quinta-feira, dezembro 08, 2005

O jornalismo que temos

Nos comentários (com o título “Que vergonha de jornalismo”) ao post “Absolutismos e relativismos” do blogue «A aba de Heisenberg», do dia 4 de Dezembro de 2005, encontram-se estes cabeçalhos que o blogger Nuno repescou de alguns media portugueses que se cita com a devida vénia:

"Portugal é o pior emissor de gases de efeito estufa da UE" (Público)
"Portugal será o mais poluente da UE em 2012" (Jornal de Notícias)
"Portugal vai ser o pior emissor de gases da UE" (TVI)
"Maior emissor de gases da União Europeia em 2012" (SIC)
"Portugal é pior emissor de gases" (Expresso Online)
"Ambiente: Portugal torna-se o maior poluente da UE" (Região Sul)
"Portugal torna-se o país mais poluidor da Europa" (Correio da Manhã)
"Maior poluidor da União em 2012" (O Primeiro de Janeiro)
"Portugal é o pior emissor de gases da União Europeia" (Portugal Diário)
"Vamos ser os mais poluentes em 2012" (Record)"
"Portugal vai passar a ser o país mais poluidor da UE" (Jornalismo PortoNet).
(fim de citação)

No post com nome satírico “Portugal polui que se farta…” do blogue «CONTUNDENTE», do dia 4 de Dezembro de 2005, encontra-se uma explicação rigorosa que desmistifica não só aqueles cabeçalhos mas também os conteúdos das notícias.

Em 1990, Portugal era o terceiro país a contar do fim em termos de emissões de dióxido de carbono (60 Mt CO2) dentro da UE a 15. Melhor somente a Irlanda e o Luxemburgo.

Mas relativamente às capitações das emissões (toneladas por habitante), nesse ano, apenas a Espanha tinha um valor inferior a Portugal. A capitação é de facto um rácio importante para uma análise comparativa. Outro seria o rácio entre as emissões e o PIB.

No entanto, o PIB teria de ser o real e não o amputado da economia paralela, subterrânea, com fuga aos impostos. Como o PIB se situa no denominador, um PIB fictício inferior ao real aumenta ilusoriamente o rácio Emissões/PIB.

Para o período compreendido entre 2008-2012, tal como estabelecido no Protocolo de Quioto, Portugal comprometeu-se (não se sabe bem como) a não ultrapassar 76 Mt de CO2.

Fazendo a comparação entre os 15 países, no fim do Protocolo, Portugal situar-se-ia na mesma posição relativamente às emissões per capita. A Espanha continuaria em último. Com o alargamento a 25 países essa posição alterar-se-ia.

Mas Portugal ocuparia apenas uma posição acima. Isto é, atrás só ficariam a Espanha e a Letónia. Assim se escrevem pequenas-grandes mentiras para satisfação dos media e prejuízo de uma análise séria.

Só falta dizer que aquelas patranhas foram importadas de Montreal que alberga dez mil participantes na 11 ª Conference of the Parties e 1ª depois da entrada em vigor do Protocolo de Quioto. Andam cerca de sete mil milhões de pessoas a pagar o patau da representação destas tristes figuras.

Num destes dias de frio brutal em Montreal, um jornalista perguntou a um alto responsável da Greenpeace como é que ele explicava o estado do tempo. Este respondeu: «Global warming can mean colder, it can mean dryer, it can mean wetter».

Se o aquecimento global pode significar mais frio, se pode significar mais seca, se pode significar mais chuva, é caso para perguntar se o aquecimento global ainda significa mais calor. Assim vai o obscurantismo climático.