domingo, novembro 05, 2006

ACIA. Futuro longínquo

(continuação)

Para cada uma das figuras da evolução recente das temperaturas (Fig. 62), o relatório ACIA faz corresponder outras duas figuras (anual/Inverno) para ‘as projecções das evoluções das temperaturas’ em 2090 (Fig. 63).

A Fig. 63 tem a particularidade de mostrar apenas cores de laranja e vermelha. Isto é, a ACIA generaliza o aquecimento. Será de admirar? Não, pois o relatório ACIA utiliza como base de dados, para os seus inputs, os cenários do IPCC.

Alem disso, o modelo que usou não tem em consideração a dinâmica do Árctico. Esta é desconhecida da ACIA. O truque é o mesmo que foi utilizado no projecto SIAM (Mudança climática em Portugal) e noutros estudos que falam das extinções das espécies.

Os outputs do IPCC (obtidos com modelos climáticos que não representam a realidade e hipóteses arbitrárias de desenvolvimento económico) não têm qualquer significado físico, climático ou científico. São especulação informática.

Esses outputs, têm servido de base para estudos que ainda menos significados têm! Ainda se fosse para ficar, heuristicamente, no recato dos gabinetes, vá que não vá.

Mas, a partir do momento que são tornados públicos com pompa e circunstância, tornaram-se numa trapaça. Pena é que alguns cientistas caiam nesta esparrela. A ambição de se tornarem alvo do mediatismo ensombra as suas virtudes.

Devem-se colocar questões pertinentes acerca das projecções do relatório ACIA para o futuro climático.

A que fenómeno se pode atribuir a distribuição heterogénea da evolução das temperaturas nas décadas recentes (Fig. 62)? A algum acaso? Qual é a causa que originou uma organização tão perfeita das áreas com arrefecimentos e aquecimentos?

Pode-se desde já avançar com as seguintes afirmações (Marcel Leroux):

· O Árctico não está sujeito a uma evolução homogénea.
· A distribuição dos campos térmicos é idêntica, tanto para a escala anual como para a invernal, o que demonstra a existência de um mesmo mecanismo.
· A escala dos Invernos apresenta uma maior intensidade na variação (como aliás em toda a parte) do mesmo fenómeno que provoca aumentos e reduções de temperatura da mesma ordem de grandeza de + 2 ºC e – 2 ºC, conforme as sub-regiões do Árctico.
· Também na escala invernal, no Pacífico Norte (sub-região III do relatório ACIA), a Sibéria oriental sofreu uma redução da temperatura, enquanto o Alasca e o Yukon canadiano sofreram aumentos de temperatura.
· As configurações das temperaturas no Árctico são comparáveis ao que se passa no espaço aerológico do Atlântico Norte (não representado no relatório ACIA).

Assim, a ausência de uma tendência uniforme e/ou a alternância das tendências de aquecimento e de arrefecimento, torna impossível aplicar mecanicamente as mesmas taxas de aumento (a mesma regra de três) a todos os sectores do Árctico.

Isto é, não se pode utilizar o argumento de que os resultados do relatório ACIA estão conformes com todas as curvas dos cenários do IPCC que só apresentam crescimentos. Claro, os modelos estão concebidos para esta conclusão.

O relatório ACIA diz-nos que ‘algumas variações sub-regionais são o resultado de variações bruscas nos comportamentos da circulação atmosférica… A região I (Fig. 61) é particularmente susceptível às variações da Oscilação do Atlântico Norte (NAO) …’

Mas não estamos apenas discutindo uma pequena sub-região. Estamos a discutir todas as variações (aumentos e diminuições) ao longo de todo o Árctico. E, além disso, estas variações são indissociáveis de todo o Hemisfério Norte.

Como a ACIA pensa que a NAO “está associada a uma possível resposta ao crescimento dos gases com efeito de estufa” (saliente-se a referência aos GEE, no relatório ACIA, como um reflexo dos cães de Pavlov), está tudo esclarecido.

Ou seja, a ACIA não percebe o mecanismo real da evolução climática do Árctico. Como tal, tira conclusões erradas, engana os media e estes fazem de caixa-de-ressonância para enganar os políticos e a opinião pública mundial.

Mas não é só a ACIA que não domina a dinâmica do Árctico. Também a NASA e a NOAA não admitem o nível de conhecimentos para além dos clássicos. Daí que os seus diagnósticos acerca da real situação do Árctico sejam igualmente falaciosos.
(continua)