A grande seca do Sahel
Nos trópicos, as condições da pluviogenesis podem sofrer perturbações que dificultam a precipitação. As condições do transporte de vapor de água de longa distância e a ascendência podem ser especialmente perturbadas.
As perturbações advêm, fundamentalmente, de fenómenos de interferência dos alísios, que sopram dos continentes para os oceanos, e do equador meteorológico. Tanto uns como o outro podem dificultar a precipitação.
A definição clássica de equador meteorológico pode ser encontrada na internet, por exemplo, nos seguintes links: (1), (2), (3), (4). Em relação à definição moderna só em livros é possível encontrá-la como no referido no fim deste post.
O equador meteorológico (EM) forma-se na zona de confluência dos AMP boreais e austrais junto ao equador geográfico (EG). Em termos gerais, no Inverno do Hemisfério Norte, o EM é empurrado para Sul.
Nas fases frias, como aconteceu na Pequena Idade do Gelo, o EM situa-se a sul do EG sobre o continente Africano. Em fases quentes, como sucedeu no Óptimo Climático do Holoceno, o EM situa-se a norte do EG por cima do continente Africano.
Consequentemente, a posição do EM sobre o continente Africano é definidora da fase ou do cenário quente ou frio que se vive, pelo menos, em África. E na fase actual situa-se, manifestamente, a sul do EG, desde os anos 1970. Isto é, após o shift de 1975/76.
A trágica e alarmante falta de chuvas de Verão ao sul do Sara que se verifica desde os anos 1970 continua a subsistir nos dias de hoje com pequenas remissões locais. Essa tragédia faz-se sentir em lagos que estão a secar na região de Dakar e na República do Chade.
O caudal do rio Níger reduz-se a zero. As colheitas minguam. Verifica-se um êxodo forçado das populações rurais que sentem falta de alimentos para a sua subsistência. Daqui resultam muitos conflitos sociais.
Têm sido adiantadas hipóteses sem consistência para tentar explicar este fenómeno meteorológico local. Vão desde a interferência do Homem africano – que alteraria o albedo – até ao inevitável «global warming» devido aos malfadados gases antropogénicos do Homem planetário.
Mas a verdade é que grande seca do Sahel resulta da alteração da circulação geral da atmosfera que tem vindo a provocar aglutinações anticiclónicas não só sobre o Atlântico (Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde) mas também sobre o continente Africano (Mauritânia, Senegal, Mali, Níger, Chade, Sudão).
O aumento das pressões atmosféricas que se tem vindo a verificar na Europa também se estendeu para Sul. Especialmente, sobre o norte do continente Africano. A pressão tem subido da Mauritânia ao Djibuti, passando pelo Senegal, Sudão, etc.
A propósito, nenhum modelo informático do clima inclui quer a inversão dos alísios quer o equador meteorológico. Não existem equações matemáticas capazes de reproduzir estes fenómenos reais como muitos outros (representação das nuvens, p.e.).
O fantasista Al Gore, no livro/filme «Uma Verdade Inconveniente», culpa o aquecimento global pelo desaparecimento do Lago Chade o que, por sua vez, contribuiu para a fome e o genocídio. O seu émulo português Filipe Duarte Santos disse o mesmo no programa da RTP2 no dia 8 de Junho de 2008.
A falta de rigor das afirmações de ambos tem consequências deploráveis na desinformação da opinião pública. E tais intervenções, por estranho que pareça, são mais graves da parte de Filipe Duarte Santos porque, ao contrário de Al Gore, se apresenta como investigador universitário, mas denota uma grande falta de conhecimentos nesta matéria.
A grande seca do Sahel e demais fenómenos meteorológicos e climáticos do continente Africano são descritos por Marcel Leroux no livro The Meteorological and Climate of Tropical África, Springer & Praxis, 2001, 548 páginas, ISBN 3-540-42636-1.
Esta obra resultou do estudo encomendado pela Organização Meteorológica Mundial ao climatologista que mais percebe do clima de África e não só. O livro inclui 225 figuras e um CD com 350 mapas que relatam os vários factores da meteorologia e climatologia e os seus efeitos no continente Africano.
Foi durante a execução deste estudo que Marcel Leroux encontrou inconsistências na teoria clássica relativamente às explicações da estrutura troposférica da África tropical. Pôs em dúvida o esquema tricelular clássico da circulação geral da atmosfera que é o pilar básico da climatologia clássica.
Marcel Leroux procurou então um outro esquema que se ajustasse à realidade observável. Estando em Cabo Verde, imaginou que a circulação tinha origem nos Pólos. As imagens enviadas pelos satélites meteorológicos vieram confirmar esta hipótese. A dinâmica dos anticiclones móveis polares era manifestamente visível.