terça-feira, fevereiro 13, 2007

Trocas meridionais (6.1)

Marcel Leroux (Estocolmo, 11-12 Set. 2006, trad. Rui G. Moura)
(continuação)
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6 – Alterações no Árctico e no Antárctico

6.1 – Alterações no Árctico

A área do Árctico está, simultaneamente, a aquecer e a arrefecer, como se disse anteriormente [no ponto 2 – NT]. A distribuição das consequências térmicas está bem organizada em relação aos eixos principais das trocas meridionais de ar.

As regiões que arrefeceram estão localizadas no caminho preferencial dos AMP. As que aqueceram estão principalmente ligadas às Depressões. Devido à passagem incessante de fluxos de ar frio e de ar quente o sinal térmico resultante só pode ser modesto.

Podem existir, igualmente, alguns outros efeitos contraditórios. Por exemplo, no Mar da Noruega, a tendência crescente das Depressões associadas aos AMP americanos é contrariada pela tendência igualmente crescente dos AMP escandinavos…

A Fig. ML5 (fonte da ACIA) mostra este antagonismo na parte norte da Escandinávia. Nesta zona aparece tanto o aquecimento como o arrefecimento, especialmente no Inverno.

Consequentemente, a temperatura média não pode ser aceite [como representativa da evolução], tal como tem sido, sem uma cuidadosa análise. De facto, os mecanismos dinâmicos e as suas consequências térmicas estão fortemente ligados.

Colocam-se duas situações:

1) - Um défice térmico polar atenuado (menos frio polar) está associado a AMP mais fracos (modo lento ou índices NADI/NAO negativos). Significa uma redução da transferência de ar (e da água do mar) quente para o Norte.

As Depressões são menos profundas e vão menos para Norte. A temperatura média resultante está, portanto, próxima da «normal». [Esta situação verifica-se no Verão e verificar-se-ia num cenário hipotético de «aquecimento global» se se mantivesse todo o ano.]

2) - Um défice térmico polar acentuado (zona polar ocidental mais fria, Fig. ML28) associado a AMP mais fortes (modo rápido ou índices NADI/NAO positivos).

Significa, como se verifica, que os AMP provocam uma intensificação da transferência de ar (e da água do mar) quente para Norte. As Depressões são, pois, mais cavadas e caminham mais para Norte.

A temperatura média resultante está, portanto, acima da «normal». [Esta situação, que se verifica no Inverno, acentuou-se a partir dos anos 1970 e, consequentemente, implica uma “temperatura média global anual” - que não explica a evolução climática -, acima da média].

A Fig. ML31 [temperatura média anual em Godthhaab e índice NAO, 1900-1995] pode, esquematicamente, mostrar a evolução deste tipo de relação [1 ou 2] durante quase todo o século passado: a temperatura em Godthhaab (oeste da Gronelândia) é representativa da área arrefecida uniformemente (Fig. ML5).

O índice NAO (Fig. ML31) revela a dinâmica desta unidade do Atlântico. Quando a temperatura era suave (meados do século) o índice NAO estava numa fase negativa (Fig. ML26). Essa situação manifestava uma fraqueza das transferências meridionais [caso 1 ].

Mas quando a temperatura arrefeceu, progressivamente, o índice NAO, agora nitidamente anti-correlacionado, estava numa fase positiva. Manifestava, gradualmente, uma intensificação das trocas meridionais do ar [caso 2].

A Fig. ML32 (obtida no sítio web www.john-daly.com) mostra [temperatura anual média em Reykjavik e Akureyri, Islândia, 1882-2002] num período longo, que aquela região, situada nos limites dos campos térmicos, pode ser influenciada tanto pelo arrefecimento (a maior parte da curva) como pelo aquecimento (no período recente).

A influência deve-se à intensificação das trocas que é seguida por uma expansão da área de aquecimento ciclónico (e da «Depressão da Islândia»).

Estas curvas das temperaturas enfatizam, mais uma vez, a necessidade de as análises terem de ser feitas numa conjunção apertada com as dinâmicas exactas.

Na parte do Árctico dentro da unidade aerológica do Atlântico Norte (Fig. ML28), o aquecimento (iniciando-se no Nordeste da América, Fig. ML19) está profundamente incorporado mais a norte (Fig. ML23) do Mar da Noruega e regiões circunvizinhas.

O aquecimento é canalizado, em parte, entre a Gronelândia e os Alpes Escandinavos e é trazido pelas Depressões, vindas do Sul, pelas transferências de ar do calor sensível e latente (vapor de água).

A temperatura está, portanto, a subir, a precipitação está a aumentar (com neve, especialmente nas regiões montanhosas), a pressão está a baixar (Fig. ML24) e o mau estado do tempo acentua-se (WASA Group, 1998).

No norte desta região, o mar gelado pode derreter facilmente, aquecido pelo fluxo de ar (e pela água do mar superficial) quente também dirigido para Norte.

Uma outra região conhece, pelas mesmas razões dinâmicas, um recente e acentuado aquecimento.

Na parte norte da unidade aerológica do Oceano Pacífico Norte (Fig. ML10), o Alasca está também envolvido pelo aumento da actividade das Depressões (Fig. ML33, Fontes: Favre, 2002 e Leroux, 2005).

Aqui, no Alasca, as transferências meridionais são fortemente controladas pelo alinhamento das Montanhas Rochosas.

A circulação ciclónica do ar quente, desviado pelos AMP, é vigorosamente encaminhada e elevada para Norte, especialmente, quando a Cadeia do Alasca forma barreira [à passagem do ar].

Nesta região extensa, que corresponde aproximadamente à designada Depressão Aleutiana, são também observados:

- Um aumento da temperatura do ar e do mar;
- Um aumento da precipitação e da queda de neve;
- Uma diminuição marcada da pressão superficial;
- E, em ligação com as Depressões cavadas, um aumento das tempestades (Graham, Diaz. 2001).

O prolongamento da transferência para o pólo desta área de aquecimento, para além do Estreito de Bering, corresponde precisamente à segunda região onde o mar gelado derrete mais facilmente.

Mas, a parte central da região do Árctico, menos facilmente atingida pelos fluxos de ar (e da água do mar) quente vindos do Sul, permanece praticamente inalterada (mesmo relativamente ao Verão).

(continua)
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Referências bibliográficas
- WASA Group (1998). Changing waves and storms in the Northeast Atlantic. Bulletin AMS, 795, 741-760.
- Favre, A. (2002). L’évolution récente de la dynamique aérologique dans le Pacifique Nord. Ecole Normale Supérieure, Fête de la Science, Lyon.
- Leroux, M. (2005). Global Warming: Myth or Reality? The Erring Ways of Climatology. Praxis-Springer, 509 pp.
- Graham, N.E., Diaz, H.F. (2001). Evidence for intensification of North Pacific winter cyclones since 1948. Bull. MAS, vol. 82, 9, 1869-1893.