História (quase) secreta do aquecimento global (2/6)
(continuação)
Na segunda metade da década de 1960, os estrategistas do Establishment transatlântico já se encontravam numa fase avançada da preparação da agenda de erradicação do “vírus do progresso”, com a sua substituição pelo conceito malthusiano dos “limites do crescimento”, para cuja promoção explícita foi criado o Clube de Roma, em 1968. A operacionalização do movimento ambientalista era uma peça fundamental da estratégia. [6]
Um dos principais centros organizativos do ambientalismo foi o Instituto Aspen de Estudos Humanísticos, sediado em Aspen (EUA), cuja figura central era Robert Orville Anderson, presidente da companhia petrolífera Atlantic Richfield, vinculada à Standard Oil, da família Rockefeller. Segundo Donald Gibson, o instituto “foi uma das primeiras organizações, se não a primeira, a começar a falar sobre a possibilidade de afstar os EUA do crescimento orientado pela ciência e a tecnologia”. [7] No conselho de administração do instituto, encontravam-se três nomes que viriam a desempenhar papéis cruciais na consolidação do ambientalismo: a antropóloga Margaret Mead; Robert McNmara, ex-secretário de Defesa dos EUA e futuro presidente do Banco Mundial (onde introduziu condicionantes ambientais aos empréstimos feitos pelo banco); e o canadense Maurice Strong, amigo particular de Anderson e que viria a se tornar a própria encarnação do “aquecimento”.
Em 1969, Anderson levou para a presidência do Instituto Aspen o ex-director de programas da Fundação Ford, Joseph Slater, que recrutou Thomas Wilson, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, para dirigir o programa ambiental do instituto. A primeira missão da dupla foi preparar uma vasta ofensiva organizativa nos dois lados do Atlântico, para colocar o ambientalismo na agenda política internacional. Por intermédio do embaixador sueco na ONU, Sverker Aastrom, Slater apresentou à Assembleia Geral da organização uma proposta para a realização de uma conferência internacional sobre o meio ambiente, a qual foi aprovada em 1970, depois de superar uma forte oposição dos países subdesenvolvidos, que já suspeitavam de que as preocupações ambientais poderiam implicar em obstáculos ao seu desenvolvimento econômico.
Em 1971, o mesmo grupo articulou a criação, em Londres, do Instituto Internacional para Assuntos Ambientais, depois renomeado Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (IIED), que atuava em estreita coordenação com o Instituto Aspen. Entre os seus fundadores, encontravam-se Anderson, Wilson, Strong, McNamara, o futuro ministro do Interior britânico Roy Jenkins e a economista inglesa Barbara Ward. Nas décadas seguintes, o IIED desempenharia um papel de relevo na incorporação dos setores empresariais e políticos europeus à agenda ambientalista, sendo ainda hoje um ativo promotor das soluções de “mercado” para os problemas ambientais, em especial os relacionados às mudanças climáticas.
A Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em junho de 1972, introduziu a temática ambiental nas relações internacionais, abrindo o caminho para a implementação da série de tratados internacionais que assinalaria o impulso ambientalista, Com a assessoria de Thomas Wilson, Maurice Strong foi o secretário-geral da conferência. [8]
O currículo de Strong, um self-made-man dotado de uma colossal capacidade de articulação e que abriu caminho para os escalões superiores do Establishment, é grande demais para sequer ser resumido aqui. Para os nossos propósitos, basta citar que ninguém o supera no papel de articulador do movimento ambientalista, atuando em numerosas posições de alto nível como empresário, funcionário do governo do Canadá, super burocrata da ONU, membro de conselhos de administração de fundações e ONGs e várias outras. Os leitores interessados podem completar a lista fazendo a sua própria pesquisa via Google ou consultando o livro da sua compatriota Elaine Dewar, Uma demão de verde, no qual é um dos principais protagonistas.
Antes de ser colocado à testa da Conferência de Estocolmo, Strong havia sido executivo-chefe da empresa de energia Power Corporation e participado diretamente da criação de dois órgãos oficiais do governo canadense dedicados à ajuda ao exterior, a Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA) e o Centro de Pesquisas sobre o Desenvolvimento Internacional (IDRC). Além disso, tinha numerosos vínculos de negócios com a família Rockefeller e Robert O. Anderson. Tais condições o colocavam em situação privilegiada para assumir o papel de “executivo-chefe” do movimento ambientalista em fase de internacionalização, inclusive com a sua incorporação ao aparelho das Nações Unidas.
Elaine Dewar descreve a atuação de Strong em Estocolmo: [9]
Quando a Conferência de Estocolmo foi instalada (iniciada), em 1972, Strong advertiu urgentemente sobre o advento do aquecimento global, a devastação das florestas, a perda da biodiversidade, os oceanos poluídos e a bomba-relógio populacional. Ele sugeriu um imposto sobre a movimentação de cada barril de petróleo e o uso desses fundos para criar uma grande burocracia da ONU, para chamar a atenção sobre a poluição onde quer que ela se encontrasse. Na medida em que eu lia esse velho discurso, eu compreendia que ele quase poderia ser repetido na Cúpula do Rio [em 1992]. Como essas mesmas questões poderiam estar na mesa vinte anos depois?
Um dos desdobramentos da Conferência de Estocolmo foi a criação do Programa das Nações Unidas par o Meio Ambiente (PNUMA), sendo que o primeiro diretor-executivo nomeado foi – Maurice Strong. No cargo, que ocupou até 1975, ele promoveu ativamente a popularização das supostas ameaças para a atmosfera, representadas pelo uso dos combustíveis fósseis e produtos químicos supostamente agressivos para a camada de ozónio – esta última, uma teoria alarmista que também dava os seus primeiros passos e seria crucial para a agenda ambientalista, como veremos adiante.
Em especial, Strong articulou uma aproximação do PNUMA com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), criando o arcabouço institucional para a “politização” dos temas climáticos, com um crescente envolvimento da comunidade científica e de representantes de ONGs ambientalistas, que, cada vez mais, eram envolvidas nos processos de formulação de políticas. Em um artigo publicado no jornal The Globe and Mail de Toronto, em 7 de Março de 2007, ele próprio recorda a sua intervenção na agenda climática: [10]
Como alguém cujo papel na colocação do tema das mudanças climáticas na agenda pública está sendo alvo de críticas, eu me apresso em confessá-lo. Como o primeiro diretor do PNUMA, eu convoquei uma reunião de especialistas em mudanças climáticas mais de 30 anos atrás. Em 1992, eu encabecei am Cúpula da Terra [conferência Rio-92], que produziu a Convenção sobre Mudanças Climáticas, e estive envolvido em Kyoto, quando foi acertado o contencioso protocolo das metas. (…)
No PNUMA, Strong também se ocupou com a possibilidade de danos ao ozónio estratosférico causados por atividades humanas – primeiro, gases emitidos por jatos supersónicos e, depois, a versátil famílias de produtos químicos conhecida como clorofluorcarbonos (CFCs), com dúzias de aplicações. Strong levantou o assunto aja na primeira reunião do conselho diretor do órgão e, em 1975, o PNUMA iniciou um programa para avaliar os riscos para a camada do ozónio. Em paralelo, o Natural Resources Defense Council (NRDC), ONG criada em 1970 pela Fundação Ford, lançou uma campanha pelo banimento dos CFCs. [11] Um dos fundadores do NRDC foi o biólogo George Woodwell, que já era um veterano cientista-ambientalista, tendo participado ativamente da campanha que levou ao banimento do DDT pela Agência de de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, em 1973. [12] Como veremos adiante, Woodwell viria a desempenhar um papel destacado na campanha “aquecimentista”, *
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* Em 1985, Woodwell fundou o Instituto de Pesquisas Woods Hole (não confundir com o Instituto Oceanográfico Woods Hole), conhecido dos brasileiros por suas frequentes investidas contra projetos de infra-estrutura na Região Amazónica, por intermédio de sua filial local, o Instituto de Pesquisa da Amazónia (IPAM). [13]
(continua)
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6. Executive Intelligence Review, Profile of the Environmental Conspiracy, 1965-1980, New York, s/d pp. 8-19.
7. Donald Gibson, op. cit., p.93.
8. Lorenzo Carrasco, op. cit., pp. 53-55.
9. Elaine Dewar, Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios. Rio de Janeiro: Capax Dei, 2007, pp. 283-84.
10. Maurice Strong, “A Super-Agency?”, The Globe and Mail, 7/03/2007, p. A15.
11. Stephen O. Andersen, K. Madhava Sama e Lani Sinclair, Protecting the Ozone Layer: The United Nations Story. London: Earthscan Publications, 2002, pp. 44-46.
12. Sobre a campanha para o banimento do DDT, ver: Geraldo Luís Lino et alii, Máfia Verde 2, pp. 213-17; tb. Elizabeth M. Whelan, Toxic Terror. Ottawa: Jameson Books, 1985, pp. 59-85.
13. Lorenzo Carrasco, op. cit., pp. 123-24.
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Do livro «A fraude do aquecimento global», Capax Dei, Rio de Janeiro, 2009, 165 pág., ISBN 978-85-98059-12-9.