Dinâmica do Árctico (1)
Para analisar o tempo e o clima de uma determinada zona ou região do planeta não é suficiente estudar a evolução da temperatura ou de uma outra qualquer variável isolada. Este é um dos maiores erros que está subjacente ao dossier do «global warming».
No caso do Árctico, verificámos anteriormente que a temperatura se comporta de modo diverso consoante o quadrante em que se pode dividir a região. O mesmo se passa com a área do mar gelado ou a espessura dos mantos de gelo.
De qualquer modo, afastada a hipótese simplista do efeito de estufa antropogénico para aquela região de tão profundo défice térmico, deve ser sempre contemplada uma análise da dinâmica aerológica.
Considerar apenas o efeito radiativo é imaginar que vivemos num qualquer planeta dos macacos em que nem sequer existisse vento. É a tendência para a qual nos querem convencer que vamos a caminho com o cenário do «global warming».
De facto, se os pólos aquecessem conforme os utilizadores dos modelos dizem que estes indicam, o gradiente de temperatura entre latitudes amorteceria. Mas não é nada disto que se passa.
Há que considerar a advecção (que palavra rebarbativa!) correspondente ao transporte do ar de um lado para o outro. Genericamente, trata-se da circulação geral da atmosfera que se processa ao nível da troposfera.
Aqui começa a distinção entre os conceitos clássicos e os modernos. Ambos admitem a existência da circulação geral da atmosfera devida às diferenças de temperatura entre os pólos e os trópicos.
Enquanto a teoria clássica imagina o transporte essencialmente feito a partir do ar quente dos trópicos, a moderna explica que é o ar frio dos pólos que comanda tudo na vida meteorológica e climática do nosso planeta.
Aquela teoria tem avançado as explicações clássicas do comportamento climático do Árctico. Como não podia deixar de ser, o efeito de estufa aparece num elevado número de propostas explicativas.
Mas, mesmo entre os clássicos, não são poucas as críticas feitas à consideração do efeito de estufa que aparece para se introduzir o antropogénico à socapa. Numa região de tão profundo défice térmico, o que andaria o efeito de estufa antropogénico a fazer?
Essas vozes não se calam e há quem lhes dê ouvidos. Porém, vozes mais avisadas, ainda que com raciocínios clássicos, avançam com outras possíveis causas. Nestas encontram-se os índices estatísticos como sejam o LFO, o NAM, o AO. E, ainda, os mais conhecidos, NAO e o ENSO (Vd. Nota).
Misturada com índices aparece às vezes a corrente oceânica termohalina (de sal). Mas o que representam todos esses índices? Sabe-se que são obtidos através dos registos de valores históricos dos serviços meteorológicos. Mas que significam?
As causas e os mecanismos que conduzem à existência daqueles registos ficam por esclarecer. Por exemplo, o índice NAO ou OAN, que diz muito aos portugueses, é obtido através das diferenças das pressões atmosféricas dos Açores (ou de Lisboa) e da Islândia.
Mas como se produzem essas pressões? E qual é o motivo por que umas vezes sobe e outras desce a alta pressão dos Açores ou a baixa da Islândia? São profundos mistérios a que os conceitos clássicos não dão resposta.
Na era da proliferação dos modelos, tenta-se resolver o assunto com equações matemáticas a que chamam modelos regionais. Mas como é possível traçar um modelo se não se sabe explicar o fenómeno que se pretende reproduzir?
Falta conhecer a explicação do mecanismo da circulação geral que transporta o ar de e para as altas latitudes. Então, na zona dos pólos, muito especialmente na boreal, a complexidade é enorme.
Os satélites meteorológicos vieram ajudar a encontrar uma solução que satisfaz não só às regiões polares como a todas do planeta. Principalmente nas latitudes elevadas e temperadas, é seguramente a melhor das explicações existentes.
Estamos a falar do conceito dos anticiclones móveis polares. Estes explicam os mecanismos da evolução térmica do Árctico. A consideração dos AMP fornece uma explicação coerente por meio do comportamento aerológico da região.
A circulação geral é consequência da radiação que tem o máximo nos trópicos. O veículo principal das trocas meridionais é o AMP. Este actua directamente no sentido pólos-equador e indirectamente no sentido inverso.
Indirectamente, provoca o retorno do ar tropical para os pólos. As variações diárias, sazonais e de longo prazo dependem do défice térmico polar. As baixas camadas são fortemente condicionadas pelos relevos geográficos, nomeadamente topográficos. Inclusive na região boreal.
É o ar de retorno que afecta as temperaturas boreais e austrais das altitudes elevadas. A influência nas altitudes baixas, como o mar gelado, é devida à actividade quase imediata dos AMP que estabelece campos de ventos quentes com circulações violentas de retorno próximo.
Este último fenómeno aconteceu nas proximidades atlânticas de Portugal no dia 29 de Janeiro de 2006 quando nevou no País. Trata-se do efeito Venturi que teremos oportunidade de analisar mais adiante.
Os AMP têm a máxima importância porque são os actores principais das trocas meridionais por meio de transferências horizontais (advecção). São as baixas camadas que influenciam as camadas superiores. Não é o inverso
As camadas baixas determinam os campos de pressão e de ventos (voltaremos a falar destes). São elas que provocam as transferências verticais ascendentes. A repetição destes fenómenos marca o estado do tempo e o clima desde tempos imemoriais.
Seguir-se-ão explicações que os satélites permitem tirar ao se observarem as imagens directas da evolução dinâmica das massas de ar que saem perfeitamente organizadas e cadenciadas em qualquer estação do ano.
Nota:
LFO-Low-Frequency Oscillation; NAM-Northen Annular Mode; AO- Arctic Oscilation; NAO-North Atlantic Oscilation; ENSO-El Niño-Southern Oscilation.
(continua)
Corrigido (chamada de atenção de um leitor): ...mecanismos que conduzem à existência daqueles registos...; ...mistérios a que os conceitos...;...meridianas...por meridionais...
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