O ovo e a galinha do clima (1)
A velha questão do «ovo e da galinha», e de quem apareceu primeiro, tem o seu equivalente no clima: - qual é o antecedente entre o aumento de temperatura e o aumento da concentração de gases com efeito de estufa (GEE)?
É de referir que, tal como se verifica na Fig. 9, para o CO2, o crescimento da concentração dos GEE, nomeadamente do dióxido de carbono e do metano, não é monótono ao longo do ano.
Nos tempos recentes têm aparecido muitos estudos que suportam os dois pontos de vista relativos à causa e ao efeito. Um estudo do ano passado pretende provar que é realmente a temperatura que antecede a concentração:
- Vakulenko, N.V.; Kotlyakov, V.M:; Monin, A.S. et Sonechkin. «Evidence for the leading role of temperature variations relative to greenhouse gas concentration variations in the Vostok ice core record». Doklady Earth Sciences, Vol. 397, N.º 5, pp. 663-667, Junho-Julho 2004.
A revista «Doklady Earth Sciences» corresponde às «Transactions of the Russian Academy of Science / Earth Science Section» e «Vostok ice core record» representa os valores medidos através dos cilindros de gelo obtidos por perfuração na estação russa de Vostok (Antárctica).
Este estudo alarga o conhecimento acerca do clima recente e do passado, traçando mais uma pista acerca da hipótese verdadeira ou não da influência dos gases de origem antropogénica na evolução do clima.
Curiosamente, os autores chegam a colocar a seguinte questão: «Será que se testemunhará um arrefecimento no futuro próximo apesar de a concentração dos GEE continuar a aumentar?»
A revista Science Magazine, de 20 de Outubro de 2004, resume o estudo do seguinte modo:
1 – Pode-se concluir que o declínio na concentração atmosférica foi posterior ao declínio da temperatura em 4 épocas glaciárias conforme o registo dos cilindros de gelo da Vostok;
2 – O aumento da concentração atmosférica de CO2 foi posterior ao aumento da temperatura nos períodos interglaciários correspondentes àquelas 4 épocas;
3 – Conclui-se que durante o período 230 ka BP – 250 ka BP as variações de temperatura também antecederam as variações das concentrações.
Para confirmar estas conclusões, Vakulenko et al. calcularam as “correlações cruzadas das temperaturas médias – baseadas no conteúdo de deutério D – e as variações dos GEE para todos os ciclos glaciários dos espécimes retirados dos cilindros de gelo da Vostok por meio de técnicas específicas”.
Obs.: ka – mil anos; BP (before present).
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