentemente, em 24 de Setembro de 2009, um artigo destacando o mínimo de fusão do gelo do Antárctico durante o Verão austral de 2008-2009: “An updated Antarctic melt record through 2009 and its linkages to high-latitude and tropical climate variability”.

Os seus autores Tedesco M. et A. J. Monaghan afirmaram:

A 30-year minimum Antarctic snowmelt record occurred during austral summer 2008–2009 according to spaceborne microwave observations for 1980–2009. Strong positive phases of both the El-Niño Southern Oscillation (ENSO) and the Southern Hemisphere Annular Mode (SAM) were recorded during the months leading up to and including the 2008–2009 melt season.

Não é de estranhar que os media se tenham remetido ao silêncio quanto a este facto, que veio pôr em causa as previsões alarmistas. Também o fizeram relativamente ao Árctico. Anunciar factos não alarmistas seria dizer verdades inconvenientes para os seus critérios editoriais.

O Árctico e o Antárctico desmentem o global warming. Tanto o Árctico como o Antárctico marcam a dinâmica do tempo e do clima do planeta, desde tempos imemoriais. Não é seguramente o CO2. Nem o natural nem o antropogénico.

A maior parte do Antárctico está a arrefecer. Apenas a Península não está porque recebe o ar quente e húmido importado pelo Antárctico em troca do ar frio exportado pela região central.

Pois é precisamente para a Península do Antárctico que se dirigem os “turistas do global warming” (como o jornalista José Rodrigues dos Santos que escreveu o livro sensacionalista “O Sétimo Selo”) para anunciarem depois ao Mundo que o Antárctico (todo ele!) está a aquecer, “com consequências irreversíveis, mais depressa do que o previsto”…

Eles que não se limitem a passear na Península! Vão até à parte central do continente, mas bem agasalhados (89 graus Celsius, negativos, em 21 de Julho de 1983!).

No Antárctico existem várias estações meteorológicas. As observações do Antárctico existem desde há 150 anos, mas a monitorização mais detalhada iniciou-se apenas nos anos 1950.

Um estudo de Doran et al. (Antarctic climate cooling and terrestrial ecosystem response) publicado em 2002, na revista Nature, afirma que “Although previous reports suggest slight recent continental warming, our spatial analysis of Antarctic meteorological data demonstrates a net cooling on the Antarctic continent between 1966 and 2000, particularly during summer and autumn.

Estes cientistas afirmaram também que: “The McMurdo Dry Valleys have cooled by 0.7 °C per decade between 1986 and 2000, with similar pronounced seasonal trends. Summer cooling is particularly important to Antarctic terrestrial ecosystems that are poised at the interface of ice and water.

Doran et al. acrescentam ainda: “Here we present data from the dry valleys representing evidence of rapid terrestrial ecosystem response to climate cooling in Antarctica, including decreased primary productivity of lakes (6 %–9 % per year) and declining numbers of soil invertebrates (more than 10 % per year). Continental Antarctic cooling, especially the seasonality of cooling, poses challenges to models of climate and ecosystem change.

Não restam dúvidas de que o Antárctico arrefeceu a partir de 1975/76 quando se verificou o shift climático. Acentuaram-se as trocas meridionais de energia Pólos-Trópicos que originaram a subida da designada “temperatura média global”.

Fig. 192 - Recorde do gelo antárctico. 2009. Fonte: NSIDC.

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sexta-feira, outubro 23, 2009

Mínimo do Árctico de 2009

No presente ano de 2009, a área mínima do mar gelado do Árctico verificou-se no dia 13 de Setembro, com um valor de 5 249 844 de quilómetros quadrados, situado entre os mínimos de 2008 e de 2005, mas bem acima do mínimo minimorum de 2007.

Ou seja, em relação ao valor de 2007, no passado dia 13 de Setembro de 2009 a área do mar gelado atingiu cerca de um milhão de quilómetros quadrados a mais. Deste modo, pode dizer-se que o mínimo tem vindo a recuperar.

Além desta situação de melhoria, também já se assinalou que a espessura do gelo tem conhecido uma evolução positiva (ver Como medir a espessura do gelo árctico). O Árctico desmente as mais negras previsões lançadas pelos alarmistas.

O valor mínimo de 2007 corresponde ao valor mais baixo registado desde o início da monitorização do Árctico por meio de satélites (a partir de 1979), o que não quer dizer que anteriormente não tenha sido ainda mais baixo.

A complexa bacia do Árctico faz parte do espaço aerológico definido por: América do Norte e Central-Atlântico Norte-Europa Ocidental. Neste espaço, os Anticiclones Móveis Polares (AMP) têm uma trajectória preferencialmente americana seguida da atlântica.

A correspondente exportação de ar frio promove o retorno de ar quente e húmido em direcção ao Pólo Norte. O retorno principal para o Pólo Norte efectua-se a partir do Golfo do México seguindo pela parte oriental da América em direcção ao Mar da Noruega.

A entrada deste retorno na bacia do Árctico é feita principalmente entre a Gronelândia e a Escandinávia. A presença da Gronelândia, que se ocupa do nascimento de muitos AMP (na elevação da parte norte), é assim um motivo de obstáculo ao retorno directo ao Pólo Norte.

A transferência de energia Pólo-Equador e retorno realiza-se sem interrupção. Não podemos deixar de sublinhar a semelhança entre a circulação aérea e a oceânica superficial. A segunda é em grande parte impulsionada pela primeira.

As correntes marítimas participam nas transferências meridionais de calor numa proporção de 20 % a 25 %. Assim, três quartos das transferências são realizados pela atmosfera. Na atmosfera a velocidade das transferências é bastante mais elevada.

Na Fig. 191 estão traçadas as evoluções do mar gelado do Árctico nos anos de 2002 a 2009. A inclinação das descidas nos Verões (Jun, Jul, Ago, Set) nunca foi a mesma. Esta diferença marca também a diferença meteorológica dos Verões entre 2002 e 2009.

Nos períodos em que a inclinação da curva foi mais pronunciada o Árctico esteve mais frenético, com retornos mais importantes, que aceleraram o recuo do mar gelado. Em 2009 esse facto é notável no mês de Julho (mês pourri).

É preciso não esquecer que os AMP originários do Árctico apresentam as seguintes características:

- Quando o Árctico está relativamente menos frio, os AMP são menos potentes, as suas trajectórias são menos meridionais, as aglutinações anticiclónicas são mais fracas e menos extensas no espaço e no tempo, as depressões atmosféricas da Islândia são menos cavadas, as trocas meridionais são amortecidas;

- Quando o Árctico está mais frio, os AMP são inicialmente mais potentes, as suas trajectórias são mais meridionais, as aglutinações anticiclónicas são mais potentes e mais extensas no espaço e no tempo, as depressões atmosféricas da Islândia são mais cavadas, as trocas meridionais são intensificadas.

Perante este conjunto de conhecimentos, que conclusão se poderá tirar da existência de uma recente aglutinação anticiclónica de Outubro que demorou mais de quinze dias sobre a Península Ibérica: o Árctico está mais frio ou menos frio?

Em complemento, os nossos leitores poderão pensar numa resposta às seguintes questões:

A seca meteorológica que nos preocupa é devida ao Árctico mais frio ou menos frio? O cenário da dinâmica do tempo e do clima que vivemos desde 1975/76 é originado por um Árctico mais frio ou menos frio?

Entretanto, no princípio desta semana, a aglutinação anticiclónica foi rompida por um forte anticiclone móvel polar. Seguiu-se uma descida da temperatura com precipitação razoável, em quase todo o país, e queda de neve na Serra da Estrela.

Mas não foi só na Serra da Estrela que começou a nevar. Embora o Árctico ainda apresente alguma dificuldade no despertar deste Outono – como se vê na Fig. 191 –, por essa Europa fora já neva com alguma intensidade (ver Ecotretas).

Fig. 191 - Evolução do mar gelado do Árctico. 2002-2009. Fonte: IARC-JAXA.

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quarta-feira, outubro 21, 2009

Duas entrevistas com o Prof. Luiz Carlos Molion

Depois dos vídeos fantasiosos da Quercus e da Greenpeace, o MC deseja partilhar com os seus leitores dois momentos de lúcida intervenção científica, proporcionados pelo destacado meteorologista-climatologista brasileiro, o Prof. Luiz Carlos Molion, cuja extraordinária capacidade pedagógica fica bem patente nestes dois testemunhos.

O pensamento do Prof. Luiz Carlos Baldicero Molion é sobejamente conhecido dos leitores do MC. O blogue já publicou vários posts deste professor brasileiro que realizou conferências e regeu cursos de mestrado de Climatologia em Portugal.

Recordem-se os seguintes textos:

- Entrevista corajosa

- Artigo de Carlos Molion (8 posts)

- Protocolo de Kyoto é inútil

- A química do buraco de ozonio em debate

Agora é a vez do MC publicar dois vídeos que têm originariamente os títulos:

- Conversas cruzadas: Molion e a histeria do aquecimento global

- Entrevista com o meteorologista Luiz Carlos Molion

Acerca de Molion só se pode dizer que se fica encantado a ouvi-lo. E se tivéssemos mais vídeos ficaríamos um dia inteiro. Ele expõe de uma forma muito clara e cativante. Estes dois vídeos constituem uma lição espectacular de meteorologia e climatologia.

Entrevista Molion

Molion e a histeria do aquecimento global

segunda-feira, outubro 19, 2009

Suicídios da Quercus. Padre Nosso da Greenpeace

Em tempos, a Quercus levou a RTP2 a emitir, consecutivamente em triplicado, um spot publicitário que mostrava um macaco a enforcar-se, um urso a saltar para um abismo e um canguru a suicidar-se debaixo de um comboio.

Segundo aquela organização, o macaco, o urso e o canguru estariam desesperados com o aquecimento global.

O documentário toca a fronteira do ridículo e revela que a Quercus não hesita em recorrer à técnica do catastrofismo para tentar lançar o pânico entre a população portuguesa e assim promover a falsa tese do aquecimento global.

Não precisava de se dar a tanto trabalho, nem gastar tanto dinheiro em spots como aquele. Em Portugal e de uma forma que tem de se classificar como vergonhosa – com raríssimas excepções –, os órgãos de comunicação social estão enfeudados à tese dominante, a qual promovem de forma acrítica sem darem oportunidade ao contraditório. Ainda por cima, fazem a promoção de uma tese falsa.

Certamente por essa razão, a Quercus, que no domínio da climatologia não passa de uma associação com predominância do analfabetismo, tem uma influência desproporcionada relativamente à sua representatividade na sociedade portuguesa e desfruta da tribuna privilegiada de órgãos de informação do Estado como a RDP e a RTP.

Mas o MC gostaria agora de partilhar com os seus leitores um elucidativo vídeo da Greenpeace, revelador da forma como as teses do global warming se aproximam cada vez mais de uma ideologia religiosa fundamentalista.

Tal como no caso da Quercus, a Greenpeace não olha a meios para atingir o objectivo de suscitar o pânico para promover a tese do aquecimento global.

Neste trabalho, que do ponto de vista da arte publicitária se tem de considerar muito bem feito, um fundo musical cativante enquadra uma letra em que os autores recorrem a uma prece religiosa, o Padre Nosso.

Desconhecemos se as autoridades eclesiásticas, nomeadamente da Igreja Católica, se pronunciaram contra esta atrevida invocação do nome de Deus em vão.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Calor de Outono em Portugal

Dizem mal do Árctico, mas ele continua a fazer das suas. Num futuro post analisaremos o comportamento da região árctica durante o Verão passado. Por agora ocupar-nos-emos com mais uma aglutinação anticiclónica que tem estado a aquecer os habitantes da Península Ibérica.

Os portugueses andam contentes com este calor. Podem assim usufruir de uns dias de praia, a praia que não tiveram no Verão pourri deste ano. Agora os períodos da manhã são bastante agradáveis, mas o calor aperta à medida que avança o dia.

Por esta altura do ano, durante a qual o modo lento vai sendo substituído pelo modo rápido, os anticiclones móveis polares (AMP) da trajectória escandinava ainda não se mostram suficientemente fortes. Por isso, baixam a sua trajectória e passam sucessivamente pela Península Ibérica. (Convém recordar as explicações sobre AMP de Maio de 2005, nomeadamente relativas aos modos rápido e lento.)

Como a Península é rica em acidentes orográficos (Serras de Montejunto-Estrela, Montes Cantábricos, Pirenéus, Serra Nevada) os AMP encontram vários obstáculos à sua progressão e podem aglutinar-se, formando as já nossas conhecidas Aglutinações Anticiclónicas (AA) e assim aumentando a pressão atmosférica junto ao solo.

É isto que está a acontecer desde o fim de Setembro e princípios de Outubro. As imagens dos satélites (ver p.e. MéteoFrance) mostram como a Península Ibérica tem estado debaixo de uma AA extensa no tempo, que a descobre de nuvens, pelo menos desde o início de Outubro.

O Diário de Notícias online publicou o texto “Temperatura acima da média devido a massa de ar quente”. Vá lá, desta vez não falaram no aquecimento global, nem lançaram a responsabilidade para cima do dióxido de carbono... No entanto, continua a percepção clássica, que não corresponde à realidade, quando se escreve:

O calor dos últimos dias em Portugal Continental, provocado por uma massa de ar quente vinda do interior da Península Ibérica, elevou em cerca de sete graus a média das temperaturas no País. Nalguns pontos chegaram mesmo aos 34 graus centígrados.

Acrescenta o DN: “Tudo devido a uma massa de ar quente e seca vinda do interior da Península Ibérica transportada na circulação de um anticiclone a Norte”. Mas que grande confusão! Eis o profundo mistério da alma do vento que vem de Espanha e que, tal como o casamento, não é bom…

Diz o jornalista do DN que foi um meteorologista do Instituto de Meteorologia quem o informou deste milagre. Custa-nos a admitir que tenha sido esta a explicação do especialista do IM.

Pois é, se assim fosse estaríamos perante um milagre da física, em que um vento de leste, quente e leve (menos denso), chega a Portugal, desce (!) até junto ao solo, penetrando numa massa de ar anticiclónico (!), e aí se mantém uma eternidade no mesmo sítio, sem voltar a subir… Fie-se quem quiser.

Este fenómeno já foi suficientemente explanado no MC, por exemplos nos seguintes posts:

- Dinâmica da canícula de 2003

- A culpa é das altas pressões

- Explicações oficiais confusas

Esta mesma situação explica a seca meteorológica. Não entra uma pinga de água, vinda do lado do Atlântico ou do Mediterrâneo, dentro da aglutinação anticiclónica. As estruturas da pluviogenesis são desviadas para algures.

A predominância das altas pressões com subsidência (pressão atmosférica vertical de cima para baixo) não permite o desencadear da precipitação. Deste modo, o chamado potencial precipitável existente em nuvens é desviado, nomeadamente, para latitudes mais elevadas. Nuns casos transforma-se em cheias, noutros em queda de neve.

Os decisores políticos – mal aconselhados pelos alarmistas que pouco ou nada sabem de climatologia – em vez de andarem a preparar a guerra contra as inexistentes alterações climáticas, gastando inutilmente tempo e dinheiro, deveriam desviar a atenção para a prevenção da seca meteorológica que se pode prolongar.

Outro malefício da estabilidade anticiclónica, consequente à aglutinação dos AMP, é a supressão do fluido motor das eólicas: – a componente horizontal do vento tende para zero. A tranquilidade existente no interior da AA conduz à rápida ociosidade global das eólicas. Que forma de energia substituirá a eólica quando esta falha nos momentos em que seria útil? E quem paga a energia de substituição?

quarta-feira, outubro 14, 2009

O que aconteceu ao aquecimento global?

É esta a pergunta feita pelo jornalista Paul Hudson, da BBC News, num artigo do passado dia 9 de Outubro, com o título “What happened to global warming?”. Note-se que a BBC está longe de ser um media que publique com frequência textos ou notícias contrárias à ladaínha do aquecimento global.

“Este cabeçalho pode surpreender”, começa por dizer Paul Hudson, “mas é verdade”. E acrescenta que “Nos últimos 11 anos não se observou qualquer aumento da temperatura global”.

Recorde-se que esta alegação fora já enunciada pelo Prof. Delgado Domingos e pelo autor deste blogue no programa Sociedade Civil. Os alarmistas Francisco Ferreira e Filipe Duarte Santos, que participaram no programa, tentaram contrariar a informação com uns sorrisinhos e caretas de descrédito, habituados que estão a passear a sua ignorância com a impunidade que lhes é permitida pelos meios de comunicação social.

No seu artigo, Paul Hudson diz que os modelos não previram esta situação, a qual contraria a teoria que atribui ao dióxido de carbono de origem antropogénica a causa da subida da temperatura global do planeta.

De facto, esta situação real refuta a relação causa-efeito entre aumento da concentração atmosférica do dióxido de carbono e aumento da temperatura média global. Seria um milagre da física a existência de uma lei que revelasse este hiato no decurso de 11 anos.

O articulista da BBC refere os estudos de vários cientistas, entre os quais o Prof. Don Easterbrook, da Western Washington University, que tira a seguinte conclusão: "The PDO [Pacific Decadal Oscillation] cool mode has replaced the warm mode in the Pacific Ocean, virtually assuring us of about 30 years of global cooling."

Paul Hudson destaca ainda o cientista do IPCC, Mojib Latif que, no entender do articulista, veio confundir ainda mais os espíritos ao afirmar, há cerca de um mês, que o planeta poderá vir a conhecer um período de arrefecimento nos próximos dez a vinte anos. Por sinal, esta perspectiva de arrefecimento já antes tinha sido referida no MC.

Como seria de esperar este artigo da BBC causou uma enorme surpresa seguida de grande celeuma. A celeuma é tanto maior quanto os catastrofistas estão a mobilizar um verdadeiro exército de salvação do planeta, tendo em vista a cimeira de Copenhaga, a realizar no próximo mês de Dezembro.

As Nações Unidas e os países industrializados, apoiados pelos media do mundo inteiro, lançaram uma campanha de (des)informação dizendo que o planeta está a aquecer mais depressa do que o esperado e praticamente em perigo de extinção.

Esta notícia da BBC veio arrefecer alguns ânimos. Os políticos prontos a aplicar mais impostos e a encarecer a energia ficaram surpreendidos. O objectivo encapotado, a apresentar na cimeira de Copenhaga, tem de ser embrulhado num outro embuste que não o do aquecimento global.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Manual para debates

Por falar em debates, a australiana Joanne Nova, já antes referida no MC num post de 29/07/2009, “Os dinheiros do clima”, escreveu um pequeno livro de 16 páginas, intitulado “The Skeptics Handbook” (O Manual dos Cépticos) para suporte de debates acerca do “aquecimento global”.

A apresentação em Portugal foi feita, em primeira-mão, no blogue Ecotretas, em 25/03/2009.

Este Manual teve um sucesso tal que já foi traduzido para sueco, alemão, finlandês, castelhano, turco e italiano. Os leitores podem obter uma cópia grátis, em qualquer destas línguas, no blog de Joanne Nova.

Recentemente, o Manual foi traduzido para português. Esta informação foi indicada ao MC pelos próprios tradutores. Os tradutores são professores universitários brasileiros de climatologia que seguem a par e passo o MC. Estes professores são autores do blogue Fake Climate. Os leitores que queiram uma cópia d’«O Manual dos Cépticos», em português, podem descarregá-la aqui.

O Manual é um texto pedagógico que constitui uma boa base para um debate público sobre a hipótese do aquecimento global de origem antropogénica. Destaca as debilidades fundamentais da hipótese que não resiste ao contraditório.

Joanne Nova destaca o seguinte: - O argumento central repousa sobre a hipótese de que o CO2 adicional, proveniente das actividades humanas, torna o planeta bastante mais quente. Tudo depende da resposta a esta questão.

Ora, se o CO2 não for uma causa determinante, então a mitigação, o mercado de emissões de CO2 (conhecido por cap and trade, em linguagem anglo-saxónica), o sequestro do CO2, o protocolo de Quioto, ou outro que se siga, são uma pura perda de tempo e de dinheiro.

A autora do Manual salienta que existem apenas quatro pontos fundamentais a debater:

1) Nunca foi realizado um teste real que provasse a relação causa-efeito entre emissões de CO2 e aumento das temperaturas;
2) A evolução recente dos fenómenos climáticos refuta a hipótese (as temperaturas estão a descer e a concentração atmosférica de CO2 a subir, p.e.);
3) Os modelos informáticos do clima não são capazes de explicar os fenómenos reais (ondas de calor, secas, cheias, etc., nem o facto referido em 2) e, consequentemente, não são capazes de prever o futuro;
4) Devido ao fenómeno de saturação da absorção da radiação, o infinitamente pequeno aumento de temperatura provocado pelo CO2 adicional já atingiu o máximo e não provocará mais subidas de temperatura por mais pequenas que sejam.

No caso 1) deve-se exigir a apresentação do protocolo dos ensaios realizados – metodologia, características dos equipamentos, graus de precisão – para se poderem efectuar novos ensaios por autoridades independentes que repliquem o original.

Sucede que nada disto foi feito. As únicas coisas que os dogmáticos do IPCC apresentam são estudos com modelos que não cumprem os requisitos mínimos de qualquer protocolo de ensaios para verificação de uma hipótese – ver, p.e. o ponto 3).

sexta-feira, outubro 09, 2009

Jornadas Científicas da Univ. de Nantes Intervenção de Vincent Courtillot

Na 2ª edição das Jornadas Científicas da Universidade de Nantes, realizadas em 8 de Junho de 2009, salientou-se a Conferência “O Aquecimento Global” de Vincent Courtillot.

Vincent Courtillot, geofísico e geólogo, é professor das Universidades de Paris, director do Instituto de Física do Globo de Paris, e membro do Instituto Universitário de França e da Academia das Ciências, Paris.

A dissertação de Courtillot pode ser seguida no vídeo da Conferência. Esta constituiu uma exposição cientificamente sólida e pedagógica sobre o tema actual do “aquecimento global”.

Eis uma breve lista de questões abordadas por Vincent Courtillot:

- Exprime sérias dúvidas sobre as últimas conclusões do IPCC e sobre os modelos utilizados por este organismo;

- As curvas das temperaturas, nomeadamente as produzidas pelo Hadley Centre que servem de base para os relatórios do IPCC;

- O famoso caso do “hockey stick” de Michael Mann que foi emblemático no penúltimo relatório do IPCC mas que caiu no esquecimento no último;

- A imprecisão dos modelos informáticos do clima usados pelo IPCC, nomeadamente a questão crucial das nuvens que não está incorporada nos modelos;

- Os resultados dos cilindros de gelo que mostram ser a evolução da temperatura que comanda a evolução da concentração do CO2 e não o inverso;

- A actividade solar comanda as variações naturais da temperatura na Terra.

O Prof. Vincent Courtillot diz que são falsas as curvas das temperaturas apresentadas pelo IPCC no último relatório de 2007. Exemplifica os casos da Europa e dos EUA. Explica como foram fabricadas as curvas falsas.

Explica também como Michael Mann e colaboradores falsificaram a conhecida curva do “hockey stick”. Faz igualmente um historial das actuações do IPCC e do Hadley Centre que não disponibilizam dados para verificação por entidades independentes.

As Jornadas Científicas da Universidade de Nantes incluíram ainda uma mesa redonda com um Debate. Além de um cientista (Vincent Courtillot) aparece um dogmático (Ronan Dantec). Mas é fácil distinguir o trigo do joio.

Para além das opiniões daqueles dois participantes (Courtillot e Dantec), ouvem-se ainda pontos de vista de pessoas afastadas da realidade dos fenómenos climáticos. Algumas pessoas colocam mesmo questões obtusas.

Debate com Vincent Courtillot


Conferência de Vincent Courtillot


terça-feira, outubro 06, 2009

A produção descentralizada tem enormes vantagens (2)

[MC tem o prazer de publicar na íntegra a entrevista concedida pelo Prof. Delgado Domingos à revista Climatização, de Setembro/Outubro de 2009, e conduzida por Rita Ascenso. Devido à sua extensão e às características do blogue, a entrevista foi dividida em duas partes. Esta é a 2ª parte.]

(continuação)

Do seu ponto de vista toda esta questão do aquecimento global foi em parte fabricada?

Foi, seguindo a máxima que já citei do senador Al Gore. Criando a percepção de uma catástrofe iminente a maioria das pessoas reage como se a catástrofe fosse certa e estão dispostas a aceitar sacrifícios que de outro modo rejeitariam. É o equivalente a uma metodologia de mobilização para a guerra.

Portanto acha que se desviaram as atenções do que é essencial e neste momento aquilo que existe anda à volta de uma operação de marketing...

Tem muito disso. Lembra-se da guerra do Iraque? Independentemente de haver guerra ou não haver guerra, conseguiu-se convencer praticamente toda a população mundial de que o Iraque tinha armas de destruição massiva e que as iria utilizar...e passou-se à acção. Com o relatório das alterações climáticas encomendado por Tony Blair a Lord Stern, passou-se um pouco o mesmo. Revistas tão conceituadas como a Economist denunciaram a sua finalidade eminentemente politica, logo que foi publicado, revelando também que o senador Al Gore fora contratado para a sua promoção.

O Protocolo de Quioto está aí e o negócio do mercado do carbono já está a funcionar...

Associado a Quioto existem os mecanismos de Quioto entre os quais o mercado do carbono e a bolsa correspondente. Prevê-se que represente em pouco tempo um mercado de mais de 700 mil milhões de dólares. Os bancos portugueses mais importantes já criaram os respectivos fundos na expectativa da valorização bolsista que antevêem.

Qual é o mecanismo?

Aparentemente é muito simples e sedutor. Fixa-se um tecto para as emissões nacionais, que não poderão exceder umas tantas toneladas de CO2 equivalente. O tecto nacional é fixado a nível europeu e a nível nacional o governo fixa as metas para cada sector. Quem emitir mais tem de comprar licenças a quem emitiu menos do que lhe tinha sido alocado e paga um valor mais elevado e pré-estabelecido, ou compensa com certos tipos de investimento na redução global do saldo das emissões. Para a compra e venda de licenças existe uma bolsa própria, e o seu valor de transacção resulta do mercado.

O governo utiliza as penalizações para investir no seu próprio fundo e para pagar os eventuais desvios nacionais. Teoricamente, este mecanismo conduz a uma redução das emissões porque premeia quem melhora e penaliza quem o não fizer. Reduzindo progressivamente os tectos nacionais, haverá uma progressiva redução global das emissões.

Na prática, as coisas não se passam bem assim como a experiência já mostrou e era inevitável. Por um lado, nem todos os emissores de GEE estão abrangidos, como por exemplo os transportes, que é dos mais importantes. Por outro, o governo pode arbitrariamente decidir aumentar os tectos para uns e reduzi-lo para outros o que, junto à enorme burocracia que a contabilização e controlo das emissões exige, torna inevitáveis os mais simples e os mais sofisticados esquemas de corrupção e de tráfico de influências. Basta notar que o governo pode influenciar directamente os lucros da bolsa fixando os tectos para as emissões.

O resultado final quanto à redução global de emissões de GEE é duvidoso, embora seja certa a transferência massiva de riqueza de uns sectores sociais para outros. Também é inevitável que o acréscimo da energia, motivado por todos estes encargos não produtivos seja transferido para o consumidor. Na prática, cria-se mais um imposto, embora disfarçado. Em meu entender, seria muito mais simples, eficaz e transparente, criar uma taxa sobre a energia logo na origem, com mecanismos transparentes de retorno de benefícios.

Sem a adesão dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) a um renovado e mais exigente protocolo de Quioto, o mercado do carbono não é credível. Percebe-se por isso a enorme orquestração da opinião pública mundial para forçar os BRIC a aderir. Por outro lado, muitos dos argumentos do tipo ético ou de responsabilidade social invocados na crítica aos não aderentes a Quioto, como sejam os BRIC, são hipócritas. De facto, os europeus e americanos que são tão críticos em relação à China, por exemplo, devem ter presente que 30 % das emissões na China são emitidas a produzir bens que são consumidos na Europa e nos EUA, pelo que, se deixarem de consumir esses bens essas emissões desaparecem.

Sendo assim, por que motivo o não fazem? Como facilmente se conclui, é o mecanismo de contabilização das emissões que está em causa. Actualmente, as emissões são imputadas ao país em que são emitidas e não ao país que induziu essas emissões, adquirindo os produtos que as originaram. Esta diferença de perspectiva é muito importante quando olhamos para as cidades, pois elas induzem mais de 80 % das emissões globais, para além das que directamente produzem. Na estratégia energética ambiental para Lisboa esta destrinça é feita no que se refere à electricidade.

Fala-se muito e quase em exclusivo no CO2 como o único responsável...

É fácil iludir as questões concentrando todos os males num só inimigo claramente identificado e que neste caso é o CO2. O CO2 e os GEE são certamente importantes, mas as alterações no uso do solo têm pelo menos igual importância e ao nível das cidades um efeito muito maior. Em Lisboa, as diferenças entre locais podem atingir vários ºC que podem ultrapassar os 10 ºC entre o solo e o ar. As nossas previsões meteorológicas mostram as diferenças por zonas e as observações disponíveis confirmam-no. Nestas assimetrias locais há vários mecanismos em simultâneo.

Um dos mais importantes reguladores é a troca de calor entre o solo e a atmosfera por evaporação da água (calor latente). A impermeabilização do solo, não só impede a infiltração da água da chuva e baixa a humidade do solo, como altera as trocas de energia que recebe do Sol com o meio circundante. Este efeito é reforçado ou atenuado consoante a geometria dos edifícios, a sua posição relativa, a sua inércia térmica e o seu revestimento exterior.

No caso do solo, a evaporação directa e a promovida pela vegetação constitui um regulador fundamental. Alterar a florestação ou a cobertura vegetal, é alterar o clima. A escolha dos materiais, tanto do edificado, como dos pavimentos provoca alterações locais de temperatura que por sua vez induzem movimentos do ar. Os movimentos do ar, induzidos localmente, atenuam ou reforçam a circulação de maior escala com reflexos directos na qualidade do ar e na sua temperatura e humidade.

A resolução pode passar pela forma como se projectam os espaços e as envolventes?

O problema central está na maneira como se planeiam as cidades. A cidade de Sacramento, nos EUA, por razões de energia eliminou bairros inteiros e plantou árvores. Para quê? Para baixar a temperatura de 1 ºC, 2 ºC e 3ºC e melhorar a qualidade do ar. Quando estamos na área do conforto, baixar 1 ºC ou 2 ºC significa muita energia que se não gasta no ar condicionado.

Para agravar a situação, muitos projectistas têm o hábito de sobredimensionar o equipamento. Nalguns casos justifica-se porque as condicionantes externas são diferentes de edifício para edifício e de andar para andar, facto que a nossa regulamentação térmica não tem em conta. O próprio arquitecto, raras vezes dá a importância devida às condicionantes climáticas, devido à facilidade tecnológica com que produz um clima para o edifício em vez de um edifício para o clima. É certamente mais fácil fazer isso, pois não pensa na energia que o facilitismo obrigará a gastar para sempre.

Devemos também lembrar que, o próprio ar condicionado do edifício, aumenta a temperatura do ar exterior. Quando é um caso isolado não pesa muito, quando é massivamente utilizado, o peso é enorme. A conclusão elementar é que temos de ter uma arquitectura adaptada ao clima se desejamos aumentar a eficiência do uso da energia nos edifícios e reduzir as emissões de GEE e tirar as devidas ilações do facto de a subida de temperatura nas cidades se dever também significativamente aos efeitos do urbanismo.

Os maiores consumidores são os edifícios...

Em Lisboa, se tivermos em conta os consumos de energia primária e as emissões induzidas, mais de 50 % deve-se aos edifícios. E nestes, os edifícios de serviços consomem mais do dobro dos residenciais.

Voltando um pouco atrás. Esta “falsa questão” do aquecimento global abriu-nos o caminho para as fontes renováveis, sustentabilidade... há um lado muito bom...

Sem dúvida. O lado negativo é estarmos a empolar um problema menor quando temos um problema real e grave, que deve ser atacado.

Do lado dos edifícios, o impulso das renováveis vem tarde?

No nosso caso, pelo menos com 30 ou 40 anos de atraso… Mas é positivo o que se está a fazer: reduz a dependência dos combustíveis fósseis, é um recurso nosso e um criador muito importante de emprego qualificado. E trabalho qualificado é o que nós precisamos, porque o nosso problema fundamental é o pequeno valor acrescentado à energia consumida. Em Portugal precisamos do dobro da energia que gasta a Dinamarca para criar a mesma unidade de riqueza, quando consumimos per capita só ligeiramente menos. Há mais de 30 anos que divergimos da média europeia. No início dos anos 70, Portugal e a Dinamarca acrescentavam praticamente o mesmo valor por unidade de energia consumida. Hoje gastamos o dobro.

Não começa a existir uma maior consciência energética? Não estamos a mudar?

Existe maior consciência mas não estamos a mudar ao ritmo necessário!

Mas não sente que já começa a nascer uma nova dinâmica e cultura energética?

Apenas de modo incipiente e provocado em grande parte pela subida do preço do petróleo.

Temos mecanismos e ferramentas para caminhar nesse sentido...

Temos o conhecimento e as ferramentas aplicativas, mas não estamos a andar nesse caminho com a convicção e o ritmo necessários…

Temos legislação…

Grande parte da legislação resulta de imposições comunitárias. Se estas imposições não existissem estaríamos muito pior. Mas a legislação, só por si, não cria conhecimento. A legislação cria regras e nós temos sempre a trágica tendência de dar competência legal a quem não tem competência real. Por decreto podem fazer-se engenheiros, dar o titulo...mas não a competência profissional correspondente. Não sou pessimista, estou apenas a tentar ser realista e quer se goste ou não, as coisas vão mudar porque, com o valor que acrescentamos à energia gasta, a nossa economia não aguenta. As nossas exportações não são competitivas e é com elas que pagamos o petróleo que importamos.

O que é que falta fazer?

Quando em sua casa passar a pagar o dobro ou o triplo na conta da electricidade, os seus hábitos vão mudar tal como começaram a mudar na utilização do automóvel quando o preço da gasolina subiu.

Quando as tarifas subirem para os valores reais e deixarem de ser subsidiadas?

Exactamente e tendo em conta, não apenas os subsídios directos mas sobretudo os indirectos que incluem as externalidades geradas na sua produção e consumo.

E como é que se inverte a tendência do aumento da intensidade energética nas cidades e no país?

Já referi que em Lisboa, e o mesmo se passa certamente nas outras cidades, os edifícios representam mais de metade do consumo e logo em seguida os transportes. O ordenamento do território e o urbanismo são dos principais factores. Se um edifício for bem concebido inicialmente, a concepção e orientação de um edifício de serviços, não é a mesma que para um residencial. A climatização é muito importante, mas não deve ser com a climatização que se compensam os erros que podiam ser evitados e custam imensa energia. Na verdade o que é que se pode fazer para corrigir estes e outros problemas que existem?

Quando se analisa o projecto de um edifício que ainda não está construído, pode fazer-se a simulação completa e saber o custo em energia que a sua utilização vai ter. Podem assim introduzir-se as alterações necessárias, antes de iniciar a obra, para que tal custo baixe para o mínimo possível sem lhe afectar a funcionalidade. Depois, tal como nas alterações climáticas, deveríamos confrontar os dados medidos com as previsões.

Na climatização é a mesma coisa. As previsões de consumo devem ser confrontadas com os consumos reais para que se possam melhorar continuamente as metodologias de cálculo e previsão. Um projectista que ganha este tipo de capacidade e qualificação tem um trabalho mais qualificado e acrescenta mais valor.

No âmbito das minhas responsabilidades na Agência de Energia de Lisboa, impus que os programas de simulação dos edifícios existentes façam as estimativas de consumo de energia com base nos valores reais medidos para a temperatura exterior e outros dados climáticos, num ano anterior, e que tais estimativas sejam confrontadas com os consumos efectivamente verificados. Com esta metodologia, os modelos e as hipóteses de cálculo vão melhorar significativamente tal como a qualidade da gestão de energia nos edifícios.

Esses valores existem para o país inteiro?

Para o país inteiro existem as observações do Instituto de Meteorologia e as do INAG. As do INAG são específicas e têm o mérito exemplar de ser públicas, gratuitas e testáveis, aceitando, corrigindo e agradecendo todas as eventuais inconsistências detectadas, como podemos testemunhar.

As do Instituto de Meteorologia são uma escandalosa aberração sob múltiplos aspectos. Por um lado, a obtenção daqueles valores, que é uma das suas responsabilidades legais, é financiada pelos nossos impostos e a contrapartida que dão aos que os pagam é exigir um pagamento adicional para ter acesso a eles quando se dignam responder ao pedido. De certo modo é o mesmo que pagar aos professores para ensinar e estes exigirem um pagamento adicional para revelarem as notas que deram aos alunos.

Para além desta aberração, não existe qualquer tipo de controlo externo que assegure a qualidade das medidas feitas. O mais significativo é que não só se furtam a qualquer tipo de validação externa aos dados e ao modo como estatisticamente os tratam, como ainda lhes cabe informar o mundo das alterações climáticas observadas em Portugal. Que confiança merecem? Para as simulações do comportamento térmico dos edifícios é necessário conhecer a variação horária das variáveis meteorológicas que o IM “naturalmente” não disponibiliza de modo a facilitar a utilização.

O antigo INETI, depois INEGI e hoje outra coisa que amanhã será diferente, também vende um programa e uma base de dados, utilizando valores do IM que afirma representar um ano tipo, que obviamente não serve os propósitos de melhoria e inovação que referi. A conclusão que se extrai do lamentável, mercantil, e abusivo comportamento destes Laboratórios de Estado, apesar de algumas relevantes e meritórias excepções a nível individual é que, no seu conjunto, os dados que produzem são insuficientes para além de a sua fiabilidade não ser tranquilizante.

Na situação actual o que temos de fazer para Portugal é criar uma base de dados a partir da assimilação das observações existentes por uma reconstrução climática. Com esta base, seria possível construir um zonamento fiável para todo o país e disponibilizar informação climática localizada, tal como hoje já é feito e disponibilizado diariamente no meu site. De certo modo, seria a extensão a todo o país do que fizemos para Lisboa com a reconstrução climática da onda de calor de 2003. Essa reconstrução, validada com os dados horários disponíveis, mostra como, mesmo para Lisboa, as variáveis climáticas, nomeadamente a temperatura, podem ser muito diferentes consoante a localização escolhida. Como sabe, o regulamento térmico dos edifícios desconhece completamente estes efeitos.

E esse é um trabalho que tem décadas neste departamento...

Sim. Já nos meados dos anos 70, quando a colaboração com o IM era excelente, efectuámos e validámos a digitalização dos primeiros anos de observações e publicámos a “Ocorrência Média Anual no Território Português das Classes de Estabilidade Atmosférica Pasquill-Gifford” para utilização nos estudos de dispersão de poluentes na atmosfera. Este trabalho foi e continua a ser muito utilizado em estudos de impacto ambiental e deveria há muito ter sido modernizado. Este trabalho como muitos outros que se seguiram, foram a aplicação natural do trabalho de investigação em Mecânica dos Fluidos Computacional, Turbulência, Camada Limite, etc.

Esses dados deveriam estar disponíveis porque são exigidos no âmbito da regulamentação térmica para a análise de desempenho de sistemas solares, nomeadamente quando se utiliza o programa de simulação Solterm (obrigatório)…

Tem toda a razão. Aliás, a previsão meteorológica que iniciámos operacionalmente em 2000 foi ditada pela recusa de colaboração e mesmo de obstrução do IM nesta área, beneficiando do seu monopólio legal de acesso ao Centro Europeu. Esta atitude bloqueava a investigação e desenvolvimento científico em muitas áreas de fundamental interesse, nomeadamente a energia eólica. Decidimos por isso iniciar de modo completamente autónomo do IM a previsão numérica do tempo para Portugal, tendo sido a primeira universidade portuguesa a fazê-lo.

Estas previsões são utilizadas pela REN (Redes Energéticas Nacionais) na previsão da energia eólica e na gestão da rede eléctrica, pela Protecção Civil da CML, Governo Civil de Santarém, etc. As previsões que fazemos são localizadas, gratuitas para os valores à superfície e muito mais pormenorizadas que as do IM, para além de actualizadas 4 vezes por dia.

Iniciámos recentemente a divulgação das previsões e das observações horárias nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, em tempo real, de modo a permitir que o utilizador julgue por si a qualidade das previsões. Seria interessante que o IM nos seguisse o exemplo mas sobretudo que medisse as consequências da política que tem seguido.

De salientar que o nosso trabalho foi possível devido à generosidade dos organismos públicos dos EUA e dos colegas das suas Universidades, através dos quais obtemos, gratuitamente, muito dos dados com origem em Portugal que o IM não disponibiliza. Vale a pena também frisar que nos EUA tudo que é pago por dinheiros públicos é público e portanto gratuito, nomeadamente para os portugueses.

Como é que os dados para Portugal podem ser disponibilizados?

Esses dados são da responsabilidade legal do Instituto de Meteorologia e nós pagamos impostos para que ele exista como já referi anteriormente. É absolutamente evidente que os deveria disponibilizar gratuitamente, embora se desculpe com os acordos de monopólio que subscreveu com alguns congéneres europeus.

Para além disso, tenho algumas razões para pensar que o IM receia que o seu escrutínio público venha a revelar muitas falhas e incoerências, para além de inviabilizar alguns dos alegados negócios privados. Nós somos muito solicitados para fornecer esse tipo de dados e recomendamos sempre que se dirijam ao IM porque é ele que tem a responsabilidade legal e a obrigação de o fazer. Posto isto, cedemos gratuitamente e com muita frequência os resultados das previsões dos últimos 10 anos que temos arquivados.

Por outro lado, temos vindo a proceder à reconstrução e validação das variáveis climáticas dos últimos anos de que já dei o exemplo da onda de calor de 2003. Poderíamos fazê-lo para os últimos 50 anos, pois temos os dados base. Mas é um trabalho moroso e dispendioso, que não prossegue ao ritmo que desejaríamos porque não só não dispõe de nenhum apoio financeiro oficial, generosamente dispensado aos apologistas do aquecimento global, como ainda suscita a animosidade dos muitos interesses instalados responsáveis pela situação em que nos encontramos.

Voltando aos edifícios e aos diplomas. Acha que não têm conteúdo ou não são suficientes?

Os diplomas são importantes. A legislação E4 do Professor Oliveira Fernandes foi um avanço enorme. Todavia, embora muito importante, o enquadramento legal não funciona sozinho e a nível legal há medidas que são contraditórias e paralisantes. Remover as contradições e aplicá-la rigorosamente é o único meio de recuperar o atraso com que foi promulgada. É talvez necessário fazer com os edifícios o que se fez com o cinto de segurança nos automóveis, que inicialmente se iludia mas acabou por entrar nos nossos hábitos e na nossa cultura com benefício para todos. Ou seja, é fundamental que haja uma fiscalização sólida séria e competente a funcionar.

Disse há pouco que é necessário que a electricidade deixe de ser subsidiada para mudar em definitivo os comportamentos das pessoas quanto à energia...

É preciso perceber que os subsídios foram sempre retirados de outra possível utilização do que se cobrou nos impostos. Eu penso que é altura de começar a questionar os subsídios que não tenham uma convincente justificação e tenham sempre em conta as aplicações alternativas. Devíamos instituir uma taxa extra sobre a electricidade. Uma taxa e não um imposto. Seria uma taxa destinada a financiar quem quisesse melhorar o seu desempenho energético, ou seja, penalizar os desperdiçadores para financiar os que quisessem investir para reduzir a sua factura energética. No conjunto dos consumidores o saldo financeiro seria nulo. Isto seria um pouco o que a ERSE já iniciou com o PPEC, mas com outra amplitude e maiores ambições. Com isto também se criavam muitos empregos e se estimulava a produção de novos equipamentos e serviços de qualidade.

As cidades podem ser auto sustentáveis muito em breve?

Em cidades construídas de raiz como sucede actualmente na China será talvez possível aproximarmo-nos desse objectivo. Nas cidades existentes será muito difícil ou mesmo impossível na totalidade muito embora possam fazer-se avanços espectaculares nessa direcção. A produção descentralizada tem enormes vantagens, tanto de energias renováveis como utilizando micro cogeração e trigeração.

Há ainda outro conceito que devemos começar a ter em conta e que é a acumulação descentralizada, que pode vir a dar uma ajuda substancial na regularização do diagrama de cargas eléctricas, o que está estreitamente ligado à generalização das redes inteligentes tornadas possíveis pelos desenvolvimentos da informática e das redes de comunicações, nomeadamente as baseadas em fibra óptica.Posted by Picasa

segunda-feira, outubro 05, 2009

A produção descentralizada tem enormes vantagens (1)

[MC tem o prazer de publicar na íntegra a entrevista concedida pelo Prof. Delgado Domingos à revista Climatização, de Setembro/Outubro de 2009, e conduzida por Rita Ascenso. Devido à sua extensão e às características do blogue, a entrevista será dividida em duas partes.]

Delgado Domingos, um especialista conceituado internacionalmente e com provas dadas ao longo de toda a sua actividade científica com destaque para a área das alterações climáticas, energia, ambiente... é desde Dezembro de 2008 presidente do Conselho de Administração da Lisboa E-Nova.


Para este professor catedrático, há quem considere contraditórias as suas posições no que se refere às alterações climáticas, Quioto... com as metas da E-NOVA. Conheça os argumentos deste investigador e decisor que defende que “o aquecimento global se transformou para muitos numa questão político-ideológica de que se recita o catecismo” e para quem “as ameaças de catastrófico aquecimento global com que somos diariamente bombardeados não têm sustentabilidade científica e caminham para o descrédito, face à realidade concreta”. E ainda a sua visão sobre as questões energéticas e ambientais, a climatização nos edifícios, o projecto, as cidades e o urbanismo...

É já uma “bandeira” sua defender que não existe aquecimento global da forma como ele é apresentado mundialmente... Ou seja, para si o termo aquecimento global é infeliz?

O modo como as minhas afirmações têm sido interpretadas no que se refere às Alterações Climáticas, ao Protocolo de Quioto, ao Pacto dos Autarcas, etc. leva alguns a afirmar que são contraditórias com as metas e as medidas propostas na Estratégia Energético Ambiental para Lisboa que a CML aprovou e o Presidente já tinha anunciado publicamente em Maio de 2008.

Como principal responsável pela estratégia e pelas medidas propostas pela Agência Municipal de Energia e Ambiente da CML (Lisboa E-Nova) e na qualidade de Presidente do seu CA já por várias vezes e para diferentes audiências, nomeadamente através da minha página na internet e do blog do Público, De Rerum Natura, tive oportunidade de documentar a fundamentação e justificar as propostas.

Com seriedade e fundamentação nunca os vi pôr em causa. Em contrapartida, as reacções difusas que me chegam apenas mostram como o aquecimento global se transformou para muitos numa questão político-ideológica de que se recita o catecismo.

A CML, ao aprovar a Estratégia Energético Ambiental para Lisboa e ao adoptá-la como um dos instrumentos estruturantes a ter sempre em conta, antecipou e ultrapassou em compromissos concretos e calendarizados todos os municípios nacionais e a maioria dos europeus que assinaram o Pacto dos Autarcas.

Significativamente, os organizadores da declaração conjunta dos municípios portugueses que subscreveram o Pacto dos Autarcas não aceitaram a correcção proposta pela Lisboa E-Nova que se limitava a juntar aos potenciais efeitos das alterações climáticas provocadas pela emissão de gases com efeito de estufa (GEE) o agravamento dos efeitos da variabilidade natural.

A diferença marcante entre uma e outra posição é que uma responsabiliza e compromete os actuais autarcas a combater e prevenir os efeitos da natural variabilidade climática que se exprimem, entre muitos outros, nas recorrentes cheias e inundações, nos deslizamentos de terras, nas ondas de calor e de frio, cujo agravamento, em danos sociais e económicos, é consequência directa da imprevidência ou da incompetência, tão do agrado da ganância especulativa que tem campeado no ordenamento do território e nos PDM.

Atribuir todos estes efeitos aos malefícios do aquecimento global provocado pelas emissões de GEE, poderá ajudar a mobilizar a opinião pública para os desafios do futuro, o que é bom, mas seria muito melhor se assumisse também a sua responsabilidade concreta e demonstrasse sinceridade de propósitos, combatendo-os desde já com todo o empenho e determinação.

Preocupando-me com o futuro e com o rigor da fundamentação científica do que se afirma, discordo naturalmente do termo aquecimento global e prefiro alterações climáticas como o próprio IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) faz.

Os alarmistas climáticos, nomeadamente Al Gore, têm baseado a sua militância nos efeitos do aquecimento global e entram numa confusa dialéctica para justificar o facto de não ter havido aumento das temperaturas médias globais nos últimos 10 anos, (nem nos continentes nem nos oceanos) apesar das crescentes emissões de CO2 e GEE para a atmosfera.

Existe sim variabilidade climática e potenciais alterações climáticas, que tanto podem ser de aquecimento como de arrefecimento. Quem se preocupa com o rigor científico e os factos incontroversos não elabora uma estratégia com enormes impactos sociais e económicos tendo por base emotivas reacções conjunturais, tal como não confunde causas com efeitos.

Para mim, como já várias vezes afirmei e fundamentei, o cerne da questão encontra-se na utilização desbragada de combustíveis fósseis, cujas reservas se aproximam do esgotamento, para além dos terríveis efeitos na saúde humana e nos ecossistemas, dos poluentes produzidos na sua queima (nesta perspectiva, o CO2 não é um poluente).

É por isso que reduzir a utilização dos combustíveis fósseis e promover as energias renováveis em todas as suas formas é fundamental. Mas mais importante ainda é promover a eficiência energética em todas as suas vertentes, de entre as quais importa realçar a organização espacial das actividades, a edificação, o urbanismo, e as suas consequências no clima urbano, na saúde e na qualidade do ambiente.

Em muitos objectivos concretos, a minha posição e a dos “Militantes do Alegado Aquecimento Global” (MAAG) é semelhante, mas difere radicalmente em muitos aspectos da sua fundamentação, bem como nos caminhos propostos para os alcançar. Por um lado, o CO2 e os GEE são para mim um efeito e um indicador ambiental muito importante, mas não a causa determinante como defendem os MAAG. Para estes, a captura e sequestro do CO2 (CCS) e a energia nuclear são defendidas como soluções tecnológicas para controlo do aquecimento global.

Ora, o carvão é e será ainda por muitos anos a fonte de energia mais importante para a produção de electricidade, pois tem reservas provadas e geograficamente distribuídas para algumas centenas de anos. É uma importante fonte de poluição, sobretudo a nível local, que é possível reduzir drasticamente com tecnologias conhecidas e comprovadas.

Transformá-lo no principal inimigo a abater, como os radicais do MAAG têm feito, advogando, nomeadamente, a desobediência civil para o conseguir, como faz e tem patrocinado o guru inspirador James Hansen é lamentável, não só porque desvaloriza todos os poluentes graves face ao CO2 (que não é um poluente) como inviabiliza a utilização e desenvolvimento da enorme panóplia de tecnologias viáveis que tornam carvão cada vez mais limpo. O gigantesco desperdício de recursos dedicados à miragem tecnológica do CCS que os MAAG provocaram seria muito mais bem utilizado na reflorestação e na protecção dos ecossistemas.

Uma das outras implicações, em termos de transporte urbano é o favorecimento governamental, entre nós, dos motores diesel, em detrimento dos motores a gás natural ou GPL, esquecendo o grave problema ambiental das emissões de partículas, NOx, etc pelos motores diesel, problema que não existe nos motores a GNL ou GPL, embora possam emitir um pouco mais de CO2.

Obcecados com o CO2 e os GEE, os MAAG tendem a ignorar completamente os efeitos das reais alterações climáticas locais e os efeitos locais e globais das alterações no uso do solo. Estreitamente ligada aos MAAG está o mercado do carbono e os colossais interesses financeiros e políticos que movimenta.

Criar a ideia, como tem sido feito, de que as ameaças climáticas do futuro se devem sobretudo às emissões de GEE é manipulatório e acompanhado das manifestações típicas de uma ideologia. Pode ter tido o mérito de consciencializar a população em geral para as graves consequências do esbanjamento de recursos naturais não renováveis e para as terríveis ameaças ao ambiente e à nossa sobrevivência se não arrepiarmos caminho mas, em contrapartida, pode desviar as atenções e os recursos económicos para a solução de problemas menores ou simplesmente não problemas.

Em meu entender, as ameaças de catastrófico aquecimento global com que somos diariamente bombardeados não têm sustentabilidade científica e caminham para o descrédito, face à realidade concreta. A perda de credibilidade científica tem efeitos devastadores, sobretudo numa altura de radical alteração de modelos económicos e em que a objectividade e o rigor da Ciência são imprescindíveis para antever as consequências das possíveis alternativas que se oferecem.

Mas os dados e as projecções apontam para esse aquecimento...

Ainda bem que falou em “projecções” que é algo muito diferente de previsões. Eu estou à vontade para poder dizer isso porque há mais de 40 anos que pratico a ciência computacional que está na base dos modelos climáticos invocados para explicar situações passadas e fazer projecções para o futuro. Em Portugal fui o primeiro a implementar e divulgar, a nível universitário, a previsão meteorológica diária para o nosso país e a confrontar sistematicamente as previsões com as observações.

Conheço por isso muito bem e utilizo diariamente o tipo de modelos e métodos que sustentam as afirmações de anunciadas catástrofes. Estas não se baseiam em previsões, como aquelas que diariamente fazemos em meteorologia e que são tipicamente boas até aos 10~15 dias seguintes... mas fracassam miseravelmente quando se pretende prever a próxima estação.

A ideia prevalecente em certos meios é que se este tipo de previsões for efectuado para décadas ou séculos, utilizando vários modelos semelhantes, a média dos resultados dará uma ideia do que irá suceder dentro de algumas décadas ou séculos. Há razões fundamentais de natureza física e computacional para considerar que, com o conhecimento científico actual e os meios de cálculo disponíveis, não se possam fazer tais tipos de previsões e nelas basear decisões políticas com enormes consequências económicas e sociais.

Não sendo possível chamar-lhe previsões, os praticantes destas metodologias passaram a chamar-lhes projecções. Estas não são mais do que visões subjectivas baseadas na extrapolação de representações simplificadas e muitas vezes distorcidas da realidade concreta. Projecções e cenários são instrumentos úteis para ganhar sensibilidade a certos factores, como se de jogos de guerra ou de gestão se tratasse. Mas são apenas isso. Quando se convertem em instrumentos de manipulação da opinião pública podem tornar-se extremamente nocivos e dispendiosos.

Nesta perspectiva, é importante recordar dois exemplos. Em 1988, numa audição no Congresso dos EUA, o famoso guru dos MAAG, James Hansen, afirmou que, se não fossem drasticamente reduzidas as emissões de GEE, no prazo de 20 anos teríamos graves desastres climáticos. Passados os 20 anos, o que se constatou foi que embora as emissões de GEE tivessem ultrapassado as do cenário, houve um ligeiro aumento de temperatura (menos de 0.5 ºC) com tendência para descer e o prometido desastre não se concretizou. O autor da profecia justificou o fracasso com o efeito dos aerossóis, que tinha manipulado subjectivamente para que as previsões não divergissem do observado em anos anteriores.

A metodologia usada para anunciar catástrofes em 2050 ou 2100 se a utilização do carvão não for banida, é semelhante, mas 40 ou 90 anos é suficientemente distante para que os seus autores ainda existam e prestem contas pelos estragos que causaram.

No período que imediatamente antecedeu a Guerra do Iraque, a maioria da opinião pública mundial foi convencida de que o Iraque possuía armas de destruição massiva. Tony Blair afirmou mesmo que tais armas poderiam ser activadas em poucas horas e Durão Barroso, primeiro-ministro português, informou também ter visto as provas da sua existência. Tais armas não existiam, como hoje sabemos!

Então a preocupação com os desastres climáticos não faz sentido do seu ponto de vista?

Claro que faz todo o sentido se colocada na perspectiva correcta que é ter em conta a variabilidade climática natural e tomar as medidas que, não só impedem o agravamento dos efeitos, como os minimizam. O desastre de Nova Orleães, nos Estados Unidos, provocado pelo furacão Katrina era previsível, era anunciado e sabia-se que um dia iria acontecer, tal como se sabe que iremos ter cheias e inundações como sempre tivemos.

As chuvas de 1967 em Lisboa eram inevitáveis, mas as cheias e desastres que provocaram podiam ter sido evitados, se tivessem sido tomadas as medidas que impedissem a impermeabilização dos solos, as urbanizações em leitos de cheia, etc. e se tivessem alocado os recursos necessários para prevenir os efeitos de fenómenos climáticos menos frequentes, mas naturais e inevitáveis. Estes desastres devem-se à imprevidência e à incúria e não ao alegado aquecimento global.

Outra questão é a sobreposição de alterações climáticas provocadas pela acção humana que agravam as variabilidades naturais. É aqui que surgem as emissões de CO2 (e GEE) que provocam um aumento de temperatura. O CO2, ele próprio, não é o principal gás que provoca este efeito, mas sim o vapor de água. O CO2 aumenta a temperatura à superfície da Terra e esse é um facto bem conhecido da Física há muitos anos. Este aumento de temperatura provoca o aumento da evaporação, e é esse acréscimo de vapor de água que multiplica o efeito do CO2.

Falta apenas um pormenor, habitualmente omitido pelos MAAG e que resulta de o vapor de água originar as nuvens. A formação e o comportamento das nuvens são fenómenos cruciais com muitos aspectos pouco conhecidos e mal dominados, pois as nuvens tanto podem provocar aquecimento como arrefecimento, consoante o seu tipo e a altitude a que se formam. Por este motivo, as nuvens podem constituir um regulador da temperatura à superfície.

Na prática de que tipo de regulação estamos a falar?

A baixa altitude, as nuvens reflectem mais energia solar que por isso não chega ao solo e não o aquecem. Esta energia que não chega ao solo é superior à que provocaria o seu aquecimento por efeito de estufa. O saldo final é um arrefecimento, que conduz a uma redução da evaporação e dai a uma redução da cobertura de nuvens baixas.

Nas nuvens a grande altitude, passa-se o inverso, ou seja, a radiação solar reflectida é inferior ao aquecimento provocado por efeito de estufa e a temperatura à superfície aumenta, aumenta a evaporação, etc. Existindo os dois mecanismos referidos, o resultado final depende do que predominar.

Qual dos dois predomina, depende das características locais da superfície e de fenómenos internos às próprias nuvens. Estes encontram-se longe de ser conhecidos e dominados e constituem uma das maiores fragilidades dos modelos, como aliás é reconhecido nos relatórios científicos do próprio IPCC, mas é omisso nos seus sumários para decisores.

Na generalidade dos modelos climáticos admite-se que, em primeira aproximação, o CO2 fica bem misturado e se distribui uniformemente por toda a atmosfera, pelo que a localização espacial das emissões não é muito importante. Todavia, como o efeito fundamental não é provocado pelo CO2, mas sim pelo vapor de água, o efeito desse aquecimento também é local.

Nas contas das projecções climáticas e à falta de melhor, admite-se também que as nuvens são uniformes em cada célula de cálculo, o que é falso. Para entender esta afirmação é necessário referir que, para efeitos de cálculo, toda a atmosfera é dividida em paralelepípedos e se admite que tudo é uniforme no seu interior.

Apesar da capacidade informática de que hoje se dispõe, os programas utilizados nos últimos modelos climáticos utilizados pelo IPCC apenas permitem paralelepípedos de 110 km por 110 km na superfície (12 100 km2), pelo que, na melhor das hipóteses, o que vamos obter são valores médios, o que é manifestamente insuficiente para aspectos tão cruciais como as nuvens.

Lembre-se que a superfície do concelho de Lisboa é de cerca de 82 km2, o que significa cerca de 0.5% da superfície coberta por uma das células de cálculo, onde se admite que tudo é uniforme.

Não são portanto valores reais?

São médias globais sem exactidão local. Quando reduzimos a escala e passamos por exemplo de 100 km x 100 km para 50 km por 50 km, a necessidade de cálculo aumenta 10 a 20 vezes por razões puramente matemáticas e numéricas. Neste momento não há computador com capacidade para, a nível planetário, calcular as nuvens à escala mínima necessária.

Só para lhe dar um exemplo, eu faço para Portugal cálculos com 9 km, 3 km e até 1 km porque não estou a fazer previsões para a totalidade do globo, mas apenas para o território nacional e a partir de uma muito mais grosseira previsão global. Em resumo, há limitações físicas e computacionais e existem factores físicos mal dominados, já para não falar nos aerossóis. Os aerossóis, consoante a composição e a altitude em que estiverem, tanto podem provocar aquecimento, como arrefecimento.

Deixe-me recordar que o IPCC, que já referi, foi criado pelas Nações Unidas e esteve na origem do protocolo de Quioto. Os relatórios do IPCC são considerados a referência fundamental nesta matéria. O IPCC divide-se em 3 grupos de trabalho envolvendo centenas de cientistas. O mais importante destes grupos é o grupo I que se ocupa dos aspectos físicos fundamentais.

O último dos relatórios do IPCC é de Novembro de 2007. O relatório fundamental, o do grupo I, tem 996 páginas. Como é muito técnico e complexo tem um resumo designado por sumário para decisores políticos. O sumário foi aprovado linha a linha pelos representantes dos governos e das organizações participantes em Fevereiro de 2007.

O facto extraordinário é que o sumário foi aprovado ainda antes de existir o relatório que era suposto resumir. Sucede mesmo que o relatório científico contradiz conclusões do sumário antecipado, nomeadamente quando este converte em certezas o que no relatório está rodeado de incertezas, hipóteses e precauções.

O sumário não corresponde fielmente a partes do relatório ?

Não. O sumário foi aprovado pelos representantes dos governos e é um documento político que invoca a ciência para se credibilizar. A sua redacção foi entregue a um grupo extremamente restrito de cientistas e houve mesmo alguns que afirmaram ser legítimo retirar as incertezas para forçar os políticos a tomar as decisões que o grupo achava importantes!

Para isso era necessário criar a percepção pública de iminente desastre global, mesmo que tal percepção não correspondesse à realidade. Como é sabido, desencadeou uma movimentação planetária e lançou o “terror” das alterações climáticas como um facto consumado.

Porque é que a um sumário, que é politico, se chama científico? Penso que tal se deve ao facto de os políticos quererem beneficiar da credibilidade que ainda existe na comunidade científica. Por outro lado, a comunidade científica permite-o porque o financiamento dos seus trabalhos depende dos políticos...

O senador Al Gore, que formou, juntamente com um ex vice-presidente da Goldman Sachs uma empresa com sede em Londres e escritórios em Washington e é considerado nos mercados financeiros um market maker (um fazedor de mercado) nos seus discursos para a alta finança, costuma sublinhar que “se nós mudarmos a percepção da realidade, nós mudamos a realidade”.

Na época da globalização e com a justificada emergência das questões ambientais, nada como criar uma ameaça também global e explorar as suas virtualidades económicas e financeiras, em benefício de uma agenda política ou empresarial.

(continua)
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sexta-feira, outubro 02, 2009

Comparação MSU e TP

Recorda-se que no post TOPEX-Poseidon ficou em suspenso a seguinte questão:

O IPCC não aceita a evolução das temperaturas registadas pelos satélites [tecnologia MSU]. Só aceita as medidas termométricas. Mas aceita as medidas dos satélites para a evolução do nível dos mares [tecnologia TP]. Porque será?

Esta questão leva ao estudo comparativo das tecnologias dos satélites que fornecem evoluções das temperaturas e dos níveis dos mares. É o que o MC fará proximamente. É necessário determinar se os sistemas dos satélites são significativamente diferentes de modo a confiarmos num e não no outro.

Chegou pois a altura de abordar esta questão. A diferença fundamental entre as tecnologias MSU – Microwave Sounding Unit e TP – TOPEX-Poseidon, corresponde aos respectivos sistemas. O MSU é um sistema “passivo” e o TP e um sistema “activo”.

O MSU mede a frequência e a intensidade da radiação natural das camadas baixas da atmosfera terrestre. Sendo um sistema passivo, os problemas tecnológicos são de mais fácil solução. Este sistema está em funcionamento desde 1979.

Pelo contrário, o sistema activo TP contém instrumentos de medida de origem norte-americana (TOPEX) e francesa (Poseïdon). Os impulsos de ondas de radar são transmitidos para a superfície terrestre afim de medir os ecos desses impulsos.

Os ecos partem da superfície terrestre e são recebidos de volta pelo satélite. Sendo um sistema activo, os problemas tecnológicos envolvidos são muito mais complexos do que os do sistema passivo MSU.

Deste modo, justifica-se uma maior precaução na interpretação dos resultados das medições do TP feitas durante curtos intervalos de tempo. Todos os sistemas de radar envolvem a medição da distância, da direcção e até mesmo da textura de um objecto distante. A medição é feita através da emissão de impulsos de microondas e da medição do tempo de retorno das reflexões dos objectos.

Além disso, o radar pode também comparar o estado do eco com o impulso original que o criou para verificar se houve alguma mudança no formato, no comprimento do impulso ou no comprimento de onda. Isso pode dar pistas sobre a natureza e até mesmo as características do movimento do objecto que está a ser alvo das emissões das ondas de radar.

Alguns objectos como metais e água, são excelentes reflectores das ondas radar, enquanto que outros como madeira, plásticos e areia mole, são muito pobres. Também é relevante o ângulo de incidência dos raios em relação aos objectos. O ângulo pode ser tal que resulte mais do que um eco reflectido para longe do radar.

O TP utiliza dois radares, um sintonizado para uma frequência de 10 GHz (gigahertz, ou seja dez mil milhões de ciclos por segundo), a que corresponde um comprimento de onda de 3 cm. O outro para 13,65 GHz (comprimento de onda de 2,3 cm).

Os radares emitem impulsos em direcção à superfície dos mares e mede os ecos de retorno. Cada impulso dura cerca de 3 ns (nanosegundos, ou três milésimos do milionésimo de segundo).

Cada impulso tem um comprimento de aproximadamente 90 cm. Em cada segundo são transmitidos pouco mais do que 1000 impulsos que é a frequência de repetição dos impulsos.

A velocidade da luz no vazio (constante universal) é de aproximadamente 300 mil quilómetros por segundo. Desde que os impulsos de radar e os seus ecos viajem a esta velocidade, existe um pequeno intervalo de tempo entre o impulso emitido e os ecos de retorno para medir a distância entre o radar e o alvo. Esta medida permite então calcular o nível dos mares.

O único problema aparente é que a precisão exigida para a medição do nível dos mares é de ± 1,2 m com base num único impulso e do seu eco. Ora, um simples marégrafo pode fazer a medição com uma precisão mil vezes superior.

Mas, entra então em jogo a média estatística. O TP não envia um impulso mas um milhar deles num segundo. Cada eco medido tem um erro potencial de ± 1,2 m. No entanto, a média resultante dos mil impulsos tem uma gama de precisão de aproximadamente ± 4,7 cm.

Sejamos claros quanto a este ponto, ± 4,7 cm é o valor da precisão derivada de um processo estatístico, não é o valor da precisão individual das medidas dos impulsos e dos seus ecos.

Consequentemente, não há limites para até quanto uma média estatística pode ser considerada até se atingir mesmo números ilusórios, aparentemente confiáveis mas completamente divorciados da realidade.

Enfim, não se compreende que o IPCC valide os resultados TP e não tenha em consideração os MSU de obtenção muito mais simples e com menos perturbações de leitura. O sensato seria considerar como boas as duas bases de dados desde que se tenha em consideração as respectivas limitações.

Mas coloca-se a questão da definição do nível dos mares. Na realidade, o mar não é redondo. A sua superfície é um geóide determinado pela força da gravidade. Não é exactamente um elipsóide de revolução achatado nos pólos.

O geóide é a superfície equipotencial do campo de forças da gravidade terrestre ajustada ao nível médio dos mares. O TP mostrou que, no Mar Mediterrâneo, a diferença de nível entre a parte mais elevada, na costa espanhola, e a depressão mais cavada, situada a sudoeste da ilha de Creta, atinge 40 m.

Literatura aconselhada:

Satellite Observing Systems

Ocean Surface Topography from Space - Technology

TOPEX/Poseidon Frequently Asked Questions

AVISO TOPEX-Poseidon, Mean Sea Level Monitoring

Radar Altimetry (PDF)

Side-B TOPEX Altimeter Evaluation