terça-feira, outubro 24, 2006

Aproxima-se o frio

(continuação da palestra de Fred Goldberg)

O primeiro sinal da aproximação de um novo período frio aconteceu quando um bloco de gelo desceu do Norte em direcção à Islândia transportando ursos polares. Este acontecimento verificou-se em 1203.

Durante esta primeira fase da chegada de uma era de frio, sucederam-se tempestades e cheias que abrangeram o Mar do Norte e as costas atlânticas da Europa. Estas tempestades fizeram muitos pescadores e marinheiros perder a vida.

Nuvens de areia transportadas pelas tempestades provocaram o aparecimento de enormes dunas. O florescente porto de Kenfig, próximo de Port Talbot, no sul do País de Gales, teve de ser abandonado após uma tempestade que o cobriu de areia.

Muitas vilas experimentaram grandes problemas com estas tempestades. Algumas ficaram enterradas. Tal como florestas próximo das costas. No dia 19 de Agosto de 1413 a pequena cidade de Forvie, próximo de Aberdeen, ficou soterrada sob 30 metros de areia.

No século XIII sucederam-se muitas tempestades e cheias. Calcula-se que durante as tempestades de 1200, 1212-1219, 1237 e 1362 tenham morrido cerca de 100 mil pessoas ao longo da costa alemã e da holandesa, no Mar do Norte.

No norte dos Países Baixos, o Zuider Zee transbordou e submergiu as explorações agrícolas. A última tempestade foi designada “Grote Mandrake” que significa “grande afogamento”.

As cheias coincidiram muitas vezes com a preia-mar. Em 1240 e 1362, o mar engoliu 60 comunidades ao longo das costas da Alemanha e dos Países Baixos, no Mar do Norte. A água salgada destruiu bastantes explorações agrícolas.

Durante o MWP, a ilha alemã de Helgoland, no Mar do Norte, tinha um diâmetro de 60 quilómetros. Metade da ilha desapareceu com as tempestades de 1300. Igrejas e vilas inteiras deixaram de existir com a redução da ilha para um raio de 25 quilómetros.

Em 1315 a Flandres esteve mais ou menos debaixo de água. Essa situação prejudicou a campanha militar de Luis X. Os cavalos afundavam-se até à cintura. As carruagens atolavam-se na lama. A infantaria atolava-se nos campos pantanosos.

Como as rações rareavam o rei Luis X teve de dar ordens para recuarem imediatamente. Os naturais da Flandres, agradecidos, consideraram as cheias como um milagre ou uma dádiva divina. Para eles, o clima passou a ter um toque religioso.

De facto, 1315 foi um ano mau, com frio e chuvas torrenciais. Milhares de hectares de cereais não amadureceram e o feno não se aproveitou. O ano seguinte foi também um ano terrível com chuva, frio e inundações na Europa central.

As tempestades de 1421, 1446 e 1570 causaram mais de 400 mil mortes. As margens ribeirinhas foram das que mais sofreram. A cidade de Colónia esteve um ano debaixo de cheias. Era possível andar de barco dentro da cidade.

Mas no ano seguinte, o Reno secou de tal forma que se podia atravessá-lo a pé. Os europeus sofreram severas tempestades, cheias, secas e frios intensos nos Invernos.

Em 1588, a Armada Britânica lutava com a Armada Espanhola na costa ocidental da Irlanda. De repente sucedeu uma violenta tempestade. A Armada Espanhola perdeu mais barcos devido à tempestade do que na luta contra a Armada Britânica.
(continua)