domingo, janeiro 28, 2007

Trocas meridionais (2)

Marcel Leroux (Estocolmo, 11-12 Set. 2006, trad. Rui G. Moura)
(continuação)
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2 – Temperatura do Árctico

A região do Árctico deveria ter sofrido fortes alterações, especialmente na temperatura, se tivesse acontecido o que Arrhenius (1903) proclamou: «o efeito das alterações terá o seu máximo na vizinhança do pólo». O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), em 2001, reforçou as profecias de Arrhenius e previu um aumento considerável da temperatura nas latitudes elevadas, particularmente no Inverno: «prevê-se o aquecimento de mais de 10 ºC em zonas do norte do Canadá e da Sibéria, durante o Inverno».

Quais seriam as causas físicas para atribuir uma presumível subida da temperatura idealizada tanto por Arrhenius como pelo IPCC:

- Uma mais intensa contra-radiação, especialmente no Inverno (quando não há radiação solar)?

- Um mais intenso efeito de estufa próximo do pólo? Mais CO2? Mais vapor de água?

- Uma intensificação da transferência meridional de ar quente mesmo tendo em consideração que as transferências são mais lentas durante os períodos quentes (Leroux, 1993)?

As causas eventuais, nas proclamações de Arrhenius e do IPCC, não são claras. A primeira negação para aquelas previsões, nomeadamente a do IPCC, é dada pelos próprios factos entretanto verificados na região do Árctico.

As características da temperatura do Árctico atlântico estão explicitadas no relatório Arctic Climate Impact Assessment (ACIA, 2004). A ACIA avaliou o período 1954-2003 [meio século – NT] que se traduz na parte superior da Fig. ML5. A figura, naquela parte superior, mostra como algumas regiões arrefeceram enquanto outras aqueceram. O arrefecimento e o aquecimento tiveram, respectivamente, o mesmo valor de aproximadamente ± 1 ºC à escala anual e ± 2 ºC na escala do Inverno.

Que lições tiramos desta observação real do passado recente? Eis algumas:

- A região do Árctico não está submetida a uma evolução homogénea.

- Os campos térmicos são idênticos na escala anual e na escala invernal. Significa que os mecanismos climáticos são (claro) sempre os mesmos ao longo de todo o ano, embora com resultados distintos.

- Os Invernos, com uma maior extensão fria, mostram um aumento em intensidade – de aquecimento e de arrefecimento – e, portanto, revelam uma intensificação do mesmo processo climático.

- No norte do Pacífico [da região árctica] observa-se também um arrefecimento no lado da Sibéria oriental, particular e forte, durante os Invernos (Chapman et Walsh, 2004). Mas regista-se um aquecimento no Alasca e nas suas franjas onde se verificaram os maiores aumentos de temperatura do Hemisfério Norte.

Visto que estas observações de factos reais são entendidas a favor de um conhecimento dos fenómenos meteorológicos, é inevitável levantarem-se, especialmente, algumas questões, a saber:

- Qual é a causa de uma tal distribuição organizada em áreas de aquecimento e/ou arrefecimento?

- Qual é a causa das variações sazonais em intensidade que afectam tanto o aquecimento como o arrefecimento?

É, logicamente, impossível ir muito longe, do passado recente (observação) ao futuro longínquo (predição) sem uma resposta segura a estas questões fundamentais.

Não obstante, sem qualquer reflexão séria no padrão de temperatura e em toda a busca das possíveis causas, a ACIA salta sem escrúpulos a fronteira entre o conhecimento e os cenários gratuitos do IPCC. Os factos reais são falsificados, por estes organismos, o método científico é espezinhado e concluem: - a causa «é», indubitavelmente, a relação EE/CO2!

Como mostra a Fig. ML5, na parte inferior, a região do Árctico tornar-se-ia vermelha no seu todo, mesmo que nesse futuro os padrões de temperatura não tenham nada a ver com a realidade. Que género de mecanismo climático pode comandar um aquecimento mais elevado junto ao pólo, mais quente do que em outras partes do seu próprio hemisfério, especialmente no Inverno?

Numa história de tal modo estranha donde viria o ar frio? Esta previsão tão insensata, obtida através de modelos, é um desastre perfeito. Só foi possível atingi-lo porque não se diagnosticaram correctamente as causas do passado. O mau resultado seria conhecido de antemão pela simples razão de o modo de cálculo consistir numa regra de três simples…

A ACIA (deliberadamente?) ignora as condições meteorológicas da região do Árctico. [Nesta ignorância pode-se acrescentar a NOAA e a NASA.] Para a ACIA, o Árctico é uma região demarcada, isolada, fechada, sem qualquer troca de massas de ar com as regiões vizinhas ou com o hemisfério meteorológico nortenho.

Para o Árctico, como para o Antárctico, admitir uma tal situação – herdada de uma visão estática dos modelos sem considerar a existência real da circulação atmosférica – é um desacerto: os pólos são ambos pontos de partida do ar frio e de retorno do ar quente.

Ar frio e quente que seguem caminhos bem organizados que explicam a distribuição regional das temperaturas daí resultantes. Este género de raciocínio poderia ser usado por alguém que pretendesse estudar, por exemplo, o clima do Mediterrâneo.

Começando por fechar hermeticamente todas as entradas e saídas de ar. Ou seja, sem entrada de ventos frios do Norte e de ventos quentes do Sul. Espantoso, não é? A ACIA tem, entretanto, exactamente o mesmo tipo de pensamento ao prever o aquecimento geral para o Árctico…

As incoerências da ACIA colocam várias questões. A primeira consiste em saber donde vêm o «frio» e o «calor». A segunda, se o Árctico – ou qualquer área – pode ser independente da dinâmica geral.

É necessário, agora e de agora em diante, destacar que é impossível considerar um elemento ou uma área sem tomar em consideração os outros elementos do conjunto em todas as escalas do espaço e do tempo.

A estrutura geral das alterações do clima é a circulação geral e o principal factor desta circulação é o AMP: Anticiclone Móvel Polar (Leroux, 1983, 1993, 1996, 1998, 2001, 2005).

(continua)
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Referências bibliográficas
-Leroux, Marcel (1993). The Mobile Polar High: a new concept explaining present mechanisms of meridional airmass and energy exchanges and propagation of changes. Global and Planet Change, 7. 69-93.
- ACIA (2004). Arctic Climate Impact Assessment (http://www.acia.uaf.edu/)
- Chapman, W. I. et Walsh, J. E. (2004). Observed climate change in the Arctic. Recent variations of sea ice and air temperature in high latitudes. In ACIA, 2004.
- Leroux, Marcel (1983). Le climat de l’Afrique tropicale. T1 : 636 pp., T2 : notice et atlas de 250 cartes. Ed. Champion-Slatkine, Paris-Genève.
- Leroux, Marcel (1996, 2001). La dynamique du temps et du climat. Masson-Sciences, Dunod, 367 pp.
- Leroux, Marcel (1998). Dynamic analysis of weather and climate. Wiley-Praxis series in Atmospheric Physic., 365 pp.
- Leroux, Marcel (2001). The Meteorology and Climate of Tropical Africa. Springer-Praxis, 550 pp. + CD.
- Leroux, Marcel (2005). Global warming, myth or reality ? The erring ways of climatology. Praxis-Springer, 509 pp.