sábado, abril 25, 2009

Entrevista à Novopress (1)

Foi publicada online uma entrevista do editor do MC à Novopress. A entrevista pode ser lida na íntegra em Novopress. Esta agência publica todos os dias vários artigos e notícias dedicados aos órgãos de comunicação social em geral.

Devido à extensão da entrevista, MC vai reproduzi-la numa série de posts.
____________

1) Sr. Rui Moura, pode-se apresentar aos nossos leitores? Actividades, interesses, participação cívica, etc.?

Como estudante fui o que se considera um bom aluno. Sempre no quadro de honra e nos primeiros lugares nas escolas por onde passei. A instrução primária foi feita em Lourenço Marques de onde segui directamente para um colégio interno de índole militar, em Lisboa. Aqui fiz o secundário e um curso médio, chegando ao fim como Comandante de Batalhão. Fui o antecessor do meu grande amigo Dr. Medina Carreira que também foi Comandante de Batalhão.

Segui os estudos no Instituto Superior Técnico, de Lisboa, suportados por uma bolsa de estudo da Câmara Municipal de Lourenço Marques. Dada a minha preparação anterior, o curso universitário de seis anos foi completado com relativa facilidade. No IST também pertenci sempre ao quadro de honra e obtive os primeiros prémios do primeiro ao último ano. Assim, atribuíram-me os prémios do melhor aluno do 6º ano do Curso e de melhor aluno de todos os seis anos do Curso de Engenharia Electrotécnica. No IST encontrei grandes mestres como os Prof. Bento de Jesus Caraça, Mira Fernandes, Ferreira Dias e Ferrer Moncada. Fui convidado para Assistente deste último e, mais tarde, numa remodelação do IST, para Prof. Auxiliar.

A minha vida profissional foi ocupada no sector energético nacional por convite do Prof. Ferreira Dias. Depois do 25 de Abril, com a abertura dos cursos de mestrado, fiz o primeiro curso que se realizou no Instituto Superior de Economia e Gestão sobre economia, energia e ambiente. Neste curso encontrei grandes mestres franceses, especialmente no domínio da programação e gestão da energia. Recordo os Prof. Bertrand Chateau, Jacques Percebois e Pierre Criqui que foram consultores da Comissão Europeia.

Devido à boa classificação do curso de mestrado fui oficialmente convidado a ir trabalhar para a Comissão Europeia, em Bruxelas, como especialista português nos domínios do curso de mestrado. Encarregaram-me da gestão de vários Programas Comunitários relacionados com energia, ambiente, investigação e desenvolvimento e telecomunicações. Desse tempo não posso esquecer o Presidente Jacques Delors que marcou uma época na Comunidade Europeia.

Regressado a Portugal fui nomeado para trabalhar na Comissão do Plano Energético Nacional. Participei na elaboração do último Plano Energético Nacional de 1992. Durante os trabalhos de execução deste plano tive a oportunidade de pela primeira vez em Portugal, e com a experiência trazida de Bruxelas, abordar, em colaboração com o staff da Comissão do Plano Energético Nacional, a ligação do sector energético nacional com as emissões de gases para a atmosfera que era um tema da actualidade na Comissão Europeia. Foi publicado, em 1992, um relatório do Ministério da Indústria e Energia – de que na altura era ministro o Engº Mira Amaral – que hoje se pode considerar histórico, designado «Incidência Ambiental da Evolução do Sistema Energético. Emissões de SO2, NOx, CO2. 1990-2010.».

Durante a preparação dos estudos que originaram este relatório, tive oportunidade de discutir com os especialistas portugueses ligados ao assunto e verificar a falta de profundidade de conhecimentos existentes nesta matéria, a nível nacional. Reformei-me logo a seguir e dediquei-me ao estudo aprofundado da climatologia para tirar dúvidas e enriquecer os meus conhecimentos.

Fiz um curso de mestrado de meteorologia de uma universidade canadiana e verifiquei com espanto quanto difícil e débil eram os fundamentos desta matéria. Aumentou o meu respeito pelos meteorologistas e climatologistas por terem abraçado uma vida dedicada a uma matéria tão complexa e, ao mesmo tempo, tão pouco unificada. Para quem estava habituado ao estudo do electromagnetismo suportado por uma teoria tão forte como a das chamadas equações de Maxwell foi uma surpresa verificar que em meteorologia e climatologia existiam tantas escolas de pensamento com algumas contradições insolúveis e a falta de uniformidade e de síntese das várias escolas.

Aconselharam-me a participar num fórum internacional com os maiores meteorologistas e climatologistas internacionais – com opiniões diversas e às vezes contraditórias – até que descobri os trabalhos do climatologista francês Prof. Marcel Leroux, que fazia parte do fórum. Fiquei deslumbrado por encontrar pela primeira vez algo com lógica explicativa e baseado nas observações meteorológicas confirmadas pelas dos satélites que iniciaram a sua tarefa em 1979.

O Prof. Marcel Leroux mostrou-se desde logo aberto a me facilitar o caminho dos seus vastíssimos conhecimentos. Deu-me o privilégio de me considerar seu amigo e discípulo. Tudo o que sei se deve aos seus pacientes e persistentes ensinamentos. Consegui pô-lo em contacto com dois dos mais distintos Prof. de climatologia portugueses e esteve quase a iniciar uma colaboração apertada com uma universidade portuguesa não fora o seu falecimento prematuro.

Tenho ainda a esperança de colocar Portugal no topo da climatologia moderna ao entrelaçar uma universidade portuguesa com a Universidade de Lyon, França, onde o Prof. Marcel Leroux deixou uma escola que floresce com muitos alunos interessados nesta matéria. Um Prof. de climatologia de uma universidade portuguesa já se mostrou interessado no intercâmbio com a Universidade de Lyon. Falta arranjar o financiamento para levar à prática esse projecto.

Actualmente, sou o editor do blog: http://mitos-climaticos.blogspot.com

(continua)