quinta-feira, junho 12, 2008

A Nature, o IPCC e as fraudes científicas

O blog “EcoTretas”, cujo link se encontra afixado aqui ao lado, publicou ontem um interessante e oportuno post, intitulado Impostura Científica no peer-review , que vale a pena desenvolver um pouco mais.

O matemático inglês Douglas J. Keenan tem uma vasta experiência na crítica de artigos que têm sido publicados, aparentemente após revisão pelos pares, na revista Nature e depois utilizados pelo IPCC nos seus relatórios de avaliação.

O artigo “Historical phenology: Grape ripening as a past climate indicator”, publicado na Nature, mereceu-lhe uma análise aprofundada que veio ilustrar, a par e passo, um processo perturbador, em que se verificou uma efectiva falha da revisão pelos pares.

Aos leitores menos familiarizados com o termo, esclarece-se que Phenology, ou, em português Fenologia, é o estudo dos fenómenos biológicos recorrentes, ou sazonais, tais como o despontar de folhas e flores, o aparecimento de aves migratórias, a queda das folhas, etc., e a relação destes acontecimentos com os factores climáticos.

Pois, em 18 de Novembro de 2004, Isabelle Chuine e colegas – todos pertencentes a organismos franceses com ligações ao Centre National de la Recherche Scientific – publicaram o artigo acima indicado, relacionando-o com o «global warming».

Foi publicado na Nature, uma revista científica mundialmente conhecida. Além disso, a edição foi acompanhada de publicidade, como chamariz de mais uma hipotética prova da responsabilidade do Homem na evolução recente do clima.

Isabelle Chuine et al. afirmaram ter desenvolvido uma metodologia de avaliação das temperaturas de Verão, na Borgonha, França, para qualquer ano anterior até 1370 (com base nas datas da colheita de uvas da casta Pinot Noir).

Deste modo, com base num método peculiar, concluíram que o Verão mais quente na Borgonha, desde 1370, teria sido, de longe, o ano de 2003.

Douglas Keenan, que segue os estudos sobre o «global warming» de um modo crítico, recebeu este artigo através de um colega que lhe pediu uma opinião sobre a metodologia seguida pelos autores, a qual lhe parecia estranha.

Douglas leu o artigo e ficou cheio de dúvidas. Para o estudar mais profundamente, pediu a Isabelle Chuine e seus colegas o envio da base de dados e do algoritmo em que foram suportadas as conclusões do estudo publicado na Nature.

Os autores do artigo mostraram-se relutantes na abertura pretendida. A troca de mensagens demorou mais de oito meses. Douglas Keenan acabou por apresentar duas queixas formais à Nature. Mas nem assim obteve os elementos desejados. Teve de adquirir alguns dados através da Météo France, o instituto de meteorologia francês.

Depois de um grande esforço de análise, com os elementos da Météo France, tornou-se-lhe manifesto que existiam graves problemas metodológicos no trabalho de Isabelle Chuine et al. Keenan concluiu que os autores do artigo desenvolveram um método que dava uma falsa estimativa das temperaturas, em particular a de 2003.

Ou seja, uma metodologia errónea atribuía uma temperatura elevada ao ano de 2003 e temperaturas baixas anteriormente a este ano. Daí que proclamassem que 2003 teria sido o ano que apresentava o Verão mais quente desde 1370.

Esta conclusão errada dos autores do artigo era fácil de perceber sem haver necessidade de uma especialização científica em climatologia. Então, Keenan teve a seguinte dúvida: - Como é que os revisores da Nature (os ilustres peer-reviewers que dão a permissão para publicação) deixaram passar tamanha fraude?

Douglas Keenan perguntou à principal autora Isabelle Chuine quais tinham sido os elementos que eles tinham apresentado à Nature para apoiar a publicação do artigo. Douglas ficou atónito com a resposta recebida de Isabell: - “Nós nunca enviámos qualquer base de dados à Nature”!

O que torna este processo muito grave nem é sequer a veracidade ou a falsidade das afirmações de Isabelle Chuine et al. sobre as temperaturas de Verão na Borgonha. A gravidade deste caso reside no facto de um documento sobre um tema da maior importância da actualidade do mundo científico, o «global warming», motivo das mais sérias controvérsias, disputas e opiniões extremadas, ter sido tornado público naquela revista científica sem uma verificação adequada dos revisores antes da publicação.

Por outro lado, Douglas Keenan conseguiu mesmo elementos de prova prima facie da fraude científica. Chuine et al. tinham conhecimento de que as suas conclusões eram infundadas. O IPCC, claro, aproveitou este excelente maná para aduzir mais uma hipotética prova da culpabilidade do Homem no «global warming».

A partir desta experiência, Douglas Keenan passou a considerar ainda mais dúbias as publicações sobre o «global warming». Escreveu o artigo “The fraud allegation against some climatic research of Wei-Chyung Wang”, em que analisou uma outra fraude.

Wang Wei Chyung foi um investigador que, durante décadas, realizou vários estudos sobre aquecimento global. Mas Douglas provou que ele cometeu fraudes em algumas das suas investigações, incluindo a que foi citada no recente Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (2007) sobre "ilhas de calor urbano" (que é uma questão crítica do «global warming»).

No dia 20 de Fevereiro de 2008, a Universidade de Albany, Nova Iorque, escreveu ao Dr. Keenan confirmando que estava a investigar a sua exposição sobre as fraudes de Wang Wei Chyung que trabalha naquela universidade.

Neste artigo, Douglas J. Keenan levanta grandes dúvidas sobre trabalhos publicados pelo IPCC no seu Quarto Relatório de Avaliação, de 2007. As críticas mais importantes foram dirigidas a Phil Jones, o mentor das temperaturas obtidas pelos termómetros e aceites como boas pelo IPCC que as publica sem qualquer cautela.