quarta-feira, novembro 08, 2006

ACIA. Dinâmica da temperatura do Árctico

(continuação)

A ACIA desconhece as leis que regem a dinâmica das temperaturas do Árctico. As afirmações feitas anteriormente indicam que é absolutamente necessário fazer o exame da efectiva dinâmica das trocas meridionais.

As trocas meridionais são responsáveis pelo campo de temperaturas (e pelo campo de ventos, e pelo campo das pressões) da região do Árctico. O sinal térmico é apenas moderado devido à alternância dos fluxos de ar vindos do Sul e idos do Norte.

Estes fluxos em sentidos contrários provocam a quase anulação das variações dos valores médios da temperatura em jogo. Por isso é que o valor médio das temperaturas nesta região não tem significado físico importante.

No entanto, apesar da natureza moderada do sinal, o resultado médio do campo térmico apresenta-se especialmente bem explicitado. O que revela bem a dinâmica aerológica do Árctico, com as suas origens e os seus destinos.

As regiões que apresentam arrefecimento estão associadas às trajectórias preferenciais das massas de ar frio que saem do Árctico bem organizadas pelos anticiclones móveis polares (AMP).

E as regiões que mostram aquecimento estão associadas ao ar quente ciclónico que entra na região boreal vindo do Sul (desviado pela parte frontal dos AMP).

A co-variação entre o arrefecimento e o aquecimento, elucidativamente confirmada pelas figuras relativas ao Inverno (Fig. 62, do lado direito), representa a relação física real que se explica pelo conceito dos AMP.

[Alguns leitores queixam-se das explicações demasiado técnicas, em relação ao nível geral dos seus conhecimentos, mas tem de ser assim quando não há outra forma de explicação].

Recordemos duas das regras (ignoradas pelo IPCC-Intergovernmental Panel on Climate Change, pela NASA-National Aeronautics and Space Administration e pela NOAA-National Oceanic and Atmospheric Administration) que governam a dinâmica deste mecanismo e os consequentes efeitos térmicos.

· Quando há um défice térmico polar atenuado, os AMP são fracos e causam um ligeiro aquecimento localizado. A resultante matemática da temperatura média mantém-se próxima da ‘normal’.
· Quando há um défice térmico polar acentuado, os AMP são fortes e provocam um maior aquecimento localizado. A resultante matemática da temperatura média é superior à ‘normal’.

É esta última regra que se verifica na actualidade. O IPCC, a NASA, a NOAA e os seus seguidores chamam “aquecimento global” e “alterações climáticas” ao resultado deste fenómeno!

Do mesmo modo, as variações nas respectivas áreas dos AMP e dos ciclones polares (depressionários) são capazes de provocar variações na extensão dos campos térmicos. O ar frio ocupará muito menos espaço do que o ar aquecido.

Nessas condições, o ar frio também se moverá para o exterior da região polar mais rapidamente. Define-se assim o modo rápido de circulação. Este modo aparece nos Invernos.

Ninguém pode fazer projecções acerca do futuro térmico do Árctico colorindo-o totalmente de vermelho como fez a ACIA. É uma impossibilidade física total! Comprova-se, com esse absurdo, o total desconhecimento da dinâmica do Árctico.

É inegável que algumas regiões bem definidas do Árctico tornar-se-ão mais frias no futuro longínquo (como é explícito na imagem dos Invernos passados recentes) se se mantiver a evolução da actual dinâmica.

Todas as figuras da ACIA que mostram as projecções térmicas do Árctico, de certeza, deviam apresentar zonas pintadas a azul (arrefecimento) acompanhando as pintadas a vermelho (aquecimento).

Quanto mais profundo for o vermelho das zonas aquecidas, mais profundo deve ser o azul das zonas arrefecidas.

As figuras das projecções da ACIA com temperaturas de superfície até 2090, da região do árctico, estão totalmente erradas!

O suposto significado destas (e de outras!) imaginativas projecções não tem qualquer interesse. Nem para o Árctico, nem para a completa circulação do Hemisfério Norte.

Com excepção para as figuras das tendências das evoluções dos últimos 50 anos, que são muito úteis, o extenso (e caro) relatório da ACIA não tem qualquer interesse científico.

De facto, a “chave dos impactes”, apresentada no relatório, sobre o ambiente, a economia e a vida das pessoas são apenas ficções, imaginações e historietas.

A inevitável ameaça para os ursos polares (que está destacada na página 3 do relatório da ACIA: ‘a retracção do gelo marinho diminuirá o habitat dos ursos polares”, ACIA 2004) é uma brincadeira de mau gosto. Esta imagem saltou facilmente para os media, e não só!

Este exemplo do relatório da ACIA mostra a falta de entendimento que existe entre os que defendem o cenário do IPCC e aqueles que o questionam. Também aponta claramente onde se situa a diferença abissal: é uma questão de fractura na compreensão dos fenómenos.

A análise climatológica dos 50 anos de observações no Árctico é, de certo modo, tradicional, baseada nas médias e muito regionalizada. É portanto de grande valor. Seria mais preciosa se fosse usada como a base de um argumento lógico.

Mas esta reflexão lógica está ausente no relatório da ACIA. Há uma falta de ligação na cadeia explicativa, um vazio no pensamento. O vazio na reflexão é, na verdade, devido a uma falta de esquematização das observações e do seu significado dinâmico.

O abismo é profundo em relação à maior parte do relatório da ACIA. É um relatório inútil perante os erros manifestos. Não se compreende como há tanta gente agarrada a uma explicação sem nexo de causa-efeito.

Existem muitos outros exemplos que poderiam ser apresentados para ilustrar a enorme falta de compreensão que se apresenta neste debate, quando ele existe, para se reconhecerem os erros de avaliação e de diagnóstico.

Nota: Os 3 posts relativos ao relatório ACIA foram suportados pelas lições do Prof. Marcel Leroux que também participou no simpósio de Estocolmo.