quarta-feira, agosto 12, 2009

Temperaturas abaixo da média

Com a devida vénia, reproduz-se aqui na íntegra uma peça jornalística retirada do Correio da Manhã de 9 de Agosto de 2009, cujo autor é João Saramago, para no final deixarmos um oportuno comentário.

Verão: Julho e Agosto não registam ondas de calor pela terceira vez

O tempo trocou as voltas aos banhistas e o Verão surge com manhãs frias e ventosas, próprias da Primavera. A exemplo dos últimos dois anos, Julho voltou a registar temperaturas abaixo da média, com um diferencial global de -0,9 graus. No dia 17, na serra da Estrela, foram registados apenas 5,8 graus de temperatura mínima e, no dia seguinte, foi a vez de Bragança acordar com um frio de 6,9 graus.

Concluída a primeira semana de Agosto, o tempo não apresenta melhorias, voltando a repetir-se os Verões frescos do ano passado e de 2007, depois do Verão tórrido de 2006, em que ocorreram três ondas de calor em Junho e Agosto.

O arrefecimento verificado em Portugal é comum ao resto do Globo, sendo explicado com o fenómeno La Niña. Fonte do Instituto de Meteorologia sublinha que 'não é, contudo, possível explicar o ligeiro arrefecimento verificado em Julho e Agosto desde 2007 com o La Niña, pois não está comprovado que este tenha influência sobre o nosso território'. 'São oscilações normais que se enquadram na variabilidade climática', acrescentou.

A chave para o Verão frio pode residir no Atlântico. Cientistas da Universidade de Kiel, Alemanha, defendem que também neste oceano a temperatura desceu. 'A circulação da água do mar é o grande distribuidor de calor no Planeta', disse Noel Keenlyside, cujo trabalho publicado na revista ‘Nature’ só prevê calor excessivo contínuo para 2020.

LA NIÑA LEVA A ARREFECIMENTO

Após o ano tórrido de 2006, a temperatura do Planeta caiu, apesar de as estimativas resultantes do Aquecimento Global preverem o aumento gradual das temperaturas em especial no Verão. La Niña é a explicação dada pela Organização Meteorológica Mundial para o agora designado arrefecimento, que nos dois últimos Invernos provocou mesmo queda de neve no deserto na Arábia Saudita.

O fenómeno climatérico La Niña resulta de uma anomalia negativa da temperatura da água do mar no Pacífico Central com consequências no resto do Planeta. 'O último ano foi predominantemente caracterizado por condições La Niña, que se acredita serem parcialmente responsáveis pelo facto de a temperatura global em 2008 ter estado ligeiramente aquém dos valores dos últimos anos', divulgou o Instituto de Meteorologia.

SAIBA MAIS

JUNHO A FERVER

O Verão deste ano foi na Primavera com a ocorrência de duas ondas de calor, de 27 de Maio a 3 de Junho e de 10 a 22 de Junho (o Verão começou a 21). Amareleja registou 41,3 graus no dia 22.

92% do território do Continente está em situação de seca. A chuva forte que em Julho caiu no Minho e Douro Litoral foi responsável por só estas regiões escaparem à seca.

Dois dias de Agosto registaram temperaturas superiores à média de máxima registada neste mês, que é de 27,8 graus em Lisboa. Só no dia 4 o termómetro atingiu os 30º.

PRÓXIMOS DEZ DIAS

Nos próximos dez dias a tendência de temperaturas em Lisboa afasta a ocorrência de ondas de calor.

"NÃO SABEMOS EXPLICAR AUSÊNCIA DE ONDAS DE CALOR" (Costa Alves, Meteorologista sobre o Verão fresco)

Correio da Manhã – Qual a explicação para a ausência de ondas de calor nos meses de Julho e Agosto desde 2006?
Costa Alves – Não conseguimos explicar. Sabemos que os sistemas frontais ocorrem a latitudes mais baixas do que Portugal com a consequente maior injecção de ar marítimo na Península Ibérica, agora por que isso acontece não sabemos. Talvez resulte de uma maior interacção entre o Oceano Atlântico e a atmosfera.

CM – A ausência de ondas de calor no Verão é boa para a saúde?
CA – É muito bom para a saúde e para as florestas. Recorde-se que entre 2003 e 2006, anos com Verões muito quentes, morreram 3800 pelo calor; destes 1953, em 2003.

CM– O fenómeno La Niña determina um arrefecimento a nível planetário. Essa é também a explicação para o Verão fresco no nosso país?
CA – Não. Na Europa não se observa nenhum sinal da sua influência, nem tão-pouco com o fenómeno contrário, o El Nino.

CM– Este arrefecimento coloca em causa o Aquecimento Global?
CA– Não, este resulta da poluição, mas não é linear na progressão.

Comentário do Mitos Climáticos

Em primeiro lugar, vale a pena enaltecer o autor desta peça jornalística, que merece os nossos parabéns por não ter entrado na habitual demagogia do global warming. Limitou-se a mostrar a sua perplexidade e incompreensão perante o que se está a passar.

Em segundo lugar, merece também elogio a fonte do Instituto de Meteorologia por ter respondido igualmente sem demagogia, ao observar que “são oscilações normais que se enquadram na variabilidade climática”.

De facto, chegámos a uma situação de alucinação colectiva de tal ordem, que já constitui motivo de satisfação verificar que um elemento dos nossos serviços de meteorologia não cai na estafada explicação dos alarmistas, para os quais, tratando-se de frio tudo é normal, mas tratando-se de calor a culpa é sempre dos gases com efeito de estufa de origem antropogénica.

Já os cientistas da Universidade de Kiel, na Alemanha, fizeram uma afirmação fora da realidade. De facto, não é verdade que seja “a circulação da água do mar o grande distribuidor de calor no Planeta”. Esse papel cabe à circulação geral da atmosfera!

Do mesmo modo, a Organização Mundial de Meteorologia mostra quão desfasados se encontram os seus conhecimentos teóricos. Atribuir à La Niña a causa do arrefecimento que se tem verificado desde o início do século XXI é demonstrar uma lamentável desactualização científica.

No mesmo erro incorre o nosso Instituto de Meteorologia ao acreditar “serem as condições da La Niña parcialmente responsáveis pelo facto de a temperatura global em 2008 ter estado ligeiramente aquém dos valores dos últimos anos”.

Temos muita consideração pelo dr. Costa Alves, cientista reformado do Instituto de Meteorologia. Sempre se mostrou, nas suas intervenções públicas, como um cientista moderado e honesto acerca das limitações dos modelos computacionais do clima.

O destaque das suas declarações “Não sabemos explicar ausência de ondas de calor” é representativo da sua honestidade intelectual. Faltou acrescentar que, supomos nós, também não saberá explicar a existência das mesmas ondas de calor.

Quanto ao resto, as suas afirmações revelam conceitos que, por falta de actualização, já não se ajustam à realidade dos fenómenos que observamos. Vivemos tempos da Ciência que são, simultaneamente, críticos e férteis.