O relatório, datado de 22 de Junho de 2006, da Academia Nacional das Ciências (NAS) dos Estados Unidos da América (EUA) intitulado «
Surface Temperature Reconstructions for the Last 2000 Years» retoma o polémico debate sobre o «
hockey stick». [Recordar (
1), (
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8)].
Tecnicamente, o relatório é um documento muito bem elaborado. Não é um estudo inovador. É uma compilação de estudos conhecidos sobre a matéria para dar resposta a uma solicitação do Congresso dos EUA.
O Sumário é algo inconsistente com o relatório, de 156 páginas. Exibe mesmo alguns desvios. São estes os que aparecem nos media. O painel responsável pela elaboração do relatório é predominantemente representativo da escola dos modelos climáticos.
Já o Prefácio é uma condenação dos objectivos pretendidos pelos autores do «
hokey stick» e pelo
Intergovernmental Panel on Climate Change-IPCC quando afirma (mantém-se a redacção original para evitar os inconvenientes possíveis de uma tradução):
«
The reconstruction produced by Dr. Mann and his colleagues was just one step in a longuer process of researche, and it is not (as sometimes presented) a clinching argument for anthtropogenic global warming, but rather one of many independent lines of research on global climate change.»
A NAS nomeou um ou outro não seguidor daquela escola dominante. Foi o caso de
John R. Christy, da Universidade de Alabama, Huntsville. Deste modo, evitou um veredicto totalmente favorável aos autores do «
hockey stick».
A Figura S-1, logo na página 2, representa 7 curvas de outros tantos estudos, incluindo a de Mann et Jones, de 2003, ou seja, o célebre «
hockey stick» na versão final. As provas analisadas, incluindo aquela figura, permitiram tirar as seguintes conclusões:
1ª)
The instrumentally measured warming of about 0.6 ºC during the 20th century is also reflected in borehole temperature measurements, the retreat of glaciers, and other observational evidence, and can be simulated with climate models.
2ª)
Large-scale surface temperature reconstructions yield a generally consistent picture of temperature trends during the preceding millennium, including relatively warm conditions centered around A.D. 1000 (identified by some as the “Medieval Warm Period”) and a relatively cold period (or “Little Ice Age) centered around 1700. The existence and extent of a Little Ice Age from roughly 1500 to 1850 is supported by a wide variety of evidence including ice cores, tree rings, borehole temperatures, glacier length records, and historical documents. Evidence for regional warmth during medieval times can be found in a diverse but more limited set of records including ice cores tree rings, marine sediments, and historical sources from Europe and Asia, but the exact timing and duration of warm periods may have varied from region to region, and the magnitude and geographic extent of warmth are uncertain.
3ª)
It can be said with a high level of confidence that global mean surface temperature was higher during the last few decades of the 20th century than during any comparable period during the preceding four centuries. This statement is justified by the consistency of the evidence from a wide variety of geographically diverse proxies.
4ª)
Less confidence can be placed in large-scale surface temperature reconstructions for the period from A.D. 900 to 1600. Presently available proxy evidence indicates that temperatures at many, but not all, individual locations were higher during any period of comparable length since A.D. 900. The uncertainties associated with reconstructing hemispheric mean or global mean temperatures from these data increase substantially backward in time through this period and are not yet fully quantified.
5ª)
Very little confidence can be assigned to statements concerning the hemispheric mean or global mean surface temperature prior to about A.D. 900 because of sparse data coverage and because the uncertainties associated with proxy data and methods used to analyze and combine them are larger than during more recent time periods.
Embora a análise da NAS tenha sido redigida com extremo cuidado – estava em causa o julgamento de um dos seus pares mais mediáticos –, nenhuma daquelas conclusões é favorável a Michael Mann e aos seus colaboradores.
Por exemplo, o relatório sustenta todas as criticas ao «
hockey stick» de Mann feitas pelos canadianos McIntyre e McKitrick. A NAS convidou mesmo um destes especialistas de estatística para depor perante o seu painel.
A realidade é que o «
hockey stick» tinha eliminado tanto a «
Little Ice Age» como o «
Medieval Warm Period». O relatório repõe a existência histórica destes acontecimentos paleoclimáticos.
A NAS esqueceu-se de dizer que Michael Mann foi o responsável principal do relatório do IPCC que também apresentou o «
hockey stick» como uma prova das teses perfilhadas.
Estranha-se que o relatório da NAS não comente a relutância de Michael Mann em fornecer a base de dados a outros cientistas que pretendiam corroborar (ou refutar) a sua tese. Foi esse um dos motivos que originou o descrédito e politizou a querela.
Nem ao Congresso dos EUA Mann deu resposta ao pedido de esclarecimentos. Esta atitude de estranha ética profissional levou o Congresso a solicitar à NAS a feitura deste relatório.
A revista «
Nature» publicou o primeiro dos artigos de Mann. Também se portou de modo pouco normal. Manifestou publica estranheza por esta intervenção política. Mas nunca estranhou a recusa de Mann em fornecer a base de dados. Comparou os críticos ao «
lobby» do tabaco.
O relatório não se inclina para o registo sem reservas da mão do homem na evolução recente das temperaturas. Preferiu destacar as incertezas nesta matéria. Sempre é mais seguro do que fazer afirmações sem base científica.
Uma das falhas do relatório consiste na ausência de crítica sobre o grau de precisão da base de dados do «
hockey stick». Uma leitura possível é que o cerne das árvores, base do «
hockey stick», não é o melhor
proxy para este tipo de estudos.
Outra, conjugada com aquela, é a de saber se é correcto misturar medidas obtidas através de termómetros do séc. XX com
proxies de cernes de árvores que cresceram numa dada região dos Estados Unidos da América no séc. XI.
O crescimento das árvores não é homogéneo em todas as estações do ano e em todas as horas do dia. Como tal, os valores
proxies estimados não devem ser extrapolados para períodos tão longos como um ano.
Em conclusão, o «
hockey stick» de Mann afirmava duas coisas que o Sumário (lido essencialmente pelos decisores políticos e pelos jornalistas) do
Third Assessment Report do IPCC, de 2001, reproduzia:
1) Nos últimos 1000 anos as temperaturas declinaram suavemente (até cerca de 1850), sem variações significativas – de forma tal que foram apagados tanto o «
Medieval Warm Period» como a «
Little Ice Age».
2) A mistura de valores reais e
proxies mostravam temperaturas mais elevadas no sec. XX do que no ano 1000 dC.
O relatório da NAS contradiz estas afirmações. Os tais 1000 anos de Mann foram reduzidos pela NAS aos últimos 400 (vide terceira conclusão referida anteriormente). Ou seja, após a última era de gelo a temperatura aumentou. Que grande admiração!
Adicionalmente, a base de dados dos cilindros de gelo da Gronelândia colhida por Dahl-Jensen (medidas termométricas) e por Cuffey (oxigénio 18) indicam temperaturas mais elevadas nos anos 1000 dC que as actuais.
A revista «
Nature» está, neste caso do “
hockey stick”, em maus lençóis. Pretendia safar-se com o relatório da NAS. Foi a revista que publicou o artigo de Mann e agora emite um “
press release” do mesmo estilo. Publica afirmações individuais de membros do painel fora do contexto das conclusões avançadas pela NAS.
Este episódio não dignifica a ciência e a «
Nature». Tanto quanto se sabe, o
draft já divulgado do quarto relatório quinquenal de avaliação (4AR) do IPCC, a publicar em Fevereiro de 2007, deixa cair a curva do “
hockey stick”. O assunto está demasiado politizado.
A ciência não é suportada pelo acreditar ou não acreditar em determinadas teses. Estas têm de ser corroboradas ou infirmadas pela Natureza. Através de testes. Respeitar convicções religiosas não é o mesmo que debater teses científicas. Aquelas não se discutem. Estas são sempre discutíveis.
Até hoje ainda ninguém, do IPCC, explicou a razão da subida da pressão atmosférica em certas regiões do planeta, como por exemplo Portugal. De acordo com a tese do IPCC – do efeito de estufa antropogénico – a pressão devia estar a descer. Porquê está a subir?