quinta-feira, agosto 28, 2008

O gelo não desaparece radicalmente (2)

Charles Muller (*)

Igor Poliakov e a sua equipa estudaram também a espessura do gelo (entre 1936-2000) e a sua extensão (entre 1900-2000), nos mares de Kara, Laptev, Sibéria oriental e Chukchi, todos eles do Oceano Árctico e ribeirinhos do norte da Sibéria (Poliakov, 2003) (13).

Para este estudo, estes cientistas beneficiaram do fim da confidencialidade da base de dados dos russos [que os mantiveram secretos, durante a designada guerra fria] permitindo, deste modo, uma avaliação de longo prazo.

Relativamente à espessura do gelo, os autores verificaram a existência de tendências positivas nos mares de Kara e Chukchi, negativas nos mares da Sibéria oriental e de Laptev. Em todo o caso, as alterações foram pequenas (cerca de 1 cm por década).

Conclusão destes autores: “O exame dos dados (…) indica que as tendências de longo prazo são fracas e geralmente insignificantes de um ponto de vista estatístico e que as tendências de curto prazo não são representativas.

Na revista Nature, Seymour Laxon e os seus colegas (Laxon, 2004) (14) acentuaram recentemente a “variabilidade interanual forte” da espessura do gelo do Árctico, com base em oito anos de dados dos satélites [de altimetria] ERS1 e ERS2.

No Inverno, a espessura média da banquisa situava-se, segundo eles, em 2,73 m – ou seja, uma grandeza uma vez e meia superior aos resultados dos modelos climáticos – com um desvio anual standard de 24,5 cm [9 % da média].

Por outro lado, considerando que o risco de emagrecimento do mar gelado pode ser real, Seymour e colegas notam nomeadamente: “Como os modelos não reproduzem correctamente a variabilidade da espessura do gelo do mar, frequente e termodinamicamente regulada, as alterações na cobertura de gelo do Árctico permanecem uma questão em aberto.

Além disso, a comparação da extensão anual da banquisa e da curva das temperaturas mostra um fenómeno de diferenciação interessante [Ver figura abaixo das áreas “Northen Hemisphere Sea Ice Extente”, da Universidade de Illinois na parte superior, e das anomalias das temperaturas e das pressões, de Igor Poliakov, na inferior.]

O primeiro gráfico provém da base de dados sobre as banquisas árcticas, da Universidade de Illinois. Mostra um declínio progressivo após 1950 [ainda antes do aparecimento dos satélites] da extensão primaveril, estival e outonal (mas não invernal!).

O segundo gráfico é uma reconstrução de [anomalias das] temperaturas (em cima) e das pressões [atmosféricas] à superfície (em baixo) da zona árctica realizada pela equipa de Igor Poliakov (Poliakov, 2003) (15). [É útil ler estoutro artigo (Poliakov, 2004) [16] .]

O comportamento da banquisa não segue aparente e directamente o das temperaturas. Se olharmos para a figura das temperaturas, relativa à zona 62 ºN – Pólo, verificamos um arrefecimento entre 1950-1972 e um aumento nítido depois de 1972.

Ora, as banquisas não aumentaram verdadeiramente durante o arrefecimento. Notamos também temperaturas mais elevadas nos anos 1920-1940 do que nos anos 1980-2000, mas faltou [adicionar] uma estimativa [da espessura] das banquisas nestas épocas para estabelecer uma comparação.

E o que se passa na Gronelândia? Em 2005, Ola Johannessen (Universidade de Bergen, Noruega) e colegas publicaram (Johannessen, 2005) (17) uma análise dos dados do islandsis gronelandês, em ocorrência de valores altimétricos das leituras dos satélites ERS1 e ERS2 coligidos entre 1993 e 2003 (ou seja, durante o máximo aquecimento [global] recente).

Foi encontrado um aumento [da cobertura de gelo] de 6,4 cm por ano em grandes áreas situadas ao longo do interior acima de 1500 m de altitude”, revelaram os investigadores. Abaixo dos 1500 metros, a cobertura de gelo teria perdido 2 cm por ano. Mas o saldo global permanece positivo para a Gronelândia com um ganho de 55 cm em 11 anos.

Recordemos de passagem que Greenland significa “terra verde” e que este nome foi dado pelos Vikings próximo do Ano Mil. Não há dúvidas de que nesse momento, não tão distante como isso, a fusão dos gelos no litoral gronelandês deveria ser bem mais pronunciada do que é actualmente…

No mesmo ano 2005, Richard Alley (Universidade da Pensilvânia, EUA) e colegas passaram em revista os estudos recentes sobre a fusão dos gelos polares e as consequentes elevações do nível do mar.

Concluíram que “ (Os modelos climáticos) não são capazes de avaliar as alterações em curso que representam pequenas perturbações em vias de estabilização ou alterações importantes que poderiam afectar significativamente o nível dos oceanos.” (Alley, 2005) (18).
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(*) Charles Muller é o autor do blogue Climat Sceptique.

(13) - Polyakov I. et al. (2003), Long-term ice variability in Arctic marginal seas, Journal of Climate, 16, 2078-2085.

(14) - Laxon S. et al. (2004), High interannual variability of sea ice thickness in the Arctic region, Nature, 425, 947-950.

(15) - Polyakov I. et al. (2003), Variability and trends of air temperature and pressure in the maritime Arctic, 1875-2000, Journal of Climate, 16, 12, 2067-2077.

[16] – Polyakov I. et al. (2004), Variability of the Intermediate Atlantic Water of the Arctic Ocean over the Last 100 Years, Journal of Climate, Vol. 17, Nº. 23, 4485-4497.

(17) - Johannessen O.M. et al. (2005), Recent ice-sheet growth in the interior of Greenland, Science, 310, 1013 -1016.

(18) - Alley R. et al. (2005), Ice-sheet and sea-level changes, Science, 310, 456-460.