quinta-feira, novembro 06, 2008

Morreu Michael Crichton, autor de Parque Jurássico

Por Jorge Pacheco de Oliveira

Embora mais conhecido através dos seus livros "techno-thrillers", entre os quais o do Parque Jurássico, Michael Crichton foi também um grande opositor das teses do aquecimento global. O seu último livro, “State of Fear”, versa precisamente este tema e, como seria de esperar, valeu-lhe um coro de críticas.

Todavia, através de outras intervenções públicas, Michael Crichton explicou muito bem a sua posição e não se cansou de chamar a atenção para os perigos da politização da Ciência, uma ameaça que ele claramente encontrava na corrente alarmista do aquecimento global. Não estava sozinho.

Michael Crichton chega a comparar a teoria do aquecimento global ao advento da eugenia, o estudo da hereditariedade humana na perspectiva das condições que melhor podem favorecer o “aperfeiçoamento da raça”, uma filosofia que se tornou moda durante as primeiras décadas do século XX.

Como recorda Michael Crichton, a eugenia foi suportada por políticos como Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson e Winston Churchill ; por juízes do Supremo Tribunal, como Oliver Wendell Holmes e Louis Brandeis, que legislaram a favor daquela teoria ; por outros nomes famosos como Alexander Graham Bell, inventor do telefone ; Margaret Sanger, activista ; Luther Burbank, botânico ; Leland Stanford, fundador da Stanford University ; H. G. Wells, novelista ; George Bernard Shaw, dramaturgo ; e centenas de outras personalidades, incluindo laureados com o Prémio Nobel …

A pesquisa sobre a eugenia foi suportada pelas Fundações Carnegie e Rockefeller. O Instituto Cold Springs Harbor foi construído para levar a cabo investigações sobre a eugenia, mas outros importantes trabalhos foram efectuados em Harvard, Yale, Princeton, Stanford e Johns Hopkins.

Todo este esforço científico teve o suporte da Academy of Sciences, da American Medical Association e do National Research Council. Chegou a ser dito que se Jesus fosse vivo, ele próprio teria apoiado todo este esforço.

A pesquisa, a produção de legislação e a manipulação da opinião pública acerca da eugenia prolongaram-se ao longo de quase meio século. Os que se opunham à teoria eram apelidados de reaccionários, cegos à realidade, ou puros ignorantes.

Torna-se surpreendente que tão poucas pessoas se tenham oposto àquela teoria, que hoje se reconhece como pseudo-ciência. As ameaças anunciadas não existiam. As acções levadas a cabo em nome daquela teoria eram moral e criminalmente erradas. Em última análise, levaram à morte de milhões de pessoas. De facto, a eugenia teve resultados práticos dramáticos nas experiências dos nazis, motivo pelo qual, após a 2ª Guerra Mundial, a teoria foi abandonada.

Todavia, tal como acontece hoje com o aquecimento global, a eugenia foi consensualmente aceite e patrocinada por eminentes personalidades políticas e científicas da época. A politização da Ciência é um perigo real. Foi este o importante alerta deixado por Michael Crichton.
____________

Notícia: PÚBLICO.PT