sexta-feira, maio 14, 2010

Inverno 2009-2010 (4)

[Tradução de parte da análise de Jean Martin]

(continuação)

3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).

(continuação do ponto 3)

Agora, e ainda no tema das tempestades, focalizemos a nossa atenção nas medições efectuadas na Suécia onde foram conservadas observações meteorológicas e medidas barométricas desde tempos recuados.

As referências do artigo recente que nos interessa são as seguintes:

Lars Bärring et Krzysztof Fortuniak, 2009. Multi-indices analysis of southern Scandinavian storminess 1780–2005 and links to interdecadal variations in the NW Europe–North Sea region. International Journal of Climatology, 29, 373-384.

Os autores apresentam a sua investigação da seguinte maneira: Several studies using reanalysis data covering the second half of the 20th century suggest increasing storm intensity in the northeastern Atlantic and European sector.

Ou seja, vários estudos da segunda metade do século XX sugerem um aumento da intensidade das depressões no Nordeste do Atlântico. Mais à frente, os autores explicam a sua metodologia:

The question is whether changes to such storminess characteristics are a result of changes in frequency and intensity of deep cyclones in exposed regions. The essential problem is thus if any changes to cyclone activity are within natural variability or not, that is, the classical problem of climate change detection. As intense cyclones and severe windstorms are comparatively rare events, long-term records are required to capture the natural variability.

Os autores do estudo pretenderam saber se as variações da actividade ciclónica (depressões) se deveram à variabilidade natural do clima ou não. Como as baixas pressões cavadas são relativamente raras, estudaram séries longas para captar a variabilidade natural.

Esta metodologia demonstra o bom senso que, infelizmente, é muitas vezes esquecido. Com efeito, ao se pretender atribuir fenómenos climáticos, como depressões, às alterações climáticas, deve-se saber, primeiro, qual é o comportamento natural deles.

Não há nada como analisar as observações do passado durante um período longo tanto mais que se tratam de fenómenos relativamente raros. Não nos devemos contentar com registos de curta duração (p.e., de 1950 até aos nossos dias, como fizeram os autores dos artigos citados e criticados por Bärring et Fortuniak).

A figura mestre deste artigo (a análise dos dados é bastante complexa) está reproduzida na Fig. JM4. Ela indica a frequência (ou/e a intensidade) das depressões de 1780 a 2005 segundo os arquivos conservados na Suécia, em Lund e em Estocolmo.

A escala vertical está graduada em unidades arbitrárias que representam a intensidade das depressões. Os valores positivos e os negativos indicam, respectivamente, mais e menos depressões. As curvas com menos “ruído” representam os valores médios.

Como se verifica, se remontarmos no tempo até finais do séc. XVIII, não se pode pretender que o período recente seja mais tempestuoso que o normal. De facto, se fosse necessário escolher, antes diríamos ser menos tempestuoso.

Agora, se consideramos na Fig. JM4 apenas a evolução a partir de 1950, como fazem os autores do artigo criticado por Bärring et Fortuniak, concluiríamos que a frequência/intensidade das depressões aumentou seriamente. Com este método [artificioso], fez-se soar o alarme com grande amplificação nos títulos garrafais dos jornais…

Bärring et Fortuniak concluem, muito justamente, com os dois pontos seguintes:

(1) There is no significant overall long-term trend common to all indices in cyclone activity in the North Atlantic and European region since the Dalton minimum (*).

(2) The marked positive trend beginning around 1960 ended in the mid-1990s and has since then reversed. This positive trend was more an effect of a 20th century minimum in cyclone activity around 1960, rather than extraordinary high values in 1990s.

Assim, não existe tendência de longo prazo de todos os índices das depressões no Atlântico Norte e na Europa desde o mínimo de Dalton. A tendência positiva que começou em 1960 terminou cerca de 1990.

Em resumo, o período actual não é diferente, do ponto de vista das depressões, dos de séculos precedentes. O aumento assinalado nos anos 90 cessou e inverteu-se. Tudo isto faz parte das flutuações naturais.

[Na realidade, as depressões atlânticas nos anos 80-90 aumentaram devido ao aumento da actividade dos anticiclones móveis polares que se verificou a partir do shift climático de 1975/76. Este facto está confirmado na Fig. JM4.]

É uma pena para os alarmistas, mas será necessário que eles encontrem outro argumento…
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(*) O Minimum de Dalton foi um período de fraca actividade solar que se situou, aproximadamente, entre 1790 e 1830.

(continua)