sexta-feira, maio 22, 2009

Como não medir a espessura do gelo árctico

Rematando as desventuras dos carbo-fóbicos, terminou a expedição designada Catlin Arctic Survey. A equipa foi resgatada, a 17 de Maio de 2009, depois de completar menos de metade da viagem planeada através do Pólo Norte.

No regresso a Londres, o The Guardian escreveu:

«After 73 days, the Catlin Arctic Survey has come to an end. Pen Hadow's team of British Arctic explorers has battled to the North Pole through freezing conditions collecting data about the ice en route. The Guardian has been following the expedition's progress with images, audio, video and blogs sent back by the team. You can find full coverage here»

Tendo em consideração a deriva dos gelos boreais, pode-se perguntar quanto gelo foi realmente atravessado e quantas medidas precisas foram feitas, perto umas das outras, do gelo recente.

O líder da expedição revelou que os resultados iniciais das medições mostraram uma espessura média de gelo de 1,774 m (ao milímetro!). Já seria uma espessura notável para gelo de primeiro ano como se convenciona chamar.

Disse também que o gelo de segundo ano era muito mais. Mas não conseguiram lá chegar, para o medir, visto que o frio era de tal modo intenso que os conduziu ao colapso da expedição.

Esta expedição resume-se do seguinte modo:

- Devido ao frio, à hipotermia e ao congelamento dos seus membros, a expedição cobriu menos de metade do previsto;
- A distância que indicam ter coberto deveu-se mais à deriva polar (cruzaram a latitude 85 ºN enquanto dormiam) do que ao avanço do trenó;
- A expedição partiu em cima de gelo de primeiro ano e de lá não saiu;
- Os exploradores ficaram surpreendidos com tanto frio e gelo de primeiro ano;
- As medições da espessura do gelo que realizaram não têm qualquer significado quanto à situação da enorme extensão do mar gelado do Árctico.

O Árctico pode atingir 14 milhões de quilómetros quadrados de mar gelado (25 vezes a França). A expedição Catlin percorreu uma linha de 435 km (a linha da fronteira França-Espanha). Perfurou, ao deus-dará, alguns pontos. Que conclusões válidas se podem tirar desta expedição?

Esta aventura teve o patrocínio de Sua Alteza Real Príncipe de Gales e do responsável da WWF. Este apoio da equipa de três exploradores tinha o objectivo de “sensibilizar os políticos” – como disse o responsável da WWF.

Pretendia medir, ao longo de um percurso de 1000 km, a espessura do mar gelado do Árctico (Catlin Arctic Survey). O objectivo declarado no site desta expedição era, bem entendido, mostrar que o Árctico estaria a derreter aceleradamente. O que é falso…

Foi uma expedição muito arriscada, tendo em conta o clima violento dominante no Pólo Norte, sobretudo na época em que foi realizada a expedição. Esteve sempre em dificuldade. Ficou bloqueada a 550 km do objectivo que era o centro do Pólo Norte.

Todo o equipamento de medida de elevado valor, com que iniciaram a expedição, foi destruído pelo frio e pela neve. Os exploradores ficaram limitados a medições “à mão”. Isto é, com um perfurador manual – espécie de verruma de carpinteiro – e uma régua.

É desnecessário acrescentar que a contribuição destas medidas directas para a ciência é nula. De facto, são pouco significativas perante a grande heterogeneidade da espessura do gelo e por serem medidas esparsas ao longo de uma linha irregular.

Além disso, são pouco significativas devido ao movimento incessante das placas de gelo em perpétua deriva. São métodos dignos do séc. XIX … para “sensibilizar os políticos” do séc. XXI na aplicação de impostos sobre a energia e o CO2!