As neves do Kilimanjaro
Esta história – que não é a de Hemingway – começou em 2002 com a publicação de um artigo, do glaciologista Lonnie Thompson (1), da Universidade Estatal de Ohio, na revista Science.
Nesse artigo previa-se que os glaciares do Kilimanjaro desapareceriam cerca de 2020. A história tem sido e continua a ser repetida centenas de vezes pelas televisões. As repetições são suportadas com filmes mostrando os horrores do «global warming».
No entanto, uma análise fria dos dados publicados na Science permitiria concluir que o desaparecimento (temporário) aconteceria mesmo que todos os homens vivessem como vivem os indígenas a alguns quilómetros a oeste do Monte de Kilimanjaro.
Lonnie Thompson fez referência a cinco relatórios publicados em 1912, 1953, 1976, 1989 e 2000. De 1912 a 1953, a designada temperatura média global (reconstruída a partir de medidas controversas de termómetros de superfície) aumentou 0,4 ºC.
Este aumento ocorreu antes de emissões significativas dos designados gases antropogénicos com efeito de estufa. Mas os glaciares do Kilimanjaro perderam 45 % da sua área inicial nessas quase quatro décadas com diminuta intervenção humana.
Se os glaciares tivessem continuado a recuar ao mesmo ritmo hoje já pouco restava. Mas eles ainda estão lá. De 1953 a 1976, desapareceram outros 21 % da área original. Recorde-se que nestas pouco mais de duas décadas aconteceu parte do Óptimo Climático Contemporâneo (seis anos) e sucedeu parte do período de arrefecimento (dez anos).
Isto é, mesmo com temperaturas médias globais estacionárias entre 1930 e 1960 seguidas de uma descida entre 1960 e 1970, os glaciares de Hemingway continuaram a minguar.
Seria caso para dizer, em 1976, que «os glaciares do Kilimanjaro iriam desaparecer até 2015 se continuasse a tendência de “arrefecimento global”». Isto mostra obviamente que não existe correlação entre a evolução dos glaciares do Monte de Kilimanjaro e a temperatura média global.
De 1976 até 2000 desapareceram outros 12 % da área inicial dos glaciares. Ou seja, quando a temperatura média global conheceu uma taxa de crescimento mais acentuada, a redução dos glaciares verificou-se a uma taxa mais reduzida.
Em 1979 entraram em acção os satélites meteorológicos. Poucos discordam que eles fornecem observações mais seguras do que os rudimentares termómetros de superfície. Pois os dados dos satélites são surpreendentes como se verifica na Fig. 41.
A figura está estilizada como é comum em documentos da NASA. Representa uma quadrícula com evoluções da temperatura entre 1979 e 2001. Essas evoluções são calculadas em variações da temperatura por década.
Em climatologia a década já é importante para estudos evolutivos. As variações vão dos – 1 ºC / década (azul escuro) a + 1 ºC / década (vermelho escuro). O branco significa temperaturas estacionárias por década.
Portugal aparece parcialmente na fotografia com uma tendência da ordem de +0,1 ºC / década a + 0,2 ºC / década. Portugal está a arder? Esta tendência tem a ver com o aumento da pressão atmosférica que se verifica desde a década de 70 do século XX. O motivo é a formação dos campos de pressão originada pelas passagens dos anticiclones móveis polares.
A figura mostra um arrefecimento de 0,22 ºC / década entre 1979 e 2001 à volta da região do Kilimanjaro para camadas atmosféricas situadas entre 1500 metros e 4500 metros (o pico situa-se a cerca de 6129 m). No entanto, os seus glaciares mantiveram o recuo durante este período de arrefecimento local!
Este exemplo mostra que a evolução de um glaciar não depende exclusivamente da temperatura com diz o glaciologista francês Prof. Robert Vivian. Consequentemente, estas histórias nunca têm em consideração a realidade. Servem para chercher à épater les bourgeois.
Vivian diz que, em primeira aproximação, a evolução de um glaciar depende das precipitações invernais e das temperaturas estivais. Mais detalhadamente, não depende da média das temperaturas e das precipitações.
Depende da distribuição da temperatura e das precipitações segundo os meses do ano e do papel dos dados hipsométricos do glaciar. Incluindo a pressão atmosférica e o coeficiente de atrito entre o gelo e o suporte, entre outras variáveis.
Os dados a analisar devem ser mais finos do que a grosseira média anual. Interessa considerar a escala sazonal, trimestral, mensal e diária. A vida de um glaciar depende da sua localização.
Os glaciares, tal como o clima, de modo quase síncrono, flutuam de modo sazonal, interanual, secular e milenar. Em determinados períodos, uns glaciares recuam, outros avançam e, ainda, há glaciares que se mantêm estacionários.
Não deve haver motivo para alarme. Os glaciares do Kilimanjaro, tal como outros actualmente em contracção, serão recuperados mais tarde. Os nossos descendentes, de várias gerações, serão testemunhas disso.
(1) Thompson, Lonnie et al. 2002. Kilimanjaro ice core records: Evidence of holocene climate change in tropical Africa. Science 298: 589-93.
Nesse artigo previa-se que os glaciares do Kilimanjaro desapareceriam cerca de 2020. A história tem sido e continua a ser repetida centenas de vezes pelas televisões. As repetições são suportadas com filmes mostrando os horrores do «global warming».
No entanto, uma análise fria dos dados publicados na Science permitiria concluir que o desaparecimento (temporário) aconteceria mesmo que todos os homens vivessem como vivem os indígenas a alguns quilómetros a oeste do Monte de Kilimanjaro.
Lonnie Thompson fez referência a cinco relatórios publicados em 1912, 1953, 1976, 1989 e 2000. De 1912 a 1953, a designada temperatura média global (reconstruída a partir de medidas controversas de termómetros de superfície) aumentou 0,4 ºC.
Este aumento ocorreu antes de emissões significativas dos designados gases antropogénicos com efeito de estufa. Mas os glaciares do Kilimanjaro perderam 45 % da sua área inicial nessas quase quatro décadas com diminuta intervenção humana.
Se os glaciares tivessem continuado a recuar ao mesmo ritmo hoje já pouco restava. Mas eles ainda estão lá. De 1953 a 1976, desapareceram outros 21 % da área original. Recorde-se que nestas pouco mais de duas décadas aconteceu parte do Óptimo Climático Contemporâneo (seis anos) e sucedeu parte do período de arrefecimento (dez anos).
Isto é, mesmo com temperaturas médias globais estacionárias entre 1930 e 1960 seguidas de uma descida entre 1960 e 1970, os glaciares de Hemingway continuaram a minguar.
Seria caso para dizer, em 1976, que «os glaciares do Kilimanjaro iriam desaparecer até 2015 se continuasse a tendência de “arrefecimento global”». Isto mostra obviamente que não existe correlação entre a evolução dos glaciares do Monte de Kilimanjaro e a temperatura média global.
De 1976 até 2000 desapareceram outros 12 % da área inicial dos glaciares. Ou seja, quando a temperatura média global conheceu uma taxa de crescimento mais acentuada, a redução dos glaciares verificou-se a uma taxa mais reduzida.
Em 1979 entraram em acção os satélites meteorológicos. Poucos discordam que eles fornecem observações mais seguras do que os rudimentares termómetros de superfície. Pois os dados dos satélites são surpreendentes como se verifica na Fig. 41.
A figura está estilizada como é comum em documentos da NASA. Representa uma quadrícula com evoluções da temperatura entre 1979 e 2001. Essas evoluções são calculadas em variações da temperatura por década.
Em climatologia a década já é importante para estudos evolutivos. As variações vão dos – 1 ºC / década (azul escuro) a + 1 ºC / década (vermelho escuro). O branco significa temperaturas estacionárias por década.
Portugal aparece parcialmente na fotografia com uma tendência da ordem de +0,1 ºC / década a + 0,2 ºC / década. Portugal está a arder? Esta tendência tem a ver com o aumento da pressão atmosférica que se verifica desde a década de 70 do século XX. O motivo é a formação dos campos de pressão originada pelas passagens dos anticiclones móveis polares.
A figura mostra um arrefecimento de 0,22 ºC / década entre 1979 e 2001 à volta da região do Kilimanjaro para camadas atmosféricas situadas entre 1500 metros e 4500 metros (o pico situa-se a cerca de 6129 m). No entanto, os seus glaciares mantiveram o recuo durante este período de arrefecimento local!
Este exemplo mostra que a evolução de um glaciar não depende exclusivamente da temperatura com diz o glaciologista francês Prof. Robert Vivian. Consequentemente, estas histórias nunca têm em consideração a realidade. Servem para chercher à épater les bourgeois.
Vivian diz que, em primeira aproximação, a evolução de um glaciar depende das precipitações invernais e das temperaturas estivais. Mais detalhadamente, não depende da média das temperaturas e das precipitações.
Depende da distribuição da temperatura e das precipitações segundo os meses do ano e do papel dos dados hipsométricos do glaciar. Incluindo a pressão atmosférica e o coeficiente de atrito entre o gelo e o suporte, entre outras variáveis.
Os dados a analisar devem ser mais finos do que a grosseira média anual. Interessa considerar a escala sazonal, trimestral, mensal e diária. A vida de um glaciar depende da sua localização.
Os glaciares, tal como o clima, de modo quase síncrono, flutuam de modo sazonal, interanual, secular e milenar. Em determinados períodos, uns glaciares recuam, outros avançam e, ainda, há glaciares que se mantêm estacionários.
Não deve haver motivo para alarme. Os glaciares do Kilimanjaro, tal como outros actualmente em contracção, serão recuperados mais tarde. Os nossos descendentes, de várias gerações, serão testemunhas disso.
(1) Thompson, Lonnie et al. 2002. Kilimanjaro ice core records: Evidence of holocene climate change in tropical Africa. Science 298: 589-93.
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