A recomendação de Bertrand Russell
Por Jorge Pacheco de Oliveira
Num ensaio publicado em 1943, intitulado "An outline of Intellectual Rubbish" (este e outros ensaios estão reunidos no livro “Unpopular Essays”) Bertrand Russell deixa-nos algumas recomendações úteis no sentido de evitarmos várias das opiniões tontas em que humanidade é useira e vezeira.
Russell começa por dizer que, para o efeito, nem sequer é necessário possuir um génio sobre-humano, bastando um conjunto de regras simples para nos livrar, senão de todos os erros, pelo menos dos erros tolos.
Em primeiro lugar, segundo Russell, se o assunto se presta à observação, não há como fazermos a observação por nós próprios. E ironiza com Aristóteles, que podia ter evitado o erro de pensar que as mulheres tinham menos dentes do que os homens, bastando para isso pedir à própria esposa que mantivesse a boca aberta enquanto ele lhe contava os dentes. Mas Aristóteles não procedeu assim porque estava convencido de que já sabia o resultado.
Pensar que sabemos, quando não sabemos, constitui um erro fatal, a que todos estamos sujeitos. Para Russell, os autores antigos e medievais sabiam tudo acerca de unicórnios e salamandras, mas nenhum deles teve a prudência de evitar afirmações dogmáticas acerca de tais seres, pelo simples facto de nunca terem observado nenhum deles.
Mas Russell prossegue alertando para a existência de muitas matérias em que não é assim tão fácil o teste da observação. Se, como acontece com muitas pessoas, alguém se sente firmemente convencido acerca de alguma dessas matérias, ainda assim dispõe de processos para verificar se não estará a ser vítima de parcialidade ou de preconceito.
Com efeito, se uma opinião contrária põe alguém furioso, isso é sinal de que, subconscientemente, não está seguro da sua própria opinião.
E se alguém teima em dizer que dois e dois são cinco, ou que a Islândia fica no equador, o interlocutor poderá sentir-se apiedado, mas não furioso, a menos que saiba tão pouco de aritmética ou de geografia que a afirmação alheia contenda com alguma das suas próprias convicções.
De facto, as mais ferozes controvérsias são aquelas em que não existem provas definitivas em qualquer dos sentidos. A Teologia, por exemplo, dá origem a perseguições, que não se observam na Aritmética, porque neste caso existe conhecimento e na Teologia existe apenas opinião.
Assim, quando alguém sente que começa a ficar furioso com uma opinião diferente da sua, deve ficar alerta. E se fizer uma introspecção, provavelmente descobrirá que alimenta uma convicção que ultrapassa o que pode ser garantido pela prova experimental.
Esta tradução livre de uma passagem contida num ensaio de Bertrand Russell, num blog como o Mitos Climáticos, que encontra a sua principal razão de ser na controvérsia que envolve a teoria do aquecimento global, não é aqui deixada por acaso.
De facto, na controvérsia do aquecimento global são muito frequentes as intervenções de adeptos daquela teoria que revelam uma fúria descontrolada contra os críticos. Há variadíssimos exemplos nas caixas de comentários de outros blogs, em que o insulto descabelado faz parte da argumentação daqueles que estão convencidos de que o planeta vai extinguir-se num tremendo holocausto provocado pelas emissões antropogénicas de dióxido de carbono. A recomendação de Bertrand Russell é-lhes, assim, endereçada, na esperança de que o novo ano possa trazer-lhes mais calma e reflexão.
Num ensaio publicado em 1943, intitulado "An outline of Intellectual Rubbish" (este e outros ensaios estão reunidos no livro “Unpopular Essays”) Bertrand Russell deixa-nos algumas recomendações úteis no sentido de evitarmos várias das opiniões tontas em que humanidade é useira e vezeira.
Russell começa por dizer que, para o efeito, nem sequer é necessário possuir um génio sobre-humano, bastando um conjunto de regras simples para nos livrar, senão de todos os erros, pelo menos dos erros tolos.
Em primeiro lugar, segundo Russell, se o assunto se presta à observação, não há como fazermos a observação por nós próprios. E ironiza com Aristóteles, que podia ter evitado o erro de pensar que as mulheres tinham menos dentes do que os homens, bastando para isso pedir à própria esposa que mantivesse a boca aberta enquanto ele lhe contava os dentes. Mas Aristóteles não procedeu assim porque estava convencido de que já sabia o resultado.
Pensar que sabemos, quando não sabemos, constitui um erro fatal, a que todos estamos sujeitos. Para Russell, os autores antigos e medievais sabiam tudo acerca de unicórnios e salamandras, mas nenhum deles teve a prudência de evitar afirmações dogmáticas acerca de tais seres, pelo simples facto de nunca terem observado nenhum deles.
Mas Russell prossegue alertando para a existência de muitas matérias em que não é assim tão fácil o teste da observação. Se, como acontece com muitas pessoas, alguém se sente firmemente convencido acerca de alguma dessas matérias, ainda assim dispõe de processos para verificar se não estará a ser vítima de parcialidade ou de preconceito.
Com efeito, se uma opinião contrária põe alguém furioso, isso é sinal de que, subconscientemente, não está seguro da sua própria opinião.
E se alguém teima em dizer que dois e dois são cinco, ou que a Islândia fica no equador, o interlocutor poderá sentir-se apiedado, mas não furioso, a menos que saiba tão pouco de aritmética ou de geografia que a afirmação alheia contenda com alguma das suas próprias convicções.
De facto, as mais ferozes controvérsias são aquelas em que não existem provas definitivas em qualquer dos sentidos. A Teologia, por exemplo, dá origem a perseguições, que não se observam na Aritmética, porque neste caso existe conhecimento e na Teologia existe apenas opinião.
Assim, quando alguém sente que começa a ficar furioso com uma opinião diferente da sua, deve ficar alerta. E se fizer uma introspecção, provavelmente descobrirá que alimenta uma convicção que ultrapassa o que pode ser garantido pela prova experimental.
Esta tradução livre de uma passagem contida num ensaio de Bertrand Russell, num blog como o Mitos Climáticos, que encontra a sua principal razão de ser na controvérsia que envolve a teoria do aquecimento global, não é aqui deixada por acaso.
De facto, na controvérsia do aquecimento global são muito frequentes as intervenções de adeptos daquela teoria que revelam uma fúria descontrolada contra os críticos. Há variadíssimos exemplos nas caixas de comentários de outros blogs, em que o insulto descabelado faz parte da argumentação daqueles que estão convencidos de que o planeta vai extinguir-se num tremendo holocausto provocado pelas emissões antropogénicas de dióxido de carbono. A recomendação de Bertrand Russell é-lhes, assim, endereçada, na esperança de que o novo ano possa trazer-lhes mais calma e reflexão.
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