segunda-feira, agosto 18, 2008

O fantasma da fusão dos gelos

Charles Muller (*)

As regiões polares estão a aquecer mais rapidamente do que o resto do planeta, o gelo derrete a velocidade vertiginosa, o mar gelado desloca-se, o nível do mar sobe inexoravelmente, os ursos polares vão desaparecer, os esquimós estão ameaçados … e o responsável por todas estas catástrofes em cadeia é o aquecimento global por culpa do homem, ou seja, devido à emissão dos gases com efeito de estufa.

Quem ainda não conhece esta ladainha dos media? No entanto, um exame cuidadoso da literatura científica revela uma história completamente diferente: os Pólos estão sujeitos a oscilações naturais importantes, os anos 1930 e 1940 foram tão quentes como os anos finais do século XX, o resto do planeta parece ter aquecido mais depressa que os seus Pólos, alguns glaciares avançam enquanto outros recuam, não há nenhuma certeza que nos permita recriminar os gases com efeito de estufa.

O Le Monde não tem a reputação de ser um jornal fantasista, explorando o sensacionalismo e o catastrofismo para aumentar as suas vendas. Eis o que se podia ler recentemente sobre o Árctico:

“O Árctico e o Antárctico são testemunhas privilegiadas das alterações climáticas, às quais os seus ecossistemas são vulneráveis. Durante o século XX, enquanto a temperatura média da superfície da Terra aumentou 0,6 ºC, os Pólos foram mais fortemente afectados do que as outras regiões” (Pierre Le Hir, Le Monde, 26 de Setembro de 2003).

“O Nunavut deverá brevemente mudar de emblema? O urso branco, nanuq em inuktitut [língua esquimó], que se apresenta no escudo, ‘terá desaparecido do Pólo Norte dentro de cinquenta a sessenta anos devido às alterações climáticas’, prevê Sheila Watt-Cloutier, presidente da Conferência Circumpolar Esquimó, representando 155 mil esquimós do Árctico.

Os peritos internacionais afirmam: ‘O Árctico será a região do Mundo mais afectada pelas alterações climáticas’. As observações multiplicam-se e as notícias não são boas: ‘O aumento das temperaturas (mais do dobro que anteriormente) fundem aceleradamente os glaciares, o permafrost e o mar gelado’” (Anne Pélouas, Le Monde, 16 de Junho de 2004).

“Nos anos 1980 o sinal era ambíguo. Nos anos 1990 a tendência tornou-se nítida. Nos anos 2000 torna-se clara: ‘O Árctico funde-se, diz Louis Fortier, da Universidade Laval, de Quebeque, a bordo do quebra-gelo de investigação Amundsen, onde percorre velozmente os corredores cheios de pequenos laboratórios. A sua afirmação resume o consenso científico a propósito do mar gelado do Oceano Árctico. Este reduz-se continuamente” (Hervé Kempf, Le Monde, 27 de Outubro de 2004).

Três autores, três datas, apenas uma conclusão: o Pólo Norte está muito mal. Este aquece com velocidade acelerada e o seu gelo sofre o retrocesso.

Os jornalistas não fazem mais do que repetir as conclusões do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) e, também, no caso do Pólo Norte, as conclusões do Comité Científico Internacional do Árctico (IASCInternational Arctic Science Commitee). O IASC é uma organização não governamental que colabora com o Conselho do Árctico, fórum político que reúne representantes do Canadá, dos EUA, da Noruega, da Finlândia, da Suécia, da Dinamarca, da Islândia e da Rússia. Estas duas organizações publicaram em 2004 o relatório intitulado Arctic Climate Impact Assessment (ACIA) em que só a parte científica pesa mais do que mil páginas.

O móbil parece bem explícito: o estado climático lamentável da região árctica pertence a um dos famosos “consensos” da comunidade científica. Ora, isto não é nada assim, como iremos ver. Tal como não existe qualquer consenso sobre o aquecimento global do planeta e sobre as suas causas, menos ainda existe consenso no que diz respeito ao Árctico. Para o compreender, primeiramente tem de se apresentar a região e as condições específicas que regem o seu clima. [É o que se fará a seguir]
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(*) Charles Muller é o autor do blogue Climat Sceptique que está em hibernação. Intitula-se «Auteur et journaliste scientifique. Et ouvert à toutes les compétences». O MC tem autorização para a reprodução de textos do CS.

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