Trocas meridionais (5)
Marcel Leroux (Estocolmo, 11-12 Set. 2006, trad. Rui G. Moura)
(continuação)
____________
5 – Variações dinâmicas recentes na unidade Atlântico Norte
Pommier (2005) analisou atentamente a evolução recente da dinâmica dentro desta unidade de circulação ao longo do período 1950-2000. Concluiu, relativamente aos AMP, que:
- Nesse período, o número de AMP aumentou (especialmente o de AMP mais potentes), com a particularidade do aumento ser significativo durante os anos mais recentes (Fig. ML20);
- A latitude mínima atingida pelos AMP deslocou-se para Sul (Fig. ML21).
Ao longo do mesmo período (1950-2000), em relação aos AMP, a evolução das depressões apresentou algumas características notáveis:
- As Depressões foram mais frequentes, especialmente durante os anos 1990 (Fig. ML22);
- A latitude alcançada pelas Depressões foi constantemente deslocada mais para Norte (Fig. ML23);
- As Depressões foram mais cavadas (Fig. ML24);
- A velocidade de deslocamento aumentou regularmente (Fig. ML25).
Esta evolução particular na unidade do Atlântico Norte é também revelada pelos seguintes índices específicos (Fig. ML26):
- NAO, Oscilação do Atlântico Norte (Wanner, 1999; Hurrell, et ali., 2001), que mede, nas estações fixas (enquanto tudo se move), a diferença das pressões entre a Alta dos Açores e a Baixa da Islândia;
- NADI, Índice Dinâmico do Atlântico Norte (Pommier, 2005), que integra, cuidadosamente, a frequência, a pressão, a extensão, a duração, a velocidade, a latitude e a longitude, tanto dos AMP como das Depressões.
Por integrar mais variáveis (7), o NADI é mais representativo [do que o NAO – NT] das dinâmicas reais.
Qualquer destes índices mostra uma fase positiva recente que revela uma viragem climática decisiva nos anos 1970.
Tal como vimos no comportamento dos AMP e Depressões, esta viragem ressalta, claramente, na evolução da pressão de superfície do designado Anticiclone dos Açores (Fig. ML27).
De facto, no período 1948-2002, esta evolução do Anticiclone dos Açores caracteriza-se por um vincado crescimento desde os anos 1970.
A Fig. ML28 [que corresponde à Fig. 52 que, para se acompanhar a descrição do texto de ML, convém ser utilizada simultaneamente] sintetiza as variações do clima na unidade do Atlântico Norte.
As variações estão ligadas a uma intensificação das trocas meridionais de ar e de energia desde os anos de 1970 (modo rápido da circulação, segundo Leroux, 1993).
A característica fundamental que deve ser enfatizada é que as variações são regionais relativamente ao comportamento dos AMP e Depressões (Leroux, 2005).
Numa tal fase alta (índice positivo) do NADI/NAO (ou modo rápido), os AMP são potentes, o Árctico ocidental é mais frio, o tempo é mais violento, as trocas meridionais são intensificadas.
As aglutinações anticiclónicas oceânicas são mais fortes e mais extensas e as correntes oceânicas comandadas pelos ventos são mais rápidas (os AMP exercem uma tensão mais forte).
A unidade Atlântico Norte exibe vários tipos de variação climática: algumas regiões arrefecem enquanto outras aquecem, as precipitações estão acima ou abaixo do normal, as pressões superficiais sobem ou descem [vide Fig. ML28 ou Fig. 52].
Consequentemente, não existe qualquer «clima Atlântico» e, a fortiori, muito menos existe um «clima global».
Estas variações estão todas sujeitas à mesma causa: o fortalecimento dos AMP. Os comportamentos regionais dependem da sua localização em relação aos trajectos seguidos pelos AMP e pelas Depressões, e da intensificação das trocas de frio e de calor.
Por exemplo, no Mediterrâneo, especialmente na sua parte oriental, o clima tem-se tornado mais frio e seco, enquanto a pressão superficial tem subido (Fig. ML29).
Na África do Norte, o fortalecimento dos alísios continentais, capaz de mover areias das dunas previamente fixas, tem deslocado o Equador Meteorológico para Sul, enquanto as chuvas de Verão se fixam abaixo do normal (seca Shaeliana).
A AA do Atlântico (ou Anticiclone dos Açores) mais forte (Fig. ML27 e ML30) estende-se mais para Sul. O Shael Atlântico (assim como o Arquipélago de Cabo Verde) é mais afectado pela seca do que a parte leste do continente (Leroux, 1983, 2001).
Os alísios marítimos são acelerados e conduzem para o oeste mais calor tropical, sensível e latente.
A área do Árctico Atlântico, que está longe de ser uma entidade isolada, também toma parte nesta dinâmica [da unidade aerológica do Atlântico Norte].
________________
Referências bibliográficas
- Pommier, Alexis. (2005). Analyse objective de la dynamique aérologique de basses couches dans l’espace Atlantique Nord : mécanismes et évolution de 1950 à 2000. Thèse, Univ., LCRE, Lyon.
- Leroux M. (1993). The Mobile Polar High : a new concept explaining present mechanisms of meridional air mass and energy exchanges and propagation of pal. changes. Global and Planet. Change, 7, 69-93.
- Leroux M. (2005). Global Warming: myth or reality ? The Erring Ways of Climatology. Praxis-Springer, 509 p
- Leroux M. (1983). Le climat de l’Afrique tropicale. T1 : 636 p., T2 : notice et atlas de 250 cartes. Ed. Champion-Slatkine, Paris-Genève.
- Leroux M. (2001). The Meteorology and Climate of Tropical Africa. Springer-Praxis, 550 p + CD.
- Wanner, H. (1999). Le balancier de l’Atlantique Nord. La Recherche, 321, 72-73.
- Hurrel, J.W. et ali. (2001). The North Atlantic Oscillation. Science, vol. 291, 603-604.
(continuação)
____________
5 – Variações dinâmicas recentes na unidade Atlântico Norte
Pommier (2005) analisou atentamente a evolução recente da dinâmica dentro desta unidade de circulação ao longo do período 1950-2000. Concluiu, relativamente aos AMP, que:
- Nesse período, o número de AMP aumentou (especialmente o de AMP mais potentes), com a particularidade do aumento ser significativo durante os anos mais recentes (Fig. ML20);
- A latitude mínima atingida pelos AMP deslocou-se para Sul (Fig. ML21).
Ao longo do mesmo período (1950-2000), em relação aos AMP, a evolução das depressões apresentou algumas características notáveis:
- As Depressões foram mais frequentes, especialmente durante os anos 1990 (Fig. ML22);
- A latitude alcançada pelas Depressões foi constantemente deslocada mais para Norte (Fig. ML23);
- As Depressões foram mais cavadas (Fig. ML24);
- A velocidade de deslocamento aumentou regularmente (Fig. ML25).
Esta evolução particular na unidade do Atlântico Norte é também revelada pelos seguintes índices específicos (Fig. ML26):
- NAO, Oscilação do Atlântico Norte (Wanner, 1999; Hurrell, et ali., 2001), que mede, nas estações fixas (enquanto tudo se move), a diferença das pressões entre a Alta dos Açores e a Baixa da Islândia;
- NADI, Índice Dinâmico do Atlântico Norte (Pommier, 2005), que integra, cuidadosamente, a frequência, a pressão, a extensão, a duração, a velocidade, a latitude e a longitude, tanto dos AMP como das Depressões.
Por integrar mais variáveis (7), o NADI é mais representativo [do que o NAO – NT] das dinâmicas reais.
Qualquer destes índices mostra uma fase positiva recente que revela uma viragem climática decisiva nos anos 1970.
Tal como vimos no comportamento dos AMP e Depressões, esta viragem ressalta, claramente, na evolução da pressão de superfície do designado Anticiclone dos Açores (Fig. ML27).
De facto, no período 1948-2002, esta evolução do Anticiclone dos Açores caracteriza-se por um vincado crescimento desde os anos 1970.
A Fig. ML28 [que corresponde à Fig. 52 que, para se acompanhar a descrição do texto de ML, convém ser utilizada simultaneamente] sintetiza as variações do clima na unidade do Atlântico Norte.
As variações estão ligadas a uma intensificação das trocas meridionais de ar e de energia desde os anos de 1970 (modo rápido da circulação, segundo Leroux, 1993).
A característica fundamental que deve ser enfatizada é que as variações são regionais relativamente ao comportamento dos AMP e Depressões (Leroux, 2005).
Numa tal fase alta (índice positivo) do NADI/NAO (ou modo rápido), os AMP são potentes, o Árctico ocidental é mais frio, o tempo é mais violento, as trocas meridionais são intensificadas.
As aglutinações anticiclónicas oceânicas são mais fortes e mais extensas e as correntes oceânicas comandadas pelos ventos são mais rápidas (os AMP exercem uma tensão mais forte).
A unidade Atlântico Norte exibe vários tipos de variação climática: algumas regiões arrefecem enquanto outras aquecem, as precipitações estão acima ou abaixo do normal, as pressões superficiais sobem ou descem [vide Fig. ML28 ou Fig. 52].
Consequentemente, não existe qualquer «clima Atlântico» e, a fortiori, muito menos existe um «clima global».
Estas variações estão todas sujeitas à mesma causa: o fortalecimento dos AMP. Os comportamentos regionais dependem da sua localização em relação aos trajectos seguidos pelos AMP e pelas Depressões, e da intensificação das trocas de frio e de calor.
Por exemplo, no Mediterrâneo, especialmente na sua parte oriental, o clima tem-se tornado mais frio e seco, enquanto a pressão superficial tem subido (Fig. ML29).
Na África do Norte, o fortalecimento dos alísios continentais, capaz de mover areias das dunas previamente fixas, tem deslocado o Equador Meteorológico para Sul, enquanto as chuvas de Verão se fixam abaixo do normal (seca Shaeliana).
A AA do Atlântico (ou Anticiclone dos Açores) mais forte (Fig. ML27 e ML30) estende-se mais para Sul. O Shael Atlântico (assim como o Arquipélago de Cabo Verde) é mais afectado pela seca do que a parte leste do continente (Leroux, 1983, 2001).
Os alísios marítimos são acelerados e conduzem para o oeste mais calor tropical, sensível e latente.
A área do Árctico Atlântico, que está longe de ser uma entidade isolada, também toma parte nesta dinâmica [da unidade aerológica do Atlântico Norte].
________________
Referências bibliográficas
- Pommier, Alexis. (2005). Analyse objective de la dynamique aérologique de basses couches dans l’espace Atlantique Nord : mécanismes et évolution de 1950 à 2000. Thèse, Univ., LCRE, Lyon.
- Leroux M. (1993). The Mobile Polar High : a new concept explaining present mechanisms of meridional air mass and energy exchanges and propagation of pal. changes. Global and Planet. Change, 7, 69-93.
- Leroux M. (2005). Global Warming: myth or reality ? The Erring Ways of Climatology. Praxis-Springer, 509 p
- Leroux M. (1983). Le climat de l’Afrique tropicale. T1 : 636 p., T2 : notice et atlas de 250 cartes. Ed. Champion-Slatkine, Paris-Genève.
- Leroux M. (2001). The Meteorology and Climate of Tropical Africa. Springer-Praxis, 550 p + CD.
- Wanner, H. (1999). Le balancier de l’Atlantique Nord. La Recherche, 321, 72-73.
- Hurrel, J.W. et ali. (2001). The North Atlantic Oscillation. Science, vol. 291, 603-604.
<< Home