Dinâmica da canícula de 2003
O que aconteceu realmente durante o verão de 2003, ou, para ser mais preciso, durante as primeiras duas semanas de Agosto? Para se encontrar a resposta a esta pergunta tem de se analisar as imagens dos satélites e as cartas sinópticas.
Dois anticiclones móveis polares (AMP) aproximaram-se da Europa ocidental ao longo de duas trajectórias distintas (representadas como 1 e 2 na Fig. 115(a)): um deles vindo do Árctico, via América e Atlântico, e o outro vindo da Gronelândia, directamente, ao longo da trajectória escandinava.
Estes dois AMP reuniram-se e acabaram por se fundir. O relevo geográfico obrigou esta aglutinação anticiclónica (AA) a retardar o seu movimento. Quando uma AA se forma sobre o oceano Atlântico toma uma posição média anual que é designada por anticiclone dos Açores.
O anticiclone dos Açores pode-se estender em crista sobre o continente europeu e lateralmente sobre o Mediterrâneo, como muito bem diz Anthimio de Azevedo (O Anticiclone dos Açores, 2006, p. 19, ISBN 972-9001-90-1).
Neste caso, de Agosto de 2003, a AA teve uma longa e incomum duração (17 dias!) com altas pressões numa área extensa que foi sendo sucessivamente preenchida com ar anticiclónico trazido por novos AMP navegando nas camadas mais baixas. O núcleo central chegou mesmo a deslocar-se para norte, fixando-se sobre o continente europeu.
Entre 1 e 17 de Agosto, foram 12 os AMP que contribuíram para o enchimento de altas pressões da AA que atingiram valores entre 1020 hPa e 1025 hPa [significando hPa o múltiplo de 100 (h, de hecto) – da unidade de pressão atmosférica Pa que é o símbolo do nome “pascal”].
Na Fig. 116 estão representadas à escala sinóptica (12 horas UTC, do dia 7 de Agosto de 2003) as pressões ao nível do mar, as temperaturas e a componente horizontal da velocidade do vento. A Península Ibérica, a França, a Benelux, a Alemanha e parte da Suíça situaram-se na zona mais tórrida.
Na Fig. 117 aparecem 7 dos 12 AMP que participaram neste acontecimento da canícula de Agosto de 2003.
Na Fig. 118, os 12 AMP estão indicados pelas letras A a L (os índices de cada letra representam os dias de Agosto relativos às posições que cada um dos AMP ocupava). Sete deles seguiram a trajectória americano-atlântica e cinco a trajectória escandinava. Nota-se que a distinção entre estas duas trajectórias fundamentais nem sempre é muito precisa.
De facto, o ar anticiclónico de origem americano-atlântica pode vir a ser reforçado, durante a sua viagem, por ar frio saído da Gronelândia a caminho da Escandinávia. Foi o exemplo, em 4 de Agosto, do AMP-D gronelandês (D4 na Fig. 118(a)).
Os AMP escandinavos apresentam ar mais frio visto que a Escandinávia sofre actualmente temperaturas mais baixas do que o resto da Europa. Estes AMP formaram por isso um obstáculo à passagem dos AMP que vêm do oeste.
Por exemplo, o enorme AMP-B bloqueou o caminho a leste ao AMP-A, que nasceu a 1 de Agosto. Outro exemplo foi o do AMP-H que impediu a progressão ao AMP-F, entre 9 e 10 de Agosto. O AMP-H fundiu-se com o AMP-E no dia 8 de Agosto (Fig. 118(c)).
Os AMP de várias origens juntaram-se sobre a Europa ocidental especialmente numa zona de encontro das duas trajectórias atrás especificadas e elevaram a pressão atmosférica tanto sobre o solo como sobre o mar.
A aglutinação tornou-se particularmente homogénea entre 3 e 12 de Agosto que foi quando se atingiram as temperaturas mais elevadas que se verificaram durante esta excepcional estabilidade anticiclónica sobre a Europa.
O AMP-I, que bordejou o sul da Gronelândia no dia 9 de Agosto, foi consideravelmente reforçado no percurso da sua trajectória e atingiu a Grã-Bretanha no dia 13 de Agosto acabando por cobrir o Norte da Europa, da França à Dinamarca, no dia 14 de Agosto.
Este colossal AMP (extensão máxima de 3000 km) começou a mover-se para leste no dia 15 de Agosto. No dia 17 de Agosto a sua extensão ia dos Pirenéus até ao Mar Negro (Fig. 118(d)).
A partir daí, a temperatura começou a baixar e a aliviar os europeus. Houve uma queda de 10 ºC e começou a chover. A onda de calor atingiu o seu final e foi substituída por tempo relativamente fresco, anunciando um Outono suave.
Consequente e indiscutivelmente, se olharmos para as imagens dos satélites em vez de utilizarmos as receitas mágicas do «global warming», podemos concluir que:
- A causa desta onda de calor foi a presença de uma fortíssima aglutinação anticiclónica;
- Nada teve a ver com massas de ar quente vindas do Sul ou de leste nas alturas ou nas baixuras;
- A onda de calor foi causada pela concentração e pelo rápido aquecimento de ar anticiclónico vindo do Norte (Pólo Norte e Gronelândia) através das camadas baixas veiculado pelos 12 anticiclones móveis polares;
- Os gases antropogénicos e, até, os naturais não tiveram a mínima participação neste fenómeno. Se tivessem tido, a pressão teria baixado e o ar quente teria sido substituído por ar fresco.
No fundo, o que esta situação apresentou de excepcional foi o longo período de 17 dias. De facto, ocorrem situações semelhantes, sistematicamente, nas médias latitudes (30 ºN a 40 ºN) sobre o Atlântico oriental e sobre o Mediterrâneo nesta época do ano com períodos mais curtos.
A AA do Atlântico oriental é o resultado deste fenómeno de fusão de AMP. Acontece o mesmo com outras AA nos lados orientais dos oceanos. A peculiaridade desta onda de calor, como se disse, foi a extensão incomum no espaço e no tempo.
Situações com pressões atmosféricas e temperaturas semelhantes à do verão de 2003 não são, actualmente, raras. Os verões de 1900, 1901, 1921 e 1947, foram igualmente quentes, ou mesmo mais quentes, com períodos distintos, do ponto de vista local e não global.
Mas, em 2003, bateram-se muitos recordes locais de temperatura. Apesar de tudo, mantiveram-se alguns valores máximos anteriores. Por exemplo, em França o recorde nacional de Toulouse, de 8 de Agosto de 1923, manteve-se nos 44 ºC. Isto é, na segunda década do século passado registaram-se ‘dog days’ tão ou mais importantes do que os da primeira década do presente século.
A Grã-Bretanha também manteve os recordes de 1976 e de 1995. Mas no ano fatídico de 2003, registaram-se novos recordes nacionais em Portugal, na Alemanha e na Suíça.
Dois anticiclones móveis polares (AMP) aproximaram-se da Europa ocidental ao longo de duas trajectórias distintas (representadas como 1 e 2 na Fig. 115(a)): um deles vindo do Árctico, via América e Atlântico, e o outro vindo da Gronelândia, directamente, ao longo da trajectória escandinava.
Estes dois AMP reuniram-se e acabaram por se fundir. O relevo geográfico obrigou esta aglutinação anticiclónica (AA) a retardar o seu movimento. Quando uma AA se forma sobre o oceano Atlântico toma uma posição média anual que é designada por anticiclone dos Açores.
O anticiclone dos Açores pode-se estender em crista sobre o continente europeu e lateralmente sobre o Mediterrâneo, como muito bem diz Anthimio de Azevedo (O Anticiclone dos Açores, 2006, p. 19, ISBN 972-9001-90-1).
Neste caso, de Agosto de 2003, a AA teve uma longa e incomum duração (17 dias!) com altas pressões numa área extensa que foi sendo sucessivamente preenchida com ar anticiclónico trazido por novos AMP navegando nas camadas mais baixas. O núcleo central chegou mesmo a deslocar-se para norte, fixando-se sobre o continente europeu.
Entre 1 e 17 de Agosto, foram 12 os AMP que contribuíram para o enchimento de altas pressões da AA que atingiram valores entre 1020 hPa e 1025 hPa [significando hPa o múltiplo de 100 (h, de hecto) – da unidade de pressão atmosférica Pa que é o símbolo do nome “pascal”].
Na Fig. 116 estão representadas à escala sinóptica (12 horas UTC, do dia 7 de Agosto de 2003) as pressões ao nível do mar, as temperaturas e a componente horizontal da velocidade do vento. A Península Ibérica, a França, a Benelux, a Alemanha e parte da Suíça situaram-se na zona mais tórrida.
Na Fig. 117 aparecem 7 dos 12 AMP que participaram neste acontecimento da canícula de Agosto de 2003.
Na Fig. 118, os 12 AMP estão indicados pelas letras A a L (os índices de cada letra representam os dias de Agosto relativos às posições que cada um dos AMP ocupava). Sete deles seguiram a trajectória americano-atlântica e cinco a trajectória escandinava. Nota-se que a distinção entre estas duas trajectórias fundamentais nem sempre é muito precisa.
De facto, o ar anticiclónico de origem americano-atlântica pode vir a ser reforçado, durante a sua viagem, por ar frio saído da Gronelândia a caminho da Escandinávia. Foi o exemplo, em 4 de Agosto, do AMP-D gronelandês (D4 na Fig. 118(a)).
Os AMP escandinavos apresentam ar mais frio visto que a Escandinávia sofre actualmente temperaturas mais baixas do que o resto da Europa. Estes AMP formaram por isso um obstáculo à passagem dos AMP que vêm do oeste.
Por exemplo, o enorme AMP-B bloqueou o caminho a leste ao AMP-A, que nasceu a 1 de Agosto. Outro exemplo foi o do AMP-H que impediu a progressão ao AMP-F, entre 9 e 10 de Agosto. O AMP-H fundiu-se com o AMP-E no dia 8 de Agosto (Fig. 118(c)).
Os AMP de várias origens juntaram-se sobre a Europa ocidental especialmente numa zona de encontro das duas trajectórias atrás especificadas e elevaram a pressão atmosférica tanto sobre o solo como sobre o mar.
A aglutinação tornou-se particularmente homogénea entre 3 e 12 de Agosto que foi quando se atingiram as temperaturas mais elevadas que se verificaram durante esta excepcional estabilidade anticiclónica sobre a Europa.
O AMP-I, que bordejou o sul da Gronelândia no dia 9 de Agosto, foi consideravelmente reforçado no percurso da sua trajectória e atingiu a Grã-Bretanha no dia 13 de Agosto acabando por cobrir o Norte da Europa, da França à Dinamarca, no dia 14 de Agosto.
Este colossal AMP (extensão máxima de 3000 km) começou a mover-se para leste no dia 15 de Agosto. No dia 17 de Agosto a sua extensão ia dos Pirenéus até ao Mar Negro (Fig. 118(d)).
A partir daí, a temperatura começou a baixar e a aliviar os europeus. Houve uma queda de 10 ºC e começou a chover. A onda de calor atingiu o seu final e foi substituída por tempo relativamente fresco, anunciando um Outono suave.
Consequente e indiscutivelmente, se olharmos para as imagens dos satélites em vez de utilizarmos as receitas mágicas do «global warming», podemos concluir que:
- A causa desta onda de calor foi a presença de uma fortíssima aglutinação anticiclónica;
- Nada teve a ver com massas de ar quente vindas do Sul ou de leste nas alturas ou nas baixuras;
- A onda de calor foi causada pela concentração e pelo rápido aquecimento de ar anticiclónico vindo do Norte (Pólo Norte e Gronelândia) através das camadas baixas veiculado pelos 12 anticiclones móveis polares;
- Os gases antropogénicos e, até, os naturais não tiveram a mínima participação neste fenómeno. Se tivessem tido, a pressão teria baixado e o ar quente teria sido substituído por ar fresco.
No fundo, o que esta situação apresentou de excepcional foi o longo período de 17 dias. De facto, ocorrem situações semelhantes, sistematicamente, nas médias latitudes (30 ºN a 40 ºN) sobre o Atlântico oriental e sobre o Mediterrâneo nesta época do ano com períodos mais curtos.
A AA do Atlântico oriental é o resultado deste fenómeno de fusão de AMP. Acontece o mesmo com outras AA nos lados orientais dos oceanos. A peculiaridade desta onda de calor, como se disse, foi a extensão incomum no espaço e no tempo.
Situações com pressões atmosféricas e temperaturas semelhantes à do verão de 2003 não são, actualmente, raras. Os verões de 1900, 1901, 1921 e 1947, foram igualmente quentes, ou mesmo mais quentes, com períodos distintos, do ponto de vista local e não global.
Mas, em 2003, bateram-se muitos recordes locais de temperatura. Apesar de tudo, mantiveram-se alguns valores máximos anteriores. Por exemplo, em França o recorde nacional de Toulouse, de 8 de Agosto de 1923, manteve-se nos 44 ºC. Isto é, na segunda década do século passado registaram-se ‘dog days’ tão ou mais importantes do que os da primeira década do presente século.
A Grã-Bretanha também manteve os recordes de 1976 e de 1995. Mas no ano fatídico de 2003, registaram-se novos recordes nacionais em Portugal, na Alemanha e na Suíça.
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