Dinâmica do Árctico (2)
Por exemplo, os AMP que são encaminhados para a América do Norte seguem pelos desfiladeiros das montanhas da Gronelândia, da ilha de Ellesmere e da ilha de Baffin. A frequência das trajectórias americano-atlânticas é de um AMP em cada 2 a 3 dias.
Repare-se como a teoria moderna da meteorologia e climatologia está muito associada ao estudo da geografia e da topografia. Estas disciplinas começam a estar ligadas na explicação dos fenómenos meteorológicos e climáticos.
No corredor formado pela ilha de Baffin e as Montanhas Rochosas, os AMP impelem ar continental frio e seco em direcção ao Norte da América, nomeadamente, no Inverno quando a neve e o gelo cobrem a região.
Não admira, pois, que a temperatura do norte do Canadá (a ocidente do Árctico) varie pouco e apresente valores negativos. À medida que caminham para o Sul, os AMP desviam o ar que encontram pela frente.
Este ar, mais húmido e mais quente, segue o caminho inverso para o Árctico. Aproveita a boleia do percurso ciclónico de baixas pressões correspondente ao corredor periférico dos AMP.
Tal como acontecia com o ar frio que se dirigia para Sul, o ar quente é encaminhado, agora em sentido contrário, pelos mesmos relevos geográficos, assinalado na figura 49 por meio de setas de traço interrompido.
A dinâmica dos AMP é um factor de complexidade para a avaliação da temperatura e da pressão na região. Quanto mais potentes e frios são os AMP, mais intensos e quentes são os fluxos ciclónicos de retorno. Eis o motivo da dificuldade desta determinação.
Embora estejamos longe do Antárctico, aproveita-se para salientar que esta mesma complexidade se apresenta nessa outra região. Por isso, levantam-se sempre grandes dúvidas sobre o valor dos estudos das temperaturas polares.
A passagem de um sistema de AMP, em vez de um único, com alternância de ar quente e de ar frio em sentidos inversos, agrava a situação. Os valores extremos das temperaturas associados às baixas e altas pressões não têm significado físico.
As sequências de ar quente de curta duração e de ar frio de longa duração é que dão o verdadeiro significado físico em que se devia basear a investigação. No entanto, não são consideradas as durações das fases de ar quente e frio na determinação das temperaturas destas regiões.
Esta imperfeição é patente quando o cálculo se baseia apenas na média aritmética entre as temperaturas máximas e a mínimas verificadas. Dever-se-ia calcular o valor médio do integral das temperaturas instantâneas de um determinado período.
A temperatura média, tal como se calcula, não representa uma região tão complexa com zonas muito frias e menos frias e com dinâmicas variadas. Além disso, as séries históricas das temperaturas pertencem a registos de estações meteorológicas situadas apenas na periferia do Oceano Árctico (Vd. Fig. 13 - as estações estão assinaladas com pontos vermelhos).
Resumidamente, a maioria das análises baseada em temperaturas médias descrevem imperfeitamente todo o Árctico. A evolução actual, incluindo a da Gronelândia, não deve ser assacada ao «global warming».
A situação da região boreal, contando com a Gronelândia, relativamente aos mares de gelo, aos permafrosts (terras geladas), aos campos de gelo (banquisas) e aos glaciares deve ser analisada fora do preconceito do «global warming».
Antes, os acontecimentos podem ser considerados proxies da hiperactividade dos anticiclones móveis polares iniciada a partir dos anos 70 do século XX (talvez 1976). O parti pry do «global warming» introduz erros de avaliação tremendos.
Mais tarde, quando analisarmos em pormenor o célebre relatório da ACIA-Arctic Climate Impact Assessment, veremos os erros grosseiros que foram cometidos quando se aborda a região do Árctico sem aprofundar os conhecimentos da sua dinâmica.
(continua)
Corrigida a gralha (detectada por leitor): permafrost; ...Montanhas...(em vez de ilhas)