terça-feira, janeiro 30, 2007

Trocas meridionais (3.1)

Marcel Leroux (Estocolmo, 11-12 Set. 2006, trad. Rui G. Moura)
(continuação)
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3 – Circulação nas baixas camadas: Anticiclone Móvel Polar (AMP)

Os conceitos clássicos da circulação geral dão preferência às camadas superiores [da atmosfera - NT]. Supõem que estas comandam o estado do tempo e o clima. Os modelos não são construídos a partir de um esquema de circulação geral.

Pelo contrário, «esta é que se supõe despontar dos modelos». Nós rompemos com esta afirmação e damos prioridade absoluta às observações directas e aos factos reais. Consideramos que os níveis inferiores [da atmosfera] são de primordial importância em climatologia.

As camadas inferiores são mais densas e contêm quase todo o vapor de água. A circulação é muito mais complexa nas camadas inferiores do que nas superiores. Consideramos também que um conhecimento – a priori – da estrutura geral permite-nos colocar no sítio certo todos os fenómenos meteorológicos. Evita-nos imaginar relações hipotéticas mas irrealistas sem ter previamente estabelecido as relações físicas.

Como toda a gente sabe, os pólos são o ponto de partida do ar frio. As trajectórias do ar frio são determinadas por factores dinâmicos e geográficos. Os AMP saídos dos Pólos Norte e Sul são encaminhados para os Trópicos. Entretanto, o ar frio aquece e transforma-se em ventos alísios e monções. Finalmente, estes ventos juntam-se ao longo do equador meteorológico.

O ar frio polar organiza-se sob a forma de um conjunto móvel constituído por um anticiclone, voltado a leste, envolvido parcialmente por uma depressão ciclónica.

Fundamentalmente, o AMP (Fig. ML6) é igualmente responsável pelo transporte de ar frio a partir dos pólos e pelo transporte de ar quente para os pólos. [Na Fig. ML6, as cores diferenciam o ar frio – azul – do ar quente, ou menos frio – vermelho]. O estado do tempo associado [a estes transportes] é uma função da densidade do ar frio (que evolui ao longo do trajecto):

- O ar frio denso, ligado à circulação anticiclónica, comanda a estabilidade e o tempo frio (geralmente) ou quente. O tempo depende de cada AMP e da sua própria evolução em cada estação, em cada latitude e, especialmente, da sua mobilidade.

- O ar quente leve, da circulação ciclónica, vindo do sentido sul [no HN], no corredor periférico e na depressão (ciclone) imprime movimentos ascendentes e uma coroa de nuvens em torno do AMP. Deve-se destacar, aqui e agora, pela razão das passagens incessantes de ar quente e de ar frio durante o deslocamento dos AMP, que os valores da temperatura média têm, inevitavelmente, um significado [físico] relativo.

A transferência, pela circulação ciclónica, de ar tropical em direcção ao Pólo Norte [ML raciocina, quase sempre, em relação ao HN] acima e lateralmente ao AMP, necessita muitas vezes da participação de vários AMP que se relacionam entre si.

Mas um vasto AMP pode muitas vezes ser o suficiente para transferir, directamente, o ar quente e o calor latente dos Trópicos para a região dos pólos. Como o ar frio é denso, resulta que os AMP são peliculares, em forma de disco, com uma espessura média de cerca de 1000 a 1500 metros.

O deslocamento de um AMP é, consequentemente, bastante influenciado pelo relevo. Especialmente pelos alinhamentos compridos como as Montanhas Rochosas e a Cordilheira dos Andes. Estes [alinhamentos geográficos] são intransponíveis pelo ar frio.

(continua)