Aquecimento global e globalização dos mercados bolsistas
Perante este título, perguntará o leitor : o que é que uma coisa tem a ver com outra? Tem. Tem a ideia de globalização, que pode não ser o que aparenta, como eloquentemente nos mostra, recorrendo ao exemplo dos mercados bolsistas, o leitor RPM que nos enviou uma mensagem que merece ser partilhada com todos os leitores do MC.
Caro Rui Moura
Confesso que, sendo economista, sou um perfeito leigo em matéria de climatologia, o que não me impede de ser um atento curioso sobre a evolução dos fenómenos da natureza. Desde sempre, aliás. Quando era jovem o meu programa favorito na TV (e provavelmente o único minimamente interessante) era o Boletim Meteorológico.
Adorava ver todas aquelas cartas meteorológicas mostradas na TV e adorava a disciplina de geografia no liceu. Se não tivesse cursado economia teria certamente frequentado um curso que tivesse a ver com a climatologia. Mas são ironias do destino!
Desde há algum tempo que me interesso por assuntos que tenham a ver com fenómenos de “globalização”: económica, social e, claro está, climatológica. Numa busca desinteressada na internet deparei-me com uma série de textos muito interessantes sobre a questão do “aquecimento global” e li-os avidamente e com todo o interesse.
Um dos últimos que li foi um texto do Prof. Marcel Leroux, desmontando de forma sistemática, implacável e coerente o embuste do aquecimento global antropogénico. Adorei. Daí ao seu blog MC foi uma questão de um click. Os meus parabéns pela forma isenta, honesta e fundamentada como expõe a questão nos seus textos. Como já adicionei este site aos meus favoritos vou acompanhar de perto esta questão e esta discussão.
Eu sou professor universitário e investigador em matérias de modelação econométrica e econofísica de fenómenos financeiros. Daí entender perfeitamente o significado de adjectivos como isenção, rigor, demonstração, honestidade intelectual, imparcialidade, etc, etc.
Ao ler alguns dos textos a que acima me refiro lembrei-me de um célebre livro de [Alan] Sokal [e Jean Bricmont] intitulado “Imposturas Intelectuais” [edição portuguesa da Gradiva]. Lembrei-me ainda do drama de Galileu e da teoria dominante nos idos do séc. XVII. Enfim, uma mentira repetida muitas vezes “torna-se verdade” não “precisando, por isso” ser comprovada. Que triste sina a nossa!!
A propósito das questões da globalização, gostaria de lhe resumir um pouco a minha investigação recente sobre globalização de mercados bolsistas. Como seria de esperar, está na moda dizer-se que os mercados financeiros, e os bolsistas em particular, estão fortemente globalizados. Eu diria apenas, que há indícios de que estão correlacionados e que parece existir um mercado dominante, o dos EUA, mas pouco mais posso afirmar do que isto.
Utilizando técnicas de cointegração (Granger e Engels, Prémios Nobel da Economia em 2003) adequadas ao estudo de séries cronológicas não estacionárias (como é o caso dos índices bolsistas), fiz recentemente uma análise exaustiva de índices bolsistas a nível mundial (dados diários desde 1990).
Encontrei evidência de impactes entre alguns dos índices bolsistas analisados mas, de forma alguma, consegui obter resultados compatíveis com a ideia da existência de um “mercado único”, global, a nível mundial, o que aconteceria se, de facto, os mercados bolsistas se encontrassem globalizados.
Quando muito poderá falar-se em integração regional mas daí à globalização ainda vai um passo de gigante. É claro que vão existindo exemplos de alguma “globalização”, no sentido de uniformização, nalguns mercados (novas tecnologias, por exemplo) mas isso é um fenómeno que, por enquanto, parece estar localizado.
Aliás, voltando à bolsa, encontrei evidência, desde os anos noventa, de períodos em que os mercados convergem e outros em que tendem a divergir. Tal como os fenómenos climáticos! A analogia dos processos, salvaguardando as diferenças dos temas, obviamente, parece-me intrigante (e muito interessante). Obviamente, no caso dos mercados bolsistas, é quase unânime a ideia veiculada em certos “trabalhos científicos” publicados que estes estão fortemente globalizados.
Em praticamente nenhum desses trabalhos, porém, encontrei uma definição clara ou uma teoria coerente sobre o que é, de facto, a globalização. Diria, portanto, que para esses autores, globalização é … globalização! Para eles, a própria palavra auto-define-se, pois toda a gente “sabe” o que é! Pura mentira, pois sem uma definição clara do conceito podemos arbitrariamente considerar como “globalização” tudo aquilo que nos interesse considerar como tal.
A primeira questão consiste em construir ou adaptar uma teoria capaz de explicar o fenómeno em causa. No meu estudo, por exemplo, defini globalização em termos de integração de mercados utilizando para o efeito a teoria do preço descrita por Stigler em 1969 e o conceito de Lei de Um Preço (cuja origem data do início do séc. XX). Definições precisas, portanto e construídas numa época em que ainda pouco se falava do tema, o que garante a isenção do conceito face aos objectivos do estudo.
Quero dizer, não construí uma teoria à medida do tema que estou a analisar e de modo a obter os resultados que a priori eu desejava obter. Faz parte do método científico. Pois é, qual não foi o meu espanto quando li trabalhos publicados que defendiam acerrimamente a ideia da globalização dos mercados bolsistas simplesmente com base na análise das correlações entre as séries em estudo!
Pena é que haja quem confunda correlação com efeito causal e que, sobretudo em contexto de não-estacionariedade, não atenda aos graves problemas causados por conclusões baseadas em regressões espúrias, um problema identificado em econometria já em 1974 por Granger e Newbold.
Por isso, caro Rui, compreendo perfeitamente a dificuldade que é fazer prevalecer uma ideia que contraria o status quo da dita “ciência” actual. Tal como no tempo de Galileu. Quem é intelectualmente honesto e busca a verdade, seja ela qual for, encontra sempre este tipo de empecilhos no caminho.
Como disse no início, triste sina a nossa! Muito gostaria eu de ver certos defensores dos alarmismos do aquecimento global deixarem de viajar de avião, atravessarem o Atlântico de piroga, passarem a andar de bicicleta em vez de automóvel, não usarem sistemas de aquecimento no inverno nem ar condicionado no verão, evitarem usar telemóvel, nada de televisão nem de frigoríficos, etc, etc!! Muito gostaria de ver essa gente dar o “exemplo” que tanto exige aos outros.
Desejo-lhe um excelente 2009.
P.S. Outra coisa hilariante: li algures que o problema do aquecimento global só ficaria resolvido com o fim do capitalismo!! Nem merece comentários.
Caro Rui Moura
Confesso que, sendo economista, sou um perfeito leigo em matéria de climatologia, o que não me impede de ser um atento curioso sobre a evolução dos fenómenos da natureza. Desde sempre, aliás. Quando era jovem o meu programa favorito na TV (e provavelmente o único minimamente interessante) era o Boletim Meteorológico.
Adorava ver todas aquelas cartas meteorológicas mostradas na TV e adorava a disciplina de geografia no liceu. Se não tivesse cursado economia teria certamente frequentado um curso que tivesse a ver com a climatologia. Mas são ironias do destino!
Desde há algum tempo que me interesso por assuntos que tenham a ver com fenómenos de “globalização”: económica, social e, claro está, climatológica. Numa busca desinteressada na internet deparei-me com uma série de textos muito interessantes sobre a questão do “aquecimento global” e li-os avidamente e com todo o interesse.
Um dos últimos que li foi um texto do Prof. Marcel Leroux, desmontando de forma sistemática, implacável e coerente o embuste do aquecimento global antropogénico. Adorei. Daí ao seu blog MC foi uma questão de um click. Os meus parabéns pela forma isenta, honesta e fundamentada como expõe a questão nos seus textos. Como já adicionei este site aos meus favoritos vou acompanhar de perto esta questão e esta discussão.
Eu sou professor universitário e investigador em matérias de modelação econométrica e econofísica de fenómenos financeiros. Daí entender perfeitamente o significado de adjectivos como isenção, rigor, demonstração, honestidade intelectual, imparcialidade, etc, etc.
Ao ler alguns dos textos a que acima me refiro lembrei-me de um célebre livro de [Alan] Sokal [e Jean Bricmont] intitulado “Imposturas Intelectuais” [edição portuguesa da Gradiva]. Lembrei-me ainda do drama de Galileu e da teoria dominante nos idos do séc. XVII. Enfim, uma mentira repetida muitas vezes “torna-se verdade” não “precisando, por isso” ser comprovada. Que triste sina a nossa!!
A propósito das questões da globalização, gostaria de lhe resumir um pouco a minha investigação recente sobre globalização de mercados bolsistas. Como seria de esperar, está na moda dizer-se que os mercados financeiros, e os bolsistas em particular, estão fortemente globalizados. Eu diria apenas, que há indícios de que estão correlacionados e que parece existir um mercado dominante, o dos EUA, mas pouco mais posso afirmar do que isto.
Utilizando técnicas de cointegração (Granger e Engels, Prémios Nobel da Economia em 2003) adequadas ao estudo de séries cronológicas não estacionárias (como é o caso dos índices bolsistas), fiz recentemente uma análise exaustiva de índices bolsistas a nível mundial (dados diários desde 1990).
Encontrei evidência de impactes entre alguns dos índices bolsistas analisados mas, de forma alguma, consegui obter resultados compatíveis com a ideia da existência de um “mercado único”, global, a nível mundial, o que aconteceria se, de facto, os mercados bolsistas se encontrassem globalizados.
Quando muito poderá falar-se em integração regional mas daí à globalização ainda vai um passo de gigante. É claro que vão existindo exemplos de alguma “globalização”, no sentido de uniformização, nalguns mercados (novas tecnologias, por exemplo) mas isso é um fenómeno que, por enquanto, parece estar localizado.
Aliás, voltando à bolsa, encontrei evidência, desde os anos noventa, de períodos em que os mercados convergem e outros em que tendem a divergir. Tal como os fenómenos climáticos! A analogia dos processos, salvaguardando as diferenças dos temas, obviamente, parece-me intrigante (e muito interessante). Obviamente, no caso dos mercados bolsistas, é quase unânime a ideia veiculada em certos “trabalhos científicos” publicados que estes estão fortemente globalizados.
Em praticamente nenhum desses trabalhos, porém, encontrei uma definição clara ou uma teoria coerente sobre o que é, de facto, a globalização. Diria, portanto, que para esses autores, globalização é … globalização! Para eles, a própria palavra auto-define-se, pois toda a gente “sabe” o que é! Pura mentira, pois sem uma definição clara do conceito podemos arbitrariamente considerar como “globalização” tudo aquilo que nos interesse considerar como tal.
A primeira questão consiste em construir ou adaptar uma teoria capaz de explicar o fenómeno em causa. No meu estudo, por exemplo, defini globalização em termos de integração de mercados utilizando para o efeito a teoria do preço descrita por Stigler em 1969 e o conceito de Lei de Um Preço (cuja origem data do início do séc. XX). Definições precisas, portanto e construídas numa época em que ainda pouco se falava do tema, o que garante a isenção do conceito face aos objectivos do estudo.
Quero dizer, não construí uma teoria à medida do tema que estou a analisar e de modo a obter os resultados que a priori eu desejava obter. Faz parte do método científico. Pois é, qual não foi o meu espanto quando li trabalhos publicados que defendiam acerrimamente a ideia da globalização dos mercados bolsistas simplesmente com base na análise das correlações entre as séries em estudo!
Pena é que haja quem confunda correlação com efeito causal e que, sobretudo em contexto de não-estacionariedade, não atenda aos graves problemas causados por conclusões baseadas em regressões espúrias, um problema identificado em econometria já em 1974 por Granger e Newbold.
Por isso, caro Rui, compreendo perfeitamente a dificuldade que é fazer prevalecer uma ideia que contraria o status quo da dita “ciência” actual. Tal como no tempo de Galileu. Quem é intelectualmente honesto e busca a verdade, seja ela qual for, encontra sempre este tipo de empecilhos no caminho.
Como disse no início, triste sina a nossa! Muito gostaria eu de ver certos defensores dos alarmismos do aquecimento global deixarem de viajar de avião, atravessarem o Atlântico de piroga, passarem a andar de bicicleta em vez de automóvel, não usarem sistemas de aquecimento no inverno nem ar condicionado no verão, evitarem usar telemóvel, nada de televisão nem de frigoríficos, etc, etc!! Muito gostaria de ver essa gente dar o “exemplo” que tanto exige aos outros.
Desejo-lhe um excelente 2009.
P.S. Outra coisa hilariante: li algures que o problema do aquecimento global só ficaria resolvido com o fim do capitalismo!! Nem merece comentários.
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