quarta-feira, março 08, 2006

Menino mal comportado?

Wilson e Morales são incapazes de diagnosticar o que acontece aos glaciares andinos fora do preconceito do «global warming». A superstição não lhes permite ver outra causa que não seja o dióxido de carbono.

Como o El Niño influencia, de tempos a tempos, o clima do Peru, acusam-no como sendo o culpado da retracção dos glaciares. Nada mais a calhar do que dizer ainda que a génese do El Niño está no dióxido de carbono antropogénico.

Os diagnósticos vão sempre parar ao mesmo. A Fig. 43 revela, de facto, picos da temperatura do Peru durante os acontecimentos do El Niño nos anos de 1997, 1983 e 1972. Mas e nos intervalos de repouso do El Niño?

Wilson escreveu que o El Niño é o culpado da rápida retracção dos glaciares peruanos e acrescentou: «Muitos cientistas confirmam que o aumento da frequência e da intensidade do El Niño é devido à poluição».

Porém, só é conhecido um climatologista que faz aquela afirmação. Trata-se de Kevin Trenberth, outro «climate star» sempre disponível para aparecer na TV. Como pertence ao National Centre for Atmosferic Research devia ter mais cuidado na acusação que faz.

Kevin escreveu em newlleters do NCAR que encontra uma ligação directa entre o El Niño e a poluição. Mas como é ele descobriu essa relação? Andou a observar a atmosfera dos Andes ou do Pacífico?

Não. De facto, o que ele encontrou foram resultados da aplicação de modelos do NCAR. Não foi a realidade, foram modelos a substituir a realidade. Curiosamente, outros modelos, como os do Hadley Centre, fornecem resultados que não confirmam os do NCAR.

Quando confrontados com diferentes resultados da aplicação de modelos, seria inteligente da parte dos seus utilizadores olhar para a realidade. Mas nem todos o fazem. Ficam fascinados com os resultados impressos nos rolos de papel que saem dos computadores.

Certa ocasião, James E. Hansen, num debate, quando apertado perante as suas contradições, disse: «De vez em quando devemos esticar o pescoço, colocar a cabeça do lado de fora da janela (dos modelos) e olhar para a atmosfera (observar o mundo real).

A Fig. 45 traça a evolução quinquenal (médias de cinco anos seguidos) do índice OA (Oscilação Austral). Este índice, determinado pela diferença de pressões em sítios distintos, é parente do índice ONA ou OAN (Oscilação do Atlântico Norte).

O índice OA apresenta-se como uma variável proxy da actividade do El Niño. A figura indica valores entre 1872 e 2004. Valores negativos do OA estão associados ao aparecimento do El Niño. Quanto mais negativos, mais forte é o El Niño.

A actividade do El Niño nos anos 90 do século passado foi inusitada. Depois adormeceu. Mas continuou o aumento das emissões globais do dióxido de carbónico devido às actividades humanas. E também a contracção dos glaciares andinos.

Portanto, duvida-se que o El Niño seja capaz de fazer encolher os glaciares do Peru pelo seu “mau” comportamento. As causas vêm de trás. Começaram a aparecer muito antes da revolução industrial.

Se o El Niño encurta os glaciares quando aparece, então estes deviam ter diminuído a retracção entre os anos 50 e 90 do século passado em que ele esteve quase sempre adormecido. Mas tal não sucedeu.

A Fig. 45 foi construída a partir da base de dados da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA). Em terminologia anglo-saxónica o índice OA é designado por SOI (Southern Oscillation Index).

O índice ONA ou OAN foi tratado no Mitos Climáticos, por exemplo, nas notas (1), (2), (3), (4).