Charles Muller (*)
O climatologista polaco Rajmund Przybylak [da Universidade Nicolaus Copernicus, Torun, Polónia] publicou uma dezena de estudos sobre os climas nórdicos e árcticos, bem como um recente livro de referência sobre a questão (
Przybylak, 2003) (
2). As suas conclusões provisórias são contrárias às do IPCC e do
IASC.
Anteriormente, em 2002, R. Przybylak publicara uma análise detalhada das temperaturas árcticas a partir de dez estações meteorológicas representativas do conjunto dos sub-climas da região.
O climatologista analisou a temperatura média, máxima e mínima assim como a amplitude diária, entre 1951 e 1990, para determinar a evolução das tendências intra-sasonais e inter-anuais durante quatro décadas.
A maioria dos dados assim recolhidos revela-se com tendência “não significativa”, isto é, sem tendência clara para o aquecimento ou para o arrefecimento. As variações intra-sasonais são bastante positivas para o Árctico norueguês e para o este da Gronelândia, mas negativas nas zonas árcticas russa e canadiana.
O árctico russo [e o canadiano] tende a arrefecer, enquanto que se observa uma tendência inversa noutros lugares. [Esta conclusão, para a região árctica, confirma que, resumidamente, no este arrefece e no leste aquece, neste caso, por motivo da acção das depressões atmosféricas que para aí conduzem ar quente no processo da circulação geral da atmosfera.]
Conclusão do investigador: “A não observação de uma alteração significativa na variabilidade intra-sasonal e inter-anual da temperatura média, da temperatura máxima e da temperatura mínima, bem como da amplitude diária, é uma prova suplementar (ao lado da temperatura média) de que não se pode identificar no Árctico, no período 1951-1990, a manifestação tangível do efeito de estufa (
Przybylak, 2002) (
3).
Dois anos antes, R. Przybylak fez sensação ao pôr em causa a fiabilidade dos métodos utilizados pelo IPCC, pelo menos no que respeita ao clima árctico. Num período mais limitado (1991-1995), o climatologista analisou a evolução das temperaturas das 37 zonas árcticas e das 7 zonas sub-árcticas.
Estas regiões estão representadas por 30 ‘caixas’ [paralelepípedos que sobressaem da superfície terrestre] nos modelos informáticos actuais. Estas ‘caixas’ representam uma malha tridimensional [da troposfera] terrestre onde se introduz o máximo de dados pertinentes (temperatura, radiação solar, precipitação, pressão, vento, etc.) para se determinar de seguida os balanços e as tendências.
Os modelos meteorológicos e climáticos utilizam malhas comparáveis (de dez a cem quilómetros entre nós segundo as zonas e os modelos), que são entretanto parametrizadas de maneira diferente segundo se estuda as previsões de curto, de médio e de longo prazo.
Este estudo de Przybylak tirou várias conclusões:
- O aquecimento dos anos 1990 foi tanto mais marcado quanto mais nos afastamos dos climas polares e nos aproximamos dos climas temperados o que contraria as previsões actuais (de aquecimento mais marcado no Pólo) dos modelos [informáticos] do clima.
O aquecimento global do período 1991-1995 no Árctico foi de 0,1 º C/década, enquanto que o aquecimento, no mesmo período, foi de 0,3 ºC/década no Hemisfério Norte, 0,2 ºC/década no Hemisfério Sul e de 0,26 ºC/década para a média do Globo; [Acentuou-se o gradiente de temperatura entre o Pólo Norte e a zona inter-tropical pelo que se acentuaram as trocas meridionais de energia e de massas de ar.]
- A correlação entre as temperaturas das estações [meteorológicas] e as da grelha [de paralelepípedos] dos modelos é apenas de 0,56 o que significa que 70 % das temperaturas tomadas em consideração pelos modelos não se revêem nas temperaturas realmente observadas no solo;
- As temperaturas mais elevadas do século XX no Árctico foram observadas no decurso dos anos 1930, apesar de as emissões dos gases com efeito de estufa de origem humana terem sido [nessa altura] nitidamente mais insignificantes do que [são] hoje em dia (
Przybylak, 2000) (
4).
[Muito recentemente, Rajmund Przybylak publicou um artigo (
Przybylak, 2007) (
5) em que analisa opiniões de vários cientistas e afirma: “
Most researchers suggest that the key factors are the atmospheric and ocean circulations, which in recent years have been transporting significantly more warmth from the lower latitudes to the Arctic (see, e.g., Zhang and others, 2004).
Internal variability within the Arctic Climate System is also very often given as an explanation (e.g. Overland and Wang, 2005). The question is, however, whether these factors should still be treated as purely natural. It seems to me that they probably should not, but it is very plausible that the natural factors are still more powerful than the anthropogenic ones.”]
A equipa de Igor Polyakov (
International Arctic Research Center -
IARC, University of Alaska, Fairbanks) [Charles Muller escolhe as melhores fontes possíveis para nos falar do Árctico] também chegou a conclusões diferentes das do IPCC e do IASC (
Polyakov, 2003) (
6).
Esta equipa não se contentou com os dados da segunda metade do século XX, mas recuou o clima do Árctico até 1875. Os dados da região não são [apenas os] novos. A maior parte das observações antigas começou na Finlândia, em 1737 e 1749, nas latitudes superiores a 65 ºN.
A primeira estação russa foi instalada em Arkhangelsk em 1813. A primeira estação terrestre no Alasca abriu em 1897, mas as observações tiveram início em 1828. A recolha dos dados marinhos teve início no final do século XIX.
Não existe pois qualquer razão para excluir estes dados, é mesmo necessário inclui-los no estudo [comparativo] do clima do Árctico do século XX, marcado por oscilações de baixa frequência de 50-80 anos.
Os dados recolhidos por Polyakov mostram um aquecimento médio de 0,09 ºC/década entre 1875 e 2000, mais marcado no Inverno e no início da Primavera (recorda-se que no Inverno o gelo não funde porque as temperaturas são sempre, nitidamente, negativas).
Ao longo de todo o século XX, o aquecimento verificado no Árctico foi de 0,05 ºC/década, ligeiramente inferior ao global (0,06 ºC/década). É novamente ao contrário das previsões dos modelos climáticos que anunciaram uma acentuação do aquecimento dos Pólos.
Os autores também estimam que o Árctico era mais quente nos anos 1920 e 1930 do que no final do século XX. “O aquecimento por si só não é suficiente para explicar a retracção dos gelos no início dos anos 1980 e 1990”, conclui a equipa de Polyakov.
A explicação mais provável reside, na sua perspectiva, na passagem das pressões atmosféricas [predominantes] de um regime anticiclónico para um regime ciclónico [com depressões que canalizam o fluxo de ar quente para o Árctico].
Petr Chylek (
Los Alamos National Laboratory, EUA) e a sua equipa ocuparam-se da Gronelândia (
Chylek, 2004) (
7). Este enorme inlandsis de 1,8 milhões de metros quadrados, o único na região árctica, levanta regularmente receios de que a fusão dos gelos da sua calote glaciária resultaria numa subida considerável do nível dos mares e de prováveis perturbações climáticas à escala global.
Á escala do século XX verificou-se um ligeiro aquecimento global. Mas a análise detalhada dos dados deixa-nos perplexos. O aquecimento mais importante sucedeu nos anos 1920, quando se detectou um aumento das temperaturas de 2 ºC a 4 ºC no litoral gronelandês, podendo mesmo chegar aos 6 ºC nos Invernos em menos de uma década.
Não teve nada a ver com perturbações causadas pelo Homem, visto que as emissões de gases com efeito de estufa eram então irrisórias. Mais surpreendente ainda, a tendência média da Gronelândia depois dos anos 1940 foi de arrefecimento.
Este [arrefecimento] é mais pronunciado no pico da imensa calote glaciária [em Summit, com extensão ao
quase triângulo no topo da Terra], com uma queda de 2,2 ºC por década desde o início de medidas rigorosas efectuadas nesse local (a partir de 1987). Não só a Gronelândia não derrete como até reforça os seus gelos!
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(*) Charles Muller é o autor do blogue
Climat Sceptique.
(
2) - Przbylak, R. (2003),
The Climate of the Arctic, Springer, Kluwer Academic Publisher, Dordrecht, 288 p.
(
3) - Przbylak, R. (2002), Changes in seasonal and annual high frequency air temperature variability in the Arctic from 1951 and 1990,
International Journal of Climatology, 22, 9, 1017-1032.
(
4) - Przbylak, R. (2000), Temporal and spatial variation of surface air temperature over the period of instrumental observations in the Arctic,
International Journal of Climatology, 20, 6, 587-614.
(
5) - Przbylak, R. (2007), Recent air-temperature changes in the Arctic,
Annals of Glaciology, 46, 316-324.
(
6) - Polyakov et al. (2003), Long-term ice variability in Arctic marginal seas,
Journal of Climate, 16, 2078-2085.
(
7) – Chylek P. et al. (2004), Global warming and the Greenland ice sheet,
Climate Change, 63, 201-221.