Trocas meridionais (7)
Marcel Leroux (Estocolmo, 11-12 Set. 2006, trad. Rui G. Moura)
(continuação)
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7 – Subida da pressão atmosférica superficial
As variações do clima, depois do shift dos anos 1970, foram transmitidas pela circulação geral com várias características específicas em cada unidade [aerológica – NT].
Enquanto algumas regiões conhecem Depressões acentuadas, que se tornam necessário contrabalançar, outras regiões conhecem um aumento das pressões atmosféricas superficiais, comandadas por AMP reforçados.
Este aumento da pressão, verificado desde a variação brusca dos anos 1970, está ligado não só às passagens dos próprios AMP, mas também às suas aglutinações.
Consequentemente, a pressão de superfície cresce nos designados «anticiclones subtropicais», no lado oriental dos oceanos. Cada AA torna-se cada vez mais expandida.
As Fig. ML27, ML29 e ML30 mostram já este fortalecimento sobre o Atlântico Norte, sobre o Mediterrâneo e sobre a África do Norte.
A Fig. ML39 apresenta o crescimento da pressão na costa sul do México (nordeste do Oceano Pacífico) entre 1948 e 2003 (Barbier, 2004).
[As Fig. ML39 a ML44 não apresentam a melhor qualidade. No entanto, mostram bem as tendências crescentes nos períodos respectivos.]
Por outro lado, a Fig. ML40 mostra o notável crescimento em Macau ao longo da segunda parte do século anterior. Este facto, verificado no sul, estende-se até ao centro da China (Leroux, 2003).
No Hemisfério Sul, a pressão superficial cresceu na parte do Oceano Atlântico (Anticiclone de Santa Helena) (Fig. ML41), no Oceano Índico (Anticiclone das Mascarenhas) e no Oceano Pacífico (Anticiclone da Páscoa) (Leroux, 2005).
A Fig. ML42 mostra este crescimento em Hobart, na Tasmânia, durante a segunda metade do século passado.
Este aumento da pressão foi também acompanhado por uma expansão espacial dos «anticiclones subtropicais» e, consequentemente, a estabilidade anticiclónica afecta gradualmente uma área cada vez mais maior.
Sobre o continente, a presença dos relevos, em função das suas alturas e orientações, pode favorecer a formação de aglutinações, especialmente mas não só, durante o Inverno.
Sobre a Europa, por exemplo, a Fig. ML43 (Vigouroux, 2004) revela que no sul da Alemanha (Baviera), próximo do Lago Constança, a pressão está nitidamente a subir devido à presença do alinhamento dos Alpes no caminho dos AMP (Fig. ML15).
Em França, este papel é desempenhado pela barreira Alpina e pela cadeia de montanhas dos Cantábricos e Pirenéus. A Fig. ML44 mostra o constante crescimento da pressão no «centro» da França (2,5 ºE x 47,5 ºN) durante o período de 1948-2005.
Entre outras consequências, estes fenómenos explicam a eventual ocorrência das estabilidades anticiclónicas com falta de chuva e períodos de calor.
Nos Açores, o seu Anticiclone tende a estender-se, particularmente no Verão, quando a AA se move para Norte. Esta expansão adiciona a sua alta pressão especialmente sobre o lado ocidental das Ilhas.
Esta extensão ensolarada pode promover o turismo, mas a falta de precipitação, ou mesmo a seca, afecta seriamente as actividades agrícolas.
Tal evolução da pressão superficial dá uma indicação sobre as mudanças do estado do tempo desde o desvio abrupto dos anos 1970 em relação à potência e mobilidade dos AMP:
- Os AMP mais potentes formam Aglutinações Anticiclónicas mais duradouras e mais extensas, tanto no Inverno como no Verão;
- Na passagem dos AMP o estado do tempo torna-se mais violento, com tempestades e ventos de rajadas fortes. Somente um novo AMP mais denso e potente do que os antecedentes pode interromper uma aglutinação estável. O estado do tempo torna-se então mais irregular, alternando períodos calmos com períodos perturbados.
- As ondas de calor e as ondas de frio sucedem-se, alternando os fortes contrastes térmicos.
- A precipitação torna-se irregular com uma má distribuição sazonal. Alternam inundações com secas. A Primavera e o Verão transformam-se em estações húmidas. Nestas estações do ano, as montanhas recebem abundante queda de neve. Enquanto isso, no pino do Inverno (com AA na base das montanhas) a neve torna-se rara.
Estas observações, e muitas outras não indicadas nesta apresentação (vide Leroux, 2005), revelam que estas alterações se verificam nos dois hemisférios meteorológicos. Significa que toda a circulação geral entrou já no modo rápido.
[Esta conclusão aponta para uma tendência de frio e não de calor, a médio e longo prazo.]
Permita-se-nos, mais uma vez, refrescar as nossas ideias sobre as características do modo de circulação rápido. Refere-se, não somente à baixas camadas mas à totalidade da troposfera (Leroux, 1993,1998, 2005).
AMP mais fortes e AA mais extensas e deslocadas para os Trópicos tornam a zona meteorológica tropical mais estreita. Mas (paradoxalmente), os alísios e as monções tornam-se mais fortes.
As trocas meridionais de massas de ar são intensificadas e (o que é fundamental) cada vez mais calor sensível e calor latente (vapor de água) são exportados pelos fluxos de ar tropical cada vez mais rápidos.
Os fluxos de ar tropical são enviados para as zonas extratropicais [entre as latitudes 30 ºN – 90 ºN e 30 ºS – 90 ºS], pelos corredores frontais [vide Fig. ML6 e ponto 3.1] dos AMP que agora penetram, profundamente, nos Trópicos [30 ºN – 30 ºS].
Nalgumas regiões das zonas temperadas e zonas polares, a precipitação está a aumentar e a temperatura está a descer. Esta situação deve-se à vantagem dos consideráveis fornecimentos externos, como se destacou anteriormente [dois parágrafos antecedentes].
Mas, ao mesmo tempo, e pelo contrário, as zonas tropicais [30 ºN – 30 ºS] são desprovidas de uma parte do seu potencial precipitável de água. O potencial precipitável é captado e desviado para Norte e para Sul pelos AMP.
Ao longo do período 1950-2000, a largura da zona meteorológica tropical, dinamicamente compreendida entre os eixos [horizontais] das AA do norte e do sul, estreitou-se aproximadamente em cerca de 4 º a 5 º de latitude do Oceano Atlântico.
O estreitamento realizou-se, recentemente, com um recuo tímido (Pommier, 2006. Fig. 45). É, portanto, uma indicação de abundante precipitação no Sahel numa zona cada vez mais estreita. Esta zona de estreitamento seguiu, exactamente, a mesma evolução referida anteriormente (Mahé G., l' Hôte Y., 2004. Fig. 46).
(continua)
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Referências bibliográficas
- Barbier, E. (2004). La dynamique du temps et du climat en Amérique Centrale.Th. Univ., LCRE, Lyon.
- Leroux, Marcel. (2005). Global warming: myth or reality? The erring wais of climatology. Springer-Praxis, 509 pp.
- Vigouroux, G. (2004). Les hauts et les bas de la neige dans les Alpes Français. Univ. LCRE, Lyon.
- Leroux, Marcel. (1993). The Mobile Polar High : a new concept explaining present mechanisms of meridional airmass and energy exchanges and propagation of pal. changes. Global and Planet Change, 7, 69-93.
- Leroux M. (1998). Dynamic analysis of weather and climate. Wiley-Praxis series in Atmosph. Phys., 365 pp.
- Pommier, Alexis. (2006). Analyses of Highs and Lows tracks in South and North Atlantic from 1958 to 2000. 6th EMS Annual Meeting, Ljubljana, Sept.
- Mahé G., l’Hôte Y. (2004). Sahel, une sécheresse persistante et un environnement profondément modifié. La Météorologie, 44, 2-3.
(continuação)
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7 – Subida da pressão atmosférica superficial
As variações do clima, depois do shift dos anos 1970, foram transmitidas pela circulação geral com várias características específicas em cada unidade [aerológica – NT].
Enquanto algumas regiões conhecem Depressões acentuadas, que se tornam necessário contrabalançar, outras regiões conhecem um aumento das pressões atmosféricas superficiais, comandadas por AMP reforçados.
Este aumento da pressão, verificado desde a variação brusca dos anos 1970, está ligado não só às passagens dos próprios AMP, mas também às suas aglutinações.
Consequentemente, a pressão de superfície cresce nos designados «anticiclones subtropicais», no lado oriental dos oceanos. Cada AA torna-se cada vez mais expandida.
As Fig. ML27, ML29 e ML30 mostram já este fortalecimento sobre o Atlântico Norte, sobre o Mediterrâneo e sobre a África do Norte.
A Fig. ML39 apresenta o crescimento da pressão na costa sul do México (nordeste do Oceano Pacífico) entre 1948 e 2003 (Barbier, 2004).
[As Fig. ML39 a ML44 não apresentam a melhor qualidade. No entanto, mostram bem as tendências crescentes nos períodos respectivos.]
Por outro lado, a Fig. ML40 mostra o notável crescimento em Macau ao longo da segunda parte do século anterior. Este facto, verificado no sul, estende-se até ao centro da China (Leroux, 2003).
No Hemisfério Sul, a pressão superficial cresceu na parte do Oceano Atlântico (Anticiclone de Santa Helena) (Fig. ML41), no Oceano Índico (Anticiclone das Mascarenhas) e no Oceano Pacífico (Anticiclone da Páscoa) (Leroux, 2005).
A Fig. ML42 mostra este crescimento em Hobart, na Tasmânia, durante a segunda metade do século passado.
Este aumento da pressão foi também acompanhado por uma expansão espacial dos «anticiclones subtropicais» e, consequentemente, a estabilidade anticiclónica afecta gradualmente uma área cada vez mais maior.
Sobre o continente, a presença dos relevos, em função das suas alturas e orientações, pode favorecer a formação de aglutinações, especialmente mas não só, durante o Inverno.
Sobre a Europa, por exemplo, a Fig. ML43 (Vigouroux, 2004) revela que no sul da Alemanha (Baviera), próximo do Lago Constança, a pressão está nitidamente a subir devido à presença do alinhamento dos Alpes no caminho dos AMP (Fig. ML15).
Em França, este papel é desempenhado pela barreira Alpina e pela cadeia de montanhas dos Cantábricos e Pirenéus. A Fig. ML44 mostra o constante crescimento da pressão no «centro» da França (2,5 ºE x 47,5 ºN) durante o período de 1948-2005.
Entre outras consequências, estes fenómenos explicam a eventual ocorrência das estabilidades anticiclónicas com falta de chuva e períodos de calor.
Nos Açores, o seu Anticiclone tende a estender-se, particularmente no Verão, quando a AA se move para Norte. Esta expansão adiciona a sua alta pressão especialmente sobre o lado ocidental das Ilhas.
Esta extensão ensolarada pode promover o turismo, mas a falta de precipitação, ou mesmo a seca, afecta seriamente as actividades agrícolas.
Tal evolução da pressão superficial dá uma indicação sobre as mudanças do estado do tempo desde o desvio abrupto dos anos 1970 em relação à potência e mobilidade dos AMP:
- Os AMP mais potentes formam Aglutinações Anticiclónicas mais duradouras e mais extensas, tanto no Inverno como no Verão;
- Na passagem dos AMP o estado do tempo torna-se mais violento, com tempestades e ventos de rajadas fortes. Somente um novo AMP mais denso e potente do que os antecedentes pode interromper uma aglutinação estável. O estado do tempo torna-se então mais irregular, alternando períodos calmos com períodos perturbados.
- As ondas de calor e as ondas de frio sucedem-se, alternando os fortes contrastes térmicos.
- A precipitação torna-se irregular com uma má distribuição sazonal. Alternam inundações com secas. A Primavera e o Verão transformam-se em estações húmidas. Nestas estações do ano, as montanhas recebem abundante queda de neve. Enquanto isso, no pino do Inverno (com AA na base das montanhas) a neve torna-se rara.
Estas observações, e muitas outras não indicadas nesta apresentação (vide Leroux, 2005), revelam que estas alterações se verificam nos dois hemisférios meteorológicos. Significa que toda a circulação geral entrou já no modo rápido.
[Esta conclusão aponta para uma tendência de frio e não de calor, a médio e longo prazo.]
Permita-se-nos, mais uma vez, refrescar as nossas ideias sobre as características do modo de circulação rápido. Refere-se, não somente à baixas camadas mas à totalidade da troposfera (Leroux, 1993,1998, 2005).
AMP mais fortes e AA mais extensas e deslocadas para os Trópicos tornam a zona meteorológica tropical mais estreita. Mas (paradoxalmente), os alísios e as monções tornam-se mais fortes.
As trocas meridionais de massas de ar são intensificadas e (o que é fundamental) cada vez mais calor sensível e calor latente (vapor de água) são exportados pelos fluxos de ar tropical cada vez mais rápidos.
Os fluxos de ar tropical são enviados para as zonas extratropicais [entre as latitudes 30 ºN – 90 ºN e 30 ºS – 90 ºS], pelos corredores frontais [vide Fig. ML6 e ponto 3.1] dos AMP que agora penetram, profundamente, nos Trópicos [30 ºN – 30 ºS].
Nalgumas regiões das zonas temperadas e zonas polares, a precipitação está a aumentar e a temperatura está a descer. Esta situação deve-se à vantagem dos consideráveis fornecimentos externos, como se destacou anteriormente [dois parágrafos antecedentes].
Mas, ao mesmo tempo, e pelo contrário, as zonas tropicais [30 ºN – 30 ºS] são desprovidas de uma parte do seu potencial precipitável de água. O potencial precipitável é captado e desviado para Norte e para Sul pelos AMP.
Ao longo do período 1950-2000, a largura da zona meteorológica tropical, dinamicamente compreendida entre os eixos [horizontais] das AA do norte e do sul, estreitou-se aproximadamente em cerca de 4 º a 5 º de latitude do Oceano Atlântico.
O estreitamento realizou-se, recentemente, com um recuo tímido (Pommier, 2006. Fig. 45). É, portanto, uma indicação de abundante precipitação no Sahel numa zona cada vez mais estreita. Esta zona de estreitamento seguiu, exactamente, a mesma evolução referida anteriormente (Mahé G., l' Hôte Y., 2004. Fig. 46).
(continua)
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Referências bibliográficas
- Barbier, E. (2004). La dynamique du temps et du climat en Amérique Centrale.Th. Univ., LCRE, Lyon.
- Leroux, Marcel. (2005). Global warming: myth or reality? The erring wais of climatology. Springer-Praxis, 509 pp.
- Vigouroux, G. (2004). Les hauts et les bas de la neige dans les Alpes Français. Univ. LCRE, Lyon.
- Leroux, Marcel. (1993). The Mobile Polar High : a new concept explaining present mechanisms of meridional airmass and energy exchanges and propagation of pal. changes. Global and Planet Change, 7, 69-93.
- Leroux M. (1998). Dynamic analysis of weather and climate. Wiley-Praxis series in Atmosph. Phys., 365 pp.
- Pommier, Alexis. (2006). Analyses of Highs and Lows tracks in South and North Atlantic from 1958 to 2000. 6th EMS Annual Meeting, Ljubljana, Sept.
- Mahé G., l’Hôte Y. (2004). Sahel, une sécheresse persistante et un environnement profondément modifié. La Météorologie, 44, 2-3.
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