Aquecimento ou histeria global? (2)
Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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2. AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL
Na Figura CM1, mostrou-se que desvios de temperatura do ar para o globo terrestre, com relação à média do período 1961-1990, aumentaram cerca de 0,7 °C desde o ano de 1850. Vê-se que, até aproximadamente 1920, houve apenas variabilidade interanual em princípio, não tendo ocorrido aumento expressivo de temperatura nesse período extenso, embora haja relatos de ondas de calor como, por exemplo, a de 1896 nos Estados Unidos, que deixou mais de 3 mil mortos somente em Nova Iorque. Porém, entre 1920 e 1946, o aumento global foi cerca de 0,4 °C. No Ártico, em particular, em que há medições desde os anos 1880, o aumento foi cerca de 10 vezes maior nesse período.
Na seqüência, entre 1947 e 1976, houve um resfriamento global de cerca de 0,2 °C (reta inclinada), não explicado pelo IPCC e, a partir de 1977, a temperatura média global aumentou cerca de 0,4 °C . O próprio IPCC concorda que o primeiro período de aquecimento, entre 1920 e 1946, pode ter tido causas naturais, possivelmente o aumento da produção de energia solar e a redução de albedo planetário, discutidas mais abaixo. Antes do término da Segunda Guerra Mundial, as emissões decorrentes das ações antrópicas eram cerca de 6 % das atuais e, portanto, torna-se difícil argumentar que os aumentos de temperatura, naquela época, tenham sido causados pela intensificação do efeito-estufa pelas emissões antrópicas de carbono.
A polêmica que essa série de anomalias tem causado reside no fato de o segundo aquecimento, a partir de 1977, não ter sido verificado, aparentemente, em todas as partes do globo. A série de temperatura média para os Estados Unidos, por exemplo, não mostrou esse segundo aquecimento, sendo a década dos anos 1930 mais quente que a dos anos 1990. Na Figura CM2, mostraram-se os desvios da temperatura média global, obtida com dados dos instrumentos MSU (Microwave Scanning Unit) a bordo de satélites a partir de 1979. Note-se o pico de temperatura em 1998, cerca de 0,8 °C, associado ao evento El Niño considerado o mais forte do século passado, e que, desde 1998, as anomalias de temperaturas tem sido inferiores.
É sabido que eventos El Niños tendem aquecer o planeta. Segundo John Christy e Roy Spencer, da Universidade do Alabama, em Hunstsville (UAH), os dados do MSU indicaram um pequeno aquecimento global de 0,076 °C por década, enquanto os termômetros de superfície mostraram um aquecimento de 0,16 °C por década, ou seja, duas vezes maior no mesmo período. Para o Hemisfério Sul, satélites mostraram um aquecimento menor, de 0,052 °C por década. Em princípio, satélites são mais apropriados para medir temperatura global, pois fazem médias sobre grandes áreas, incluídos os oceanos, enquanto as estações climatométricas de superfície registram variações de seu micro ambiente, representando as condições atmosféricas num raio de cerca de 150 metros em seu entorno.
As estações climatométricas apresentam outro grande problema, além da não-padronização e mudança de instrumentação ao longo dos 150 anos passados. As séries mais longas disponíveis são de estações localizadas em cidades do “Velho Mundo” que se desenvolveram muito, particularmente depois da Segunda Guerra Mundial. Em média, a energia disponível do Sol (calor) é utilizada para evapotranspiração (evaporação dos solos e superfícies de água + transpiração das plantas) e para o aquecimento do ar durante o dia. Sobre superfícies vegetadas, a maior parte do calor é usada para a evapotranspiração, que resfria a superfície, e o restante para aquecer o ar.
Com a mudança da cobertura superficial, de campos com vegetação para asfalto e concreto, a evapotranspiração é reduzida e sobra mais calor para aquecer o ar próximo da superfície, aumentando sua temperatura. Adicione-se, ainda, o calor liberado pelos veículos e pelos edifícios aquecidos, particularmente em regiões fora dos trópicos no inverno. Esse é o chamado efeito de ilha de calor, que faz as temperaturas do ar serem, em média, 3 °C a 5 °C maiores nos grandes centros urbanos quando comparadas às de suas redondezas. Analisando os dados de Beijing e Wuhan, China, Ren et al (2007) [as referências bibliográficas são apresentadas no final, Capítulo 7], por exemplo, encontraram aumentos anuais e sazonais nas temperaturas urbanas entre 65-80 % e 40-61 %, respectivamente, com relação às estações rurais de suas vizinhanças.
Na Figura CM1, os dados foram “ajustados” para compensar o efeito da urbanização nas séries de temperatura, porém utilizaram métodos, ou algoritmos matemáticos, de correção que não necessariamente sejam apropriados ou representem a realidade, já que esse procedimento é subjetivo e, portanto, questionável. Em outras palavras, é impossível retirar o efeito de ilha de calor das séries de temperaturas urbanas. Uma das possibilidades, pois, é que o aquecimento a partir de 1977, que aparece nitidamente na Figura CM1, seja, em parte, resultante da urbanização em torno das estações climatométricas, ou seja, uma contribuição local, e não global, ao aquecimento.
Outro aspecto a ser considerado é o número de estações climatométricas. No início da série representada na Figura CM1, o número de estações era cerca de 200, praticamente todas no Hemisfério Norte. Na década de 1960, esse número superou a marca de 14 mil e, recentemente, menos de 2 mil estações são utilizadas para elaborar a “média global” da temperatura. A maior parte das estações desativadas estavam em regiões de difícil acesso, como zonas rurais e em regiões frias, como a Sibéria, por exemplo, que não estão sujeitas ao efeito de ilha de calor. Finalmente, um aspecto muito importante é que as séries de 150 anos são curtas para capturar a variabilidade de prazo mais longo do clima.
O período do final do Século XIX até as primeiras duas décadas do Século XX foi o final da “Pequena Era Glacial”, um período frio, bem documentado, que perdurou por cinco séculos. E esse período coincide com a época em que os termômetros começaram a ser instalados mundialmente. Portanto, o início das séries instrumentais de 150 anos, utilizada no Relatório do IPCC, ocorreu num período relativamente mais frio que o atual e leva, aparentemente, à conclusão errônea que as temperaturas atuais sejam muito altas ou “anormais” para o planeta.
Concluiu-se que existem problemas de representatividade, tanto espacial como temporal, das séries de temperatura observadas na superfície da Terra, o que torna extremamente difícil seu tratamento e sua amalgamação em uma única série. E que estações climatométricas de superfície, portanto, são inadequadas para determinar a temperatura média global da atmosfera terrestre, se é que se pode falar, cientificamente, numa “temperatura média global”.
(continua)
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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2. AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL
Na Figura CM1, mostrou-se que desvios de temperatura do ar para o globo terrestre, com relação à média do período 1961-1990, aumentaram cerca de 0,7 °C desde o ano de 1850. Vê-se que, até aproximadamente 1920, houve apenas variabilidade interanual em princípio, não tendo ocorrido aumento expressivo de temperatura nesse período extenso, embora haja relatos de ondas de calor como, por exemplo, a de 1896 nos Estados Unidos, que deixou mais de 3 mil mortos somente em Nova Iorque. Porém, entre 1920 e 1946, o aumento global foi cerca de 0,4 °C. No Ártico, em particular, em que há medições desde os anos 1880, o aumento foi cerca de 10 vezes maior nesse período.
Na seqüência, entre 1947 e 1976, houve um resfriamento global de cerca de 0,2 °C (reta inclinada), não explicado pelo IPCC e, a partir de 1977, a temperatura média global aumentou cerca de 0,4 °C . O próprio IPCC concorda que o primeiro período de aquecimento, entre 1920 e 1946, pode ter tido causas naturais, possivelmente o aumento da produção de energia solar e a redução de albedo planetário, discutidas mais abaixo. Antes do término da Segunda Guerra Mundial, as emissões decorrentes das ações antrópicas eram cerca de 6 % das atuais e, portanto, torna-se difícil argumentar que os aumentos de temperatura, naquela época, tenham sido causados pela intensificação do efeito-estufa pelas emissões antrópicas de carbono.
A polêmica que essa série de anomalias tem causado reside no fato de o segundo aquecimento, a partir de 1977, não ter sido verificado, aparentemente, em todas as partes do globo. A série de temperatura média para os Estados Unidos, por exemplo, não mostrou esse segundo aquecimento, sendo a década dos anos 1930 mais quente que a dos anos 1990. Na Figura CM2, mostraram-se os desvios da temperatura média global, obtida com dados dos instrumentos MSU (Microwave Scanning Unit) a bordo de satélites a partir de 1979. Note-se o pico de temperatura em 1998, cerca de 0,8 °C, associado ao evento El Niño considerado o mais forte do século passado, e que, desde 1998, as anomalias de temperaturas tem sido inferiores.
É sabido que eventos El Niños tendem aquecer o planeta. Segundo John Christy e Roy Spencer, da Universidade do Alabama, em Hunstsville (UAH), os dados do MSU indicaram um pequeno aquecimento global de 0,076 °C por década, enquanto os termômetros de superfície mostraram um aquecimento de 0,16 °C por década, ou seja, duas vezes maior no mesmo período. Para o Hemisfério Sul, satélites mostraram um aquecimento menor, de 0,052 °C por década. Em princípio, satélites são mais apropriados para medir temperatura global, pois fazem médias sobre grandes áreas, incluídos os oceanos, enquanto as estações climatométricas de superfície registram variações de seu micro ambiente, representando as condições atmosféricas num raio de cerca de 150 metros em seu entorno.
As estações climatométricas apresentam outro grande problema, além da não-padronização e mudança de instrumentação ao longo dos 150 anos passados. As séries mais longas disponíveis são de estações localizadas em cidades do “Velho Mundo” que se desenvolveram muito, particularmente depois da Segunda Guerra Mundial. Em média, a energia disponível do Sol (calor) é utilizada para evapotranspiração (evaporação dos solos e superfícies de água + transpiração das plantas) e para o aquecimento do ar durante o dia. Sobre superfícies vegetadas, a maior parte do calor é usada para a evapotranspiração, que resfria a superfície, e o restante para aquecer o ar.
Com a mudança da cobertura superficial, de campos com vegetação para asfalto e concreto, a evapotranspiração é reduzida e sobra mais calor para aquecer o ar próximo da superfície, aumentando sua temperatura. Adicione-se, ainda, o calor liberado pelos veículos e pelos edifícios aquecidos, particularmente em regiões fora dos trópicos no inverno. Esse é o chamado efeito de ilha de calor, que faz as temperaturas do ar serem, em média, 3 °C a 5 °C maiores nos grandes centros urbanos quando comparadas às de suas redondezas. Analisando os dados de Beijing e Wuhan, China, Ren et al (2007) [as referências bibliográficas são apresentadas no final, Capítulo 7], por exemplo, encontraram aumentos anuais e sazonais nas temperaturas urbanas entre 65-80 % e 40-61 %, respectivamente, com relação às estações rurais de suas vizinhanças.
Na Figura CM1, os dados foram “ajustados” para compensar o efeito da urbanização nas séries de temperatura, porém utilizaram métodos, ou algoritmos matemáticos, de correção que não necessariamente sejam apropriados ou representem a realidade, já que esse procedimento é subjetivo e, portanto, questionável. Em outras palavras, é impossível retirar o efeito de ilha de calor das séries de temperaturas urbanas. Uma das possibilidades, pois, é que o aquecimento a partir de 1977, que aparece nitidamente na Figura CM1, seja, em parte, resultante da urbanização em torno das estações climatométricas, ou seja, uma contribuição local, e não global, ao aquecimento.
Outro aspecto a ser considerado é o número de estações climatométricas. No início da série representada na Figura CM1, o número de estações era cerca de 200, praticamente todas no Hemisfério Norte. Na década de 1960, esse número superou a marca de 14 mil e, recentemente, menos de 2 mil estações são utilizadas para elaborar a “média global” da temperatura. A maior parte das estações desativadas estavam em regiões de difícil acesso, como zonas rurais e em regiões frias, como a Sibéria, por exemplo, que não estão sujeitas ao efeito de ilha de calor. Finalmente, um aspecto muito importante é que as séries de 150 anos são curtas para capturar a variabilidade de prazo mais longo do clima.
O período do final do Século XIX até as primeiras duas décadas do Século XX foi o final da “Pequena Era Glacial”, um período frio, bem documentado, que perdurou por cinco séculos. E esse período coincide com a época em que os termômetros começaram a ser instalados mundialmente. Portanto, o início das séries instrumentais de 150 anos, utilizada no Relatório do IPCC, ocorreu num período relativamente mais frio que o atual e leva, aparentemente, à conclusão errônea que as temperaturas atuais sejam muito altas ou “anormais” para o planeta.
Concluiu-se que existem problemas de representatividade, tanto espacial como temporal, das séries de temperatura observadas na superfície da Terra, o que torna extremamente difícil seu tratamento e sua amalgamação em uma única série. E que estações climatométricas de superfície, portanto, são inadequadas para determinar a temperatura média global da atmosfera terrestre, se é que se pode falar, cientificamente, numa “temperatura média global”.
(continua)
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