segunda-feira, agosto 10, 2009

Seca meteorológica em Portugal

Cinco investigadores portugueses [três do IST (1), um da UNL (2) e outro da UE (3)] realizaram um estudo estatístico em que avaliaram a relação entre a extensão espacial e a temporal dos episódios de seca e de cheia no sul de Portugal.

Utilizaram-se registos diários da precipitação de 105 estações meteorológicas do período 1960-1999. Construíram-se dois índices baseados nas precipitações diárias: um da frequência das precipitações e outro dos episódios de cheia.

Os investigadores concluíram que as secas meteorológicas, as moderadas e as extremas, foram cada vez mais extensas, temporal e geograficamente, desde os anos 1960 até ao fim do século XX.

Os autores incluíram a NAO (North Atlantic Oscilation) no texto das Conclusões, onde se lê: « It is generally recognized that the NAO has a strong influence on the precipitation regime over Portugal, especially in winter, as well as several modes of atmospheric circulation variability (…) »

A NAO é um índice revelador do modo de circulação geral. As situações extremas da precipitação em Portugal estão relacionadas com um índice NAO elevado ou seja numa fase positiva. Foi o que aconteceu após o shift climático de 1975/76.

Nestas circunstâncias o Árctico está mais frio, os anticiclones móveis polares (AMP) são mais potentes e mais frequentes. As suas trajectórias são mais meridionais. A pressão atmosférica à superfície comanda o estado do tempo.

Na escala anual, em média, o anticiclone dos Açores (aglutinação anticiclónica) é mais potente, mais extenso no espaço e no tempo e mais meridional na fase positiva do NAO. Este modo de funcionamento conduz ao predomínio do tempo seco.

Quanto mais potentes são os AMP, as depressões atmosféricas que se formam são mais cavadas. A depressão dita da Islândia é mais profunda e mais extensa no tempo. Conduz a precipitações excessivas, nomeadamente a cheias.

Deste modo, as trocas meridionais de massas de ar e de energia são mais intensas, tanto no ar como no mar – eis o modo de circulação rápido típico dos Invernos e de um cenário frio e não-quente.

O tempo é mais violento com fortes contrastes térmicos tanto entre os fluxos de energia como nas fachadas do Atlântico, junto aos continentes americanos, europeus e africanos. Tudo ao contrário do cenário de aquecimento.

Consequentemente, a temperatura das unidades aerológicas não tem significado climático. A variável explicativa da dinâmica do tempo e do clima em tal situação é a pressão atmosférica junto ao solo e não a temperatura.

Desde o shift de 1975/76, na Europa e no Mediterrâneo, as aglutinações anticiclónicas têm sido mais frequentes e de maior duração (provocando ondas de calor como a do Verão quente de 2003, p.e.).

Em conclusão, uma fase positiva da NAO é absolutamente contrária a um cenário de aquecimento global como nos querem fazer crer o IPCC e a OMM.

Os decisores políticos que tenham esta verdade em atenção. Em vez de andarem em guerra contra o aquecimento global e as alterações climáticas, deviam estar a preparar a adaptação a um cenário frio e de seca meteorológica.

O cenário frio tem consequências muito mais graves do que o cenário quente. A mitigação dos gases com efeito de estufa é totalmente inócua para qualquer cenário. Desvia a atenção para o essencial: adaptação ao frio, à seca e ao calor episódico.
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(1) R. Durão, M. J. Pereira, CERENA (Centro de Recursos Naturais e Ambiente), do Instituto Superior Técnico.
(2) A. C. Costa, ISEGI (Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação), da Universidade Nova de Lisboa.
(3) J. M. Côrte-Real, ICAM (Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas), da Universidade de Évora.