O Árctico em 2007 e em 2008 (2)
A diminuição da extensão da banquisa (mar gelado) é mais pronunciada, em termos homólogos, no Verão do que nas outras estações – vide “O gelo não desaparece radicalmente (2)”.
O declínio nos meses de Setembro tem-se verificado a uma taxa média de 10,2 % ± 3,4 % por década, desde o início das medições por satélites. Nos meses de Março a taxa média de declínio situa-se em valores absolutos muito inferiores (2,8 % ± 0,8 % por década).
Nos restantes meses, o declínio tem-se situado entre estes conjuntos de valores, sendo geralmente inferior a 5 % por década. Incluindo todos os meses do ano, o declínio é manifesto com se nota na Fig. 121.
Obviamente, esta anomalia de 2007 provocou uma abundância de comentários durante muito tempo, todos eles acompanhados de uma previsão, geralmente catastrófica, sobre o futuro da banquisa estival do Árctico.
As ditas previsões iam até ao desaparecimento total em 2040, em 2030, em 2020 e já mesmo em 2010. Daqui a dois anos, portanto! Teríamos um Verão “quase” sem vento (as eólicas entravam de férias), sem frio (nem de noite), sem pinga de chuva, sem variação da pressão atmosférica, sem ondulação no mar e sem ondas de calor.
Tudo isso aconteceria devido à diminuição da potência e frequência dos anticiclones móveis polares (AMP) originados no Árctico. Só a Gronelândia impediria que o “quase” se transformasse mesmo em “sem” tudo isso… Que maravilha…
Um trabalho recente de Marika Holland et al. (Marika, 2006) (1) mostrou que o resultado mais «pessimista» dos exercícios de simulação com o modelo CCSM3 (Community Climate System Model, version 3) previa um Oceano Árctico quase liberto de gelo cerca de 2040. Enquanto que outros resultados menos «pessimistas» situavam a data entre 2050 e 2080. Mas virá a ser isto verdadeiro?
Poder-se-ia meditar sobre o carácter “alarmante” em si de um Oceano Árctico liberto de gelo no Verão. O mesmo se diz para o carácter pouco realista daquele género de exercícios de simulação.
E, até, do irrealismo de estudos que enfrentam a dificuldade da modelação da dinâmica dos gelos e da variabilidade das regiões polares e subpolares – vide “Ausência de aquecimento antropogénico no Árctico”.
Em ciências climáticas, um recorde sazonal ou anual tem significado restrito. Interessa, fundamentalmente, saber explicar o sucedido. Uma tendência significativa analisa-se num período longo (p.e., 30 anos):
- A tendência 1979-2007 observada pelos satélites é anormal ou corresponde a uma repetição da evolução do Árctico com precedentes?
- Esta tendência é originada pelo aquecimento de origem antropogénica ou por outras causas?
No post anterior viu-se que o NSDIC (associado da NOAA) (*) afirma que não são os gases com efeito de estufa os causadores desta evolução dos gelos do Árctico – vide “O Árctico em 2007 e em 2008 (1)”.
Quanto à repetição, são estudos paleoclimáticos que confirmam este facto. De entre muitos, existe um estudo deveras interessante realizado por cientistas portuguesas, que detectaram a existência do Período Quente Medieval (entre 550 e 1300, acrónimo internacional MWP, de Medieval Warm Period) e da Pequena Idade do Gelo (entre 1300 e 1900, acrónimo LIA, de Little Ice Age) relativamente à zona de Lisboa.
Fátima Abrantes, primeira autora do estudo (Abrantes, 2005) (2), e colegas descrevem uma oscilação de 2 ºC à escala centenária durante os dois milénios. Nesse estudo foi ainda detectado o sinal do Terramoto de Lisboa.
As cientistas portuguesas e os colegas, alguns estrangeiros, analisaram o comportamento do índice NAO – North Atlantic Oscillation durante as suas fases positiva do Período Quente Medieval (MWP) e negativa da Pequena Idade do Gelo (LIA).
Ora, analisar a NAO é o mesmo que analisar o comportamento do Árctico. É o Árctico que determina a NAO. Verificou-se que o Árctico na fase positiva do Período Quente Medieval se comportou como se comportou no início e no fim do séc. XX e no dealbar do séc. XXI.
Veja-se o que tão distintos autores disseram:
«On the basis of the excellent match found between the negative phases of the North Atlantic Oscillation (NAO) index and the intensified Tagus River discharge observed for the last century, it is hypothesized that the increased influx of terrigenous material during the LIA reflects a negative NAO-like state or the occurrence of frequent extreme NAO minima. During the milder few centuries of the MWP, stronger coastal upwelling conditions are attributed to a persistent, positive NAO-like state or the frequent occurrence of extreme NAO maxima.»
Na fase negativa da NAO o Árctico está relativamente menos frio, especialmente nos Invernos. Os anticiclones móveis polares são mais fracos e têm menor frequência. As suas trajectórias são menos meridionais. As aglutinações anticiclónicas (AA) – nomeadamente o nosso mui querido anticiclone dos Açores – são menos fortes e as depressões da Islândia são menos cavadas. No espaço aerológico que engloba a Europa ocidental as AA são menos frequentes, menos extensas no espaço e mais curtas no tempo. As pressões atmosféricas são mais baixas. Nestas condições o estado do tempo é mais clemente e as ondas de calor são praticamente inexistentes. Tudo isto acontece em situações tipo LIA.
Na fase positiva da NAO o Árctico está mais frio, especialmente nos Invernos. Os AMP são mais potentes e mais frequentes. As suas trajectórias são mais meridionais. As AA, nomeadamente a dos Açores, são mais potentes, extensas e de latitudes mais baixas. A depressão da Islândia é mais cavada. As trocas meridionais de energia são mais intensas. O tempo é mais violento. As AA no espaço aerológico que engloba a Europa ocidental são mais frequentes, mais extensas no espaço e de maior duração no tempo. As pressões atmosféricas são mais elevadas. Assim, o estado do tempo é mais agreste e as ondas de calor são mais frequentes. Tudo isto acontece em situações tipo MWP. É o que nós estamos a viver.
Na fase negativa a temperatura é a variável explicativa do estado do tempo. Na fase positiva é a pressão atmosférica que toma o papel principal para a explicação do estado do tempo.
Na fase negativa, as trocas meridionais de energia são menores e a temperatura – que é um proxy físico dessas trocas energéticas – é mais baixa. Na fase positiva a temperatura sobe pois aumentam as trocas meridionais de energia.
Não há a mínima dúvida de que a fase positiva do MWP, que é a mesma da actualidade, é exactamente contrária ao cenário de aquecimento global que estaria ligado a pressões atmosféricas mais baixas.
Ou seja, o famoso “global warming” só existe na imaginação de quem não consegue descortinar o funcionamento exacto da máquina térmica do nosso maravilhoso planeta. O planeta Terra não necessita de ser salvo de coisa nenhuma a não ser do embuste do IPCC e dos seus seguidores.
____________
(1) - Holland M. et al. (2006), Future abrupt reductions in the summer Arctic sea ice, Geophysical Research Letters, 33, L23503, doi:10.1029/2006GL028024.
(2) – Abrantes, Fátima et al. (2005), Shallow-marine sediment cores record climate variability and earthquake activity off Lisbon (Portugal) for the last 2000 years, Quaternary Science Reviews, 24, 2477–2494.
(*) NSIDC - National Snow and Ice Data Center (University of Colorado, Boulder)
NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration
O declínio nos meses de Setembro tem-se verificado a uma taxa média de 10,2 % ± 3,4 % por década, desde o início das medições por satélites. Nos meses de Março a taxa média de declínio situa-se em valores absolutos muito inferiores (2,8 % ± 0,8 % por década).
Nos restantes meses, o declínio tem-se situado entre estes conjuntos de valores, sendo geralmente inferior a 5 % por década. Incluindo todos os meses do ano, o declínio é manifesto com se nota na Fig. 121.
Obviamente, esta anomalia de 2007 provocou uma abundância de comentários durante muito tempo, todos eles acompanhados de uma previsão, geralmente catastrófica, sobre o futuro da banquisa estival do Árctico.
As ditas previsões iam até ao desaparecimento total em 2040, em 2030, em 2020 e já mesmo em 2010. Daqui a dois anos, portanto! Teríamos um Verão “quase” sem vento (as eólicas entravam de férias), sem frio (nem de noite), sem pinga de chuva, sem variação da pressão atmosférica, sem ondulação no mar e sem ondas de calor.
Tudo isso aconteceria devido à diminuição da potência e frequência dos anticiclones móveis polares (AMP) originados no Árctico. Só a Gronelândia impediria que o “quase” se transformasse mesmo em “sem” tudo isso… Que maravilha…
Um trabalho recente de Marika Holland et al. (Marika, 2006) (1) mostrou que o resultado mais «pessimista» dos exercícios de simulação com o modelo CCSM3 (Community Climate System Model, version 3) previa um Oceano Árctico quase liberto de gelo cerca de 2040. Enquanto que outros resultados menos «pessimistas» situavam a data entre 2050 e 2080. Mas virá a ser isto verdadeiro?
Poder-se-ia meditar sobre o carácter “alarmante” em si de um Oceano Árctico liberto de gelo no Verão. O mesmo se diz para o carácter pouco realista daquele género de exercícios de simulação.
E, até, do irrealismo de estudos que enfrentam a dificuldade da modelação da dinâmica dos gelos e da variabilidade das regiões polares e subpolares – vide “Ausência de aquecimento antropogénico no Árctico”.
Em ciências climáticas, um recorde sazonal ou anual tem significado restrito. Interessa, fundamentalmente, saber explicar o sucedido. Uma tendência significativa analisa-se num período longo (p.e., 30 anos):
- A tendência 1979-2007 observada pelos satélites é anormal ou corresponde a uma repetição da evolução do Árctico com precedentes?
- Esta tendência é originada pelo aquecimento de origem antropogénica ou por outras causas?
No post anterior viu-se que o NSDIC (associado da NOAA) (*) afirma que não são os gases com efeito de estufa os causadores desta evolução dos gelos do Árctico – vide “O Árctico em 2007 e em 2008 (1)”.
Quanto à repetição, são estudos paleoclimáticos que confirmam este facto. De entre muitos, existe um estudo deveras interessante realizado por cientistas portuguesas, que detectaram a existência do Período Quente Medieval (entre 550 e 1300, acrónimo internacional MWP, de Medieval Warm Period) e da Pequena Idade do Gelo (entre 1300 e 1900, acrónimo LIA, de Little Ice Age) relativamente à zona de Lisboa.
Fátima Abrantes, primeira autora do estudo (Abrantes, 2005) (2), e colegas descrevem uma oscilação de 2 ºC à escala centenária durante os dois milénios. Nesse estudo foi ainda detectado o sinal do Terramoto de Lisboa.
As cientistas portuguesas e os colegas, alguns estrangeiros, analisaram o comportamento do índice NAO – North Atlantic Oscillation durante as suas fases positiva do Período Quente Medieval (MWP) e negativa da Pequena Idade do Gelo (LIA).
Ora, analisar a NAO é o mesmo que analisar o comportamento do Árctico. É o Árctico que determina a NAO. Verificou-se que o Árctico na fase positiva do Período Quente Medieval se comportou como se comportou no início e no fim do séc. XX e no dealbar do séc. XXI.
Veja-se o que tão distintos autores disseram:
«On the basis of the excellent match found between the negative phases of the North Atlantic Oscillation (NAO) index and the intensified Tagus River discharge observed for the last century, it is hypothesized that the increased influx of terrigenous material during the LIA reflects a negative NAO-like state or the occurrence of frequent extreme NAO minima. During the milder few centuries of the MWP, stronger coastal upwelling conditions are attributed to a persistent, positive NAO-like state or the frequent occurrence of extreme NAO maxima.»
Na fase negativa da NAO o Árctico está relativamente menos frio, especialmente nos Invernos. Os anticiclones móveis polares são mais fracos e têm menor frequência. As suas trajectórias são menos meridionais. As aglutinações anticiclónicas (AA) – nomeadamente o nosso mui querido anticiclone dos Açores – são menos fortes e as depressões da Islândia são menos cavadas. No espaço aerológico que engloba a Europa ocidental as AA são menos frequentes, menos extensas no espaço e mais curtas no tempo. As pressões atmosféricas são mais baixas. Nestas condições o estado do tempo é mais clemente e as ondas de calor são praticamente inexistentes. Tudo isto acontece em situações tipo LIA.
Na fase positiva da NAO o Árctico está mais frio, especialmente nos Invernos. Os AMP são mais potentes e mais frequentes. As suas trajectórias são mais meridionais. As AA, nomeadamente a dos Açores, são mais potentes, extensas e de latitudes mais baixas. A depressão da Islândia é mais cavada. As trocas meridionais de energia são mais intensas. O tempo é mais violento. As AA no espaço aerológico que engloba a Europa ocidental são mais frequentes, mais extensas no espaço e de maior duração no tempo. As pressões atmosféricas são mais elevadas. Assim, o estado do tempo é mais agreste e as ondas de calor são mais frequentes. Tudo isto acontece em situações tipo MWP. É o que nós estamos a viver.
Na fase negativa a temperatura é a variável explicativa do estado do tempo. Na fase positiva é a pressão atmosférica que toma o papel principal para a explicação do estado do tempo.
Na fase negativa, as trocas meridionais de energia são menores e a temperatura – que é um proxy físico dessas trocas energéticas – é mais baixa. Na fase positiva a temperatura sobe pois aumentam as trocas meridionais de energia.
Não há a mínima dúvida de que a fase positiva do MWP, que é a mesma da actualidade, é exactamente contrária ao cenário de aquecimento global que estaria ligado a pressões atmosféricas mais baixas.
Ou seja, o famoso “global warming” só existe na imaginação de quem não consegue descortinar o funcionamento exacto da máquina térmica do nosso maravilhoso planeta. O planeta Terra não necessita de ser salvo de coisa nenhuma a não ser do embuste do IPCC e dos seus seguidores.
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(1) - Holland M. et al. (2006), Future abrupt reductions in the summer Arctic sea ice, Geophysical Research Letters, 33, L23503, doi:10.1029/2006GL028024.
(2) – Abrantes, Fátima et al. (2005), Shallow-marine sediment cores record climate variability and earthquake activity off Lisbon (Portugal) for the last 2000 years, Quaternary Science Reviews, 24, 2477–2494.
(*) NSIDC - National Snow and Ice Data Center (University of Colorado, Boulder)
NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration
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