sexta-feira, abril 15, 2005

O espantalho do aquecimento (1)

Apresentar um hipotético aquecimento como o «apocalipse» (exercício no qual se distinguem os media) pode certamente fazer passar a mensagem anti-poluição, mas isso constitui, no plano estritamente científico, uma mensagem totalmente errada.

Esquecemo-nos que ainda há bem pouco tempo (meados do século passado) era o arrefecimento que era apresentado como a pior das perspectivas! Nesse caso talvez com uma certa razão.

Nessa altura os media exploravam a angústia da opinião pública com o caso dos sem-abrigo perante as vagas de frio e dos automobilistas transformados em «náufragos da auto-estrada» no meio dos nevões!

Pode-se antever um cenário de aquecimento analisando as condições registadas durante o Óptimo Climático Eemien (OCE, há 120 000 BP) ou as do Óptimo Climático Holoceno (OCH, entre 8000 e 5000 BP), quando a temperatura global era 2 ºC superior à actual.

Assim, por exemplo, no OCH, o Sahara estava cheio de lagos e de pântanos, com a parte desértica consideravelmente reduzida, registando-se migrações transarianas intensas favorecendo o florescimento do neolítico da tradição sudanesa.

Esta situação prevaleceu, embora numa menor escala, durante todos os períodos quentes ulteriores, nomeadamente durante o Óptimo Climático Medieval (vd. Medieval Warming Period).

Mesmo durante o Óptimo Climático Contemporâneo dos anos 1930-1960, quando as precipitações subsarianas eram mais intensas do que as actuais, verificou-se a subida dos criadores de gado, nómadas sahelianos, em direcção ao Norte.

Esta migração virou-se, mais tarde, num drama com o retorno para o Sul perante a desfavorável pluviometria já mais recente, verificada desde os anos 70, com uma «seca» prolongada que se estendeu para o Sul.

O deslocamento recente da pluviometria e das isoiéticas (linhas de igual precipitação) progrediu pouco, relativamente, talvez 200 km para o Sul do Sahara.

Obs.: BP – before presente = há x anos atrás