segunda-feira, agosto 25, 2008

Século XX: início mais quente do que o fim

Charles Muller (*)

O clima do Árctico tem de ser apreciado no longo prazo como todos os outros climas. Antes de caracterizar uma subida ou uma descida da temperatura como “dramática”, “catastrófica” ou “sem precedentes” convém naturalmente reflectir sobre as amplitudes do passado. Acontece que o clima do Árctico se caracteriza por uma grande variabilidade. Vejamos algumas observações da investigação recente neste domínio.

Dahl-Jensen et al. (1998) (8) analisaram duas séries de dados retirados de cilindros de gelo das calotes gronelandesas que permitiram reconstruir temperaturas: de 50 mil anos (a partir de uma série da perfuração em altitude, designada GRIP) e outra de sete mil anos (da outra série da perfuração designada Dye3, situada 865 km mais a sul).

Eles concluíram que a Pequena Idade do Gelo foi mais fria do que actualmente, em média, 0,5 ºC a 0,7 ºC. Quanto às temperaturas recentes, “atingiram um máximo cerca dos anos 1990 e desceram nas últimas décadas.”

Wagner et Melles (2001) (9) estudaram um bloco de sedimentos de 3,5 m retirado de um lago perto da costa oriental da Gronelândia afim de identificar os traços orgânicos deixados pelas aves marinhas nos últimos 10 mil anos.

Os traços revelaram um máximo de actividade durante o período que vai do século IX ao século XIII (Período Quente Medieval) seguido de um declínio acentuado ou mesmo de uma ausência total de vestígios no meio da Pequena Idade do Gelo.

Os autores consideram a Pequena Idade do Gelo como pertencendo ao período mais frio do Holoceno. O século passado mostra um retorno das aves marinhas mas os sinais [dos ciclos] biogeoquímicos não atingiram os níveis do Período Quente Medieval.

Moore et al. (2001) (10) realizaram também uma análise de sedimentos lacustres (Lago Donard, Ilha de Baffin, Canadá) para o período de 750-1990 de modo a avaliar a temperatura média dos Verões desta região.

Foi detectado um período quente entre 1200 e 1375. O período mais frio começa a partir do ano 1375 que marca o início da Pequena Idade do Gelo, nesta região, que durou até 1800.

O período 1800-1900 traduziu-se por um aquecimento bastante rápido. Seguiu-se um arrefecimento que trouxe temperaturas novamente frias cerca de 1950. Os últimos quarenta anos ficaram assinalados por um alternância entre arrefecimento e aquecimento.

Kasper et Allard (2001) (11) estudaram as fendas de gelo do Norte de Quebeque (Salluit). As fendas de gelo são redes de polígonos regulares que se formam naturalmente no permafrost devido às amplitudes térmicas entre as estações e aos movimentos consequentes do gelo. [As televisões veneram as fendas com água a escorrer, que até parecem ser originadas pelo «global warming», mostrando-as com a presença de pseudo-cientistas a perorar contra o dióxido de carbono.]

Estes autores concluíram que, durante 4000 anos, o aquecimento foi mínimo até à Pequena Idade do Gelo. Depois desta, aconteceu um período de aquecimento até 1946, conforme está registado [nas fendas]. Após esta data, seguiu-se um arrefecimento no decurso da segunda metade do século XX.

Kaufman et al. (2004) (12) efectuaram uma meta-análise de vários índices (anéis das árvores, sedimentos lacustres, cilindros de gelo, etc.) de 140 sítios a norte da latitude 60 ºN na parte ocidental do Árctico (1 ºW-180 ºW).

Em cerca de 120 desses sítios encontraram provas evidentes de temperaturas do passado mais elevadas que as actuais (em termos médios do século XX). [A zona ocidental do Árctico apresenta tendência para arrefecer.]

A partir de 16 [daqueles] sítios, onde foi possível realizar estimativas, [Kaufman e colegas] concluíram que o máximo térmico do Holoceno foi mais quente (1,6 ºC ± 0,8 ºC) do que actualmente.
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(*) Charles Muller é o autor do blogue Climat Sceptique.

(8) - Dahl-Jensen D. et al. (1998), Past temperatures directly from the Greenland Ice Sheet, Science, 282, 268-271.

(9) - Wagner, B. and Melles, M (2001), A Holocene seabird record from Raffles So sediments, East Greenland, in response to climatic and oceanic changes, Boreas, 30, 228-239.

(10) - Moore J.J. et al. (2001), Little Ice Age recorded in summer temperature reconstruction from vared sediments of Donard Lake, Baffin Island, Canada, Journal of Paleolimnology, 25, 503-517.

(11) - Kasper J.N., M. Allard (2001), Late-Holocene climatic changes as detected by he growth and decay of ice wedges on the southern shore of Hudson Strait, Northern Quebec, Canada, The Holocene, 11, 563-577.

(12) - Kaufman D.S. et al. (2004), Holocene thermal maximum in the Western Arctic (0-180°W), Quarternry Science Reviews, 23, 529-560.