sexta-feira, março 03, 2006

Glaciares peruanos

Em 9 de Julho de 2001, o correspondente no estrangeiro do Washington Post, Scott Wilson, lembrou-se de justificar a sua avença com a história «Warming Shrinks Peruvian Glaciers» (o aquecimento global encolhe os glaciares peruanos).

A história foi embrulhada pelo peruano Benjamin Morales que Wilson apresentou como sendo “the dean of Peru’s glaciologists” (o decano dos glaciologistas peruanos). Descreveu os glaciares peruanos como “the world’s most sensitive thermometers” (os termómetros mais sensíveis do planeta).

Afirmou: “The temperature was rising very slowly until 1980, and then” – conforme descrito por Wilson – “sweeps his arm up at a steep angle” (a temperatura aumentou ligeiramente até 1980 mas depois subiu como uma encosta íngreme).

É fácil descobrir que os valores históricos da temperatura superficial do Peru desde 1900 não suportam a afirmação do decano peruano (Vd. Fig. 43).

Os dados históricos mostram que houve um aumento de 1,5 ºF de 1900 até 2000. A subida verificou-se apenas a partir do shift climático de 1976. Antes desta data não se nota qualquer aumento significativo.

Mesmo depois de 1980 as temperaturas do Peru não cresceram significativamente. Mas a verdade é que os glaciares peruanos começaram a retrair há pelo menos 150 anos. Quem acredita que o decano dos glaciologistas peruanos não tinha conhecimento deste fenómeno?

Até o IPCC reconhece que há cerca de um quarto de século se verificou o shift para o qual Mitos Climáticos tem vindo a chamar a atenção. É a partir desse fenómeno que se nota a mudança do clima.

A Fig. 43 – construída a partir das estatísticas da Climatic Research Unit, UK –, mostra que a partir de 1976 (já os glaciares encolhiam) houve uma variação das temperaturas no Peru. O salto de 1976 é designado por alguns climatologistas, como Patrick J. Michaels, “The Great Pacific Climate Shift”.

Esta descontinuidade brusca é atribuída, pelos clássicos, ao fenómeno do El Niño. Marcel Leroux atribui à brusca alteração do modo rápido da circulação geral da atmosfera ao nível da troposfera que é realizada pelos anticiclones móveis polares.

O shift não é capaz de ser reproduzido por qualquer dos modelos que se conhecem. Estes não são capazes de descrever ou prever qualquer descontinuidade. Só prevêem aumentos contínuos de temperatura.

Assim, quem admite que os gases antropogénicos devem ser julgados em tribunal da opinião pública pelo shift deve obrigar os modeladores a construírem um modelo diferente daqueles que actualmente prevêem o apocalipse de 2100.

Para sustentar as premissas da sua história, o jornalista Scott Wilson citou o glaciologista Lonnie Thompson, da Universidade de Ohio, que, uma vez mais, estimou que a maioria dos mantos de gelo do planeta poderia desaparecer nos próximos quinze anos.

Ao mesmo tempo, Wilson descobriu alguns dissidentes climáticos não especificados: «Other scientists say this is implausibly fast» (outros cientistas afirmam implausível esta rapidez).

Escudado, por um lado, com o argumento de um nome famoso (o “climate star” Lonnie) e atribuindo, por outro lado, a incerteza a nenhum nome em particular, o jornalista enviesa os leitores para uma certa direcção. É uma técnica aprimorada de manipulação da opinião pública.

Mas, para avaliar o argumento do “climate star”, pergunta-se: que género de alteração nas temperaturas peruanas seria necessário acontecer para derreter os glaciares peruanos em quinze anos?

Primeiro, admitamos – de acordo com princípios básicos – que a temperatura do ar diminui cerca de 2,2 ºC (4 ºF) por cada 1000 pés (330 m) de aumento de cota. Depois, admitamos que a temperatura média ao nível das águas do mar, no Peru, é de cerca de 22 ºC (72 ºF).

Uma conta rápida mostra que seria necessário um aquecimento de cerca de 11 ºC (19,8 ºF) para aumentar a temperatura média estival acima dos 0º C (ponto de congelação – freezing) a uma altitude de 15 000 pés (4570 m).

Isto é lógico, pois:

22 ºC +11 ºC = 33 ºC; 33 ºC – (15 x 2,2) ºC = 0 ºC
já que (15 = 15 000 / 1000).

Ainda daria uma grande margem – pelo menos uma milha de altitude (1609 metros = 5280 pés) – para haver acumulação de neve; tendo em conta que muitos dos picos andinos no Peru ultrapassam os 20 000 pés.

Não existe um único cenário de alterações climáticas que aponte para este aumento espectacular de temperatura perto do equador, mesmo em 2100. Nem um. Só por absurdo se pode afirmar que dentro de quinze ou vinte anos vão desaparecer as neves dos Andes.

Os autores deste absurdo são personagens bem identificadas: Scott Wilson, Benjamin Morales e Lonnie Thompson. Depois, estas histórias expandem-se a um ritmo veloz sem cuidar da veracidade dos factos.

Como esta, outras histórias vão circulando sem alicerces verdadeiros. Como dizia outro “climate star” Stephen H. Schneider, em 1989, em duas afirmações curiosas:

To capture the public imagination, we have to offer up some scary scenarios, make simplified dramatic statements and little mention of any doubts one might have."
(Para captar a opinião pública, devemos oferecer cenários assustadores, fazer afirmações simples e dramáticas com poucas razões para dúvidas.)

Each of us has to decide the right balance between being effective, and being honest.” (Cada um de nós deve decidir entre ser eficaz e ser honesto.)

São “cientistas” deste jaez – grande colaborador do IPCC – que, por exemplo, o The New York Times gosta. Ajudam a vender papel…