quarta-feira, julho 25, 2007

Qual temperatura?

O Prof. Bob Carter questiona: - Tem significado a temperatura média global (Tmg) da superfície terrestre? Desenvolve um subcapítulo em que duvida do significado físico das médias estatísticas das temperaturas apresentadas pelo IPCC.

Três autores, Essex, McKritick e Andersen dizem sarcasticamente que a Tmg terá o mesmo significado, para o sistema climático, que terá a média dos números de telefone, para o sistema telefónico. Não explicam nada quanto aos respectivos sistemas.

A temperatura tem significado físico num sistema homogéneo. O sistema climático está longe de ser homogéneo. A Tmg não explica qual é o clima, por exemplo, de Portugal, da Finlândia ou da China.

Os fenómenos que controlam o clima, como as circulações gerais da atmosfera e dos oceanos, determinam climas locais e regionais. No entanto, ignoremos estes argumentos e sigamos o raciocínio do IPCC.

O IPCC promulgou extensivamente a noção de Tmg através de uma curva (Fig. BC3). Os valores desta curva são baseados num algoritmo que estima o valor dito médio de observações obtidas com termómetros, desde 1850.

Admitamos que o conceito de Tmg é significativo. Mas coloquemos a questão de saber se é possível estabelecer uma estimativa precisa do seu valor. Os racionalistas, como o dr. Vicent Gray, dizem que a curva só é aceitável como ponto de partida para reflexão.

Segundo o Prof. Bob Carter, a utilização desta curva para explicar as variações eternas do clima enfrenta, pelo menos, cinco dificuldades insuperáveis.

Em primeiro lugar, os locais de medição não têm uma distribuição uniforme. Mais de 90 % estão localizados no solo dos continentes. Ora, este representa apenas 30 % da superfície terrestre. Os outros 70 % são relativos aos oceanos com 10 % de observações.

Em segundo lugar, esses locais sofreram modificações que afectaram as temperaturas (urbanizações, arborizações retiradas ou implantadas, etc.). A comparação das medições de um mesmo local é prejudicada pela evolução da envolvente.

Estudos de alguns autores sugerem que, por exemplo, na Europa, a taxa de variação das temperaturas médias por cem anos foi de 0,67 ºC em estações meteorológicas urbanas e de 0,37 ºC em rurais, para valores do período 1881-2004.

Em terceiro lugar, o número de estações meteorológicas consideradas tem variado drasticamente. Em 1850 começou com 200 locais. Saltou para 14 mil em 1965. Baixou para 5 mil no ano 2000. A redução teve a ver com o grau de confiança das observações.

Em quarto lugar, a temperatura de cada lugar foi determinada pela média dos valores máximos e mínimos diários. As séries históricas obtidas com esta metodologia obsoleta afastam-se do rigor da tecnologia actual de registos contínuos com médias integrais.

E, finalmente, em quinto lugar, o que é o mais grave de tudo, a reconstrução da Tmg da superfície do planeta anunciada pelo IPCC não pode ser reproduzida por qualquer pacífico cidadão. É tudo muito secreto, como é norma no IPCC.

Não é possível verificar a veracidade dos valores anunciados pelo IPCC. É fora do normal em ciência. Ver-se-á, no final do artigo, na Adenda, que McIntyre (o co-autor que detectou a fraude do «hockey stick») tem mais um problema bicudo para resolver.

Cada um de nós pode ser forçado a concluir que, apesar de tanto alarido, do esforço na compilação, no tratamento dos dados e nos valores anunciados, a Tmg obtida com termómetros tem um valor bastante reduzido.

Variações de menos de 1 ºC durante um século como as indicadas na curva da Fig. BC3 podem nem sequer exceder as barras de erros das Tmg estimadas! Como tal, têm maior valor as estimativas da evolução no sec. XX obtidas com proxies de alta qualidade.

Os proxies podem ser de sedimentos marinhos, de cilindros de gelo ou de anéis das árvores. A maioria mostra que não se detecta uma variação climática local ou regional que justifique a variação global anunciada pelo IPCC, no final do século passado.

A Fig. BC3 merece mais algumas palavras. Estão representadas duas curvas. A curva vermelha é a das anomalias da Tmg (ºC) entre 1861-2001, relativamente à média de 1961-1990, com barras de erros. A fonte foi o relatório do IPCC de 2001.

A segunda curva, a preto, representa a concentração atmosférica de dióxido de carbono (ppm – partes por milhão em volume). Foi estimada com as emissões da queima de combustíveis fósseis no mesmo período. Traçou-se sem barras de erros.

Ressalta de imediato que existe falta de correspondência entre as duas curvas. A covariação, no mesmo sentido, até à década de 1970 aparece apenas em curtos períodos. Enquanto a concentração é monotonamente crescente, as anomalias crescem e decrescem até então.

Salienta-se o período de 1950 a 1970 com estabilização e até descidas das temperaturas (englobando o Óptimo Climático Contemporâneo) sem que a concentração de dióxido de carbono tenha deixado de subir.

Só a partir desta década de 1970 é que se acentuou a covariação, no mesmo sentido, entre estas duas variáveis. Como esta não explica as variações climáticas é necessário procurar outra causa para se entender os fenómenos registados. Fica para novo post.

Por agora destaca-se apenas o período entre 1910 e 1935 de subida das temperaturas com secas prolongadas. Abarca o drama histórico registado por John Steinbeck no seu livro «As Vinhas da Ira». O SORUMBÁTICO acaba de publicar uma anedota que caracteriza esse período.

P.S. Acrescentrou-se, entre virgulas, "no mesmo sentido", após a duas citações da palavra "covariação".