quinta-feira, maio 12, 2005

O ovo e a galinha do clima (2)

Concluiu-se, nas palavras dos cientistas russos, que “o início da glaciação correspondeu ao crescimento da temperatura em qualquer dos 4 períodos glaciários registados nos cilindros da Vostok” e que “tanto no início como no fim desses episódios climáticos o crescimento e o decrescimento da concentração foram sempre posteriores a igual evolução da temperatura”.

No parágrafo final do artigo, depois de se afirmar que “as variações de temperatura precederam sempre as variações dos GEE durante os 4 ciclos glaciários”, Vakulenko et al. afirmam que “o facto da maior importância é que a temperatura começa a decrescer depois de ter atingido um valor muito elevado mas os GEE continuam a crescer”.

Por isso, os autores terminam com a pergunta provocatória: - «Será que se testemunhará um arrefecimento no futuro próximo apesar de a concentração dos GEE continuar a aumentar?»

Guardadas as devidas proporções, já que não se pode extrapolar o passado para o presente sem analisar as diferenças de posição da Terra e dos outros planetas no nosso sistema planetário, a dinâmica do clima actual tem muitas semelhanças com o que Vakulenko et al. descreveram para a entrada de uma era glaciária.

As concentrações de dióxido de carbono e de metano são medidas em estações da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) em Mauna Loa-Hawai, Pt. Barrow-Alasca, Samoa-Pacífico Central, no Pólo Sul-Antárctica e nas Lajes-Açores, Atlântico.

A curva da Fig. 9 apresenta um crescimento à medida que aumenta a temperatura sazonal até atingir um pico relativo em plena estiagem e decresce daí até ao período invernal seguinte acompanhando o decrescimento da temperatura.

Claro que esta evolução também tem a ver com o ciclo vegetativo já que as emissões de dióxido de carbono, por exemplo, podem ser decompostas em 4 parcelas: devidas ao solo, à vegetação terrestre, à contribuição dos oceanos e, complementarmente, ao factor antropogénico.

Como se distribuem estas parcelas? Eis um segredo que não é fácil de desvendar. Um estudo interessantíssimo de um climatologista mexicano Jorge Sánchez – Sesma(jsanchez@tlaloc.imta.mx), da Universidade Nacional Autónoma do México, avança com uma estrutura obtida por meio de um desenvolvimento em série de Fourier em que a parcela antropogénica é apenas residual.

Este resultado está de acordo com o conhecimento, já indicado no blog, de que o forçamento radiativo (este termo está consagrado para a designação do desequilíbrio radiativo em relação ao equilíbrio natural) do dióxido de carbono é de apenas alguns décimos do efeito radiativo natural (vd. post “1ª Questão: Efeito de estufa adicional”).

Sánchez – Sesma também afirma que a desfasagem de curto prazo entre o crescimento da temperatura (causa) e o crescimento da concentração do CO2 (efeito) é de 4 a 5 anos para o clima recente.

Juntando o puzzle eis um provável esquema da dinâmica do tempo e do clima: AMP – campo de pressões – aumento de temperatura – aumento da concentração…Porém, esta hipótese não passa disso mesmo.