O gelo não desaparece radicalmente (1)
Charles Muller (*)
Deve-se ter sempre em consideração o longo prazo: o que se disse para as temperaturas também é válido para o gelo do Árctico.
As espectaculares imagens dos satélites, amplamente reproduzidas depois da permissão das autoridades americanas, mostram uma inexorável redução da banquisa do Oceano Árctico nos meses de Setembro [quando se atinge o mínimo anual].
Mas estas imagens apenas começaram [a ser colhidas] em 1978/79 [data do início das observações dos satélites]. No entanto, como já se viu, o clima do Árctico distingue-se por oscilações multidecenais lentas.
Ao aquecimento do período de 1920 a 1940 seguiu-se um arrefecimento entre 1940 e 1970 e, de novo, um aquecimento acentuado a partir dos anos 1980. As imagens dos satélites para a extensão do gelo do Oceano Árctico tiveram pois início no fim de um período “frio” e no início de um período “quente”.
Não surpreende pois que nestas condições as imagens mostrem um decréscimo contínuo da massa de gelo [no fim da estiagem]. Apesar disso, transparece insistentemente um resultado [controverso]: em quatro décadas, o gelo do Oceano Árctico perdeu 40 % do seu volume (espessura).
Esta estimativa está especificada no TAR [Third Assessment Report] do IPCC e, desde então, é apresentada emblematicamente [para assustar a opinião pública, em geral, e pressionar os decisores políticos, em particular]. E o que é que ela representa?
Uma tal estimativa de diminuição de 40 % da cobertura do gelo árctico nos finais do Verão provém, no essencial, de um estudo publicado em 1999 por D. A. Rothrock et al. (Rothrock,1999) (8).
Neste artigo, os autores [da University of Washington, Seattle, Washington] mostraram que a espessura média do mar gelado do Árctico passou de 3,1 metros, no período de 1958-1976 [ainda não existia satélites], para 1,8 metros, no período 1993-1997 [já com satélites].
O cálculo é fácil de fazer e os autores não hesitaram em realizar operações bem simples: determinaram um “emagrecimento de 40 %” [(3,1-1,8) / 3,1] em 40 anos [1997-1958]. Esta estimativa foi confirmada no ano seguinte por outro estudo (Wadhams, 2000) (9).
Estes estudos deram rapidamente a volta ao mundo. [Pudera! Alarmar é preciso.] Mas isso não aconteceu com os artigos que criticaram a publicação destes resultados [feita sem uma análise adequada a acompanhá-los]. É o que veremos a seguir com alguns exemplos.
Peter Winsor utilizou os dados obtidos por seis submarinos que navegaram sob o Pólo Norte, no Mar de Beaufort, entre os anos 1991 e 1997. As análises das séries de dados mostram um ligeiro espessamento do gelo num primeiro caso e uma diminuição também ligeira num segundo caso.
Winsor fez a seguinte observação: “Ao combinar estes resultados com os daquele estudo precedente, concluo que a espessura média do gelo do mar se manteve sensivelmente constante no Pólo Norte entre 1986 e 1997” (Winsor, 2001) (10).
No mesmo ano [2001], Walter Tucker e a sua equipa confirma uma redução da espessura do gelo do Árctico ocidental, ao largo do Alasca, entre os anos 1980 e 1990. Mas não encontra o mesmo resultado no [restante] Pólo Norte. As diferenças encontradas são atribuídas aos efeitos dinâmicos locais do gelo e não ao aquecimento (Tucker, 2001) (11).
Em 2002, Greg Holloway e Tessa Sou (Greg, 2002) (12) sublinharam um problema de amostragem do estudo de Rothrock. Os dados provêm de expedições submarinas que são de natureza limitada (29 pontos) e local.
Estes dados não reflectem necessariamente o estado do mar gelado no seu conjunto. Sobretudo, o gelo que recobre o Oceano Árctico é móvel e depende estreitamente da força dos ventos que não foi tida em conta no estudo de Rothrock et al.
Os ventos dominantes sopram ao longo do Árctico e as correntes oceânicas ajudam a escoar gelo com ganhos e perdas do centro para a periferia. Utilizando um modelo próprio, Holloway e Sou determinaram uma redução de gelo de apenas 12 % a 16 % para o conjunto de toda a zona do Árctico [contra os 40 % de Rothrock].
_________
(*) Charles Muller é o autor do blogue Climat Sceptique.
(8) – Rothrock D. A. et al. (1999), Thinning of the Arctic sea-ice cover, Geophysical Research Letters, 26, 3469-3472.
(9) - Wadhams P. et al. (2000), Further evidence of ice thinning in the Artic Ocean, Geophysical Research Letters, 28, 1039-1041.
(10) - Winsor, P. (2001), Arctic sea ice thickness remained constant during the 1990s, Geophysical Research Letters, 28, 1039-1041.
(11) - Tucker W.B. et al. (2001), Evidence for rapid thinning of sea ice in the western Arctic Ocean at the end of the 1980s, Geophysical Research Letters, 28, 2851-2854.
(12) - Holloway, G., Sou, T. (2002), Has Arctic Sea Ice Rapidly Thinned?, Journal of Climate, 15, 1691-1701.
Deve-se ter sempre em consideração o longo prazo: o que se disse para as temperaturas também é válido para o gelo do Árctico.
As espectaculares imagens dos satélites, amplamente reproduzidas depois da permissão das autoridades americanas, mostram uma inexorável redução da banquisa do Oceano Árctico nos meses de Setembro [quando se atinge o mínimo anual].
Mas estas imagens apenas começaram [a ser colhidas] em 1978/79 [data do início das observações dos satélites]. No entanto, como já se viu, o clima do Árctico distingue-se por oscilações multidecenais lentas.
Ao aquecimento do período de 1920 a 1940 seguiu-se um arrefecimento entre 1940 e 1970 e, de novo, um aquecimento acentuado a partir dos anos 1980. As imagens dos satélites para a extensão do gelo do Oceano Árctico tiveram pois início no fim de um período “frio” e no início de um período “quente”.
Não surpreende pois que nestas condições as imagens mostrem um decréscimo contínuo da massa de gelo [no fim da estiagem]. Apesar disso, transparece insistentemente um resultado [controverso]: em quatro décadas, o gelo do Oceano Árctico perdeu 40 % do seu volume (espessura).
Esta estimativa está especificada no TAR [Third Assessment Report] do IPCC e, desde então, é apresentada emblematicamente [para assustar a opinião pública, em geral, e pressionar os decisores políticos, em particular]. E o que é que ela representa?
Uma tal estimativa de diminuição de 40 % da cobertura do gelo árctico nos finais do Verão provém, no essencial, de um estudo publicado em 1999 por D. A. Rothrock et al. (Rothrock,1999) (8).
Neste artigo, os autores [da University of Washington, Seattle, Washington] mostraram que a espessura média do mar gelado do Árctico passou de 3,1 metros, no período de 1958-1976 [ainda não existia satélites], para 1,8 metros, no período 1993-1997 [já com satélites].
O cálculo é fácil de fazer e os autores não hesitaram em realizar operações bem simples: determinaram um “emagrecimento de 40 %” [(3,1-1,8) / 3,1] em 40 anos [1997-1958]. Esta estimativa foi confirmada no ano seguinte por outro estudo (Wadhams, 2000) (9).
Estes estudos deram rapidamente a volta ao mundo. [Pudera! Alarmar é preciso.] Mas isso não aconteceu com os artigos que criticaram a publicação destes resultados [feita sem uma análise adequada a acompanhá-los]. É o que veremos a seguir com alguns exemplos.
Peter Winsor utilizou os dados obtidos por seis submarinos que navegaram sob o Pólo Norte, no Mar de Beaufort, entre os anos 1991 e 1997. As análises das séries de dados mostram um ligeiro espessamento do gelo num primeiro caso e uma diminuição também ligeira num segundo caso.
Winsor fez a seguinte observação: “Ao combinar estes resultados com os daquele estudo precedente, concluo que a espessura média do gelo do mar se manteve sensivelmente constante no Pólo Norte entre 1986 e 1997” (Winsor, 2001) (10).
No mesmo ano [2001], Walter Tucker e a sua equipa confirma uma redução da espessura do gelo do Árctico ocidental, ao largo do Alasca, entre os anos 1980 e 1990. Mas não encontra o mesmo resultado no [restante] Pólo Norte. As diferenças encontradas são atribuídas aos efeitos dinâmicos locais do gelo e não ao aquecimento (Tucker, 2001) (11).
Em 2002, Greg Holloway e Tessa Sou (Greg, 2002) (12) sublinharam um problema de amostragem do estudo de Rothrock. Os dados provêm de expedições submarinas que são de natureza limitada (29 pontos) e local.
Estes dados não reflectem necessariamente o estado do mar gelado no seu conjunto. Sobretudo, o gelo que recobre o Oceano Árctico é móvel e depende estreitamente da força dos ventos que não foi tida em conta no estudo de Rothrock et al.
Os ventos dominantes sopram ao longo do Árctico e as correntes oceânicas ajudam a escoar gelo com ganhos e perdas do centro para a periferia. Utilizando um modelo próprio, Holloway e Sou determinaram uma redução de gelo de apenas 12 % a 16 % para o conjunto de toda a zona do Árctico [contra os 40 % de Rothrock].
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(*) Charles Muller é o autor do blogue Climat Sceptique.
(8) – Rothrock D. A. et al. (1999), Thinning of the Arctic sea-ice cover, Geophysical Research Letters, 26, 3469-3472.
(9) - Wadhams P. et al. (2000), Further evidence of ice thinning in the Artic Ocean, Geophysical Research Letters, 28, 1039-1041.
(10) - Winsor, P. (2001), Arctic sea ice thickness remained constant during the 1990s, Geophysical Research Letters, 28, 1039-1041.
(11) - Tucker W.B. et al. (2001), Evidence for rapid thinning of sea ice in the western Arctic Ocean at the end of the 1980s, Geophysical Research Letters, 28, 2851-2854.
(12) - Holloway, G., Sou, T. (2002), Has Arctic Sea Ice Rapidly Thinned?, Journal of Climate, 15, 1691-1701.
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