segunda-feira, julho 07, 2008

Aquecimento ou histeria global (6)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, a grande variabilidade natural do clima não permite afirmar que o aquecimento de 0,7 ºC seja decorrente da intensificação do efeito-estufa causada pelas emissões antrópicas de carbono, ou mesmo que essa tendência de aquecimento persistirá nas próximas décadas, como sugerem as projeções produzidas pelo Relatório da Quarta Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (AR4/IPCC). A aparente consistência entre os registros históricos e as previsões dos modelos não significa que o aquecimento esteja ocorrendo.

Na realidade, as características desses registros históricos conflitam com a hipótese do efeito-estufa intensificado. O planeta se aqueceu mais rapidamente entre 1920-1946, quando a quantidade de CO2 lançada na atmosfera era inferior a 10 % da atual, e se resfriou entre 1947-1976, quando ocorreu o desenvolvimento econômico acelerado após a Segunda Guerra Mundial. Dados dos MSU a bordo de satélites (Figura CM2) não confirmaram um aquecimento expressivo pós-1979, que é aparente na série de temperatura obtida com termômetros de superfície.

No Sumário para Formuladores de Políticas do IPCC, publicado em fevereiro de 2007, afirmou-se que concentração de CO2 aumentou de 35 % nos últimos 150 anos. Porém, isso pode ter sido devido a variações internas ao sistema terra-oceano-atmosfera. Sabe-se que a solubilidade do CO2 nos oceanos depende de sua temperatura com uma relação inversa. Como a temperatura dos oceanos aumentou, devido à redução do albedo planetário e à atividade solar mais intensa entre 1925-1946, a absorção (emissão) de CO2 pelos oceanos pode ter sido reduzida (aumentada) e mais CO2 ter ficado armazenado na atmosfera. Portanto, não se pode afirmar que foi o aumento de CO2 que causou o aumento de temperatura (Figura CM4). Pode ter sido exatamente ao contrário, ou seja, que o CO2 tenha aumentado em resposta ao aumento de temperatura dos oceanos e do ar adjacente.

Dados paleoclimáticos, como os obtidos com cilindros de gelo da Estação de Vostok, indicaram que as temperaturas do ar estiveram mais elevadas que as atuais nos períodos interglaciais anteriores e que as concentrações desse gás não ultrapassaram 300 ppmv (ver Figura CM3), sugerindo que o aquecimento do clima não dependa da concentração de CO2. Em adição, há outros testemunhos indiretos, como os anéis de crescimento de árvores, em que a densidade da madeira varia inversamente ao total pluviométrico em regiões tropicais.

Por exemplo, em 1993, Ferraz e seus colaboradores da ESALQ/USP, analisaram um jatobá-mirim colhido na Amazônia Central (Balbina) e constataram que a densidade da madeira de seus anéis de crescimento aumentou nos últimos 400 anos (Figura CM5). Aceitando-se que a variação das chuvas seja o fator ambiental mais importante no desenvolvimento de uma árvore no meio da Floresta Amazônica, inferiu-se que o jatobá, durante esse período, esteve submetido a um clima regional que, paulatinamente, veio se tornando mais seco. E isso só poderia estar acontecendo se o clima global estivesse se resfriando!

As análises da temperatura da superfície do mar para o período 1999-2007, elaboradas por este autor com os dados do conjunto de Reanálises do NCEP/NCAR, mostraram uma configuração semelhante à da fase fria anterior da ODP (1947-1976), sugerindo que o Pacífico já esteja em uma nova fase fria (Figura CM6). É possível, portanto, que o clima global venha a se resfriar nos próximos 20 anos, semelhante ao que ocorreu na fase fria anterior (Figura CM1), porém com um agravante!

Contrariamente ao período da fase fria anterior, o Sol está entrando num período de baixa atividade, um novo mínimo do Ciclo de Gleissberg e de seu ciclo de 170 anos (Mínimo de Dalton). Observações por satélites mostraram que os valores do fluxo total de ROC, no último mínimo solar em 2006, ficaram abaixo de 1365,3 Wm-2, inferiores aos mínimos anteriores. A variação da atividade solar nos últimos 400 anos sugere que, nos próximos dois ciclos de manchas solares, ou seja, até cerca do ano 2030, a atividade solar seja comparável às primeiras duas décadas do Século XX.

Portanto, como a ODP está em uma nova fase fria e a atividade solar estará mais baixa, é muito provável que as condições climáticas globais entre 1947-1976 venham a se repetir qualitativamente, ou seja, um arrefecimento global nos próximos 20 anos. Dados atuais de temperatura média global confirmam essa hipótese e mostram que 1998 foi o ano mais quente dos últimos 9 anos (Figura CM2), ou seja, o aquecimento global parece ter acabado em 1998 !

As análises climáticas do período de 1947-1976 (fase fria da ODP), feitas por este autor, mostraram que, de maneira geral, as condições climáticas não foram favoráveis para o Brasil. As chuvas se reduziram entre 10 % e 30 % em todo o País, resultando em deficiência hídrica para abastecimento de populações e geração de energia elétrica, e as Regiões Sul e Sudeste sofreram um aumento na freqüência de massas de ar polar intensas (geadas fortes) no inverno, fato que contribuiu decisivamente para a erradicação do cultivo do café no Paraná.

A região brasileira mais afetada parece estar composta por partes do Sudeste do Pará, Norte de Tocantins, Sul do Maranhão e Piauí, a região sudeste da Amazônia, que é a fronteira agrícola, de expansão da soja e de futuros canaviais. Essa região poderá apresentar uma redução média de até 500 mm, cerca de 25 %, em seus totais pluviométricos nos próximos 20 anos.

Reflexões sobre o propagado aquecimento global deixam evidente que o clima do planeta, sem exagero, é resultante de tudo o que ocorre no Universo. Exemplificando, se a poeira densa, de uma estrela, que explodiu há 15 milhões de anos, adentrasse o Sistema Solar, diminuiria a radiação solar incidente e resfriaria o planeta! Porém, o fato de o aquecimento, observado entre 1977-1998, muito provavelmente ter sido causado pela variabilidade natural do clima em sua maior parte, não é um aval para o Homem continuar a degradar o meio-ambiente.

Ao contrário, considerando que o aumento populacional é inevitável num futuro próximo, o bom senso sugere a adoção de políticas e práticas de conservação ambiental bem elaboradas, destituídas de dogmatismo, e mudanças nos hábitos de consumo para que a Humanidade possa sobreviver, isto é, para que as gerações futuras possam dispor dos recursos naturais que se dispõem atualmente. Portanto, a conservação ambiental é necessária e independente de mudanças climáticas, quer seja aquecimento ou resfriamento global.

(continua)