terça-feira, maio 25, 2010

História (quase) secreta do aquecimento global (1/6)

Por Geraldo Luís Lino

A presente histeria mundial em torno do aquecimento global e a mobilização política articulada para “controlar” os seus alegados efeitos têm motivações bastante diferentes daquelas estabelecidas pelo papel e as responsabilidades da ciência como mola propulsora do progresso da humanidade. O fato é que uma legítima indagação científica sobre as funções do dióxido de carbono para o clima e a contribuição humana para o aumento das suas concentrações na atmosfera, que remonta ao século XIX, se viu alçada à condição de obsessão mundial e convertida numa pauta política que ameaça afetar drasticamente a matriz energética e os níveis de vida de todas as nações do planeta.

Tal processo pouco tem a ver com a ciência em si, mas com a captura de fenômenos atmosféricos, como as mudanças de temperaturas e o “buraco” na camada de ozónio, pela agenda ambientalista do Establishment (classe dirigente) anglo-americano. As motivações para a colocação em marcha desse processo remontam à década de 1950, quando a humanidade, como um todo, experimentava o período de mais rápida expansão do seu desenvolvimento socioeconómico. Tal impulso foi proporcionado pela reconstrução econômica do pós-guerra, o processo de descolonização na Ásia e na África e o arcabouço financeiro e monetário relativamente estável proporcionado pelo Sistema de Bretton Woods.

Ao mesmo tempo, uma série de conquistas científico-tecnológicas contribuía para disseminar um intenso otimismo cultural: a “Revolução Verde” das variedades vegetais alimentícias de alto rendimento, os avanços da medicina e da saúde pública, as telecomunicações, as perspectivas de uso pacífico da energia nuclear, a corrida espacial e outras. Naquele momento, a palavra de ordem era industrialização, principalmente entre os países subdesenvolvidos, muitos dos quais contemplavam ambiciosos planos de modernização econômica baseados na indústria. Em 1957, o comércio mundial de produtos industrializados superou, pela primeira vez, o de produtos primários e alimentos. Entre 1953 e 1963, a participação dos países subdesenvolvidos na produção industrial mundial subiu de 6,5 % para 9 %, uma alta de quase 50 %, com tendência ascendente. [1]

Foi nesse contexto que certos setores do Establishment anglo-americano, que desde o início do século XX promoviam iniciativas que visavam o controle social, como a eugenia (“melhoramento racial”) e o controle demográfico, colocaram em marcha o movimento ambientalista, com a criação de grandes ONGs internacionais como a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF) e a Fundação Conservação (Conservation Foundation), as “sementes” da vasta rede de organizações que integram hoje o aparato “verde”.

O sociólogo Donald Gibson, da Universidade de Pittsburgh, que esbarrou no ambientalismo durante as suas pesquisas sobre o contexto do assassinato do presidente estadunidense John F. Kennedy (1961-63), descreve: [2]

No final da década de 1950 e início da de 1960, uma antiga inclinação existente entre alguns membros da classe superior estava prestes a se tornar um assunto nacional.

Esta inclinação iria redefinir as conquistas da ciência e da tecnologia como ações malignas que ameaçavam a natureza ou como fúteis tentativas de reduzir o sofrimento humano, que, diziam, era o resultado da superpopulação.

Essa tendência, em parte articulada como uma visão de mundo nos escritos de Thomas Malthus, toma o que podem ser preocupações razoáveis sobre temas como a qualidade do ar e da água e as reveste de uma ideologia profundamente hostil ao progresso econômico e à maioria dos seres humanos…

O impulso geral era claro: os EUA e o mundo deveriam se mover para acabar com o crescimento populacional e a proteção do meio ambiente deveria receber uma importância igual ou maior do que a melhoria dos níveis de vida… O crescimento econômico e a tecnologia eram vistos como problemas. (…)

Em síntese, a estratégia hegemônica do Establishmenet oligárquico visava, basicamente: 1) transferir o controle dos processos de desenvolvimento, dos Estados nacionais para entidades supranacionais e não-governamentais, consolidando estruturas de “governo mundial” (ou “governança global”); 2) erradicar o “vírus do progresso” entre os estratos educados das sociedades de todo o mundo, com a difusão do irracionalismo e da descrença nas conquistas científico-tecnológicas como motores do desenvolvimento; 3) reduzir o crescimento da população mundial; e 4) controlar uma grande proporção dos recursos naturais do planeta. [3]

Por esses motivos, não admira que a agenda ambientalista não priorize os grandes problemas ambientais realmente enfrentados pela maioria da população mundial. Em vez disto, por exemplo, os “verdes” têm em seu currículo: o banimento do inseticida DDT, responsável pela preservação de literalmente centenas de milhões de vidas em todo o mundo, evitando que fossem vitimadas por doenças transmitidas por insetos; o banimento dos clorofuorcarbonos (CFCs), versáteis produtos químicos que possibilitaram a popularização da refrigeração e seus incontáveis benefícios; um atraso de décadas nos usos pacíficos da energia nuclear; a obstaculização de incontáveis projetos de infra-estrutura energéticos e viários; e outras façanhas de igual calibre. Enfim, quase invariavelmente, os alvos principais das suas ruidosas campanhas têm sido elementos que são sinónimo de bem-estar e progresso, principalmente nos países em desenvolvimento.

Desde as fases iniciais da formação do movimento, o potencial de utilização dos fenômenos atmosféricos para a sua agenda antidesenvolvimento não passou despercebido pelos mentores do ambientalismo. Por isso, propostas como estabelecimento de uma legislação internacional referente aos impactos das atividades humanas na atmosfera, a criação de um organismo supranacional para implementá-la e a imposição de custos adicionais na utilização de combustíveis fósseis, como impostos ou, até mesmo, o estabelecimento de cotas de emissões de CO2, vêm sendo discutidas há décadas e nada têm de novidades.

Já em 1963, a Fundação Conservação patrocinou uma conferência sobre as “Implicações do crescente conteúdo de dióxido de carbono da atmosfera”, a qual foi presidida por Charles David Keeling. O relatório da conferência alertava que a duplicação do CO2 prevista para o século XXI poderia provocar uma elevação de até 4 ºC nas temperaturas, o que provocaria o derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, inundação de áreas costeiras e outros problemas cuja descrição se tornaria lugar comum nos prognósticos catastrofistas sobre o assunto. [4]

Em contraste, no mesmo ano, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) convocou uma conferência em Roma para discutir os efeitos do “resfriamento global” sobre a produção mundial de alimentos. O principal especialista ouvido foi o climatologista inglês Hubert H. Lamb, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia e um renomado especialista dos climas do passado (além de opositor da tese simplista de que o CO2 teria uma influência determinante no clima). [5]

(continua)
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1. F. William Engdahl, A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order. Wiesbaden: Dr. Böttiger Verlags, 1933, pp.120-21.
2. Donald Gibson, Battling Wall Street: The Kennedy Presidency. New York: Sheridan Square Press, 1994, pp. 87, 121.
3. Para uma apreciação geral das origens e objetivos do ambientalismo, ver: Lorenzo Carrasco, Máfia Verde, capítulos 1 a 3.
4. Spencer R. Weart, The Discovery of Global Warming, p. 42.
5. Christopher C. Horner, Red Hot Lies: How Global Warming Alarmists Use Threats, Fraud and Deception. Washington: Regnery Publishing, 2008, p.32.
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Do livro «A fraude do aquecimento global», Capax Dei, Rio de Janeiro, 2009, 165 pág., ISBN 978-85-98059-12-9.