Paleoclimatologia
Zbigniew Jaworowski, cientista polaco, apresentou, no simpósio de Estocolmo, a comunicação «Atmospheric CO2 ice records – truth or artifacts?». É pois altura de nos debruçarmos um pouco sobre a paleoclimatologia.
O estudo dos cilindros de gelo do Antárctico retirados pela estação Vostok permitiu avaliar a evolução do clima dos últimos 420 mil anos (Fig. 64). Esta análise mostrou como os parâmetros orbitais da Terra influenciam o seu clima.
A variação da excentricidade da órbita da Terra, representada na figura por uma série de quatro grandes ciclos, teve um período de cerca de 100 mil anos. Dentro de cada grande ciclo, de glaciação-período interglaciário-glaciação, verificaram-se variações com durações mais curtas.
As variações mais curtas estão associadas à modificação da obliquidade do eixo de rotação da Terra e à precessão dos equinócios. Estes resultados gerais da análise dos cilindros de gelo vieram confirmar as teorias propostas por Milankovitch, em 1924.
A causa desta evolução cíclica é exterior ao sistema climático. Isto é, existiu uma causa externa a todos os parâmetros analisados que os obrigou a variar de um modo cíclico. A causa dependeu da posição da Terra em relação ao Sol. A posição variou de acordo com leis da mecânica celeste.
Detectam-se co-variações (variações no mesmo sentido) entre as concentrações de CO2 e CH4, o excesso de deutério, o volume de gelo, o conteúdo de cálcio, as poeiras …e a correspondente temperatura deduzida pela análise dos isótopos da água.
Estas co-variações resultaram de “forçamentos” exteriores ao nosso planeta. Todos os parâmetros variaram de acordo com leis semelhantes. Por isso, é possível co-relacioná-las estatisticamente. Mas isso não quer dizer que existam relações físicas entre elas.
Por exemplo, não se deve esquecer que a evolução da temperatura nesta escala temporal é consequência da insolação (acumulação de energia solar) nas elevadas latitudes austrais (onde se situa a Vostok).
A co-relação estatística da evolução da temperatura com a evolução co-variante de outro parâmetro (CO2 e CH4, por exemplo) não implica uma relação física de causa-efeito bem determinada.
Se houvesse uma ligação física, isso poderia significar que as variações das concentrações do CO2 e do CH4 teriam determinado a evolução da temperatura.
Se fosse esse o caso, seria necessário fazer uma demonstração de causa-efeito. Primeiro do que tudo seria necessário demonstrar o mecanismo da periodicidade das variações desses gases. Mas essa demonstração não existe.
Ou seja, ressalta a seguinte questão: - As concentrações do CO2 e do CH4 dependem de parâmetros astronómicos? Seria estranho que tal acontecesse. É óbvio que uma tal dependência é espúria. Elas não podem ser a causa da evolução da temperatura.
Os parâmetros orbitais é que determinaram a evolução da temperatura. Dizer, como o faz o IPCC, que «as variações das concentrações dos gases pode ter ajudado a amplificar os ciclos das eras do gelo» (IPCC, 2001), não altera em nada a natureza do problema inicial.
Essa afirmação transforma simplesmente a causa inicial (gases com efeito de estufa controlando a temperatura) numa causa secundária (gases com efeito de estufa contribuem para a amplificação do efeito de estufa).
Não podemos de facto ajudar a resolver o problema anunciando o paralelismo entre variações da temperatura do ar e o conteúdo dos gases com efeito de estufa.
Pode haver um maior ou menor paralelismo, ou concomitância, ou coincidência, ou simultaneidade mas não há certamente uma co-relação física que nada nem ninguém ainda demonstraram.
Para ser válida a co-relação física, e não apenas estatística, ter-se-ia de demonstrar uma relação física nos dois sentidos.
A paleoclimatologia revela claramente esta inaceitável confusão. A confusão envolve tanto o passado como o presente, entre co-relações estatísticas, ligações físicas e meras co-variações com desprezo pela realidade física dos fenómenos climáticos.
(continua)
Nota: A Fig. 64 foi retirada do artigo «Climate and atmospheric history of the past 420,000 years from the Vostok ice core, Antarctica», Nature, vol. 399, 429-435, cedido gentilmente pelo autor Jean Robert Petit a quem se agradece publicamente.
O estudo dos cilindros de gelo do Antárctico retirados pela estação Vostok permitiu avaliar a evolução do clima dos últimos 420 mil anos (Fig. 64). Esta análise mostrou como os parâmetros orbitais da Terra influenciam o seu clima.
A variação da excentricidade da órbita da Terra, representada na figura por uma série de quatro grandes ciclos, teve um período de cerca de 100 mil anos. Dentro de cada grande ciclo, de glaciação-período interglaciário-glaciação, verificaram-se variações com durações mais curtas.
As variações mais curtas estão associadas à modificação da obliquidade do eixo de rotação da Terra e à precessão dos equinócios. Estes resultados gerais da análise dos cilindros de gelo vieram confirmar as teorias propostas por Milankovitch, em 1924.
A causa desta evolução cíclica é exterior ao sistema climático. Isto é, existiu uma causa externa a todos os parâmetros analisados que os obrigou a variar de um modo cíclico. A causa dependeu da posição da Terra em relação ao Sol. A posição variou de acordo com leis da mecânica celeste.
Detectam-se co-variações (variações no mesmo sentido) entre as concentrações de CO2 e CH4, o excesso de deutério, o volume de gelo, o conteúdo de cálcio, as poeiras …e a correspondente temperatura deduzida pela análise dos isótopos da água.
Estas co-variações resultaram de “forçamentos” exteriores ao nosso planeta. Todos os parâmetros variaram de acordo com leis semelhantes. Por isso, é possível co-relacioná-las estatisticamente. Mas isso não quer dizer que existam relações físicas entre elas.
Por exemplo, não se deve esquecer que a evolução da temperatura nesta escala temporal é consequência da insolação (acumulação de energia solar) nas elevadas latitudes austrais (onde se situa a Vostok).
A co-relação estatística da evolução da temperatura com a evolução co-variante de outro parâmetro (CO2 e CH4, por exemplo) não implica uma relação física de causa-efeito bem determinada.
Se houvesse uma ligação física, isso poderia significar que as variações das concentrações do CO2 e do CH4 teriam determinado a evolução da temperatura.
Se fosse esse o caso, seria necessário fazer uma demonstração de causa-efeito. Primeiro do que tudo seria necessário demonstrar o mecanismo da periodicidade das variações desses gases. Mas essa demonstração não existe.
Ou seja, ressalta a seguinte questão: - As concentrações do CO2 e do CH4 dependem de parâmetros astronómicos? Seria estranho que tal acontecesse. É óbvio que uma tal dependência é espúria. Elas não podem ser a causa da evolução da temperatura.
Os parâmetros orbitais é que determinaram a evolução da temperatura. Dizer, como o faz o IPCC, que «as variações das concentrações dos gases pode ter ajudado a amplificar os ciclos das eras do gelo» (IPCC, 2001), não altera em nada a natureza do problema inicial.
Essa afirmação transforma simplesmente a causa inicial (gases com efeito de estufa controlando a temperatura) numa causa secundária (gases com efeito de estufa contribuem para a amplificação do efeito de estufa).
Não podemos de facto ajudar a resolver o problema anunciando o paralelismo entre variações da temperatura do ar e o conteúdo dos gases com efeito de estufa.
Pode haver um maior ou menor paralelismo, ou concomitância, ou coincidência, ou simultaneidade mas não há certamente uma co-relação física que nada nem ninguém ainda demonstraram.
Para ser válida a co-relação física, e não apenas estatística, ter-se-ia de demonstrar uma relação física nos dois sentidos.
A paleoclimatologia revela claramente esta inaceitável confusão. A confusão envolve tanto o passado como o presente, entre co-relações estatísticas, ligações físicas e meras co-variações com desprezo pela realidade física dos fenómenos climáticos.
(continua)
Nota: A Fig. 64 foi retirada do artigo «Climate and atmospheric history of the past 420,000 years from the Vostok ice core, Antarctica», Nature, vol. 399, 429-435, cedido gentilmente pelo autor Jean Robert Petit a quem se agradece publicamente.
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